Translate

sábado, 16 de dezembro de 2017

que mil geringonças floresçam…

por rui a.

António Costa deve estar orgulhoso: a sua estratégia de trazer partidos radicais e extremistas para o arco da governação, vinculando-os à democracia, está a servir de modelo noutros países. No fim de contas, como Costa não se cansa de ensinar, nenhum partido com representatividade parlamentar pode ficar fora da democracia, porque é no parlamento que o povo mais ordena. Nada como seguir os bons exemplos!

Mariana Mortágua:"Não contem connosco para os vossos tweeters de politic...

o público ensandeceu de vez?

por rui a.

Parece que sim. Veja-se o seguinte comentário, incluso na página 47 da edição de hoje, sobre Manuel Maria Carrilho e a juíza do tribunal que ontem o absolveu:

«Manuel Maria Carrilho é um pequeno pedaço de homem que agrediu e insultou repetidamente a ex-mulher em frente dos filhos. O facto de ter sido absolvido, pela forma ridícula que o foi, só confirma a sua pequenez moral. Parece que a juíza Joana Ferrer Antunes, que agora o ilibou, tem fascínio pelo período nazi - faria então bem estudar a forma como este regime desumanizou as vítimas, pois talvez encontre paralelismos na sua própria decisão de ontem.»

Mas que raio é isto? Donde retira o (a?) jornalista - note-se que não se trata de uma passagem de um artigo de opinião, mas da redacção do jornal - a conclusão de que Carrilho «agrediu e insultou repetidamente a ex-mulher em frente dos filhos»? Onde foi buscar as provas que o tribunal não viu, quando, no que respeita aos filhos, é do domínio público a óptima relação que eles mantêm com o pai? Será razoável imaginar que crianças, por pequenas que sejam, que vêem reiteradamente um pai a bater e a insultar a mãe mantenham uma boa relação com ele? E o que legitima o jornalista a dizer que a decisão da juíza «só confirma a pequenez moral» de Carrilho? Qual é a conexão existente entre a sentença e a «moral» de Carrilho? Por acaso foi ele quem a redigiu? E, pior ainda, como é possível que o jornal não seja instigado a explicar o paralelismo que estabeleceu entre um tribunal e um juiz da República e as perseguições e os crimes do III Reich? Que espécie de ódio levou o jornalista a uma tal comparação de tão mau gosto?

Como muito bem disse a juíza na sua sentença, um tribunal democrático não pode ser como os antigos tribunais plenários, onde um acusado entrava já condenado. O Estado de direito, que o autor da peça certamente ignora o que seja, tem outras regras. Nos tempos que correm, as condenações na praça pública costumam fazer-se nos jornais e na comunicação social. Talvez tenha sido o facto da juíza ter resistido a essa conversa que verdadeiramente tenha originado a diatribe do pasquim.

Assinatura de Posts

Fitch dá maior subida de rating de sempre a Portugal e coloca país no grupo da Itália

RATING

Mário Centeno. Fotografia: REUTERS/Rafael MarchanteMário Centeno. Fotografia: REUTERS/Rafael Marchante


luisReisRibeiro
Luís Reis Ribeiro
15.12.2017 / 21:05

Nota sobe para BBB, o que significa que a dívida deixa de ser considerada ativo especulativo ou "lixo". Portugal passa a estar no radar de mais investidores.

