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quinta-feira, 14 de janeiro de 2021

Eleições presidenciais e masoquismo

por estatuadesal

(Carlos Esperança, 13/01/2021)

Repetirei até à exaustão que Marcelo é um democrata, que fez um logo caminho desde a sua juventude, e que, por ele ou com ele, não haverá outra ditadura. Vacinou-o a longa e próxima convivência com os próceres da ditadura fascista.

A comparação com o antecessor, a inteligência, cultura e simpatia, e a capacidade ímpar de se insinuar na opinião pública amoleceu aos adversários a autocrítica, e embotou-lhes o discernimento.

Marcelo é o candidato da direita democrática, aliás, mais à direita do que, por exemplo, Ursula Von der Leyen ou Angela Merkel. Seria injusto julgá-lo pelas cartas a Marcelo Caetano, mas é preocupante que se esqueça o papel maquiavélico na eleição de Cavaco Silva para líder do PSD, de onde saiu para PM, e, depois, na preparação da candidatura do mesmo salazarista para PR, na vivenda de alguém, hoje pouco recomendável.

Os eleitores que se dizem de esquerda, com candidatos para todas as sensibilidades, não podem capitular na coerência, ética e dignidade, votando num adversário. Quanto maior for a percentagem de votos que lhe for atribuída, pior será o seu mandato. O objetivo de Marcelo é deixar a direita no poder, ainda que seja uma direita pior do que a dele.

Basta ver a forma como está a comportar-se em campanha, para prever como decorrerá o segundo mandato. A erosão da esquerda, ainda não visível nas sondagens, já começou e o ideário de um PR beato e de direita, incapaz de se conter no estrito cumprimento das suas funções, há de conduzir o País numa viragem tão grande que pode não ter regresso.

Quem, sendo de esquerda, vota num candidato de direita, não tem força anímica para se opor ao regresso da extrema-direita. Marcelo nunca será um perigo para a democracia, mas será o obreiro do caminho que a porá em perigo.

É de temer a vocação suicida de grande parte do eleitorado que se reclama de esquerda, incapaz de ver no propagandista de si próprio, num comunicador de eleição, ungido dos média, o coveiro da esquerda.

Parece ser a vocação suicida, a que despreza as medidas sanitárias quanto à pandemia, a mesma que conduz ao voto no candidato alheio e artista em propaganda. 

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