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sábado, 9 de dezembro de 2017

PS sobe nas intenções de voto. PSD com o melhor resultado desde Fevereiro

POLÍTICA

Depois de três meses consecutivos a perder nas sondagens, o PS volta a subir nas intenções de voto. Mas não é o único. O PSD subiu, pelo terceiro mês consecutivo. É a CDU que mais se ressente na sondagem da Aximage de Dezembro, registando o pior desempenho desde Março.

PS sobe nas intenções de voto. PSD com o melhor resultado desde Fevereiro












Miguel Baltazar
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Sara  Antunes
Sara Antunes saraantunes@negocios.pt08 de dezembro de 2017 às 20:30

O PS conquistou mais intenções de voto em Dezembro. 39,9% dos inquiridos pela Aximage, numa sondagem realizada para o Correio da Manhã e para o Negócios, revelaram intenção de votar no partido de António Costa. Um valor que corresponde a um aumento face aos 39,1% registados em Novembro.
Este é o primeiro aumento das intenções de voto no PS desde Julho. Nos últimos meses, os eleitores terão reflectido nas suas intenções de voto episódios que acossaram o Governo, com especial incidência nos incêndios que, desde Junho, vitimaram mortalmente mais de 100 pessoas.
Já o PSD voltou a conquistar mais eleitorado, com 26,1% dos inquiridos a mostrarem vontade de votar no partido que está em processo de escolha do seu líder: Pedro Santana Lopes ou Rui Rio. Este é o terceiro mês consecutivo de melhoria das intenções de voto do PSD, com o partido a conseguir mesmo o melhor resultado de sondagen desde Fevereiro.
A crescer está também o Bloco de Esquerda, com o partido liderado por Catarina Martins a conquistar 9,3% das intenções de voto. Em Novembro, o partido tinha conseguido 8,7%.
Já a CDU surge em quarto lugar, registando uma queda acentuada. Na sondagem de Novembro, a coligação PCP/Verdes registava 8,6% das intenções de voto. No inquérito publicado esta sexta-feira, esta percentagem desc para 7,5%, o pior resultado desde Março.
O CDS também perdeu votos, conquistando 6,5% dos inquiridos, menos do que os 6,7% registados em Novembro.
No que respeita aos líderes partidários, Catarina Martins é a que recolhe melhor avaliação, conquistando 11 valores, numa escala de 0 a 20. E só há mais um líder a conseguir nota positiva: António Costa, com 10,9 pontos. O líder do PCP registou uma nova quebra na avaliação, com Jerónimo de Sousa a conquistar 9,1 valores. Assunção Cristas também tem uma avaliação negativa (8,7 pontos), mantendo assim a mesma nota de Novembro. Passos Coelho continua a merecer dos eleitores a pior nota: 5,2 pontos. Ainda assim, o ainda líder do PSD viu subir a sua avaliação.
Há um político que continua a merecer uma avaliação muito positiva dos portugueses: Marcelo Rebelo de Sousa.
Apesar de se ter afastado dos 19 valores que há um ano verificava, o Presidente da República continua a ter uma nota amplamente positiva: 17,9, com 84,8% dos inquiridos a considerarem que o chefe de Estado esteve "bem" no último mês. Apenas 6,9% dos inquiridos considera que esteve "mal".
No que se refere aos ministros, Mário Centeno continua a dominar a percepção dos portugueses, conquistando, de longe, a melhor avaliação face aos seus colegas de Governo.


(Correcção: Onde se lia Pedro Passos Coelho ou Rui Rio deve ler-se Pedro Santana Lopes ou Rui Rio)


A falência de 2015

João César das Neves

DN – 09/12/217

Portugal está no bom caminho. Depois da quase-falência de 2011, que teria destruído a reputação internacional, conseguiu recuperar o equilíbrio, graças ao apoio dos parceiros e violenta austeridade, lançando um crescimento de que colhe os primeiros frutos. Certo?

