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sábado, 9 de dezembro de 2017

Mulheres Fotógrafas na Palestina: Tanya Habjouqa

Fonte: Esquerda.net

Num tempo em que a paz no Médio Oriente sofre um novo revés, o premiado trabalho de Tanya Habjouqa, Occupied Pleasures, vê renovado o seu sentido de homenagem ao povo palestiniano que, apesar dos 50 anos de ocupação israelita, não se deixou vencer na sua humanidade.

9 de Dezembro, 2017 - 16:19h

Hayat (à esquerda) ensina yoga às residentes da sua aldeia, Zataara, nos arredores de Bethelehem, na Cisjordânia. Foto de Tanya Habjouqa/ Panos Pictures.

Hayat (à esquerda) ensina yoga às residentes da sua aldeia, Zataara, nos arredores de Bethelehem, na Cisjordânia. Foto de Tanya Habjouqa/ Panos Pictures.

O primeiro ciclo do tema arte&resistência iniciou-se com a divulgação do trabalho fotográfico de Monique Jacques. Como foi anunciado, trata-se de um ciclo onde a fotografia e a Palestina são o pretexto para dar a conhecer cinco mulheres artistas, cuja obra é exemplo de uma conciliação emancipatória: a que reúne o poder da imagem e a experiência de um corpo que resiste num território ocupado.

Fotografando e documentando, o gesto artístico de Tanya Habjouqa realiza-se também na conjugação desses quatro ventos que nos servem de guia e critério na escolha: o da visibilidade, o da denúncia, o da resistência e o da vida.

Tanya Habjouqa nasceu na Jordânia, em 1975. O seu trabalho de fotografia e documentário foca-se em questões sociais, de género e sobre direitos humanos, privilegiando o contexto do Médio Oriente e uma particular sensibilidade e gosto pelas histórias que fogem à abordagem dominante. De uma forma geral, a sua obra reflete o desejo de traçar a imagem sempre diversa de uma humanidade comum. Formada em jornalismo e antropologia, Habjouqa é membro da NOOR(link is external)(palavra árabe que significa ‘luz’), uma agência de fotografia comprometida com a visibilidade das lutas por justiça-social, e fundadora do Rawiya(link is external), o primeiro coletivo de mulheres fotógrafas do Médio Oriente. Neste momento, vive em Jerusalém Oriental, com os seus dois filhos e o seu companheiro, um advogado palestiniano com cidadania israelita.

O seu trabalho fotográfico Occupied Pleasures [Prazeres Ocupados] foi premiado pelo World Press Photo 2014 e o livro, que veio a publicar posteriormente, foi também aclamado pela revista TIME e pela Smithsonian Institution, nos EUA, que lhe atribuíram o título de ‘melhor livro de fotografia de 2015’.


  • A série de fotografias que compõe a obra Occupied Pleasures está inteiramente disponível para visualização aqui(link is external).

As fotografias de Tanya Habjouqa têm sido expostas um pouco por todo o mundo e integram as coleções do Museu de Belas Artes de Boston e do Museu de Arte de Carnegie, nos EUA, e do Instituto do Mundo Árabe, em França.

Prazeres Ocupados

“Occupied Pleasures apresenta um retrato matizado e multidimensional sobre a capacidade humana de encontrar prazer, mesmo quando diante das difíceis circunstâncias da Cisjordânia ocupada, de Gaza e Jerusalém. Occupied Pleasures percorre sentidos passivos e ativos: ser ocupado por Israel e ocupar-se, alegremente e em modo desafiante, com passatempos e pequenos prazeres. Mais de quatro milhões de palestinianos vivem na Cisjordânia, em Gaza e em Jerusalém Oriental, onde a situação política, muitas vezes, se intromete nos momentos mais mundanos. A mobilidade encontra-se circunscrita e, frequentemente, a ameaça de violência paira sobre as cabeças. Este contexto gera os desejos mais fortes pelos mais pequenos prazeres, e também um aguçado sentido de humor sobre as absurdidades que uma ocupação de 47 anos produziu”, lê-se no site de Tanya Habjouqa, na apresentação deste seu trabalho, escrita há três anos.

A estratégia de Habjouqa para denunciar a realidade da Palestina ocupada, na sua mais intensa e totalitária complexidade, não é a mais comum e, se considerada na superfície, poderá até surgir como despeito. Porém, as suas fotografias resistem a uma visão fechada, estigmatizante e injusta, essa que se alimenta da normalização da violência, da guerra ou da morte, e também da banalidade das imagens do irrepresentável. Permitir que os palestinianos e as palestinianas sejam mais do que apenas vítimas ou proponentes de violência, é abrir corajosamente a porta às suas identidades, às suas contradições, às suas justas aspirações, aos seus desejos e à sua humanidade.

