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quarta-feira, 27 de setembro de 2017

Vergonha na Catalunha


Vergonha na Catalunha

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por estatuadesal

(Francisco Louçã, in Público, 27/09/2017)

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Olhar para a Catalunha a fazer vénias aos Bourbons tornou-se o destino dos nossos desistentes.


Há dois dias realizou-se um referendo acerca da independência do Curdistão iraquiano, conduzida pelo governo regional. Bagdad protestou, a Casa Branca tentou convencer os dirigentes curdos a adiar a consulta, mas ela realizou-se. Não houve prisão de governantes regionais, invasão policial, ameaças financeiras ou outras violências — e é uma zona de guerra contra o Daesh, para nem referir os ataques das forças turcas contra as milícias curdas. Apesar do perigo, a população teve o direito de votar.

No caso da Catalunha, em resposta à decisão do parlamento de realizar um referendo, alguns governantes foram presos e todos estão ameaçados, foi suspensa a autonomia financeira, milhares de polícias foram mobilizados de outras regiões, o procurador-geral anuncia que prenderá o presidente catalão e Rajoy ameaça com a mãe de todas as violências. Mesmo que as sondagens tenham vindo a indicar que a maioria da população quer ter o direito a escolher o seu futuro em referendo, mas que, se consultada, poderia preferir manter uma associação ao Estado espanhol, Rajoy tentará impedir a consulta pela força.

Este banquete de ameaças invoca a ordem constitucional, que foi estabelecida em 1978 na transição pós-franquista e que ao longo de 40 anos nunca foi modificada, apesar de sucessivas promessas feitas às autonomias regionais. Durante estas décadas, nem a solução federal vingou nem o direito de decisão nacional foi reconhecido.

Para quem assiste de longe à radicalização do conflito sobram muitas questões. Quanto a Portugal, interessa-nos, mais do que tudo, saber se a direita vence este braço de ferro e se Rajoy se torna mais agressivo do que já tem sido contra Portugal desde a formação do governo Costa, ou se são respeitados direitos fundamentais, como os que a diplomacia portuguesa invocou no passado recente.

De facto, Timor-Leste tornou-se independente graças a um referendo em que a maioria da população decidiu separar-se da Indonésia, cujo poder sobre o território, convém lembrar, era reconhecido pelos Estados Unidos, pela União Soviética, pela China, por Cuba e por muitos outros países. Apesar disso, Timor resistiu durante décadas e conseguiu votar a independência, a diplomacia portuguesa apoiou o referendo, a população portuguesa solidarizou-se, a ONU envolveu-se.

No nosso tempo foram realizados dois outros referendos sobre o direito à autodeterminação: no Quebec (1995) e na Escócia (2014), ambos aceites pelo Estado que poderia ser objecto da separação. O povo decidiu e a independência perdeu nos dois casos. O contraste com o caso espanhol é muito evidente: não houve ameaças, prisões, processos sumários, perseguições. E alguns Estados recentes foram formados sob a invocação da autodeterminação, como aconteceu com a Croácia, aplaudida na Europa quando se tratava de destruir a Jugoslávia.

Pensemos então que a Catalunha independente nem é viável nem necessária, ou que esse será o seu destino, só há um ponto em que precisamos de estar de acordo: o respeito pelo direito a decidir. É a democracia. A Catalunha tem o direito de votar.

Finalmente, deixem-me os leitores mostrar o meu espanto pelos doutrinários portugueses que, a despropósito, nos vêm agora explicar que, não tivesse havido 1640 e a recuperação da independência de Portugal, prefeririam fazer parte de Espanha e assim continuar. Há nisto uma leveza notável, que é essa imaginação delirante do que seria a história se não fosse o que foi. Pura fantasia: se esses doutrinários tivessem rodas poderiam ser um triciclo, mas não têm, pois não? Mas há pior, é o gosto de submissão a um Estado estrangeiro, como se a história pudesse ser corrigida descartando a nossa soberania. Olhar para a Catalunha a fazer vénias aos Bourbons tornou-se o destino dos nossos desistentes.

As nossas “Garzonetes”



por estatuadesal

President Barack Obama and First Lady Michelle Obama greet His Excellency Manuel Domingos Vicente, Vice President of the Republic of Angola, in the Blue Room during a U.S.-Africa Leaders Summit dinner at the White House, Aug. 5, 2014. (Official White House Photo by Amanda Lucidon)

(In Blog O Jumento, 27/09/2017)

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Notícia do dia:

“Ao aterrar em Joanesburgo o ex-vice-presidente de Angola, Manuel Vicente, foi detido ao abrigo de um mandato internacional emitido pela justiça portuguesa. Acusado  e condenado por corrupção ativa o antigo vice de José Eduardo dos Santos caiu em desgraça, tendo-lhe sido retirado o passaporte diplomático. Manuel Vicente já está a bordo de um avião a caminho de Lisboa, onde será preso e algemado por agentes da Autoridade Aduaneira, acompanhados do juiz Carlos Alexandre”.


Se esta notícia fosse verdadeira muitas outras também o seriam, o “Correio da Manhã” angolano teria divulgado todas as escutas e interrogatórios, já saberíamos o que oferecia à esposa, quantos primos tem e a cor das cuecas. Durante um ano e antes de ser condenado a sua imagem seria meticulosamente destruída e muito antes do julgamento já angolanos e portugueses o teriam condenado.