Errado. A nossa doença financeira, após quinze anos de endividamento galopante de 1992 a 2008, está longe da cura. O recente clima de alívio e crescimento, que tantos insistem em confundir com prosperidade, pouco passa de inércia, depois do violento aperto e, sobretudo, efeito de uma aberrante situação internacional. A enxurrada de liquidez, com que os bancos centrais evitaram o colapso em 2008, ainda continua. Na falta de verdadeiras reformas, nove anos após a emergência, o planeta mantém-se encharcado em dinheiro, com taxas de juro quase nulas. É isso que permite aos protagonistas da crise, como Portugal, evitar enfrentar a realidade da sua situação, maquilhando-a com ilusões. Mas o cancro está lá, e de vez em quando dá sinal de si. No passado dia 28 de Novembro mostrou que, afinal, é mesmo maligno.

O sinal passou quase despercebido. O BCP foi ao mercado internacional com uma pequena emissão de dívida de 300 milhões de euros, totalmente subscritos. Mais um sintoma da boa imagem do país. Mas seis fundos internacionais de investimento - Attestor Capital, CQS, River Birch Capital, York Capital e os gigantes BlackRock e Pimco - fizeram um comunicado conjunto, declarando boicotar a emissão. A razão invocada é assustadora: "Cada um de nós decidiu que os riscos associados a investir activamente em dívida portuguesa, pública ou privada, são proibitivos, dado o Banco de Portugal ainda não ter lidado com a retransferência de obrigações do Novo Banco para o Banco Espírito Santo em 2015."

O comunicado foi largamente ignorado, não só porque destruiria a versão oficial do sucesso lusitano, mas por não ter tido efeitos práticos. A procura dos títulos do BCP foi três vezes superior à oferta e grande parte dela veio de investidores externos. Como se vê, está tudo bem. Mas esta ligeireza apenas confirma a ilusão que se vive por cá. Porque o sinal alertava para a pior das doenças financeiras, uma falência internacional. Aquilo que evitámos in extremis em 2011 graças aos milhões da troika, aconteceu quatro anos depois. Afinal pertencemos mesmo ao grupo das economias arruinadas, como Grécia e Argentina, enfrentando a difamação dos credores. Portugal faliu em 2015.

Será o comunicado espúrio, mera vingança mesquinha de capitalistas despeitados? Os acontecimentos falam por si. A nossa emergência de Abril de 2011, que despoletou o programa de ajustamento, esteve centrada nas contas do Estado, ignorando o facto evidente de que o nosso problema financeiro é ainda mais privado que público. Insolitamente, só após a saída da troika começaram a rebentar os bancos. A 3 de Agosto de 2014 o Banco de Portugal resolveu o BES, liquidando totalmente os accionistas, vários deles estrangeiros e alguns entrados menos de dois meses antes, no aumento de capital de Junho. Mas não é este facto, apesar de dramático e até único nos anais da finança mundial, que agora é invocado. Tratou-se de uma medida indispensável, e quem perdeu foram accionistas, que sabem ter de suportar o risco.

Ano e meio depois, a 29 de Dezembro de 2015, dias antes de mudarem as regras pela União Bancária, o Banco de Portugal «completou a resolução», retransmitindo para o BES obrigações não subordinadas. Desta vez quem perdia eram, não donos, mas credores. Pior, a medida atingia apenas alguns deles, limitando-se a investidores institucionais. Havia assim uma aberta discriminação entre aplicações, prejudicando apenas fundos e organizações similares.

Trata-se, sem dúvida, de uma falência, e é claramente nacional. É verdade que estavam em causa não títulos públicos, mas obrigações de uma empresa privada. Só que esta pertencia a uma entidade criada pelas autoridades, o Fundo de Resolução, então financiado por empréstimo do Estado. E foi assumidamente para poupar os contribuintes que este repudiou as responsabilidades que assumira. Não há dúvida que se tratou de um acidente de crédito de magna dimensão.

Mas, afinal, qual é o mal? A verdade é que o comunicado não teve consequências reais. A emissão do BCP seguiu normalmente e tudo acabou bem. Assim, este repúdio da dívida do BES parece mesmo um almoço grátis. Essa é, de novo, a fantasia que nos anima. Claro que numa situação aberrante de excesso de liquidez, com muito dinheiro em busca de remuneração razoável, todas as aplicações têm sucesso e até Grécia e Argentina se conseguem financiar. Mas o estigma está lá e, quando as condições mudarem, o que já se vislumbra, as consequências serão inelutáveis.