A agência de notação financeira Fitch acaba de subir a nota (rating) da dívida soberana de Portugal em dois níveis, “de BB+ para BBB com perspetiva estável”, naquela que é a maior subida de que há registo. O país está assim, oficialmente, fora de “lixo”, as obrigações são novamente um investimento não especulativo. No passado todas as subidas foram de apenas de um nível. A Fitch avalia o país desde agosto de 1994.
Segundo a empresa, que é uma das três grandes agências que avaliam os países, um dos motivos para esta promoção foi “a melhoria da sustentabilidade da dívida pública”, diz a nota enviada às redações.
“Esperamos que a dívida desça mais de três pontos percentuais este ano, para menos de 127% do Produto Interno Bruto (PIB) no final de 2017”, diz a agência numa nota enviada aos jornais. Esta “é a primeira descida do rácio “desde que começou a crise financeira global”, observa.
A Fitch é relativamente mais conservadora quanto ao crescimento, que prevê seja 1,9% em 2018 (o governo diz 2,2%, o Banco de Portugal 2,3%) e estima que o défice fique em 1,4% este ano, mas que depois estagne nesse valor em 2018, caindo mais um pouco em 2019, para 1,2% do PIB.
No entanto, os economistas da Fitch não consideram isso um problema de maior. Embora o país “não cumpra totalmente o objetivo de médio prazo do Programa de Estabilidade e Crescimento, ele entrega um declínio robusto ao nível da dívida no médio prazo”.
Isto é possível porque o saldo público primário (sem contar com os juros) aguenta-se, “estabiliza”, nos 2,5%, não deixando acumular mais dívida, observa a empresa.
Em todo o caso, a agência frisa bem que “Portugal como soberano continua muito pesadamente endividado” e que o referido rácio de 127% “compara com uma mediana de 41%” no grupo dos países BBB, além de ser “o terceiro rácio
mais elevado da zona euro”.
As consequências da ação da Fitch
Esta decisão da Fitch tem um alcance relativamente grande para as taxas de juro e a facilidade da República obter crédito a preços razoáveis.
Coloca o país no grupo dos países com nota BBB, o que significa que a dívida portuguesa deixa de ser considerada um ativo especulativo ou “lixo”, como se diz na gíria dos mercados. BBB significa que está no segundo nível acima de lixo. O primeiro é BBB-.
Na zona euro, Portugal passa agora a fazer companhia a Itália. Fora da área da moeda única os outros países que têm uma nota de BBB são Andorra, Bulgária, Colômbia, Cazaquistão, Panamá e Omã, indica a Fitch.
A dívida pública torna-se assim, aos olhos dos investidores globais, um ativo menos arriscado, apesar de o rácio continuar a ser das mais elevados do mundo desenvolvido, equivalendo a cerca de 127% do PIB), reparam a Fitch e as outras instituições que seguem a economia.
Além disso, com esta classificação, as obrigações do tesouro (OT) de Portugal, que passam a ser consideradas um ativo relativamente seguro, tornam-se elegíveis para a maior parte dos índices obrigacionistas, o que potencia muito a procura por OT num futuro próximo pois dá maior visibilidade global às obrigações portuguesas. Isso também terá um efeito positivo para a taxa de juro de mercado.
A maior parte dos índices, dos mercados especializados em dívida pública, pedem que pelo menos duas das três grandes agências de rating classifique o país como não sendo especulativo.
É o que acaba de acontecer nesta sexta-feira. Em setembro, a poderosa Standard & Poor’s causou surpresa tirando Portugal do lixo (subiu o rating para BBB-). Agora só falta a Moody’s que mantém o país em Ba1 (o último nível antes da saída do lixo).
A canadiana DBRS não é considerada uma das três grandes, mas nunca classificou Portugal como um ativo especulativo, mesmo durante a crise soberana. Foi o que permitiu ao país e aos bancos conseguirem ser elegíveis para os programas de apoio e de dinheiro barato do BCE.
No radar dos fundos de pensões
Adicionalmente, esta decisão da Fitch acaba por ser a oportunidade que faltava para que os fundos de pensões, entidades normalmente mais conservadoras nos investimentos que fazem, comecem a comprar muito mais dívida portuguesa e com maturidades maiores.
A dilatação dos prazos médios de reembolso da dívida de mercado (excluindo a dívida oficial, o resgate concedido no âmbito da troika) ainda é um objetivo por cumprir.
O ICGP, a agência que gere a dívida portuguesa, diz que a maturidade média (excluindo os empréstimos do FMI e da Europa), está hoje à volta dos seis anos. O Dinheiro Vivo sabe que o governo está a trabalhar para estender essa maturidade até aos oito anos.
Ter mais tempo para pagar torna mais fácil a gestão da Tesouraria. Não ser um ativo especulativo significa que a taxa de juro das OT ainda pode cair mais.
Esta sexta-feira a taxa das obrigações a dez anos caiu para 1,8%, tendo inclusive ficado abaixo dos juros de Itália, movimento que foi muito bem acolhido dentro do governo português.
Assinatura de Posts

Entre as brumas da memória


O PSD no seu labirinto

Posted: 15 Dec 2017 12:21 PM PST

Público, 15.12.2017

Aprecie-se a transcendência das questões com que andam entretidos os candidatos a presidente do PSD.