Os jornais portugueses já estariam a dizer que depois de Guterres tínhamos duas grandes personalidades de prestígio internacional, Maria José e Joana seriam as novas juízas Garzon, as Garzonetes portuguesas. Velhos camaradas do MRPP ou colegas de primária das Garzonetes estariam a formalizar uma candidatura a Prémio Nobel da Paz. Portugal teria feito o que muitos Tribunais Penais Internacionais não fazem, prender uma das mais altas personalidades de um dos países mais ricos do mundo, ainda por cima um dos países aliados de Portugal.

Pois, mas nada disto vai suceder, Manuel Vicente vai sobreviver às diatribes do nosso MP e ainda estará no ativo quando as nossas “Garzonetes” se reformarem. Entretanto, há uma grande probabilidade de o processo vir a destruir as relações entre Portugal e Angola. Graças à separação de poderes os magistrados são os donos da bola, ditam as regras, podem meter-se na política mas a política não se pode meter no MP. O país, os exportadores portugueses, as empresas que investiram em Angola, os que para lá emigraram, estão á mercê de um processo que todos sabemos que vai dar em águas de bacalhau, aliás, o mesmo que sucede a muitos outros processos.

Quem é que no fim disto tudo vai assumir o prejuízo da brincadeira? O país esteve em profunda crise financeira e precisa de ter boas relações com os principais parceiros, mas em plena crise alguém se lembrou de torpedear a relação de Portugal com um dos seus principais parceiros, com um processo sem saída. A crise está passando, os magistrados até já exigem aumentos e mais mordomias, mas os portugueses que vivem das relações com Angola têm a sua vida pendurada por um processo de onde ninguém sabe como se sai.

Ti Celito

Ti Celito

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por Autor Convidado

[Mwangolé]

Causou estranheza ler por aí nas redes sociais que alguns portugueses ficaram tristes com os assobios que o Presidente de Portugal terá ouvido na tomada de posse de João Lourenço. Só quem não conhece Angola e o povo angolano pode pensar que aquilo foi vaia. Na verdade aqueles assobios demonstram entusiasmo no aplauso. O angolano gosta do Ti Celito e tem mostrado agrado nas redes sociais pela forma descontraída e simpática que o antigo professor da Universidade Agostinho Neto se relacionou com o povo angolano. Quem dera poder dizer o mesmo dos nossos governantes e generais, quantas vezes vimos mergulhando na Ilha ou passeando na marginal junto do povo os principais dirigentes de Angola?

João Lourenço, o mau xadrezista

Jornal de Negocios

Celso  Filipe

Celso Filipe | cfilipe@negocios.pt26 de setembro de 2017 às 23:00

João Lourenço, o mau xadrezista

As relações entre Portugal e Angola atravessam um período complicado e prolongado no tempo. Já se sabia isso antes da tomada de posse de João Lourenço como Presidente de Angola. A deslocação de Marcelo Rebelo de

Só na aparência. Porque, na prática, João Lourenço manteve a política de distanciamento cultivada pelo seu antecessor e motivada pelos processos judiciais em curso em Portugal, os quais envolvem alturas figuras do Estado angolano, entre as quais o seu ex-vice-presidente, Manuel Vicente.
O azedume em relação a Portugal ficou patente quando o novo inquilino do Palácio da Cidade Alta elencou uma extensa lista de países com os quais Angola quer manter relações "importantes" e omitiu de forma deliberada Portugal. E nem se pode argumentar com uma referência anterior aos PALOP feita no seu discurso, porque nessa lista identificou um outro país de língua portuguesa, o Brasil.
João Lourenço agiu mal. Por duas ordens de razão. Uma diplomática e outra política.

Na diplomática, por evidente deselegância, roçando até a má educação. Portugal fez-se representar na cerimónia através da principal figura do Estado, sinal do relevo que dá às relações bilaterais. Os países "importantes", segundo Lourenço (por exemplo, os EUA, a China, o Reino Unido, Espanha, a Rússia), enviaram segundas, terceiras e quartas linhas a Luanda.
Na vertente política, porque João Lourenço, mesmo riscando Portugal do mapa dos "importantes", não pode decretar o fim de uma realidade que são as relações económicas entre os dois países. O que o novo Presidente de Angola fez, de forma camuflada, foi uma chantagem. A ameaça velada de corte das relações diplomáticas, recado enviado anteriormente ao Ministério do Negócios Estrangeiros português, é outra das peças desta manobra de pressão. João Lourenço, para aquietar as elites do seu partido, em vez de entreabir a porta do diálogo com Portugal, fechou-a com estrondo. É mau para Portugal? Claro que sim. Mas é igualmente mau para Angola, porque perde um parceiro privilegiado e com características únicas.
Como praticante de xadrez que diz ser, João Lourenço cometeu um erro de principiante: tanto quis ganhar que acabou por afogar o rei, o que, como se sabe, significa um empate. A questão de fundo residirá em saber se as duas partes estão dispostas a começar um novo jogo.

Sousa a Luanda para participar na cerimónia de investidura parecia ter o condão de contribuir para o degelo do relacionamento bilateral.

Os relatórios são todos iguais, mas uns são mais iguais do que os outros

por j. manuel cordeiro

Expresso

Era uma vez um relatório órfão e tão franciscano que para o título lhe bastaram duas palavras. Estava destinado a alimento da criação de ácaros, tal como sucedera aos irmãos, até ter sido salvo pelas luzes da ribalta. Agora vive os seus dias de glória, sendo aclamado como sendo O Relatório e já nascem canções sobre o material nuclear roubado por ele relatado. Eis o destino dos eleitos, quando O Jornalista estende a mão ao que parecia primus inter pares. Poderão existir outros, mas este é O Único.