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quarta-feira, 22 de novembro de 2017

A morte da executiva

Rodrigo Sousa Castro adicionou 2 fotos novas.
6 h ·

A morte da executiva
Foto de Rodrigo Sousa Castro.Foto de Rodrigo Sousa Castro.
Foi tudo muito rápido. A executiva bem-sucedida sentiu uma pontada no peito, vacilou, cambaleou. Deu um gemido e apagou-se.
Quando voltou a abrir os olhos, viu-se diante de um imenso Portal.
Ainda meio tonta, atravessou-o e viu uma miríade de pessoas. Todas vestindo cândidos camisolões e caminhando despreocupadas. Sem entender bem o que estava a acontecer, a executiva bem-sucedida abordou um dos passantes:
- Enfermeiro, eu preciso voltar com urgência para o meu escritório, porque tenho um meeting importantíssimo. Aliás, acho que fui trazida para cá por engano, porque o meu seguro de saúde é Platina, e isto aqui está a parecer-me mais a urgência dum Hospital público. Onde é que nós estamos?
- No céu.
- No céu?...
- É.
- O céu, CÉU...?! Aquele com querubins, anjinhos e coisas assim?
- Exacto! Aqui vivemos todos em estado de graça permanente.
Apesar das óbvias evidências, ausência de poluição, toda a gente a sorrir, ninguém a usar telemóvel, a executiva bem-sucedida levou tempo a admitir que havia mesmo batido a bota.
Tentou então o plano B: convencer o interlocutor, por meio das infalíveis técnicas avançadas de negociação, de que aquela situação era inaceitável. Porque, ponderou, dali a uma semana iria receber o bónus anual, além de estar fortemente cotada para assumir a posição de presidente do conselho de administração da empresa.
E foi aí que o interlocutor sugeriu:
- Talvez seja melhor a senhora conversar com Pedro, o coordenador.
- É?! E como é que eu marco uma audiência? Ele tem secretária?
- Não, não. Basta estalar os dedos e ele aparece.
- Assim? (...)
- Quem me chama?
A executiva bem-sucedida quase desabava da nuvem. À sua frente, imponente, segurando uma chave que mais parecia um martelo, estava o próprio Pedro.
Mas, a executiva tinha feito um curso intensivo de approach para situações inesperadas e reagiu logo:
- Bom dia. Muito prazer. Belas sandálias. Eu sou uma executiva bem-sucedida e...
- Executiva... Que palavra estranha. De que século veio?
- Do XXI. O distinto vai dizer-me que não conhece o termo 'executiva'?
- Já ouvi falar. Mas não é do meu tempo.
Foi então que a executiva bem-sucedida teve um insight. A máxima autoridade ali no paraíso aparentava ser um zero à esquerda em modernas técnicas de gestão empresarial.
Logo, com seu brilhante currículo tecnocrático, a executiva poderia rapidamente assumir uma posição hierárquica, por assim dizer, celestial ali na organização.
- Sabe, meu caro Pedro. Se me permite, gostaria de lhe fazer uma proposta. Basta olhar para essa gente toda aí, só na palheta e andando a toa, para perceber que aqui no Paraíso há enormes oportunidades para dar um upgrade na produtividade sistémica.
- É mesmo?
- Pode acreditar, porque tenho PHD em reorganização. Por exemplo, não vejo ninguém usando identificação. Como é que a gente sabe quem é quem aqui, e quem faz o quê?
- Ah, não sabemos.
- Percebeu? Sem controlo, há dispersão. E dispersão gera desmotivação. Com o tempo isto aqui vai acabar em anarquia. Mas podemos resolver isso num instante implementando um simples programa de targets individuais e avaliação de performance.
- Que interessante...
- É claro que, antes de tudo, precisaríamos de uma hierarquização e um organograma funcional, nada que dinâmicas de grupo e avaliações de perfis psicológicos não consigam resolver.
- !!!...???...!!!...???...!!!
- Aí, contrataríamos uma consultoria especializada para nos ajudar a definir as estratégias operacionais e estabeleceríamos algumas metas factíveis de leverage, maximizando, dessa forma, o retorno do investimento do Grande Accionista... Ele existe, certo?
- Sobre todas as coisas.
- Óptimo. O passo seguinte seria partir para um downsizing progressivo, encontrar sinergias high-tech, redigir manuais de procedimento, definir o marketing mix e investir no desenvolvimento de produtos alternativos de alto valor agregado. O mercado telestérico, por exemplo, parece-me extremamente atractivo.
- Incrível!
- É óbvio que, para conseguir tudo isso, teremos de nomear um board de altíssimo nível. Com um pacote de remuneração atraente, é claro. Coisa assim de salário de seis dígitos e todos os fringe benefits e mordomias da praxe. Porque, agora falando de colega para colega, tenho a certeza de que vai concordar comigo, Pedro. O desafio que temos pela frente vai resultar num Turnaround radical.
- Impressionante!
- Isso significa que podemos partir para a implementação?
- Não. Significa que a senhora terá um futuro brilhante... se for trabalhar com o nosso concorrente. Porque acaba de descrever, exactamente, como funciona o Inferno...
Max Gehringer
(Max Gehringer (Jundiaí, Brasil,1949) é administrador de empresas e escritor, autor de diversos livros sobre carreiras e gestão empresarial.)