.

O padre Felicidade morreu há 19 anos

Posted: 15 Dec 2017 08:40 AM PST

Com um dia de atraso, faço questão de recordar que José da Felicidade Alves morreu em 14 de Dezembro de 1998, com 73 anos.

Com uma vida atribuladíssima, foi certamente uma das figuras centrais da oposição dos católicos à ditadura, sobretudo a partir de meados da década de 60. Não se estranhe que continue a chamar-lhe «padre Felicidade»: faço-o unicamente porque foi como ele sempre desejou ser tratado – até ao fim.

Prior da paróquia de Santa Maria de Belém, em Lisboa, desde 1956, foi sobretudo a partir de 1967 que as suas intervenções começaram a causar incómodo tanto ao poder político como ao eclesiástico (embora já em 1965 tivesse sido enviado por Cerejeira para Paris).

No início de 68, ausentou­‑se de novo para aquela cidade (continuando, no entanto, como prior titular de Belém) para prosseguir estudos de Teologia Ecuménica. De visita a Lisboa por ocasião da Páscoa, resolveu fazer uma comunicação ao Conselho Paroquial, na presença de oitenta pessoas, comunicação essa que desencadeou um longo e atribulado processo que iria culminar no seu afastamento da paróquia, na suspensão das funções sacerdotais e, já em 1970, na excomunhão (ou seja exclusão da própria comunidade eclesial). A comunicação de 19 de Abril tinha duas partes: Perspectivas de transformação nas estruturas da Igreja e Sentido da responsabilidade pessoal na vida pública do meu país, sendo abordados, nesta última, problemas que iam da necessidade da abolição da censura, ao direito à informação e à discussão da guerra colonial.

O cardeal Cerejeira avançou com uma tentativa de o retirar da paróquia logo em Maio, mas seguiu-se todo um processo, recheado de peripécias, que terminou com a referida suspensão das funções sacerdotais.

Houve então inúmeras reacções de paroquianos e de centenas de padres e de leigos. A páginas tantas, não me recordo exactamente quando, um grande grupo de pessoas, solidário com o padre Felicidade, dirigiu­‑se de Belém para o Patriarcado, onde se acantonou no átrio e numa pequena área do passeio, protegida por um gradeamento e por isso a salvo da intervenção policial. Foi pedida uma audiência a Cerejeira que não apareceu mas enviou um secretário para dispersar os presentes. Ficará na memória de todos «Esta casa é nossa!», um grito repetidamente lançado nessa tarde, no seu jeito bem peculiar, por Francisco de Sousa Tavares. O cardeal não nos recebeu, mas estava reunido, a essa mesma hora, com alguns paroquianos de Belém muito activos contra o padre Felicidade. Quando esta reunião terminou e os participantes desceram a escada do paço patriarcal, deu­­­‑se uma cena patética: uma dessas pessoas, salazarista ferrenho, viu no meio da multidão que se encontrava no átrio a mulher acompanhada pela filha. Ele gritou mandando­‑as para casa, elas choraram abraçadas, silenciosamente. Inesquecível.

Uma das principais iniciativas do padre Felicidade depois do afastamento da paróquia de Belém, em Novembro de 1968, foi a publicação de onze números dos Cadernos GEDOC, em 1969 e 1970, dos quais foi o grande impulsionador (juntamente com Nuno Teotónio Pereira e Abílio Tavares Cardoso). Publicação que começou por ser legal, embora à revelia e prontamente condenada pelo cardeal Cerejeira, passou à clandestinidade quando os seus principais responsáveis, incluindo o padre Felicidade, foram presos pela PIDE.

