Novo artigo em BLASFÉMIAS
por Cristina Miranda
Há 20 anos que especialistas dizem o mesmo: Portugal vai ser atingido por um sismo. Não sabem prever se vai ser já amanhã, para o ano que vem ou daqui uns anos mais. Sabem apenas que este fenómeno é cíclico e pelas contas feitas ao de 1755, a previsão aponta para o ano de 2018. Mário Lopes, investigador especialista em engenharia sísmica do Instituto Superior Técnico (leia aqui a entrevista completa) já perdeu esperança nos Governos para impedir a tragédia. Nada de novo num Estado que não protege seus cidadãos senão seus próprios interesses. Mas quanto nos vai custar em vidas esta irresponsabilidade grotesca dos governos? Muitos milhares.
Mário Lopes é peremptório: não se sabe quando, nem com que intensidade, nem tão pouco as consequências de um próximo sismo, mas uma certeza prevalece. Vai ser certamente trágico. Receia a repetição de 1755 porque mesmo que seja de menor intensidade provocará muitas mais mortes porque as zonas de risco estão mais povoadas. Não é preciso um sismo como de 1755 para termos 10 000 a 20 000 vítimas. Factos.
Segundo o mesmo, bastaria o respeito pelo actual regulamento para minimizar os danos. Embora obsoleto com mais de 30 anos, ser aplicado já era bom. Hoje quem não tem consciência pode aldrabar o projecto sem ver consequências. Sabem que fazendo bem ou mal um edifício, é vendido na mesma. Mas o maior problema reside nos edifícios reabilitados. Porque a legislação técnica prevê que um edifício anterior a 1958, que tinha um grau de protecção zero na resistência sísmica, não lhe seja aplicada legislação posterior de reabilitação à construção original. Assim, fazem apenas um "peeling" nos edifícios antigos - o que é perfeitamente legal - que continuam com protecção sísmica igual a zero. Nesta realidade estão 40% dos edifícios construídos antes de 1960.
Mário Lopes fez uma proposta ligada aos seguros para que as companhias fizessem seguros indexados à componente de risco sísmico ( nos Açores, por exemplo, está indexado ao crédito habitação). Assim, as pessoas através dos seguros iriam ver o risco da sua construção e isso iria influenciar o mercado valorizando, obviamente, as melhores. Porém, quando isso foi discutido com um governo mandaram-no calar porque isso iria desvalorizar os prédios piores, mostrando uma insensibilidade pela vida humana em detrimento do mercado imobiliário. Depois em 2012 propôs que o reforço sísmico fosse obrigatório em edifícios a partir de certo valor e dimensão. Foi rejeitado.