“Permissão para narrar”

Tanya Habjouqa
Foto de Middle East Institute.

“Eu senti mesmo que precisava de encontrar outra maneira de contar uma história, não apenas para que fizesse sentido para mim, mas para lhe dar sentido, e também para poder contá-la aos meus filhos, uma vez que esta é também a sua casa”, explicou a fotógrafa, numa entrevista ao The New York Times, em janeiro de 2014.

Numa outra entrevista, publicada em 2016, no The Arts Desk, Tanya Habjouqa afirma que “ao ter casado” com aquele conflito e tendo tido ali os seus filhos, essa condição conferiu-lhe uma “permissão para narrar”, tomando para si a expressão do autor palestiniano Edward Said. Sente que pode e deve falar diretamente e empenhar-se num trabalho de documentário social mais aberto, mostrando o que é a vida na Cisjordânia ocupada por Israel, ou na Faixa de Gaza controlada pelo Hamas.

Tudo começou numa entrevista que realizou, em 2009, na qual ouviu a história de um noivo palestiniano que se apaixonou pela sua noiva jordana, através do Skype. Este acabou por conseguir que ela chegasse, já vestida de noiva, pelos túneis que ligam ao Egipto. No momento de a receber, apesar da situação (o contexto subterrâneo, a areia que caía nos cabelos e as luzes trémulas), correu para ela, abraçou-a e beijou-a arrebatadoramente. Como numa desencantada cena de “Bollywood”, contou ele, acrescentado depois: "Não importa o que esta ocupação nos faz ou nos leva, iremos sempre encontrar uma forma de viver e de amar, talvez de rir. Encontraremos sempre uma forma de manter a nossa dignidade e não apenas de sobreviver”.


Por Sofia Roque.

Logotipo Alv. Teixeira

Mas qual é o mal do passado?

(José Pacheco Pereira, in Público, 09/12/2017)

JPP

Pacheco Pereira

O passado tem má imprensa, o presente é o melhor que há e o futuro então não se fala, é o período da felicidade perfeita, tanto mais perfeita quando todos já estaremos mortos.


No início de um livro de L. P. Hartley há uma frase que eu cito bastante e vou fazê-lo de novo: “O passado é um país estrangeiro, lá fazem-se as coisas de forma diferente”. Em inglês é ainda melhor: “The past is a foreign country; they do things differently there“. E cito-a pela obsessão absurda que existe nos dias de hoje na política e na comunicação social, de achar que “voltar ao passado” é um coisa tenebrosa e um insulto. Este tipo de frases são o pão nosso de cada dia na competição eleitoral no PSD, em que cada candidato atira ao outro ou aos seus apoiantes a acusação de que são o passado. Na verdade, o candidato mais do passado é que o faz com mais denodo e falta de vergonha, tanto mais que os “jovens” que apresenta são infinitamente mais velhos do que os “velhos” que eles atacam de senectude. Presumo que eles acham que tem um DeLorean ao seu dispor, visto que a probabilidade de entenderem alguma coisa do passado, presente e futuro dificilmente passa do Back to the Future.

Mas se fosse só nestes conflitos de menores, passávamos bem. Mas é no debate parlamentar, no comentário, na moda, e nessa ecologia em que vivemos no tempo presente e que se chama “comunicação social”. A obsessão pela “novidade” da comunicação social, é da mesma natureza destes jogos retóricos. Estão sempre a descobrir génios jovens e prometedores cuja fama não dura um ano, e que em muitos casos são os amigos deles, ou noutros são os que estão na “moda”, essa tenebrosa forma de identidade fugaz, cujas raízes no passado são aliás sempre mais importantes do que as folhas do presente. Resumindo e concluindo: o passado tem má imprensa, o presente é o melhor que há e o futuro então não se fala, é o período da felicidade perfeita, tanto mais perfeita quando todos já estaremos mortos.

Mas ainda me hão-de explicar o que é que tem de fascinante o presente, e como é que sabem que o futuro vai ser melhor. Nem o presente é brilhante, o que acontece é que estamos presos nele, temos que viver nele, e nem ninguém sabe o que vai ser o futuro porque a essência da história é a surpresa. Pelo contrário, no passado podemos escolher algum proveito e exemplo, mesmo que saibamos que ele nunca se repete, e se se repete, como dizia Marx, tem sempre tendência para ser como comédia. Corrijo aqui o velho Karl, nos nossos dias há uma alta probabilidade de começar como comédia e acabar como tragédia outra vez. Veja-se Donald Trump.

