Translate

segunda-feira, 6 de julho de 2020

De surto em surto até à vacina final (e a fadiga do desconfinamento)

Curto

João Pedro Barros

João Pedro Barros

Coordenador

06 JULHO 2020

Partilhar

Facebook
Twitter
Email
Facebook

Bom dia,
O Instituto Politécnico da Guarda decidiu suspender os exames presenciais devido à confirmação de infeção em pelo menos oito estudantes – no total há 12 jovens infetados, que se terão contagiado numa festa de aniversário. O Centro Escolar de Paços de Ferreira e uma fábrica na mesma cidade foram encerrados para "interromper as cadeias de transmissão". O número de óbitos relacionados com o surto em Reguengos de Monsaraz, no distrito de Évora, subiu para 12. Há 38 casos positivos nas Caldas da Rainha, num lar e num infantário, sendo cinco deles relativos a crianças. Cerca de 70 brasileiros que residem na aldeia de Santo Estevão, em Benavente, estão confinados, após cinco casos positivos.
Não quero com a enumeração destes casos alarmar o leitor, mas apenas sublinhar aquele que cada vez mais parece ser o novo normal da covid-19: surtos que vão surgindo aqui e ali, com origens muitas vezes difíceis de detetar, e aos quais as autoridades nem sempre conseguem responder com rapidez. E, para além destes casos relativamente delimitados, há um problema muito maior: a situação em Lisboa e Vale do Tejo.
Este domingo, em Portugal, registaram-se mais 328 casos de infeção e nove vítimas mortais, revelou a Direção-Geral da Saúde, que entretanto suspendeu a divulgação do número de infetados por concelho, após o Expresso ter feito manchete, no sábado, com a informação de que não estão a ser contabilizados todos os casos, havendo laboratórios, universidades e médicos que não registam os positivos.
Na região da capital assinalaram-se 254 novos casos, ou seja, 77% do total do país. Hoje – dia em que os números são habitualmente mais baixos, devido ao menor número de testes realizados no fim de semana – logo se verá, mas parece claro que ainda não se atingiu um caminho descendente que nos permita, por exemplo, ter o tal corredor aéreo com o Reino Unido, que traga os turistas e descanse os emigrantes portugueses que lá residem.
Aliás, a Madeira ainda não desistiu de argumentar que os britânicos que pisarem o arquipélago devem ficar dispensados da tal quarentena obrigatória no regresso à pátria: o presidente da Câmara do Funchal escreveu uma carta a Boris Johnson e Marcelo diz que as dúvidas serão “dissipadas” em breve. O Presidente da República passou o fim de semana na Madeira e fala mesmo da região como um “exemplo”.
A propósito, o Reino Unido não foi definitivamente o melhor exemplo de desconfinamento este fim de semana, em que pares e pubs puderam finalmente reabrir. Apesar da desvalorização por parte das autoridades e do próprio ministro da Saúde britânico, Matt Hancock, fotos como a que publicamos neste artigo mostram que, para um grande número de pessoas, as regras de distanciamento social e de uso de máscaras foram às malvas, talvez antes do primeiro pint.
Podemos falar em fadiga do desconfinamento, mas é difícil encontrar razões que justifiquem comportamentos generalizados de desprezo pelas recomendações. Que atire a primeira pedra quem respeitou TODAS as regras ao longo de quatro meses – e não devemos precipitar-nos a estigmatizar quem contrai o vírus –, mas um surto com origem em situações deste tipo pode pôr em risco toda uma comunidade e a economia de um país. Até porque ainda sabemos pouco sobre este SARS-CoV-2: tão pouco que especialistas de 32 países pedem à OMS para repensar as diretivas de proteção, porque acreditam que, afinal, o vírus também se transmite pelo ar.
Pede-se responsabilidade e sublinhe-se que não é só em Portugal que há novos surtos e medidas de reconfinamento. Na Inglaterra, em Leicester, procuram-se as causas de uma segunda vaga; na Catalunha, a região de Segrià (com mais de 200 mil pessoas) pode ficar confinada mais de duas semanas; na Galiza, e em vésperas de eleições regionais, uma região da província de Lugo, com cerca de 70 mil pessoas, está isolada; em Melbourne, na Austrália, há milhares de pessoas em confinamento; Marrocos registou ontem um novo recorde diário de infeções; a Grécia fechou as fronteiras aos cidadãos sérvios, após um aumento de casos no país dos Balcãs.
Este parece ser o novo normal: o vírus não vai desaparecer tão cedo e é provável que, até que esteja amplamente disponível uma vacina (ou um antivírico), os surtos de covid-19 vão desparecer da região ou país x para reaparecerem acolá, na localidade y. Que essa viagem não ocorra pelo menos por mera negligência.

Sem comentários:

Enviar um comentário