Kursk e o Donbass já dão para jogar ao monopólio
(Tiago Franco, in Facebook, 04/09/2024) Um amigo perguntou-me qual a razão de ler uma história que, em teoria, já sabia. Eu parto do princípio que ninguém sabe tudo sobre uma história, seja ela qual for. E muito menos sobre aquelas que nos chegam, manifestamente complexas. Cada investigador/historiador acrescenta, aos factos, a sua interpretação. Eu gosto de ver a mesma coisa de diferentes perspetivas e acredito que a verdade está no cruzamento da informação. Há, no entanto, um ponto em que os historiadores estão mais ou menos de acordo, que é que a visão que Lenine (ou até Trotsky) tinha para a União Soviética, não tem nada a ver com a Rússia de Putin. E é por isso que me faz alguma impressão que se acuse alguém de ser putinista quando vota no PCP. E até o próprio PCP. São modelos antagónicos de sociedade e formas muito diferentes de atribuir o poder (nomeadamente à classe trabalhadora). Putin é apenas um novo czar. Os bolcheviques (e os mencheviques) fizeram a revolução contra o czar. É por isso ignorância dizer que o "antiquado partido comunista português" é um apoiante da Rússia de Putin. Ou bem que o PCP é criticado por ter ficado, em alguns temas, ali depois da revolução russa ou então, é criticado por apoiar Putin. Não pode ser acusado de uma coisa e do seu contrário. Fazê-lo, como tantas vezes vejo nas redes, nas colunas de opinião e na imprensa, é um caso de ignorância. Pura e dura. Dito isto, espero que percebam que a minha simpatia pelo regime de Putin é a mesma que tenho por qualquer outro império aos dias de hoje. Não gosto de países ou regimes onde a democracia seja uma fantochada, onde os candidatos sejam patrocinados por milionários, onde o partido seja um só ou onde nem sequer existam eleições. Portanto...há um saco grande onde coloco ditaduras ou democracias de aparência, e por lá junto todos aqueles que acham que as relações externas significam substituir a vontade dos outros povos.
Quero tanto saber da invasão de Kursk como queria saber da invasão do Donbass. Da mesma maneira que não papei a narrativa de "levar a democracia ao Kuwait" no século passado ou "libertar o povo da Líbia", neste século não aceito que um país (Ucrânia) ande a combater separatistas durante 8 anos e quando o bicho pega (a Rússia tem tudo o que precisa para lá meter a mão) vir pedir ao resto do mundo que pague os custos. Esta coisa de impérios bons e impérios maus, guerras justas e guerras injustas, bombas pela paz e bombas terroristas, povos esquecidos ou povos lembrados, consoante a riqueza do solo em questão, começa a dar-me a volta à cabeça ao ponto da solidariedade simplesmente já não existir. Ainda ontem ouvi o Rogeiro na SIC Notícias a dizer que o Ocidente tem que se despachar a enviar mais armas (de longo alcance) para que os ucranianos possam atacar solo russo. Epá...a que propósito? Temos algum contrato de solidariedade eterna com a Ucrânia que foi sonegado ao resto do mundo? Temos mesmo que continuar a pagar este jackpot para a indústria de armamento americana, francesa e alemã? Não sei se fui o único a receber contas maiores de luz, de supermercado e de prestação da casa mas, quer dizer, já estou farto desta merda. Mesmo farto. Não sei se sou o único a passar por isto mas adiante. Ouço os Rogeiros e os outros analistas, com trabalho garantido há dois anos, a cada dia, a gritarem por mais guerra, enquanto tenho que me esfolar sem férias para fazer face ao aumento dos custos, sempre, mas sempre com a mesma origem. "É da Ucrânia, sabe?" Foda-se mais à Ucrânia! A Ucrânia meteu-se num buraco enorme, imaginando que tinha as costas quentes. Quem incentivou Zelensky diz-lhe agora que se sente a negociar. Quem tentou empobrecer a Rússia com sanções (a Ursula e demais idiotas não eleitos), viu a economia russa crescer e a zona euro a empobrecer. Isto são factos. Não é simpatia por Putin, não é antipatia por Zelensky. São factos. Nós somos mais pobres hoje do que éramos em 2021 e isso deve-se, em parte, à guerra que insistimos em patrocinar no leste da Europa. Se morrem mais russos e ucranianos, se empobrecem mais europeus e se enriquecem países que nos passaram a fornecer, além das armas, a energia que já não chega diretamente da Rússia...a quem interessa isto tudo? A mim e a ti, que andamos a viver no mundo dos juros a 3% ou 4% e vamos metendo bandeirinhas no perfil em nome da solidariedade? Meus amigos, se os impérios e as suas lutas por recursos, ao serviço de umas quantas empresas e alguns bilionários, tem mesmo que ser a base das relações externas no planeta, não me peçam solidariedade e compreensão quando a parte que me toca é, sempre, a de pagar. A vida é simples e já o meu avô, homem de poucas palavras, o dizia: não te metas em alhadas das quais não consegues sair sozinho. A Ucrânia não precisa de mais mortos ou cidades estropiadas. A Rússia não precisa de mais desculpas para fortalecer a aliança com a China. E nós, os espantalhos que servem café na diplomacia mundial, aqui pela Europa, não precisamos de continuar a pagar para que os EUA lucrem mais com guerras por procuração.. Partindo do princípio que a III Guerra Mundial ainda não é opção (não sei se isto incomoda o Rogeiro, o Isidro e a Helena), eu sugeria a Zelensky que se abarbatasse com mais umas aldeias russas e, depois, fosse para a mesa das negociações jogar ao monopólio. Se, entretanto, os russos se chatearem e partirem mais do que é costume, é aguentar e não chorar muito.
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