Jeunesse ganha o Grand Stevie e Wendy Lewis recebe o Gold Stevie para Lifetime Achievement

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21 de novembro de 2017

Parabéns, Generation Young!

Jeunesse ® levou para casa um impressionante oito Stevie Awards nos 14 th Awards Stevie para mulheres no negócio, incluindo um Grande Stevie - a maior honraria do programa. Os Grand Stevie Awards foram apresentados às cinco principais organizações que obtiveram o maior número de prêmios. Com dois prêmios Gold e Five Silver Stevie, a Jeunesse ficou em terceiro lugar entre todas as empresas na competição deste ano.

As principais honras também foram para o co-fundador e COO Wendy Lewis, que recebeu um Gold Stevie para Lifetime Achievement in Business. Os prêmios foram anunciados em uma recente gala em Nova York, onde Lewis também ganhou quatro Silver Stevies para:

  • Feminino Executivo do Ano
  • Empreendedor Feminino do Ano
  • Mulheres ajudando as mulheres
  • Mulher do Ano

Além disso, Jeunesse ganhou um Gold Stevie para o Programa de Participação Comunitária do Ano para Jeunesse Kids ™ e um Silver Stevie para Empresa do Ano.

Wendy reconheceu os elogios, dizendo: "É um privilégio ser reconhecido entre as incríveis mulheres e empresas que foram homenageadas nos Stevie Awards for Women in Business. Os meus sinceros e sinceros agradecimentos ao painel de julgamento dos Stevie Awards e, o mais importante, aos Distribuidores e colaboradores da Jeunesse em todo o mundo que tornaram possível nosso sucesso ".

Os Stevie Awards for Women in Business são as principais honras do mundo para empresárias, executivos, funcionários e organizações que eles executam. Todos os indivíduos e organizações em todo o mundo são elegíveis para enviar indicações - públicas e privadas, com fins lucrativos e sem fins lucrativos, grandes e pequenas. Os prêmios de 2017 receberam inscrições de 25 nações e territórios. Uma lista completa de vencedores pode ser vista aqui .

Os bons desejos do Dr. Júdice

por estatuadesal

(Francisco Louçã, in Público, 18/11/2017)

josemigueljudice

José Miguel Júdice

(Confesso que este artigo, já de dia 18, me tinha passado, mas merece vir à estampa, com retrato do Dr. Júdice e tudo. Mais um comentador da direita, provavelmente, o mais "esclarecido" de todos, e daí o mais perigoso, depois de D. Marcelo se ter, pelo menos na forma, reformado. Louçã desmonta o afã com que Júdice - também ele criador de cenários e mensageiro de recados -, anseia pela queda da Geringonça, ou pelo menos, por uma maioria absoluta do PS que dispense este de ter fazer cedências aos partidos à sua esquerda, o mesmo é dizer, ao mundo do trabalho e aos mais desprotegidos.

Eu cá por mim, não perco na TVI, às segundas-feiras as catequeses da luminária. Convém saber o que a direita anda a fazer para lhe travar o passo. E jamais se deve subestimar o inimigo.

