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segunda-feira, 27 de fevereiro de 2017
Ela consegue dizer que o país é que deve sem se rir
A afronta de nos tomarem por parvos
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“DESLARGUEM-ME”, disse ele!
Que já andava em estado de permanente irritação, a precisar com urgência de uma ida a um médico que lhe receitasse nem que fosse uma Fluoexetina-20mg, como eu tomo diariamente para enfrentar com mais calma as contrariedades da vida, era nítido para todos.
Porquê? Por razões várias: O diabo que tardava em vir, mas que de certeza viria, nem que encarnado em alguém disposto a, por ele, fazer vingar as suas angústias- hoje, por exemplo, está um em Lisboa em quem ele tanto confiava, o tal de Dombrowski mas, como tem nome de futebolista, ninguém deu por ele; o candidato a Lisboa que não aparece; os números da economia a desmentirem-no mês a mês e tudo o mais…
Só havia uma luz no meio deste imenso breu e ele, mais os seus parceiros de viagem, logo tomaram esse trilho, dispostos a tudo fazerem e a tudo recorrerem para, sobrevivendo, manterem a raivosa carga ameaçadora sobre aquele Ministro com cara e voz de Topo Gigio, que ousou atraiçoar todas as suas previsões. Que teria mentido, diziam e dizem eles e queriam ver os seus SMS, para poderem provar a tese.
Mas, depois de uns tempos de mar revolto, com ondas deveras ameaçadoras, o “Presi” lá veio decretar a acalmia e dizer que a intempérie já tinha passado e era preciso era retomar a faina. E eis que, quando pretendiam continuar a cavalgar a onda, o mar se tornou “flat” e as ondas já quase nem a areia atacavam, quanto mais as rochas.
Mas mesmo assim, tal como aqueles maluquinhos todos que eu vejo aqui no mar da Póvoa, quando ele está “flat”, a andarem a nadar sobre as pranchas à espera que apareça uma onda com a qual possam fazer umas habilidades, ele e eles lá foram para o debate quinzenal de quarta feira, devidamente apetrechados para a brincadeira.
Mas eis que, depois das trocas de galhardetes habituais, surge a notícia de um autêntico míssil que um jornal, ainda por cima um jornal insuspeito de o vir a fazer, decidiu lançar sobre as suas bancadas. O Costa foi avisado e disse: Cuidem-se, mas é! Que raio são uns SMS à beira da fuga de 10 mil milhões a que o seu Governo fez vista grossa?
Já sem tempo para ligar o microfone vimos então o furor subir Passos acima e, de dedo em riste e ar ameaçador, apontava para um Costa sentado, com calma e ar trocista, o danado. Não se percebia o que o Coelho dizia dada a algazarra que as suas bancadas faziam, eram frases inaudíveis ditas de dedo espetado e avisador, mas deu para entender ser caso grave e o dedo em riste era nitidamente desafiador…
Eu, por acaso, estava nessa altura a seguir o debate e surgiu-me que aqueles avisos de dedo em riste só poderiam querer dizer uma coisa: não um desafio para um duelo mas um “lá fora espero-te” ou um “vais ver com quantos ovos se faz uma omelete”. E lembrei-me de quando éramos miúdos e quando, por qualquer troça ou gozo sofrido de um colega, também esse gesto fazíamos, mas mais dissimulado pois na Escola havia mais respeito que na Assembleia, insinuando ou dizendo mesmo: Lá fora vais ver! Não perdes pela demora! Vais ficar feito em pedaços! Vais ficar com a cara como a de um sapo, meu boi (era assim que diziamos “boy”)! Até te estripo, e coisas assim bondosas, mas passageiras, e próprias de miúdos feridos na sua masculinidade!
Mas o Coelho quis mesmo tirar satisfações. Que era uma “atitude soez e indigna”, disse depois o “Ionline” ele ter dito. “Indigna, reles e ordinária”, também terá dito.” Truques de baixa política e expedientes vergonhosos”, idem aspas…
Ao que as bancadas da maioria, era mais a do PS porque as outras só sorriam, ripostavam: “Tens é muita garganta”! Foi quando ele disse: “Deslarguem-me, que eu vou-me a eles”! “Lá fora vão ver”, ameaçou novamente, agora de dedo ainda mais em riste.
Mas quem tinha ele lá fora para o defender? A Maria de Assunção? Essa é pacifista. Aquele Soares, o de Braga, alto e grande? É, mas parece-se mais com geleia. O “Almeidinha”? Não compareceu. O outro, o não sei quê negro? Só repetia o que o Coelho dizia. Quem restava? O Zeca Mendonça, um defesa perito na arte da rasteiragem. Mas que podia ele fazer contra aqueles jogadores de râguebi que circundavam o Costa que, mesmo mostrando só os dentes, já o arrepiavam todo?