A doce ilusão embala-nos mais algum tempo, mas os sintomas são assustadores. O governo não se preocupa, pois espera que, quando desmoronar, as culpas desta tola apatia já fiquem no sucessor.

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Trabalhadores da Sorgal em greve devido a salários sem aumento há 10 anos

GREVE

Trabalhadores da Sorgal em greve devido a salários sem aumento há 10 anos

Sorgal, Ovar. D.R.Sorgal, Ovar. D.R.

Dinheiro Vivo/Lusa
07.12.2017 / 12:33

Para exigirem a atualização dos salários, que dizem sem aumentos há 10 anos, os trabalhadores da Sorgal, em Ovar, estiveram em greve.

Trabalhadores da empresa Sorgal, unidade de rações em Ovar do grupo Soja de Portugal, manifestaram-se hoje à porta da empresa no âmbito de uma greve pela atualização dos salários, que dizem sem aumentos há 10 anos.
A paragem laboral teve início esta quarta-feira às 22:00, abrange os três turnos da produção, prolonga-se até às 23:59 de hoje e, segundo o Sindicato dos Trabalhadores das Indústrias de Alimentação do Norte (STIANOR), está a registar uma adesão de 95% entre a força laboral da empresa – que contará, em Ovar, com um total de cerca de 60 funcionários.
“Estamos há 10 anos sem aumentos salariais e a ser nivelados pelo salário mínimo nacional, quando antes estávamos bem acima disso”, declarou o dirigente sindical Alfredo Teixeira, que é funcionário da unidade em greve, à Lusa.
“A empresa tem dinheiro e está bem, mas prefere fazer festas de Natal em que paga a artistas de renome para lá irem quando devia é remunerar-nos a nós melhor”, defendeu esse responsável, para aprovação geral dos colegas que o rodeavam.
José Lapa, que também é dirigente do STIANOR, mas não exerce funções na unidade, afirmou que “o objetivo da Sorgal é deixar caducar o contrato coletivo de trabalho”, porque “não há nenhuma negociação de jeito a decorrer”.
“A administração anda a protelar o encontro para analisar as reivindicações dos trabalhadores e, com isso, quer arranjar forma de não atualizar o salário a ninguém”, acrescentou.
O aumento agora reclamado pelos grevistas é de 10%, valor que o sindicato reconhece como “diferente do habitual”,
mas atribui à necessidade de “compensar os trabalhadores por 10 anos sem nenhuma melhoria nas suas remunerações”.
Além disso, “este trabalho é penoso e um bocado complicado, e muitas pessoas foram saindo da unidade ao longo dos anos sem que se repusessem esses postos laborais”, pelo que “a empresa tem que começar a assumir as suas responsabilidades”.
Já quanto à situação financeira da Sorgal, para avaliar se esse aumento salarial será possível, vários trabalhadores garantiram que “é boa” e que a unidade de Ovar “está muito bem”. “De segunda a sexta-feira a fábrica trabalha 24 horas por dia e estamos sempre a fazer horas extraordinárias para conseguir responder a todos os pedidos”, fundamenta Alfredo Teixeira. “A seca deste ano também serviu para aumentar o volume das vendas de rações”, salienta.
Contactada pela Lusa, a Sorgal – Sociedade de Óleos e Rações S.A. não tinha nenhum membro da administração disponível para comentar o assunto.
A empresa produz rações para animais de criação, animais de estimação, peixes, aves e caracóis. Integra o grupo mais vasto da Soja Portugal, que, além da empresa homónima e da Sorgal, inclui ainda a Avicasal, Savinor, Granja Avícola de S. Tiago, Sociedade Avícola do Freixo e SPA, detendo as marcas Sojagado, Pronuti e Aquasoja.






Havia mesmo alternativa. Uma alternativa socialmente mais justa


Um post rapinado ao 365forte e publicado com o devido reconhecimento ao autor, a que acrescentamos um gráfico.

Todos nos recordamos que nos diziam não haver alternativa. Diziam até que nenhum governante é sádico, nenhum governante tira rendimentos por tirar. Transformaram a sua convicção ideológica na austeridade numa certeza que é agora desmentida pela realidade.