Estátua de Sal, 22/11/2017)


Quem comenta, seus males espanta? Nem sempre. José Miguel Júdice, comentador TVI, tem a sina de se enganar quando trata da esquerda, o que ficou evidente no seu anúncio solene de que o PCP se absteria no Orçamento. Era coisa garantida depois das autárquicas, aí vinha uma orgulhosa abstenção. A conta era esdrúxula, pois implicava que, para que o orçamento ainda assim fosse aprovado pondo-se o PCP de lado (15 votos), o PS votasse com o Bloco, o PAN e os Verdes (108 votos) de modo a que a direita (107 votos) não vencesse. Este cenário sempre foi uma fantasia. Pago para ver o dia em que, numa questão importante, o PCP vota de um modo e outra sua parte vota ao contrário, seria pirueta. Mas o maior obstáculo ainda era político: negociando o Orçamento em detalhe e conseguindo algumas vitórias significativas (redução do IRS para os trabalhadores e pensionistas com rendimentos baixos, aumento das pensões, contratação de professores e medidas sociais), os partidos de esquerda ficam amarrados ao mesmo compromisso que limita o governo e devem viabilizar os seus próprios resultados. Portanto, assunto encerrado, o Orçamento, que ainda tem pela frente um mar de detalhes de especialidade, será aprovado. Júdice arriscou uma previsão e é vencido pelos factos.

Tranquilizem-se os leitores, nada tenho contra este tipo de previsões. Antes à frente de toda a gente, não há palco mais exposto do que a televisão perto de si, do que intrigas palacianas, ou subterfúgios, ou insinuações. Pão pão, queijo queijo, estas afirmações são conferidas nas semanas seguintes por toda a gente que as ouviu.

Mas Júdice resolveu dobrar a parada. Agora já não é o PCP que vai fazer cair a geringonça. O que nos foi revelado na última intervenção é muito mais soturno: o Primeiro-Ministro, homem matreiro, estará a cogitar provocar ele próprio eleições para alcançar a maioria absoluta, ali pela primavera. O cenário é convidativo, eleições internas no PSD, ou vai Rio ou vai Santana, ambos têm as suas vantagens para o PS, ambos lhe prometem “pactos de regime”, o que em Portugal só tem má fama, um levou o PSD à sua maior derrota de sempre e outro acantonou-se, ambos dividem o partido e nenhum deles convence o eleitorado que anda órfão de direita. Vai daí, Costa provoca crise política, sacode a esquerda que atrapalha o governo com exigências e usa o pretexto da Comissão Europeia, que manda recados a este orçamento sobre o pouco ajustamento do “défice estrutural” e outras sandices e quererá contas a meio de 2018.

O aborrecimento é que isto é uma fantasia. Primeiro porque o governo não provoca uma crise invocando uma culpa da “Europa”, seria suicidário quanto à sua história e política. Para o PS, como para o falecido “arco da governação”, a “Europa” é o último recurso de legitimação, não é uma justificação para a recusa de qualquer imposição que seja. Segundo, porque Costa não provocará uma crise política que tenha o aspecto de uma jogada: para satisfazer o desejo de Júdice, teria de se demitir de iniciativa própria, o que arrasta uma factura pesada. Não se confia no Primeiro-Ministro que deita abaixo o seu governo para pedir mais poder, tendo tido maioria estável. Terceiro, essa estratégia divertida entregaria a decisão ao Presidente e o PS nem quer ouvir falar nisso.

Resta então a questão: porque é que Júdice sugere algo tão estapafúrdio, se me perdoam o meu francês? Porque deseja que haja este abanão. A direita, como Júdice, está agora nisto: queremos o poder mas não podendo ser, pelo menos que o PS tenha maioria absoluta, já dormimos descansados. Façam qualquer coisa, atirem-se ao chão, corram com essa esquerda, défice estrutural e nada de corrigir pensões miseráveis, venha a redução do IRC, ora ouçam as clientelas. Natureza de escorpião? Talvez exasperação.

Os bons desejos do Dr. Júdice

por estatuadesal

(Francisco Louçã, in Público, 18/11/2017)

josemigueljudice

José Miguel Júdice

(Confesso que este artigo, já de dia 18, me tinha passado, mas merece vir à estampa, com retrato do Dr. Júdice e tudo. Mais um comentador da direita, provavelmente, o mais "esclarecido" de todos, e daí o mais perigoso, depois de D. Marcelo se ter, pelo menos na forma, reformado. Louçã desmonta o afã com que Júdice - também ele criador de cenários e mensageiro de recados -, anseia pela queda da Geringonça, ou pelo menos, por uma maioria absoluta do PS que dispense este de ter fazer cedências aos partidos à sua esquerda, o mesmo é dizer, ao mundo do trabalho e aos mais desprotegidos.