O passado tem imensas virtualidades, exactamente porque nós vivemos no presente e podemos escolher as “formas diferentes” como se faziam as coisas nesse “país estrangeiro”, usando a frase de Hartley. E é porque o passado transporta, no seu uso, a possibilidade de uma moral, de uma escolha, que é tão incómodo para aqueles que pensam que apenas podem beneficiar do presente, sem essa maçada de ter limites às suas acções. Os limites são aquelas coisas malditas como seja o saber, em vez da ignorância, a virtude em vez do vale tudo, a prudência em vez do meia bola e força, e o parar para pensar em vez do imediato e do “já” que cada vez mais pesa numa sociedade onde a adolescência se prolonga pelo Facebook e ersatzes de vida similares.

Não admira por isso que haja nos nossos dias algo que não tem precedente na nossa civilização ocidental, a que nos fez e ainda remotamente nos faz, que é o ataque aos mais velhos. Nos anos do “ajustamento”, os pseudo-jovens que tiveram a sua oportunidade nesses anos de lixo, dedicaram-se a querer empobrecer os seus avós e os seus pais, em nome de uns longínquos e putativos filhos e netos, pelos quais mostravam tanto mais amor quanto na realidade o que faziam era tirar a uns pais e avós para dar a outros pais e avós, só que da classe certa.

Tudo quanto é argumento neo-malthusiano foi usado para explicar a “injustiça geracional”, em que pais e avós hipotecam o futuro dos filhos e netos, para viverem bem no presente. Eles que eram “passado” viviam bem no presente e punham em causa o futuro. E o futuro destinado aos jovens era não ter casa, nem emprego, nem dinheiro, nem pensões, nem reformas, porque os malvados dos pais e avós não queriam perder os “direitos adquiridos”, nem as leis que protegiam o emprego, nem as suas reformas, nem o Estado Providência. Todo um argumentário conservador, que desaguava depois nos excessos da direita radical, se desenvolveu para dar um lugar ao sol não a todos os jovens, porque continuavam a ser precisos soldadores, mecânicos de automóveis, electricistas, padeiros e empregados de mesa, mas aqueles que nas elites se sentiam deserdados de um estatuto ou de um poder que lhes parecia devido, por família ou riqueza natural, ou aqueles que invejavam este estatuto de poder. Já repararam como este argumentário tem sucesso ou em jovens políticos profissionais das “jotas”, ou em pessoas que participam em “think tanks” de fundações e universidades bem providas, ou em pessoas com empregos como “consultores”, “assessores”, jovens advogados de negócios, e jornalistas da imprensa económica ou colaboradores dessa mesma imprensa ou afim. Há excepções, mas não invalidam a regra.

Um dos aspectos desta nova forma de luta de classes, na verdade a mesma de sempre, foi a minimização do saber e da experiência, tudo coisas que vem com a vida e o trabalho árduo, combate que assumiu e assume todo o seu esplendor naqueles que vivem nas chamadas “redes sociais” onde há uma ideia igualitária sobre o conhecimento, ou seja, uma apologia da ignorância. Se todos se podem pronunciar sobre tudo e por isso mesmo tudo o que dizem tem o mesmo valor, não vale a pena estudar, nem trabalhar para conhecer uma determinada matéria, basta só escrevinhar umas frases que pretendem ser engraçadas. Esta nova forma de ignorância agressiva, tem sido um instrumento para minimizar não só as hierarquias profissionais e académicas, como para dar o mesmo papel na sociedade a exercícios vulgares e superficiais mais ou menos intuitivos que se tornam virais e pela comunidade cultural entre as “jotas” políticas e as “jotas” jornalísticas que usam as “redes sociais” deles, os seus Facebooks e Twitters para “interpretar” movimentos colectivos que são dos mesmos de sempre, sendo esses mesmos muito poucos.

