Deixem a guerra para quem sabe de guerra
(Por Estátua de Sal, 16/09/2024) Nunca vi o espaço mediático tão infestado de "especialistas" como hoje. São um enxame de pregadores que dissertam sobre tudo e um par de botas, como se de cátedra perorassem. No entanto, existem três categorias diferentes de opinantes: Há os mais novos que, por terem feito umas cadeiras nos cursos de lavagem cerebral de Relações Internacionais, se consideram já experts em guerra e em geopolítica - João Jonet, Maria Castello Branco, a mais veterana Diana Soller, e a espalha brasas Ferro Gouveia. Há os militares propagandistas da cartilha da NATO, deturpadores dos factos e do andamento da guerra, João Fonseca Ribeiro, Marco Serronha e o inenarrável Isidro Morais Pereira. E, por último, há três generais que têm sido acusados de posições pró-russas, apesar da maior parte dos seus comentários serem feitos com base na doutrina militar e geoestratégica, Agostinho Costa, Raúl Cunha e Carlos Branco (ver artigo e a posição dos visados aqui). Já nem falo da dupla de patetas Mihazes e Rogeiro, sendo que este último, apesar dos memorandos que deve receber dos serviços de informações ocidentais e que o levam a considerar-se um perito em guerras, teria muito que aprender com o texto que abaixo publicamos do Major-General Raúl Cunha, bem como com a intervenção na CNN do general Agostinho Costa. O meu conselho para os comentadeiros de serviço é este: dediquem-se à pesca ou joguem ao berlinde e deixem a guerra para quem sabe de guerra, porque a estudou, porque a fez e porque por lá arriscou a vida. Os porta-aviões na atualidade(Major-General Raúl Cunha, in Facebook, 15/09/2024) Um dos ensinamentos que podemos agora considerar (veja-se que uma força naval americana teve que se afastar de uma zona costeira por ação dos houthis) é que os dias em que os porta-aviões podiam estacionar a cento e sessenta quilómetros da costa de um país e passar meses a bombardeá-lo até o apagar do mapa, acabaram há algum tempo. As munições de precisão guiadas criaram uma nova lógica no campo de batalha: se um alvo pode ser detetado, pode ser destruído. E, com o aparecimento dos mísseis hipersónicos, essa possibilidade ficou ainda mais evidente. Isto fez com que os porta-aviões estejam a ficar cada vez mais vulneráveis. Podem ser detetados ao longe pelos poderosos radares de superfície, por radares das aeronaves de pesquisa, seguimento e aviso, ou pelas emissões eletrónicas dos seus próprios radares ou dos das suas escoltas. Ainda poderão ter utilidade para os combates no mar alto ou, dada a possibilidade de poderem operar em qualquer parte do mundo, aumentar assim as distâncias das estruturas de defesa e possibilitando influenciar e apoiar a manobra de forças terrestres longe do seu território de origem. Mas, já não será tanto assim em missões onde sejam o único vector de ataque a objectivos terrestres. Os porta-aviões foram os navios militares dominantes a partir da segunda metade do século vinte, mas agora, no século vinte e um, irão começar a ser utilizados cada vez mais como navios de apoio a uma manobra mais alargada, enquanto que os outros navios de superfície e sobretudo os submarinos com a valência de lança-mísseis passarão a ser os principais instrumentos com capacidade para decidir os combates navais, podendo também actuar sobre objectivos terrestres de importância estratégica.
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