Sabemos hoje que era mesmo possível devolver rendimentos, não cortar as pensões, aliviar os impostos para a classe média e repor os apoios sociais. Tal como era possível recuperar os serviços públicos no seu acesso e na sua qualidade.

Mas sabemos mais. Sabemos não apenas que era possível. Sabemos também que as políticas da maioria permitiram um maior desenvolvimento económico. Ninguém acredita que sem a reposição de rendimentos a economia teria crescido três trimestres acima do crescimento da Zona Euro e o emprego teria sido criado a um ritmo sem paralelo histórico. Boas políticas produzem mesmo bons resultados. A devolução de rendimentos permitiu um alívio na procura interna e foi essencial para a recuperação da confiança. A direita, após quatro anos de instabilidade, prometia continuar com a instabilidade nos rendimentos com o corte de 600 M€ na pensões e a tentativa de tornar permanentes os cortes na função pública.

Mas sabemos ainda mais. Sabemos desde a semana passada que a alternativa da maioria é também socialmente mais justa. Diziam-nos que as alterações nos impostos especiais sobre consumo ou sobre a reposição dos vencimentos na função pública seriam regressivos. Os dados do INE denunciam a falácia da direita: não é possível isolar uma medida do seu conjunto para afirmar que a política é regressiva.

Os dados revelados na semana passada pelo INE mostram-nos um recuo em todos os indicadores de desigualdade. Mas mostram também uma redução bastante significativa dos indicadores de pobreza. Mais revelador das políticas do governo são os indicadores de privação material para os quais já contam 2 anos da governação: 2016 e 2017. A taxa de privação material severa caiu de 9,6% em 2015 para 6,9% em 2017, aproximando-se da média da Zona Euro de 6,6%.

Contra tudo o que nos disseram sobre o que era necessário à sustentabilidade das contas públicas. Contra todos os que nos queriam fazer acreditar numa austeridade perpétua. Esta maioria demonstrou que havia mesmo uma alternativa. E mais importante que isso: que a alternativa era socialmente mais justa.

Nuno Oliveira

Fonte: Geringonça

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Mulheres Fotógrafas na Palestina: Tanya Habjouqa

Fonte: Esquerda.net

Num tempo em que a paz no Médio Oriente sofre um novo revés, o premiado trabalho de Tanya Habjouqa, Occupied Pleasures, vê renovado o seu sentido de homenagem ao povo palestiniano que, apesar dos 50 anos de ocupação israelita, não se deixou vencer na sua humanidade.

9 de Dezembro, 2017 - 16:19h

Hayat (à esquerda) ensina yoga às residentes da sua aldeia, Zataara, nos arredores de Bethelehem, na Cisjordânia. Foto de Tanya Habjouqa/ Panos Pictures.

Hayat (à esquerda) ensina yoga às residentes da sua aldeia, Zataara, nos arredores de Bethelehem, na Cisjordânia. Foto de Tanya Habjouqa/ Panos Pictures.

O primeiro ciclo do tema arte&resistência iniciou-se com a divulgação do trabalho fotográfico de Monique Jacques. Como foi anunciado, trata-se de um ciclo onde a fotografia e a Palestina são o pretexto para dar a conhecer cinco mulheres artistas, cuja obra é exemplo de uma conciliação emancipatória: a que reúne o poder da imagem e a experiência de um corpo que resiste num território ocupado.

Fotografando e documentando, o gesto artístico de Tanya Habjouqa realiza-se também na conjugação desses quatro ventos que nos servem de guia e critério na escolha: o da visibilidade, o da denúncia, o da resistência e o da vida.

Tanya Habjouqa nasceu na Jordânia, em 1975. O seu trabalho de fotografia e documentário foca-se em questões sociais, de género e sobre direitos humanos, privilegiando o contexto do Médio Oriente e uma particular sensibilidade e gosto pelas histórias que fogem à abordagem dominante. De uma forma geral, a sua obra reflete o desejo de traçar a imagem sempre diversa de uma humanidade comum. Formada em jornalismo e antropologia, Habjouqa é membro da NOOR(link is external)(palavra árabe que significa ‘luz’), uma agência de fotografia comprometida com a visibilidade das lutas por justiça-social, e fundadora do Rawiya(link is external), o primeiro coletivo de mulheres fotógrafas do Médio Oriente. Neste momento, vive em Jerusalém Oriental, com os seus dois filhos e o seu companheiro, um advogado palestiniano com cidadania israelita.

