por estatuadesal
(Por Estátua de Sal, 27/03/2020)
Apesar de temas e polémicas não terem faltado, tenho andado um pouco calado, sem escrever, limitando-me a publicar aqui textos de outros que me mereceram atenção. E isso, tenho-o feito diariamente, sem quebras de ritmo.
Contudo, hoje tive que sair da "quarentena" para me pronunciar sobre os comentários de António Costa acerca da forma como a União Europeia está a enfrentar a crise sanitária e económica emergente da pandemia, mormente as declarações do Ministro das Finanças holandês, criticando a Espanha por não ter preparado as suas finanças públicas para enfrentar a chegada do vírus. (Fonte aqui ).
Costa disse, e disse bem, alto e bom som para quem quisesse ouvir: É repugnante, ouvir tais declarações proferidas por um Ministro das Finanças de um país europeu. Nada mais verdade. Sim, é repugnante colocar a mesquinhez acima das vidas humanas e da solidariedade que deveria existir entre os países que formam uma suposta União. Só que os holandeses não desiludem: sempre viveram da pilhagem e do saque aos outros povos, campeões da pirataria atacando os navios mais desprotegidos, especialmente nos séculos XVI e XVII, e esta União Europeia que eles não querem que mude, é um eficaz mecanismo económico que desvia recursos imensos dos países da periferia para os países do centro da Europa. Ou seja, é a pirataria dos tempos modernos, prosseguida sem canhões nem pólvora.
Assim, os efeitos do vírus sendo catastróficos, tem para já um lado positivo: tornam claro que não há União Europeia nenhuma, que na hora da verdade a atitude não é comum e que o que sobressai é uma postura de "salve-se quem puder". Sim, qual Europa? A dos mercados que se querem sem fronteiras para que os lucros sejam mais chorudos e encaminhados para os paraísos fiscais que a própria Europa alberga? Sim, é apenas essa que existe. E quem tinha a ilusão de que havia outra ou de era ainda possível construir outra - como António Costa, um assumido europeísta -, deve-as ter perdido definitivamente.
Não, António Costa não se excedeu, (Fonte aqui ). contrariamente ao que é dito por alguns antipatriotas que por aí circulam, vozes da direita troglodita que já saliva pelo poder a cavalo nas desgraças da pandemia. Manifestou apenas a sua desilusão e profunda irritação adjectivando o ministro holandês da forma que ele merecia. É por isso que Costa, com quem nem sempre concordo e a quem critico muitas vezes, merece neste particular um meu caloroso aplauso.
Sobre o vírus e sobre as suas consequências económicas e sociais futuras, a minha leitura é mais que pessimista. Não vou esmiuçar cenários. Limito-me a dizer que penso que será muito pior do que aquilo que hoje somos capazes de antecipar.
Resta-me a consolação de que, sobre os escombros do que aí vem, sejam enterradas definitivamente as narrativas funestas do capitalismo desregulado, da eficiência dos mercados, do neoliberalismo selvagem e do Estado minimalista. É que, na hora do aperto, como agora se vê, até os liberais mais devotos clamam pelo Estado interventor para os salvar, como se tem visto pelo coro dos aflitos que o nosso empresariado tem dado à estampa.
Sim, na hora do aperto, somos todos socialistas e apoiantes da gestão centralizada da economia já que, defender a implantação do estado de emergência equivale, entre outras prerrogativas, a dar ao Estado o poder de dispor dos meios de produção e das empresas de acordo com um desiderato colectivo que é colocado acima dos interesses privados.
Sem comentários:
Enviar um comentário