Eu cá por mim, não perco na TVI, às segundas-feiras as catequeses da luminária. Convém saber o que a direita anda a fazer para lhe travar o passo. E jamais se deve subestimar o inimigo.

Estátua de Sal, 22/11/2017)


Quem comenta, seus males espanta? Nem sempre. José Miguel Júdice, comentador TVI, tem a sina de se enganar quando trata da esquerda, o que ficou evidente no seu anúncio solene de que o PCP se absteria no Orçamento. Era coisa garantida depois das autárquicas, aí vinha uma orgulhosa abstenção. A conta era esdrúxula, pois implicava que, para que o orçamento ainda assim fosse aprovado pondo-se o PCP de lado (15 votos), o PS votasse com o Bloco, o PAN e os Verdes (108 votos) de modo a que a direita (107 votos) não vencesse. Este cenário sempre foi uma fantasia. Pago para ver o dia em que, numa questão importante, o PCP vota de um modo e outra sua parte vota ao contrário, seria pirueta. Mas o maior obstáculo ainda era político: negociando o Orçamento em detalhe e conseguindo algumas vitórias significativas (redução do IRS para os trabalhadores e pensionistas com rendimentos baixos, aumento das pensões, contratação de professores e medidas sociais), os partidos de esquerda ficam amarrados ao mesmo compromisso que limita o governo e devem viabilizar os seus próprios resultados. Portanto, assunto encerrado, o Orçamento, que ainda tem pela frente um mar de detalhes de especialidade, será aprovado. Júdice arriscou uma previsão e é vencido pelos factos.

Tranquilizem-se os leitores, nada tenho contra este tipo de previsões. Antes à frente de toda a gente, não há palco mais exposto do que a televisão perto de si, do que intrigas palacianas, ou subterfúgios, ou insinuações. Pão pão, queijo queijo, estas afirmações são conferidas nas semanas seguintes por toda a gente que as ouviu.

Mas Júdice resolveu dobrar a parada. Agora já não é o PCP que vai fazer cair a geringonça. O que nos foi revelado na última intervenção é muito mais soturno: o Primeiro-Ministro, homem matreiro, estará a cogitar provocar ele próprio eleições para alcançar a maioria absoluta, ali pela primavera. O cenário é convidativo, eleições internas no PSD, ou vai Rio ou vai Santana, ambos têm as suas vantagens para o PS, ambos lhe prometem “pactos de regime”, o que em Portugal só tem má fama, um levou o PSD à sua maior derrota de sempre e outro acantonou-se, ambos dividem o partido e nenhum deles convence o eleitorado que anda órfão de direita. Vai daí, Costa provoca crise política, sacode a esquerda que atrapalha o governo com exigências e usa o pretexto da Comissão Europeia, que manda recados a este orçamento sobre o pouco ajustamento do “défice estrutural” e outras sandices e quererá contas a meio de 2018.

O aborrecimento é que isto é uma fantasia. Primeiro porque o governo não provoca uma crise invocando uma culpa da “Europa”, seria suicidário quanto à sua história e política. Para o PS, como para o falecido “arco da governação”, a “Europa” é o último recurso de legitimação, não é uma justificação para a recusa de qualquer imposição que seja. Segundo, porque Costa não provocará uma crise política que tenha o aspecto de uma jogada: para satisfazer o desejo de Júdice, teria de se demitir de iniciativa própria, o que arrasta uma factura pesada. Não se confia no Primeiro-Ministro que deita abaixo o seu governo para pedir mais poder, tendo tido maioria estável. Terceiro, essa estratégia divertida entregaria a decisão ao Presidente e o PS nem quer ouvir falar nisso.

Resta então a questão: porque é que Júdice sugere algo tão estapafúrdio, se me perdoam o meu francês? Porque deseja que haja este abanão. A direita, como Júdice, está agora nisto: queremos o poder mas não podendo ser, pelo menos que o PS tenha maioria absoluta, já dormimos descansados. Façam qualquer coisa, atirem-se ao chão, corram com essa esquerda, défice estrutural e nada de corrigir pensões miseráveis, venha a redução do IRC, ora ouçam as clientelas. Natureza de escorpião? Talvez exasperação.