O seu trabalho fotográfico Occupied Pleasures [Prazeres Ocupados] foi premiado pelo World Press Photo 2014 e o livro, que veio a publicar posteriormente, foi também aclamado pela revista TIME e pela Smithsonian Institution, nos EUA, que lhe atribuíram o título de ‘melhor livro de fotografia de 2015’.


  • A série de fotografias que compõe a obra Occupied Pleasures está inteiramente disponível para visualização aqui(link is external).

As fotografias de Tanya Habjouqa têm sido expostas um pouco por todo o mundo e integram as coleções do Museu de Belas Artes de Boston e do Museu de Arte de Carnegie, nos EUA, e do Instituto do Mundo Árabe, em França.

Prazeres Ocupados

“Occupied Pleasures apresenta um retrato matizado e multidimensional sobre a capacidade humana de encontrar prazer, mesmo quando diante das difíceis circunstâncias da Cisjordânia ocupada, de Gaza e Jerusalém. Occupied Pleasures percorre sentidos passivos e ativos: ser ocupado por Israel e ocupar-se, alegremente e em modo desafiante, com passatempos e pequenos prazeres. Mais de quatro milhões de palestinianos vivem na Cisjordânia, em Gaza e em Jerusalém Oriental, onde a situação política, muitas vezes, se intromete nos momentos mais mundanos. A mobilidade encontra-se circunscrita e, frequentemente, a ameaça de violência paira sobre as cabeças. Este contexto gera os desejos mais fortes pelos mais pequenos prazeres, e também um aguçado sentido de humor sobre as absurdidades que uma ocupação de 47 anos produziu”, lê-se no site de Tanya Habjouqa, na apresentação deste seu trabalho, escrita há três anos.

A estratégia de Habjouqa para denunciar a realidade da Palestina ocupada, na sua mais intensa e totalitária complexidade, não é a mais comum e, se considerada na superfície, poderá até surgir como despeito. Porém, as suas fotografias resistem a uma visão fechada, estigmatizante e injusta, essa que se alimenta da normalização da violência, da guerra ou da morte, e também da banalidade das imagens do irrepresentável. Permitir que os palestinianos e as palestinianas sejam mais do que apenas vítimas ou proponentes de violência, é abrir corajosamente a porta às suas identidades, às suas contradições, às suas justas aspirações, aos seus desejos e à sua humanidade.

“Permissão para narrar”

Tanya Habjouqa
Foto de Middle East Institute.

“Eu senti mesmo que precisava de encontrar outra maneira de contar uma história, não apenas para que fizesse sentido para mim, mas para lhe dar sentido, e também para poder contá-la aos meus filhos, uma vez que esta é também a sua casa”, explicou a fotógrafa, numa entrevista ao The New York Times, em janeiro de 2014.

Numa outra entrevista, publicada em 2016, no The Arts Desk, Tanya Habjouqa afirma que “ao ter casado” com aquele conflito e tendo tido ali os seus filhos, essa condição conferiu-lhe uma “permissão para narrar”, tomando para si a expressão do autor palestiniano Edward Said. Sente que pode e deve falar diretamente e empenhar-se num trabalho de documentário social mais aberto, mostrando o que é a vida na Cisjordânia ocupada por Israel, ou na Faixa de Gaza controlada pelo Hamas.

Tudo começou numa entrevista que realizou, em 2009, na qual ouviu a história de um noivo palestiniano que se apaixonou pela sua noiva jordana, através do Skype. Este acabou por conseguir que ela chegasse, já vestida de noiva, pelos túneis que ligam ao Egipto. No momento de a receber, apesar da situação (o contexto subterrâneo, a areia que caía nos cabelos e as luzes trémulas), correu para ela, abraçou-a e beijou-a arrebatadoramente. Como numa desencantada cena de “Bollywood”, contou ele, acrescentado depois: "Não importa o que esta ocupação nos faz ou nos leva, iremos sempre encontrar uma forma de viver e de amar, talvez de rir. Encontraremos sempre uma forma de manter a nossa dignidade e não apenas de sobreviver”.


Por Sofia Roque.

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