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sexta-feira, 3 de abril de 2020

A interrupção segue dentro de momentos

Ricardo Marques

Ricardo Marques

Jornalista

03 ABRIL 2020

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Já houve um tempo em que o país parava, ao domingo à noite, para ouvir o professor Marcelo na televisão. Havia de tudo e para todos: grandes revelações, pequenas indiscrições e as inevitáveis notas. Aqueles minutos, que duraram anos, tornaram-se um ritual e uma instituição nacional.

Marcelo Rebelo de Sousa tornou-se Presidente da República.

O país está parado e, por estes dias, qualquer dia é tão domingo como um domingo qualquer.

Ontem, depois de dar avaliação positiva ao esforço dos portugueses no combate ao coronavírus nas duas últimas semanas, o Presidente da República confirmou o que já toda a gente sabia: o estado de emergência é para continuar durante mais duas semanas - e tudo o que já está parado mais parado vai ficar.

Há demasiado em jogo neste momento. Apesar dos sinais positivos que os números vão dando, é importante perceber que nada mudou e que qualquer mudança nos hábitos de cada um pode ter consequências dramáticas na vida de todos.

De acordo com os últimos dados oficiais (que serão revistos dentro de poucas horas), Portugal tinha 9034 casos de infecção com o novo coronavírus. Há 1042 pessoas internadas e outras 240 pessoas encontram-se em unidades de cuidados intensivos. Duzentas e nove pessoas já morreram com covid-19. E 68 pessoas recuperaram. Esta é a realidade por cá.

Abril vai ser um mês difícil. Marcelo Rebelo de Sousa admitiu que o número de infectados pode ultrapassar as 20 mil pessoas. “Vai custar”, disse, “vai ser o maior desafio dos últimos 45 anos”. Depois pediu a todos os portugueses que aceitem e cumpram as regras. “É uma mudança radical na nossa vida, e vai ser por mais umas semanas. Mas isso significa que serão salvas milhares de vidas.”

Esta é a equação mais simples da pandemia: zero movimento mais zero contacto é igual a um número muito alto de vidas salvas.

Antes do discurso presidencial, e já depois de o Parlamento aprovar o estado de emergência 2.0 (pode ler aqui o relato da manhã na Assembleia) o primeiro-ministro tinha avisado que ainda não chegou a hora de “aligeirar as medidas”. Pelo contrário.

Após o Conselho de Ministros, António Costa enumerou as regras, apertadas, para as próximas duas semanas - em particular para o fim de semana da Páscoa. Ajuntamentos proibidos, deslocações entre concelhos largamente proibidas, aeroportos fechados, indultos para presos e malha apertada para os despedimentos. E uma série de outras medidas - desde penas mais pesadas para quem desrespeitar as restrições a documentos que tem de ter consigo se for trabalhar - que pode encontrar neste artigo.

Com o número de casos a aumentar em ambiente prisional, a possibilidade de libertar alguns reclusos vai mesmo avançar. Quatro medidas excepcionais para evitar uma situação explosiva.

As decisões sobre o terceiro período escolar só vão ser tomadas na próxima semana e anunciadas no dia 9 de abril. Os miúdos, parece, estão bem.

Nos Açores, o Governo regional decidiu proibir a circulação entre concelhos na ilha de São Miguel. A medida está em vigor desde as zero horas de hoje.

Até pode ser verdade que nenhum homem é uma ilha. Mas às vezes parece.

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