Vá lá, não se façam de novas

por estatuadesal

(Francisco Louçã, in Público, 22/11/2017)

louça1

Ninguém notou, quanto em 2004 uma investigação do Senado norte-americano sobre a fortuna do ditador chileno Augusto Pinochet identificou as dependências das Ilhas Caimão e da Florida do BES como veículos para a ocultação dos dinheiros e fuga ao fisco? Vá lá, toda a gente notou. O BES fez mesmo um comunicado de imprensa contra quem, como este cronista que aqui assina, chamou a atenção para as conclusões do relatório.

Ninguém notou quanto em 2009 o BCP português foi forçado pelas autoridades a revelar os seus movimentos em sociedades offshore? Vá lá, isso foi tema de comissão de inquérito e a administração do banco foi substituída logo a seguir.

Ninguém leu as notícias quando o consórcio de jornalistas de investigação revelou em 2013 o que se chamou de Offshore Leaks? Eram 100 mil empresas fictícias criadas para ocultar capitais. A Google transferiu em 2013 dez mil milhões de dólares para as Bermudas, conseguindo assim pagar sobre todos os seus lucros uma taxa efectiva de 2,4%.

E, vá lá, ninguém deu conta em 2104 do Luxleaks, a revelação do engenhoso esquema do governo do Luxemburgo para albergar empresas multinacionais e garantir assim que pagavam um IRC insignificante? Sim, foi assaz evidente: o primeiro ministro luxemburguês entre 1995 e 2013 chama-se Jean Claude Juncker e, sendo presidente da Comissão Europeia, teve de se justificar perante uma comissão de inquérito, que foi logo afogada pelo bloco central do parlamento europeu. A Irlanda e a Holanda, aliás, fazem o mesmo que o Luxemburgo.

E depois vieram, em 2016, os Panamá Papers, com a revelação dos segredos de uma grande firma de advogados. Desta vez eram 214 mil empresas. Só o Crédit Suisse e a UBS, respeitáveis bancos suíços, criaram 25 mil cada um. Vá lá, não se notou?

E agora, em 2017, soube-se dos Paradise Papers, um esquema de registo de empresas em offshores nas Bermudas e em Singapura. A rede era usada por Isabel II, curiosamente desde que a crise financeira de 2007 levou a perdas da sua fortuna, mas também pela Apple, Nike, Whirlpool, pelas ligações russas da Casa Branca, pela família angolana Dos Santos e por mais jet-set. E a UE decidiu investigar pelo mesmo motivo a Ilha de Man, de sua Majestade britânica, e Malta.

Vá lá, ninguém notou?

Nota-se mesmo. Devin Nunes, um orgulhoso luso-descendente que é deputado republicano e foi presidente da comissão parlamentar sobre tributação, e depois foi responsabilizado por Trump por gerir a sua equipa de transição para a posse, declarava que queria “tornar a América o maior paraíso fiscal do mundo”. O estado norte-americano do Delaware já tem 945 mil empresas registadas para não pagarem imposto.

Os paraísos fiscais não são portanto uma extravagância, umas repúblicas das bananas dispostas a rondarem o crime a troco de uns dólares ou euros. São o coração do nosso sistema financeiro. As suas sociedades, agências e veículos (o nome é delicioso) financeiros são geradas pelos maiores bancos, pelos mais refinados campeões, e amparados pelos governos mais respeitáveis – na Europa, além da Suíça é o Reino Unido quem alberga maiores volumes de capitais escondidos, alguns legalmente, muitos em evasão fiscal e outros em ocultação de crime (a OCDE calcula pagamentos anuais de um bilião de dólares em subornos).

O resultado é a perda de receitas e portanto a crise fiscal do Estado. Quando ouvir falar em restrições orçamentais, em falta de dinheiro para pagar a enfermeiras ou técnicas de diagnóstico ou para construir um novo hospital, lembre-se sempre que a evasão fiscal em países como a Alemanha pode andar pelos 160 mil milhões de euros, em França por 120, em Espanha por 73 (cálculos da Tax Research, Reino Unido) e em Portugal alguns estudos apontam para 20 mil milhões. Vá lá, nota-se mesmo.