Há igualmente um ataque à memória, com o encolhimento sistemático do que se lembra no presente a um passado de escassos meses e anos. No limite, apenas ao que se encontra nas pesquisas do Google, ou está na Internet. O que acontece é que esse “passado” para além de ser considerado arqueológico, e portanto inútil de lembrar, afunda-se nas trevas do esquecimento. Por sobre esta memória de passarinho, crescem mitos, falsidades e memórias selectivas quase sempre instrumentais para as necessidades dos conflitos do presente. Os mais velhos são também um incómodo porque se lembram de coisas demais e de como, nesse “país estrangeiro” do passado, alguns dos próceres do presente, já mostraram o que valiam ou o que não valiam, os defeitos de carácter ou de incompetência, ou por semelhança de atitudes, podem conduzir aos mesmos sucessos ou, mais comummente aos mesmos desastres.

Eu sei bem que isto já foi tantas vezes dito, quantas gerações passaram sobre a terra. O passado está cheio de previsões sobre de como as coisas se degradam entre os mais velhos e os mais jovens. É verdade, é quase um lugar-comum. Mas isso não significa que às vezes, às vezes, possa ser verdade. Suspeito que hoje é.

Não sou, por isso, um fã do presente, onde vivo, principalmente quando se quer esconjurar o saber, a experiência e a memória, que são coisas que precisam do tempo do passado. Não é para as pessoas voltarem à lanterna mágica, ou às televisões de caixa, ou ao Pacman, nem tenho qualquer nostalgia do stencil ou do verniz corrector, nem da máquina de escrever. Mas já tenho de homens como o esquecido e frágil Mem Verdial, com a sua gravata à Lavaliére, já então tão fora do tempo, e que levou um paralelepípedo escondido para um comício da oposição a Salazar, patrulhado por um capitão qualquer que numa mesa podia interromper qualquer orador. E quando foi interrompido por dizer coisas subversivas sobra a democracia, perguntou ao homúnculo do canto: “O senhor representante da autoridade quer que eu ponha uma pedra sobre o assunto?”. E pegou na pedra e colocou-a em cima dos seus papéis. É este passado que me faz falta

Assinado: Matusalém.

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Marcelo Rebelo de Sousa

por estatuadesal

(In Blog O Jumento, 09/12/2017)

barbeiro

(O que é demais enjoa. Em tempos que já lá vão comentava uma vez por semana em diálogo com a Tia Judite. Hoje comenta todos os dias e em qualquer lado. Até no barbeiro, se preciso for.

Estátua de Sal, 09/12/2017)


Este Presidente (ainda com letra grande) é o mesmo que há um par de meses parece ter feito um julgamento privativo de Mário Centeno, tendo mesmo chamado a Belém o seu conselheiro Lobo Xavier, a crer na comunicação social, para lhe mostrar as mensagens SMS privadas de Mário Centeno. Isto é, Marcelo está muito preocupado porque o tal ministro, que poderia ser achincalhado pelo seu conselheiro, poderá agora ter menos tempo para o país.

Não estará Marcelo Rebelo de Sousa mais preocupado com o protagonismo internacional de Mário Centeno, o que condicionará a linguagem de um Presidente da República, que não se cansou de dizer que iria analisar o OE com muito cuidado, isso umas semanas depois de falar em eleitoralismo?

Sejamos honestos, com todo este protagonismo do ministro das Finanças ninguém vai sugerir que o crescimento da economia é motivado pelos likes, afetos, beijinhos, jantares dos pobres e abracinhos do Presidente. O Marcelo da Linha de Cascais ganha imagem no meio rural português, enquanto o provinciano Mário Centeno ganha destaque internacional, reduzindo o primeiro à sua verdadeira dimensão.

Um bom exemplo das dificuldades de Marcelo lidar com esta situação está no facto de ainda hoje ter feito comentários em relação ao OE para ... 2019. Isto é, ainda não promulgou o de 2018, ainda nada se disse sobre 2018, e depois de tantas ameaças de análise pormenorizada e atenta do OE acabado de aprovar, já lança a sugestão de que o OE de 2019 pode ser eleitoralista.

Parece que sem incêndios e sem jantares de sem-abrigos o Presidente da República tem de inventar temas e o melhor que encontrou foi um em que pode dizer umas patacoadas que parece serem dirigidas a Centeno.

«A eleição de Mário Centeno para a presidência do Eurogrupo trará “consequências inevitáveis” para a condução do Ministério das Finanças em Lisboa. Esta é a leitura feita pelo Presidente da República que, segundo o Jornal Expresso, está preocupado com o impacto que a dupla missão terá na equipa das Finanças, sobretudo na preparação do próximo Orçamento do Estado. Este processo será marcado pelo ambiente pré-eleitoral e por um crescendo nas reivindicações por parte dos sindicatos, funcionários públicos e parceiros à esquerda.» [Observador]

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O PS é permeável aos grandes interesses económicos. Qual é a novidade?

por João Mendes

Ontem, ou talvez até na Quinta-feira, recebi uma notificação de um jornal, penso que do Diário de Notícias, que fazia referência à tensão no seio do PS, a propósito das declarações de Catarina Martins. Fui espreitar, curioso, e percebo que fui enganado. Afinal, era apenas Francisco Assis a exigir que o seu partido defendesse a sua honradez. E todos sabemos que Assis é tão representativo deste PS como Pacheco Pereira do PSD passista.

