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domingo, 14 de janeiro de 2018

na vitória de rui rio

por rui a.

Nunca acreditei na vitória de Rui Rio nas eleições internas do PSD. Parecia-me que a máquina do partido se movia maioritariamente contra ele e, por outro lado, as suas prestações na campanha, sobretudo no primeiro debate televisivo, foram muito más. Rio - e não fui o único a escrevê-lo - parecia estar fora da política, ao contrário de Santana, cujas mil e uma vidas lhe voltaram a dar uma capacidade de combate que me impressionou. Todavia, pode ter sido essa a vantagem do agora presidente eleito: as pessoas comuns estão fartas de políticos e podem ter preferido quem mais aparenta estar-lhes próximo e distante dos conventículos partidários. Rio ganhou. Parabéns a Rui Rio.

Ao invés da opinião dominante, não acredito que Rio esteja disposto a facilitar a vida a António Costa e ao governo do PS. Como, aliás, também escrevi, parece-me que ele será um líder mais assertivo contra o PS, do que Santana poderia ter sido. Acredito nisso, por diferentes razões, mas, sobretudo, porque Rio tem um killer instinct, que o longo tempo de espera para a liderança do PSD terá certamente refinado, que Santana, habituado, de há muito, a convier com a política lisboeta, já não tem, se é que alguma vez teve. Por isso, acho que Rio vai surpreender na oposição que vai fazer a António Costa, bem como nas relações internas do seu partido, onde certamente não será um pau mandado dos baronetes que ajudaram a elegê-lo. Cavaco também foi eleito por alguns, e virou as costas a quase todos. Pense-se em Eurico de Melo, Carlos Macedo (que expulsou do partido) ou o pessoal da «Nova Esperança».

Posto isto, reafirmo o que sempre disse: Rui Rio está excessivamente velho para ser um líder de longo prazo, e a direita precisa de muito tempo para se estabilizar e encontrar um projecto alternativo ao socialismo. O futuro do PSD e de um projecto de direita para o país dificilmente passarão por aqui. Mas, tal como me enganei no vaticínio sobre as eleições do partido laranja, talvez me possa enganar sobre isto. Mas duvido muito: a vida é o que é e o tempo não pára.

statlerwaldorf

Quo vadis, Pedro?

por estatuadesal

(Por Estátua de Sal, 13/01/2018)

COELHO_VIDA

Confesso que estou um pouco preocupado, por ti, ó Pedro. Afinal para onde é que tu vais?

Para o FMI não vais como o Gaspar porque não tens conhecimentos econométricos.

Para a OCDE, como o teu ministro, o Álvaro Pereira, ministro do pastel de nata, também não vais porque não tens curriculum nem projecção.

Fazer companhia à ex-ministra Albuquerque, na Arrow, vendendo informação privilegiada aos oportunistas da finança é demasiado secundário para ti e seria dares cabo do novo líder do partido, em três tempos, com mais um escândalo.

Para a Tecnoforma, para bem dos teus pecados, já faliu, paz à sua alma, houve uns milhões que voaram, mas não se passou nada e a Dona Joana Vidal acha que não deve ser nada investigado.

Para gestor de uma empresa do Tio Ângelo Correia também não deves ir, até porque ele se zangou contigo, já que não o trataste nada bem enquanto foste primeiro-ministro, o que revela o teu carácter de pobre e mal agradecido a quem te colocou na ribalta da grande política.

O que é mais estranho é que, mesmo sem todas essas hipóteses no horizonte, já deves ter alguma na manga pois também anunciaste que te vais demitir de deputado. Eu até acho bem, os deputados ganham mal, e aquilo é uma grande estopada e só tem piada para os deputados da primeira fila, de onde terias de sair para não ensombrar o novo líder com as tuas intervenções baritonais.

Claro que podes sempre fazer como o Santana e limitares-te a andar por aí. Se o teu amigo Relvas estiver certo, o líder hoje eleito é só para durar dois anos, já que será esmagado pelo Costa nas legislativas de 2019, podendo tu regressares em força, em resposta ao clamor dos militantes laranja que gritarão em plenos pulmões: volta Pedro, estás perdoado! Mas até lá, Pedro, até lá como vai ser?

Será que tens já apalavrada uma senicura de comentador televisivo? Ou vais para facilitador de negócios, como o teu amigo Portas, profissão onde tens um invejável curriculum? Para comentador não me parece provável, mas quem sabe. Não foste às aulas de comentariado, do teu amigo catavento, até porque sempre foste meio relapso em ir a aulas, e o rei do comentário ocupa todo o espaço mediático, todos os dias e a toda a hora.

Também não creio que vás estudar para Paris, fazer um doutoramento como o Sócrates. Não tens jeito para queimar as pestanas, e perder tempo com trabalhos académicos. Tens mais jeito para o canto e, estudar por estudar, sempre podes ir para o Conservatório e iniciar uma carreira operática de grande barítono.

Todas estas hipóteses consideradas, penso que vais regressar a facilitador, apesar de já restar muito pouco para facilitar pois vendeste as empresas todas, ou quase todas, que havia para vender, aos chineses e afins.