Mas quem foi, afinal, o culpado disto tudo? O PSD diz que o PS “prantou” a notícia dos 10 mil milhões para fazer esquecer os SMS. Mas quem divulgou na notícia? O Público! Como foi isso possível? Foi aquele tipo que tem uma barba com peladas brancas, aquele que foi para lá para enxotar aquela réstia de pro comunas que ainda lá andavam ( O Vitor Malheiros, a Alexandra Lucas, o resto não conta, e outros…)? O do Belmiro, não é? Mas que tem o Belmiro contra nós? Pois, pensou o Coelho, ele agora factura mais, muito mais e acha que a gente com esta coisa dos SMS ainda lhe estraga é o negócio…. Será? Vou ter que falar com o “Balsebraço” para ele perguntar ao “Belespreito” que mal é que eu lhe fiz…
Estava tudo a ir tão bem, entretidos naquela guerra de alecrim e manjerona, relaxadamente atirando setas ao alvo, do mesmo modo como quando era do Seguro e eu lhe dizia que ele passava era o tempo a jogar à batalha naval e que seria bem melhor que fizesse como eu, que ao menos jogava ao Sudoku, pois excitava mais a carola, quando…
…“Asfixia”, descobriram! “Claustrofobia Democrática”, também! Quem os manda andar sempre a passear pelos claustros e a apanhar resfriados? Joguem ao “Sudoku” ao menos…faz melhor à carola que o “Solitaire”…digo eu!
Ovar, 27 de fevereiro de 2017
Álvaro Teixeira
Sem Sombra de Grandeza
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Os engulhos de Dombrovskis
Quis o acaso que esta manhã bem cedo, ao passar à frente de um hotel situado no Terreiro de Paço, dei de caras com Valdis Dombrovskis, o vice-presidente da Comissão Europeia responsável pelo Euro e Estabilidade, um dos mais duros e ortodoxos responsáveis europeus, neo-liberal convicto e grande apoiante da linha austeritária aplicada aos países do sul da Europa como forma de ultrapassarem a crise que vivem.
Dombrovskis estava a sair do hotel para ir à Assembleia da República, onde admitiu que Portugal tenderá a sair do Procedimento por Défice Excessivo (PDE) se a evolução positiva da economia se confirmar, nomeadamente nas estatísticas oficiais de Abril. Com efeito, segundo acrescentou, para o país abandonar o PDE será necessário que as “tendências [sobre os valores do défice] se confirmem”.
“Vamos usar o Eurostat de Abril”, lembrou o responsável, numa referência à estatística oficial europeia que fixará os valores das contas públicas de 2016, e acrescentando que nas previsões económicas e financeiras da Primavera, em Maio, também haverá nova avaliação. Será a Comissão Europeia que, nessa altura, emitirá a sua recomendação que decide se um país sai ou não do PDE.
Ora convenhamos que é demais. Há, da parte de alguns comissários europeus e da maioria dos membros do Eurogrupo uma desconfiança intrínseca e uma sanha contra Portugal porque não só a actual solução política não lhes agrada (Governo PS, apoiado pelo BE e PCP), como as políticas que tem vindo a ser seguidas são diferentes daquelas que os ortodoxos dirigentes europeus sempre preconizaram, assentes em reduções de salários, pensões e prestações sociais, além da redução dos direitos dos trabalhadores.
Mesmo a burocracia europeia está na mesma via. As previsões que fizeram em Setembro para um crescimento da economia portuguesa, continuando a apontar para um valor de 0,9% quando já era evidente que o crescimento iria ficar pelo menos em 1,2% (vai provavelmente fixar-se em 1,4%), não pode ser considerado em erro, face aos valores que já eram conhecidos – e só pode ser entendido como uma vontade de deturpar os valores para pressionar o Governo português e mitigar as boas notícias junto dos mercados e dos investidores.
E tudo isto porque um Governo que segue uma orientação diferente e mesmo assim, após um ano no poder, consegue apresentar o défice mais baixo em 42 anos de democracia (facto assinalado hoje mesmo pelo Washington Post), é um perigo para todos os que sempre defenderam que não havia outra alternativa às políticas de violenta austeridade que preconizaram e continuam a defender.
Dombrovskis tem engolido, portanto, vários sapos ao pequeno-almoço, e como tem azia insiste em deturpar as regras comunitárias. Com efeito, a avaliação que é feita a um país para saber se saiu ou não do Procedimento por Défice Excessivo é baseada nos dados do Eurostat relativos ao ano anterior, no caso 2016. É isso e só isso que deve ser tido em conta. As previsões económicas e financeiras de Maio da Comissão Europeia já não contam para nada no que respeita à avaliação do ano passado. Por isso, ao dizer o que disse e ao fazer o que, pelos vistos, a linha ortodoxa da Comissão pretende fazer – ou seja, esperar até Maio pelas previsões da Comissão e só aí tomar uma decisão sobre a saída de Portugal do Procedimento por Défice Excessivo – Dombrovskis a Comissão não só extrapolam o que está inscrito nos tratados europeus como demonstram que ainda tem uma réstia de esperança de que surja qualquer razão para impedir que Bruxelas aprove essa saída.
É lamentável esta atitude de Dombrovskis, porque não é baseada em dados objetivos mas em posições políticas, e pelo que ela revela de mau perder e de dificuldade em aceitar outra via para atingir os mesmos objectivos. E é ainda mais lamentável que a Comissão não se demarque do seu vice-presidente, esclarecendo de uma vez por todas quando analisará a saída de Portugal do PDE e o que conta efectivamente para essa avaliação.
Ovar, 28 de fevereiro 2017
Álvaro Teixeira
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