por estatuadesal |
(Por Valupi, in Blog Aspirina B, 10/04/2021)
(O coro de ataques, vindo de todos os quadrantes da Direita, ao juiz Ivo Rosa, com petições públicas e tudo, leva-me a questionar se Sócrates terá mesmo razão quando diz que o processo Marquês resultou, na sua génese, de uma manobra de perseguição política à esquerda - nomeadamente ao PS -, materializada na sua pessoa. Tendo muitos considerado que tais afirmações de Sócrates não passavam de fantasias destinadas a transformar o processo Marquês num caso político e assim melhor se defender, a virulência e a consonância de tantas vozes da Direita irmanadas no apedrejamento público a Ivo Rosa, dá que pensar.
Tanto mais que é ridículo pôr em causa a competência do juiz, como se pode ver:
"Em 2012, tornou-se o primeiro juiz português a ser eleito pela Assembleia Geral das Nações Unidas para o Mecanismo Internacional para os Tribunais Penais Internacionais, criado pelo Conselho de Segurança como substituto dos tribunais para a ex Jugoslávia e para os crimes de genocídio cometidos no Ruanda em 1994. Quatro anos depois, foi reconduzido pelo secretário-geral Ban Ki-moon. Depois, ainda ponderou aceitar um cargo no Programa de Assistência Europa Latino-Americana contra o Crime Organizado Transnacional, em Madrid, mas terá desistido, alegando motivos pessoais." (Ver aqui).
Comentário da Estátua, 11/04/2021)
A noite televisiva do “abalo”, em que a comunicação social de “referência” pediu a cabeça de Ivo Rosa, pode ser resumida numa anedota ocorrida na RTP3 (para quem não saiba, trata-se de um canal público). Falo do 360º. A opção editorial do programa achou que o serviço público nesta matéria da Operação Marquês consistia em reunir as seguintes figuras: Vítor Gonçalves, Francisco Teixeira da Mota, António Ventinhas e Luís Rosa. Ana Lourenço foi a jornalista presente em estúdio.
Escuso de apresentar quem é quem, tantas vezes por aqui comentados todos eles. Mas registe-se que, para além da unanimidade a priori assim garantida sobre o conteúdo das intervenções dos convidados, a própria Ana Lourenço revelou estar totalmente alinhada com o grupo. Sim, o 360º é um programa da RTP, e a RTP é um canal público.
Pois apesar da osmose de fanatismo tribal a favor da acusação e linchamento de Sócrates, algo a tanger o milagre aconteceu. E por obra e graça do Luís Rosa. Este cão de fila do Observador, embriagado de ódio, exigiu que Ivo Rosa fosse castigado e afastado. Não sei se estes dois Rosa são primos, e se há querelas com heranças ou se o jornalista emprestou uma chave de fendas ao juiz e este ainda não a devolveu, o certo é que a violência insana despejada em directo levou Francisco Teixeira da Mota a defender Ivo Rosa e a dar uma lição de literacia judicial e mera decência ao taralhouco que tinha acabado de se bolçar. Começa no minuto 41:10, e, isso sim, foi serviço público do melhor.
Marcelo e Costa não quiseram falar sobre o contributo de Ivo Rosa para a salvação da Justiça portuguesa – logo, para a segurança da vida social. Com isso as duas figuras cimeiras do Estado contribuíram para que neste momento haja milhares ou milhões que gostavam de ver Sócrates ir a julgamento e ser condenado mesmo que não exista qualquer prova de actos ilícitos. Com isso, caso nada digam hoje ou breve, estarão também a ser cúmplices do que igualmente se passou na SIC, em frente ao Ricardo Costa: José Gomes Ferreira a dizer que Ivo Rosa “tem de ser posto no seu devido lugar, que é o que ele precisa“.
Isto está a acontecer. Está mesmo a acontecer. A direita dos impérios mediáticos a renegar o Estado de direito e a ultrapassar o Ventura por baixo.
É, em simultâneo, um espectáculo hipnótico e repulsivo.
Sem comentários:
Enviar um comentário