Como ainda não tinha ouvido as declarações da líder do Bloco, aproveitei a deixa. Vou a ver e a senhora não diz nada de novo. O PS é permeável aos grandes interesses económicos? Oh my fucking God, por esta é que eu não esperava! Qual é mesmo a novidade? Ler mais deste artigo


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Mau tempo no canal das direitas atoleimadas

por estatuadesal

(Por Jorge Rocha, in Blog Ventos Semeados, 09/12/2017)

fogos5

No «Expresso» Pedro Santos Guerreiro, seu diretor, volta aos incêndios como tema do seu editorial. Compreende-se: numa altura em que as direitas nada têm de substantivo para pôr em causa o governo, sobretudo quando Mário Centeno ganha tão significativo relevo na política europeia e o próprio António Costa é reconhecido como um dos mais influentes líderes atuais, resta aos frustrados altifalantes de quem está na mó de baixo persistir na exploração das tragédias de Pedrógão Grande e de 15 de outubro. O contínuo abuso dos mortos nos incêndios será o que resta às direitas para parecerem ter algo com que possam fazer oposição ao governo. E sabem que, nesse sentido, Marcelo tudo fará para lhes ir propiciando os abraços e selfies oportunos para manterem o tema na agenda.

No entretanto vem-nos Ângela Silva contar no mesmo semanário como Marcelo descrê totalmente de Rui Rio ou de Santana Lopes como potenciais redentores do seu partido, já que as suas esperanças andam a depositar-se em Carlos Moedas para depois de 2019. Daí que o comissário europeu mereça duas páginas desse jornal e seja dado como um convicto opositor do austericídio, ele que desempenhou tão ativamente o papel de guardião de tal política durante os anos da troika.

A mesma jornalista também foi incumbida de nos revelar que Marcelo vai manter uma firme vigilância sobre o Ministério das Finanças, sobretudo para evitar que, na ausência de Centeno em Bruxelas, Mourinho Félix & Cª criem um Orçamento para o ano eleitoral de 2019, que facilite a vitória do Partido Socialista por maioria absoluta. Ora Marcelo sabe que, a tal acontecer, pode meter a viola no saco e zarpar, porque fica privado de cumprir o seu desígnio, aquele que Carlos Carvalhas tão bem enunciou ao notar que “para os pobres e os excluídos, o Presidente da República dá os selfies e os sorrisos e favorece a solidariedade e a caridade, para os grandes faz pressão para que continuem a ter os seus milhões intactos”.

Há, porém, a constatar que a vida não lhe anda a correr de feição: até o insuspeito Miguel Sousa Tavares o dá como incompreensivelmente derrotado com a eleição de Centeno questionando se “terá Marcelo medo ou ciúmes do prestígio internacional do Governo?”.

Quem parece indiferente ao assunto já é Pedro Passos Coelho, ao que parece ocupado a escrever um livro a autoelogiar-se sobre a sua (des)governação do país entre 2011 e 2015. Nesse sentido Cavaco deixou escola ao lançar a moda de impor lamentável condenação de umas quantas árvores para que os seus relatos autobiográficos acabem a ganhar pó nos armazéns de uma qualquer desgraçada editora incumbida de lhe prestar o favor ao ferido orgulho. Mas a falta de disponibilidade de Passos Coelho não parece ficar por aí: anda ativamente à procura de emprego e já terá ido oferecer-se à consultora Deloitte para ser seu consultor. Ao que parece o possível patrão já se desmarcou de tão infausta possibilidade.

Vale ainda a pena retirar da leitura do semanário de Balsemão a enésima confirmação de dirigentes do CDS andarem continuamente a lembrar aquela fábula do sapo, que queria inchar o bastante para pedirem meças a um touro em questões de tamanho. A propósito da humilhação imposta por António Costa a Cristas no último debate quinzenal, Telmo Correia veio ufanar-se de ser o CDS o adversário principal do governo. É caso para dizer que já a formiga tem catarro!


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