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segunda-feira, 13 de novembro de 2017

Celebre-se, pois

por Sérgio Barreto Costa

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O Putsch da Cervejaria, ocorrido em Munique a 8 de Novembro de 1923, faz 94 anos. Entre alocuções apologéticas e críticas anti-nazis, há espaço para uma celebração simbólica e afectiva, e há também espaço para uma fervilhante reflexividade em iniciativas académicas e culturais. É bom que assim seja. Dado que a direita portuguesa se radicalizou, considero meu dever, como deputado do partido que representa a moderação reformista, recentrar, através da análise dos extremos, o debate político em Portugal. Tendo já feito a minha reflexão sobre a Revolução Bolchevique, dedico-me agora ao lado oposto do espectro ideológico.

O Putsch da Cervejaria foi objectivamente um dos acontecimentos mais marcante do século XX. O seu impacto mudou a geopolítica da Humanidade. Foi um “game changer” tão grande como a Revolução Francesa, em relação à qual falar do “grande terror” parece – porque é – um anacronismo face ao que significou no curso da história (principalmente por não ter sido a minha cabeça a saltar fora na guilhotina). Obviamente que a lenta mas inexorável conquista do poder por parte do Partido Nazi resultou de uma conjugação de factores e não da acção mitificada de um grupo de homens que muitos acasos poderiam não ter permitido. Mas permitiram: a Primeira Guerra Mundial, a República de Weimar, o Tratado de Versalhes, a perda das colónias, a crise de 1923 e a hiperinflação, a ocupação do Ruhr, o crash de 1929, a teorização orgânica do nazismo por esse brilhante estratega político que foi Adolf Hitler, um grande conspirador, um amante da pintura, da arquitectura e da música, um operacional e um teórico do nacional-socialismo.

Na Alemanha, foi possível recuperar uma nação destruída e desmoralizada, e fazer com que o orgulho regressasse às almas dos seus cidadãos. A economia, completamente arrasada, foi reerguida; a taxa de inflação, incapaz de se manter em intervalos adequados, foi posta nos eixos; o desemprego, que atingia uns inimagináveis 6 milhões de alemães, foi brutalmente reduzido; e o PIB per capita substancialmente aumentado. Em pouco tempo, a Alemanha passou de um país humilhado para uma das maiores potências mundiais.

A história é o que é. Para lá de todas as disputas que o tempo presente ainda convoca, o 8 de Novembro de 1923 é uma das chaves do século XX e uma das marcas mais poderosas da história universal. Emancipadora, pois claro, no contexto que a permitiu e a consolidou. Celebre-se, pois.

Tiago Barbosa Ribeiro

domingo, 12 de novembro de 2017

Teodora Cardoso vs. Mário Centeno

por estatuadesal

(Nicolau Santos, in Expresso, 11/11/2017)

nicolau

Portugal emitiu esta semana €1,25 mil milhões em títulos de dívida a 10 anos à taxa de juro mais baixa de sempre (1,939%) da sua história para um período tão longo. É um resultado fantástico, que tem por trás a expectativa de que a Fitch vai elevar o rating de Portugal a 15 de dezembro e que a Moody’s fará o mesmo no início de 2018, a par da evolução positiva de vários indicadores económicos (PIB, défice, dívida, emprego, desemprego, exportações, turismo). Ainda esta semana soube-se que o desemprego caiu para 8,5%, o valor mais baixo desde 2008, estando já abaixo do valor que o Governo prevê para o próximo ano.

Digamos, pois, que a conclusão só pode ser uma: os mercados e as agências de rating estão a validar a política económica e orçamental do país. Não é isso, contudo, o que pensa o Conselho de Finanças Públicas, presidido por Teodora Cardoso, que, ao avaliar a proposta do Orçamento do Estado para 2018 faz graves acusações ao Governo e ao ministro das Finanças, Mário Centeno. Afirma, por exemplo, que o Governo se limita a “cumprir as regras apenas nos mínimos indispensáveis para obviar à desaprovação da Comissão Europeia”. É batota? Incumpre as regras? Não. Mas a mensagem que Teodora Cardoso passa é que o Governo é o aluno manhoso que devia fazer bastante mais. A presidente do CFP acusa também o Executivo de “usar toda a ambiguidade das regras” relativamente ao défice estrutural para não o cumprir. Teodora Cardoso sabe que o cálculo do défice estrutural é altamente polémico. Por isso, que sentido tem Portugal fazer um esforço adicional de redução do défice estrutural quando existem várias medidas que tanto podem ser consideradas para ele como não (o Eurostat decidirá), mas que o CFP decidiu desde já não considerar — e é por isso que diz que Portugal não vai cumprir o objetivo de reduzir o défice estrutural? E Teodora Cardoso pensa mesmo que com o défice orçamental a cair para 1% em 2018 e a dívida a reduzir-se pelo segundo ano consecutivo a Comissão Europeia vai aplicar sanções ao país por causa da diferença de uma ou duas décimas no défice estrutural?

