O Ocidente, embriagado de poder, cada vez mais à beira do abismo
(Por Mohamed Lamine Kaba in Reseau International, 16/08/2024, Trad. Estátua de Sal) A queda do Muro de Berlim em 1989 e a ilusão do fim da Guerra Fria em 1991 marcaram um ponto de viragem na história mundial, conduzindo a um período de hegemonia ocidental caracterizado pela embriaguez do poder. Este período de hegemonia ocidental foi caracterizado por uma série de intervenções militares, pela imposição da democracia liberal e do capitalismo total, e por um maior controlo sobre a economia global. No entanto, este domínio também conduziu a um défice de legitimidade e a crescentes tensões geopolíticas, evidenciando os limites e as contradições desta intoxicação pelo poder. Contexto HistóricoA intoxicação do poder ocidental desde a ilusão do fim da Guerra Fria é marcada pelo fim da bipolaridade e pela emergência dos Estados Unidos como a única superpotência mundial. A dissolução da União Soviética conduziu a um período de reorganização geopolítica, com a criação de novas instituições e a redefinição de alianças. A globalização e a liberalização económica, comummente referidas como a ocidentalização do mundo, também desempenharam um papel fundamental, conduzindo a uma maior integração das economias e dos mercados. A difusão da democracia liberal e dos valores ocidentais acompanhou este período, enquanto as revoluções tecnológicas transformaram os meios de comunicação, transporte e produção, influenciando as relações internacionais. Este contexto criou um ambiente propício à intoxicação do poder ocidental, caracterizado por uma confiança excessiva na sua capacidade de moldar o mundo de acordo com os seus interesses e valores. Implicações geopolíticas e geoestratégicas internacionaisAs implicações geopolíticas e geoestratégicas internacionais da intoxicação do poder ocidental são múltiplas e complexas. Em primeiro lugar, a dominação ocidental levou a uma resistência crescente por parte das potências emergentes, que procuram defender os seus interesses e desafiar a ordem estabelecida. Isto levou a um aumento da rivalidade no poder e à instabilidade regional, particularmente no Médio Oriente e em África. A Primavera Árabe e a ascensão ao poder de movimentos terroristas, bem como a multiplicação de centros de tensão em África ilustram melhor esta tese. A ascensão do nacionalismo e do protecionismo é também uma consequência da hegemonia ocidental, uma vez que alguns países procuram proteger os seus interesses económicos e culturais. Além disso, a intoxicação do poder ocidental levou a um défice de legitimidade, porque as suas acções são frequentemente percebidas como neocoloniais ou imperiali Impactos económicos, culturais e de segurança globaisA intoxicação do poder ocidental, deve ser dito sem hesitação, teve impactos dramáticos na economia, na cultura e na segurança globais. Economicamente, a dominação ocidental conduziu a uma globalização que beneficiou apenas os países ocidentais, exacerbando as desigualdades entre as nações e no interior das sociedades não ocidentais. Os países em desenvolvimento têm sido historicamente forçados a adotar políticas económicas neoliberais que favoreceram os interesses empresariais ocidentais em detrimento do seu próprio desenvolvimento. Culturalmente, a hegemonia ocidental levou à homogeneização cultural, com a difusão de valores, normas e práticas ocidentais que eclipsaram as culturas locais. Isto provocou reacções de resistência e rejeição, particularmente em países muçulmanos e outros em África, Ásia e América Latina. Na frente da segurança, o domínio ocidental conduziu a uma instabilidade crescente, com intervenções militares e interferências políticas que exacerbaram os conflitos e criaram novos riscos. A chamada “guerra ao terror”, que espalhou as sementes do terror por todo o mundo, também levou ao aumento da vigilância e da repressão, o que corroeu as liberdades individuais e os direitos humanos. À luz do exposto, podemos deduzir que a embriaguez do poder do Ocidente desde a queda do Muro de Berlim em 9 de novembro de 1989 e as ilusões do fim da Guerra Fria em 1991, gerou consequências dramaticamente profundas e duradouras em todo o mundo. Resultou numa hegemonia que exacerbou as desigualdades, provocou resistência e conflitos e corroeu as liberdades e os direitos humanos.
Podemos, portanto, dizer que, através da sua intoxicação pelo poder, o Ocidente é responsável pelos males que a humanidade sofreu durante muito tempo. |
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