Depois do 25 de Abril, Felicidade Alves aderiu ao PCP, onde se manteve até morrer, embora sem actividade de militância nos últimos anos. Até neste aspecto a sua vida foi atípica, já que foram poucos os chamados «católicos progressistas» que escolheram tal percurso.

Mas verdadeiramente decisiva foi a sua grande influência nos meios católicos, a frontalidade das atitudes e do discurso. Como muito bem definiu Abílio Tavares Cardoso, um dos seus principais compagons de route, os textos do padre Felicidade «não traduzem só um novo paradigma de estar e de lutar na Igreja, mas vão ficar na história como páginas antológicas para uma literatura de indignação».

Tinha-se casado civilmente em 1970, mas só em 10 de Junho de 1998, seis meses antes de morrer, trinta anos após o início de um longo processo dramático com a Igreja e quando, finalmente, foram resolvidos os problemas a nível do Vaticano, é que o cardeal José Policarpo celebrou o seu casamento canónico – tal como o padre Felicidade sempre desejara.

P.S. – Este texto resulta, em parte, de transcrição e adaptação de algumas páginas de um livro que publiquei em 2007: Entre as brumas da memória. Os católicos portugueses contra a ditadura, Âmbar, 248 pág.

.

Time after time

Posted: 15 Dec 2017 08:41 AM PST

«A personalidade do ano da Time em 2017 são as pessoas que denunciaram casos de assédio sexual. De uma forma ou de outra, Donald Trump tinha de ser capa. Segundo ouvi dizer, o Presidente dos Estados Unidos, assim que soube desta notícia, foi abrir a Time nas páginas centrais, na vertical, na esperança que uma delas aparecesse seminua. Se eu pudesse escolher a palavra do ano, escolhia "assédio", seguido de "alegado".

No último ano, "descobrimos" que Hollywood é um enorme metro cheio na estação do Chiado. Tudo a apalpar o que pode. É triste descobrir que a meca dos sonhos é povoada pela mesma malta que buzina em Lisboa quando passa por uma jeitosa. São pessoas com síndrome de Tourette nas mãos, que me desculpem os que o têm. Ser capa da Time não é para todos mas, infelizmente, neste caso, é para quase todas.

Se eu fosse o Trump, podia dizer - "eh, eh, o assédio é capa da Time, devem ter dormido com poucos para conseguir isto!" Ou melhor, "se não fosse eu, o assédio nunca tinha sido capa da Time. Ainda dizem que tenho mão pequeninas." Para nós, todas estas revelações são chocantes. Apesar de termos um Presidente dos afectos - e beijoqueiro, é verdade -, não temos um Presidente dos apalpões.

Todos tivemos desgostos quando soubemos que o nosso actor preferido, ou realizador favorito, era, na verdade, um tipo todo nu com uma gabardina. Não sou dos que acha que a obra seja apagada. Não podemos confundir o artista com a obra. O importante é que se um dia dermos de caras com esse artista que nos desiludiu, em vez de lhe pedirmos um autógrafo, é optar por um pontapé nos testículos. Seguido de um - "Gosto muito do seu trabalho".

A esta hora, a caixa de comentários está cheia de garbosos machos a dizer que o Quadros é feminista. Não sou, tenho defeito de fabrico. Dou por mim a olhar para as fotos das assediadas e a dizer - fazia, não fazia, fazia, fazia, arrrrrrrgggghhh! Quem é que pôs aqui uma fotografia da Teodora Cardoso?! Vocês têm cá uma piada!

O facto de o assédio ser capa da Time é um momento importante. Sinceramente, eu estava à espera que fosse o Centeno. É uma grande vitória e um tema intemporal, pode a revista ficar esquecida num consultório de dentista que continua a ser sempre actual, infelizmente. Relembro que, há vinte e tal anos, a capa da Time foi a fome em África.»

João Quadros

Assinatura de Posts