Talvez por isso, deve ser por aí que vai passar o teu futuro. Ou muito me engano, tu que sempre tiveste uma secreta admiração pelo oriente - queiras fazer de Portugal uma Singapura da Europa -, vais ser salvo pelos bons ofícios do oriente. Os chineses são leais nos negócios e não precisam de escrever o que prometem para honrarem os compromissos que assumem.

Seja esse o teu futuro ou não, desejo-te muitas felicidades, Pedro. Vai lá tratar da tua vida, e faz boa viagem. Finalmente tomaste uma decisão de jeito. Os portugueses deixam-te tratar da tua vida à vontade. Coisa que não deixaste os portugueses fazerem durante os quatro anos em que a tua governação destruiu a vida de tantos deles.


(Ver as declarações de Passos Coelho aqui)

Blasfémias diversas

Posted: 13 Jan 2018 12:49 PM PST

How Robots Will Break Politics (Ryan Avent)

«Automation is dramatically reshaping the workforce, but we’ve barely begun to grapple with how it will reshape society.»

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Partidos conservadores e a cannabis medicinal

Posted: 13 Jan 2018 10:47 AM PST

«Os partidos mais conservadores exibiram no Parlamento uma indignação incontida: a utilização médica da canábis, para tratamentos prescritos por médicos em casos de cancro ou outras patologias em que a droga alivia o sofrimento, seria um cavalo de Tróia para promover o uso recreativo da substância. Curioso argumento, para os partidos conservadores é aceitável utilizar um opiáceo, como a morfina, mas nunca um derivado da canábis, porque haveria o risco horrível de o doente com dor crónica ou cancro apreciar o medicamento. Acresce que o argumento de que os proponentes defendem também o uso recreativo é bizarro: usar essa razão para recusar o uso medicinal é como recusar uma proposta do PCP sobre o salário mínimo ou do CDS para o fim da taxinha sobre as mais-valias só porque ambos pensam isto ou aquilo sobre o IRC.

PUB O Bloco e o PAN fizeram bem em separar o uso medicinal do uso recreativo, são matérias diferentes. No primeiro caso, Jorge Sampaio, João Goulão ou a Ordem dos Médicos disseram o essencial: só há boas razões clínicas para usar esses medicamentos nos casos necessários. O PS fez bem em apoiar a medida e o PSD em mudar de posição e aceitar a prescrição médica. Portugal dará portanto um pequeno passo na humanização do tratamento de doenças penosas.

Virá depois o tempo de decidir sobre a legalização do consumo de canabinóides. Por várias razões que se vão impondo. A primeira e a mais importante é que a nossa sociedade trata as drogas de três formas distintas: há as legais mas sujeitas a controlo médico (os medicamentos), há as legais de venda livre (só sujeitas a restrições de idade dos consumidores, como o tabaco e o álcool) e há as que ficam nas mãos dos circuitos criminosos. Ora, a legalidade não é decidida em função da gravidade da toxicodependência, pois o álcool é a droga mais perigosa, mais usada e assim a que tem mais riscos sociais (violência contra as mulheres e crianças, acidentes automóveis), mas ninguém pondera a sua proibição, porque aumentaria o malefício. Portanto, a experiência indica que o controlo das drogas é melhor do que a sua clandestinidade.

A segunda razão para mudar a política sobre o uso de drogas é acabar com o favorecimento ao mundo do crime. É certo que esse mundo já foi o das grandes potências imperiais, que impuseram de 1839 a 1842 e de 1856 a 1860 duas guerras contra a China para garantirem o seu direito de venderem ópio, foi assim que Hong Kong passou para o Reino Unido, era o porto de entrada da droga. A Bayer sintetizou a heroína a partir do ópio, vendendo-a a crianças como um medicamento. E, até 1916, como lembrava com graça o Economist, a revista publicava a cotação do ópio, que era legal. Hoje, a ilegalidade criou um mercado mundial multimilionário e, como lembra a ONU, dois terços da produção mundial de ópio são obtidos num país sob ocupação militar norte-americana, o Afeganistão.

Claro que agora sabemos mais sobre os riscos dessas drogas e por isso devemos tomar precauções. Mas só se terminará com estes circuitos do crime se as drogas forem controladas pelas autoridades de saúde, como acontece com o álcool e os medicamentos: umas devem ser de venda condicionada e outras restritas a prescrição médica. Por isso, como lembrava Goulão, que tem reservas sobre o assunto, a experiência norte-americana de legalização da marijuana é reveladora. No Alasca, Califórnia, Colorado, Oregon, Massachusetts, Maine, Nevada e Washington, como no Uruguai e outros Estados, o resultado da legalização da canábis e seus derivados tem sido demonstrativo de como a “guerra às drogas” e o proibicionismo foram sempre um favor a Pablo Escobar e aos seus capangas, como o proibicionismo do álcool foi um favor a Al Capone no século passado.»

Francisco Louçã

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Marcelo, na tarde de hoje?

