A verdade sobre o acordo de paz de Trump para a Ucrânia em “24 horas”
(Martin Jay, in Strategic Culture Foundation, 13/11/2024, Trad. da Estátua) Trump pode muito bem obter a paz na Ucrânia em 24 horas. Mas a que preço? O gato finalmente saiu do saco. Agora, à medida que a UE é confrontada com a vitória de Trump em Washington, ela tem que enfrentar o seu dilema mais difícil até ao momento: se deve continuar a apoiar o presidente Zelensky na Ucrânia e manter a guerra, ou encarar a realidade, acabar com a confusão e trabalhar num acordo de paz. Na verdade, tudo se resume a duas relações. Uma com os próprios EUA e as suas administrações; outra, com o próprio Trump. Trump afirmou que vai parar a guerra na Ucrânia em 24 horas. Ao contrário de muitos relatos, ele até explicou como se faria isso: simplesmente desligando toda a ajuda militar a Zelensky. Esta enunciação lança um holofote sobre um assunto espinhoso; mais uma vez fica claro como os países da UE desempenham um papel tão pequeno para os EUA. A UE ganha uma boleia grátis por fazer parte de um bloco de defesa global, enquanto os EUA pagam a maior parte da conta. Não é segredo para ninguém que a maior parte das armas que estão a manter a guerra no lado ucraniano são provenientes dos EUA. Se esse fornecimento for abruptamente interrompido, os meios de comunicação social mundiais serão forçados a olhar para a equação e a relatar a principal queixa de Trump: que o acordo entre os EUA e os países da UE é injusto e precisa de ser reformulado. O gasto mínimo de 2% do PIB dos países é provavelmente irrealista e precisaria de ser aumentado para 4% ou mesmo 5% se houvesse algum tipo de equilíbrio nos gastos com defesa e responsabilidade igual para as chamadas iniciativas de "manutenção da paz" às quais o Ocidente se entrega, e que costumam terminar em pontos críticos problemáticos pelo mundo fora, tornando-se uma ameaça ainda maior do que eram antes da intervenção liderada pelos EUA. Quem poderia imaginar que os Talibãs estariam agora no poder no Afeganistão depois da intervenção da coligação da NATO liderada pelos EUA (mais alguns outros países como a Austrália), que custou mais de 2 triliões de dólares e 2.500 soldados americanos mortos? Biden pode ter ido embora, mas o vídeo de arquivo de notícias de afegãos, correndo ao lado de um avião de transporte aéreo dos EUA enquanto descola, será lembrado e visionado, talvez durante as próximas décadas, como um lembrete assustador de como a intervenção dos EUA geralmente falha. No entanto, a Velha Europa tem suas próprias ideias sobre a Ucrânia e Trump. Os líderes da UE, antes das eleições nos EUA, juntaram-se e aprovaram uma série de pacotes de ajuda à Ucrânia que, segundo vários especialistas, como Ian Proud, ex-diplomata do Reino Unido, manteriam a guerra por mais um ano, com ou sem a ajuda dos EUA. Isto, caso se concretize nos próximos dias, irritará Trump ainda mais colocá-lo-á numa posição em que seus primeiros contatos com a UE e os seus líderes serão de confronto. A sua principal tarefa para manter a sua palavra sobre a reivindicação das 24 horas será dizer à UE para cancelar as suas próprias promessas a Zelensky, o que imediatamente lembrará ao mundo inteiro quem ainda está a dar as cartas no Ocidente. Se a UE resistir, Trump não hesitará em tirar os EUA da NATO, embora temporariamente para fazer valer seu ponto de vista. Trump também insistirá que os 300 biliões de dólares em ativos russos que a UE detém, sejam descongelados e devolvidos ao seu legítimo proprietário. Como parte de um novo acordo para obter a paz na Ucrânia, os EUA terão que mostrar, pelo seu lado, alguma boa vontade e será Trump quem será o fiador dos europeus, certificando-se de que eles não "farão um Minsk", assinando papéis apenas para enganar aqueles que estão do outro lado da mesa de negociações. Trump será profundamente impopular entre os líderes da UE, pois um acordo de paz — mesmo um provisório que crie um cessar-fogo — incluirá o levantamento de sanções, que podem mesmo chegar ao descancelar no Ocidente dos meios de comunicação social russos. A primeira cimeira da NATO em Bruxelas será interessante, pois a nova ordem mundial será abalada e os europeus serão informados, de forma inequívoca, sobre quem está no comando. A ideia de que Trump simplesmente dirá à UE "o show é vosso, se vocês querem continuar a financiar a guerra, a decisão é vossa" é uma loucura, pois isso representaria a ocorrência de um cataclismo na estrutura de poder da NATO - já para não mencionar o comércio dos Estados Unidos com o bloco da UE -, que poderia colocar a Europa num lugar em que ela nunca quis estar: sozinha e inepta, desprovida de qualquer política no cenário mundial e perigosa.
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