(João Mc-Gomes, in VK, 13/11/2024)
Na minha simplicidade cidadã e como um "não estudioso" da matéria politica mundial, mas considerando-me um relativo "atento" à gestão politica mundial que tem sido trazida pelos novos dirigismos, assentes nas novas politicas liberais que "enfermam" todas as grandes nações na procura das correções aos problemas maiores e menores, anteriormente conduzidos mais por questões ideológicas do que económicas e que - hoje - são mais económicas do que ideológicas, face ao facto de se ter permitido paulatinamente - pela via da corrupção politica - que o Mundo global fosse "absorvido" pelos grandes interesses do capital (que, não tendo ideologia, se espalhou praticamente em todos os paises desenvolvidos ou em vias de desenvolvimento, onde procura influenciar politicos e empresários), percebe-se que a "bolha americana" de desenvolvimento chegou ao seu ponto mais alto e que a sua "democracia formal" não consegue encontrar alternativas conducentes à aplicação de soluções que façam "reviver" as suas indústrias, o seu comércio e a sua economia.
Há muitos anos vivendo sob o "chapéu mundial" que lhe permite desenvolver as suas diversas atividades, os EUA começaram a enfrentar há cerca de 20 anos um desenvolvimento mais acelerado, mais prático e menos oneroso do que uma China muito mais bem organizada e que começou a mostrar capacidades insuspeitadas para passar da mera "cópia" de plástico de artigos ocidentais, para a alta tecnologia que a transportou para a ciência espacial e para a industria e o comércio em larga escala, trazendo com isso a "ocupação" dos mercados mundiais anteriormente detidos por outros.
Num pequeno exemplo prático: enquanto a China desenvolvia a colocação de milhões de lojas em todo o Mundo para exportar os seus produtos, os EUA continuaram na politica das joint ventures abrindo os seus negócios através de terceiros e perdendo o controlo da distribuição do seu comércio, ao mesmo tempo que fazia fabricar em paises terceiros - incluindo a China - alguns dos seus produtos próprios para diminuição dos custos de produção. Isso traduziu-se na paulatina perda de mercado e no enfraquecimento das suas industrias locais.
Ora, o ambiente social nos EUA iniciou a sua degradação não há 10 ou 20 anos, mas há 30 ou 40, quando se deu incio ao processo económico de transferência das suas industrias e comércio para o exterior e as grandes multinacionais se procuraram localizar "fora de portas" mas tendo que seguir os critérios fiscais, financeiros e estruturais exigidos por terceiros.
Observando isso, a recente vitória republicana nos EUA reflete divisões profundas e crescentes na sociedade americana, resultado de múltiplos fatores sociais, políticos e económicos. Essas divisões não são apenas ideológicas, mas também estruturais e geográficas, moldadas por crises económicas e culturais que polarizam a população.
A desigualdade económica crescente alimenta frustrações populares, especialmente em estados e regiões industriais que sofreram com a desindustrialização e com políticas de globalização. A percepção de que políticas democráticas focadas em justiça social e redistribuição não alcançaram essas populações gera apoio às promessas republicanas de políticas económicas mais duras e liberais, voltadas ao empresariado e à redução de regulação, vistas como meios de recuperar empregos e revitalizar a economia.
O populismo de direita encontrou um terreno fértil, reforçado por uma comunicação divisiva e por uma retórica que explora o medo do declínio cultural e da "perda de identidade" americana. A promoção de políticas nacionalistas e mais autoritárias fortalece a base republicana, que busca uma liderança forte e menos focada em multiculturalismo e políticas identitárias.
A polarização nos valores culturais e sociais está cada vez mais acentuada. Questões sobre imigração, direitos LGBTQ+, aborto e controle de armas dividem profundamente a população. As políticas sociais democráticas, vistas por alguns como imposição de valores progressistas, criaram uma resposta adversa em estados conservadores, que apoiam uma abordagem republicana de "valores tradicionais".
Esse cenário criou tensões democráticas sérias. A polarização extrema afeta a confiança nas instituições e mina a capacidade de compromissos bipartidários. A sociedade americana vê-se cada vez mais segmentada, o que levará a conflitos sociais graves, prejudicando ainda mais a coesão social e colocando em risco a estabilidade democrática, assim que Trump iniciar as suas politicas que vão endurecer, ainda mais, a divisão atual. Os EUA, em 2025, vão apresentar claramente um Estado ainda mais policial do que aquilo que tem sido e, se se espalham as injustiças sociais e as prisões ilegitimas, bem como as mortes pela "cor" é muito claro que esse cenário vai piorar na gestão republicana.
É de esperar um ciclo de retrocessos democráticos e desafios sociais profundos no futuro dos EUA e isso pode vir também a contribuir para o agravamento das tensões do Mundo nos locais onde os EUA assentam os seus interesses económicos, sendo o Médio Oriente um deles mas sem esquecer a questão oriental, onde Taiwan provavelmente sofrerá algum "congelamento" ao longo dos próximos anos e enquanto a questão económica entre os EUA e a China não estiver mais favorável e equilibrada para os EUA.
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