Tanto azedume só pode ter uma razão. Teodora Cardoso não esquece nem perdoa que o Governo tenha chumbado os dois nomes que tinha proposto para o conselho de administração do CFP, Teresa Ter-Minassian e Luís Vitório. Mas o azedume não dá razão. No braço de ferro entre Teodora Cardoso e o ministro das Finanças, é Mário Centeno quem está a ganhar: não só conseguiu um défice em 2016 (2,0%) que a presidente do CFP primeiro assegurou que não era possível e depois desvalorizou (admitiu ter havido “quase um milagre”), como a economia vai crescer este ano 2,6% contra uma previsão inicial do CFP de 1,7%. Logo, porque há de estar Teodora Cardoso mais certa na avaliação do OE-2018 do que Mário Centeno?

Angola: Até onde irão o poder e influência de Isabel dos Santos?

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Nádia Issufo há 2 dias

José Eduardo dos Santos já não é Presidente de Angola para continuar a garantir facilidades a filha. Será que só as habilidades de empresária de Isabel dos Santos são suficientes para lhe garantir poder e influência?
"A filhinha do papá", como também a designam, continua a ser uma das cem mulheres mais influentes do mundo, na posição 74, de acordo com o "ranking" da Forbes. A revista avalia a fortuna de Isabel dos Santos, em 2017, em cerca de 3,4 mil milhões de dólares, quando em 2016 andava em 3,2 mil milhões.
© Fornecido por Deutsche Welle
Tem interesses na banca, telecomunicações e minas, para além de dirigir a Sonangol, a pretolífera estatal angolana. É acusada de ter ascendido no mundo dos negócios graças ao seu pai.
Mas agora que José Eduardo dos Santos já não é Presidente do país a sua filha continuará a beneficiar de tráfico de infuência? O economista angolano Precioso Domingos desconfia que não: "É evidente que não tendo lá [na Presidência] o pai, que era uma peça-chave obviamente que isto vai ser um grande abalo do ponto de vista desta influência aqui em Angola, fundamentalmente."
Sonangol é ou não uma garantia de poder?
Mesmo que não venha a "abocanhar" todas as novas oportunidades de negócio, como tem acontecido, Isabel dos Santos ainda gere a mais importante empresa de Angola, a Sonangol. Esta é o garante da economia do país. Uma posição que continua a conferir-lhe poder e influência.
Mas há quem dissocie essa posição privilegiada do "ranking" da Forbes. O sociólogo angolano João Batista Lukombo é um deles e sublinha: "Mas a posição dela de uma das mulheres mais influentes é anterior a sua nomeação ao cargo de PCA (Presidente do Conselho de Administração) da Sonangol. Então não considero que seja a Sonangol que fez dela uma das mais influentes."
João Lourenço quer acabar com a "festa"?
De qualquer modo o novo Governo liderado por João Lourenço já está a tomar algumas medidas que põe em causa o conforto de Isabel dos Santos no domínio dos negócios. Competitividade é uma das bandeiras do novo Presidente.
Por exemplo, na telefonia móvel a Unitel de Isabel dos Santos opera ao lado da Movicel, empresa pública, e praticamente não há concorrência entre elas. E já no Governo anterior foi aprovada a entrada de um terceiro operador em 2018, a Angola Telecom, embora com suspeitas de entraves por parte das operadoras já no mercado. A situação poderá colocar em causa a hegemonia da empresária.
O economista Precioso Domingos espera melhores momentos: "Acredito que agora que começam a entrar novos operadores no mercado, e que não entrem em concertação com as outras empresas que já operam no mercado, aí sim, coloca-se uma situação de mais concorrência ao nível desse setor."
Mas Domingos lembra que Isabel dos Santos ainda tem trunfos na manga: "E tudo agora dependerá da Unitel beneficiar ou jogar e a seu favor o facto dela ser incumbente no mercado, ela chegou primeiro."
A hora da verdade?
E este é o momento para se por a prova as competências de Isabel dos Santos como empresária, ou da sua equipa de assessores estrangeiros pagos a preço de ouro, ou do petróleo. E caso seja demitida da Sonangol, onde as pressões para isso são grandes, as chances de perda de influência são colocadas na balança.
Precioso Domingos diz que"a influência depende da capacidade das pessoas fazerem as coisas acontecerem, e isso também está associado a capacidade de fazer networking. Mas acredito que a capacidade da própria pessoa em gerar riqueza está em não depender muito de ligações políticas".
E o economista conclui: "Mas no caso da engenheira Isabel dos Santos não tendo aí o pai penso que isso vai permitir responder a esta questão, porque as pessoas sempre relacionaram o seu sucesso a presença do pai na presidência".

