Posted: 11 Apr 2021 03:47 AM PDT
«A Teleperformance emprega 380 000 funcionários e tem call centers espalhados pelo Mundo. Talvez de faiscante brainstorming nasceu uma ideia - instalar webcams em casa dos funcionários em teletrabalho.
Um programa de IA descortina infracções e comunica-as às chefias. O teclado e o rato são monitorizados, de modo a detectar períodos sem actividade. As mesas de trabalho devem ter iluminação suficiente para o equipamento funcionar durante turnos nocturnos e os ecrãs fitarão a parede, de modo a evitar olhares de outros membros do agregado familiar. Mas há espaço para a livre (?) iniciativa! Deseja alguém beber água? Carrega em "intervalo" numa aplicação e explica que o vai fazer.
Questionada pelo "Guardian", a quem roubei o artigo, a empresa afiançou que o equipamento se destina a reuniões e treino - talvez de candidatos a guardas prisionais... -, as virtualidades controladoras serão utilizadas... fora do Reino Unido! E eu alucinei os Concertos Promenade, agora regidos por Boris Johnson, a multidão cantando a plenos pulmões - Rule Britannia! Britannia rule the waves/Britons will never, never, never will be slaves. Eis uma boa razão para manter as webcams fora da loira Albion - serão outros os escravos.
Os sindicatos protestaram e o secretário de Estado para os Direitos Laborais do Governo Sombra - não é esse... - deixou um aviso sobre a prática: "uma vigilância invasiva que provocará a erosão dos seus direitos à privacidade e criarão um clima de medo e desconfiança". A Teleperformance, indignada e ofendida, esmagou as críticas malévolas ao desvendar o comovente propósito que preside à instalação do equipamento - as webcams são utilizadas para "combater a sensação de isolamento, a falta de apoio da equipa e o facto dos trabalhadores não verem ninguém durante dias seguidos". (Devem viver todos sozinhos e no estrangeiro...).
As crises abrigam oportunidades. Por isso esperamos que o crepúsculo da pandemia veja o raiar de uma Humanidade mais solidária. Atenta à Saúde Global e às injustiças que campeiam numa sociedade hipnotizada pelo lucro e indiferente ao agravar das desigualdades. Mas algumas reorganizações laborais, certas derivas políticas e o florescer da discriminação ao abrigo dos compreensíveis receios das populações são exemplos de como as crises também escancaram as portas a oportunidades... para os oportunismos.
Se este exemplo medrar, um dia destes sorriam, estarão a ser filmados. E se vos acometer um desejo visceral de praguejar, façam-no em surdina. Se não há fumo sem fogo, quem nos garante que haja câmaras sem microfones?
P.S. amargo - Isto não é ficção científica, acontece por aí em versões menos tecnológicas e tem um nome - assédio laboral.»
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