Um inesperado efeito do aquecimento global

por estatuadesal
(Jorge Rocha, in Blog Ventos Semeados, 12/11/2017)

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Os cientistas ainda não terão concluído isso, mas estou cá para lhes dar uma ajuda: um dos mais inesperados efeitos do aquecimento global e do estender do verão por este outono sem chuva adentro, tem sido a manifestação quase quotidiana do que dantes associávamos a comportamentos típicos da silly season.

Recordemos ao que estávamos habituados: em tempos idos, menos condicionados pelos humores meteorológicos, chegava-se ao verão, a política metia férias e as capas das revistas mostravam mamocas e escarrapachavam grandes títulos sobre sexo. Mas, porque o tema não conseguia ser assim tão elástico, complementavam-se as reportagens sobre os gigolos algarvios ou as alternadeiras de Trás-os-Montes com aquele tipo de curiosidades, que justificam anualmente os IgNobeis: as razões, que possam justificar a aversão dos pombos por uma determinada estátua no Japão, a explicação porque os estudantes de humanísticas não gostam de couves de bruxelas, a relação da música country com as taxas de suicídio e outras parvoíces do género.

É claro que a bancada do PPD/PSD ajuda muito ao prolongamento da estação das tontices: ter uma das suas estrelas a afiançar da proibição da legionella só nos pode suscitar a gargalhada por muito que nos mereçam consideração os que morreram ou ainda estão hospitalizados por causa da malfadada bactéria. Mas pior ainda é o seu líder parlamentar, que nos faz sempre lembrar aquela tese freudiana em como detestamos sempre no outro, o que mais odiamos em nós: são tantas as vezes em que diz valerem zero os ministros socialistas (incluindo o primeiro), que denota ali a urgência em ser consultado por competente psicanalista. O rapaz tem sérios problemas de autoestima e necessita de um sem fim de sessões para ver se ganha por si mesmo alguma capacidade de concluir por um méritozinho, mesmo que ínfimo, escondido lá nos esconsos do seu limitado cérebrozinho. Muito embora desconfiemos estar ali mais um exemplo do que Robert Musil definiu como o típico homem sem qualidades.

Mas nem sequer Marcelo escapa às tontices inerentes a esta atmosfera estranha: não lembraria a ninguém, que nos quisesse vir impor a Maria Cavaca como madrinha. Uma ideia dessas não nos faz rir, nem sequer sorrir: é de arrepiar tão halloweenesca nos parece a criatura. Não tanto como representação da Bruxa Má do ocidente, nem como Rainha de Copas, mas assim mais do género de uma coisa abstrusa relacionada com Presépios - uma espécie de personagem dos filmes do Mario Bava ou do Dario Argento, mas sem ponta de sensualidade.

É nesta envolvente alucinada, que veio à baila a história do Panteão com os vilões a quererem sacudir a capa da responsabilidade de terem querido transformar a memória nacional em local para a organização de eventos e até terem criado uma ridícula tabela de preços para o efeito.

Vale-nos a sanidade desta maioria parlamentar - que comemora dois anos de existência - ainda insuficientes para desativar todas as minas e armadilhas deixadas pela pesada herança dos que quiseram-nos convencer de que viveríamos doravante num mundo onde tudo se comercializa, tudo se privatiza.

Esperemos que as chuvas acabem por vir e as patetices laranjas ou do selfieman deem lugar a alguma sensatez.

Trumpa

Aventar

por j. manuel cordeiro

Isto é tão bom, mas tão bom, que só é pena ser mau.

Acto 1:

“He said he didn’t meddle,” President Trump told reporters aboard Air Force One on Saturday. “I asked him again. You can only ask so many times... He said he absolutely did not meddle in our election. He did not do what they are saying he did."

He added: “And I believe, I really believe that, when he tells me that he means it.”

Despite the fact multiple US intelligence agencies concluded Moscow interfered in the presidential election in the attempt to push the vote in the Republican’s favour, President Trump also said the accusations had hurt Mr Putin’s feelings. [Independent, 12/11/2017]

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