Posted: 13 Jan 2018 06:41 AM PST

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Sidónio e batatinha

Posted: 13 Jan 2018 03:03 AM PST

Daniel Oliveira no Expresso de 13.01.2018:

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sexta-feira, 12 de janeiro de 2018

ESCOLHA DIFÍCIL

por estatuadesal

(In Blog O Jumento, 12/01/2018)

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Não quereria estar na pele de António Costa se coubesse ao líder do PS a escolha do futuro líder do PSD: se não é nada fácil escolher, de entre os dois candidatos à liderança do PSD, qual o que daria um melhor primeiro-ministro, mais difícil ainda seria escolher qual dos dois lhe proporcionaria melhores resultados nas próximas legislativas.

O PSD não parece estar a escolher um líder; pelos debates está a escolher qual o chefe guerrilheiro que poderá ferir mais o primeiro-ministro. O debate chega a um nível intelectual deprimente, tem momentos dignos de crianças do ensino básico, com Santana Lopes a acusar Rio de ter almoçado com um perigoso criminoso chamado Pacheco Pereira e aquele a ripostar mais ou menos da mesma forma.

Não importa as qualidades do futuro líder - Santana Lopes ainda fez em meia dúzia de horas um mega programa de governo -, mas a verdade é que em vez de apresentar as suas ideias limita-se a enumerar as supostas traições do seu adversário. Rui Rio responde no mesmo tom, esquecendo que depois de décadas de conluios nos jogos partidários foi conivente, ou participou, em tantas trapalhadas quantas as de Santana.

É quase deprimente ver os militantes do PSD a discutir se Santana odeia mais ou menos António Costa do que Rui Rio, com um a recusar qualquer acordo com o PS e o outro a admitir apoiar um governo do PS. Isto é, o que distingue um do outro não é a capacidade de ganhar, mas sim a forma como vão digerir uma derrota que consideram certa. Pelo meio vem Miguel Relva dizer que ganhe um ou o outro, o futuro líder do PSD vai durar dois anos, isto é, só é eleito para tomar conta da casa.

Se o PS não ganhar com maioria absoluta, e Santana for líder, ou consegue formar nova geringonça ou o país terá de repetir as eleições. É óbvio que ninguém ao centro ou à direita perdoará a Santana essa entrega do poder ao PCP e ao BE; mas se Costa optar pela repetição das eleições, já que Marcelo nunca cairia na asneira de um governo presidencial apoiado por Santana, é bem provável que o PSD desapareça nas segundas eleições.

Se Rui Rio chegar a líder do PSD não só terá um grupo parlamentar formado por um ninho de cobras, como dificilmente conseguirá levar os eleitores a votar nele para fazer o tal 25 de abril civil,  já que não terá o apoio de uma maioria constitucional que patrocine as suas idiotices. Se o que Rui Rio tem a propor é o equilíbrio orçamental que Centeno já conseguiu ou o tal 25 de abril, dificilmente conseguirá convencer alguém a votar nele.

Votei, mas não inalei

por estatuadesal

(João Quadros, in Jornal de Negócios, 12/01/2018)

quadros

João Quadros

"É verdade que a canábis ajuda no sofrimento de cancros terminais, mas depois essas pessoas podem ficar agarradas." Provavelmente, vão para o céu fazer filtros.


Ontem debateu-se (escrevo esta crónica na quarta-feira) na Assembleia da República as propostas do BE e do PAN sobre os projectos de lei para legalizar a canábis para fins medicinais. O CDS e o PSD estão contra. É pena. Até porque a primeira autorização para plantação de canábis para fins de medicinais em Portugal, para exportação, foi dada em 2014.

Acho que o PSD e o CDS podiam ter sido convencidos se lhes disséssemos que é tradição fumar charros em Portugal. Nas Festas de Reis, na aldeia de Vale Salgueiro, em Mirandela, as crianças são encorajadas a fumar cigarros, uma tradição que teve direito esta semana a uma reportagem da Associated Press. "Pais encorajam os seus filhos, alguns com menos de cinco anos, a fumar cigarros." A reportagem salienta que a idade legal para adquirir tabaco em Portugal é 18 anos, "mas ninguém proíbe os pais de darem cigarros às crianças e as autoridades não intervêm para parar esta prática". Os entrevistados justificam a mesma com os costumes locais. Que fixe. Se calhar, os miúdos injectam-se no Carnaval e vão às meninas na Páscoa.

Nada como imaginar um roteiro tradicional, como as crianças a arder de Vila Nova de Sardão, o "striptease" forçado de septuagenárias em Poço de Sete Mães ou a largada de cabrestos e grávidas bêbedas de Fonte de Castelo Coiso.

Os deputados do PSD, pelo menos alguns dos que conheço, votam contra a canábis para uso medicinal, mas usam para fins recreativos. O PSD e o CDS são contra a utilização em Portugal de canábis para fins medicinais, mas autorizaram plantações onde produzimos canábis para venda para fins medicinais noutros países. É espectacular, somos grandes exportadores de marijuana para uso farmacêutico, mas segundo o PSD e o CDS aquilo só faz mal. Ainda recentemente, a maior plantação de canábis em Portugal foi anunciada no Web Summit. É proibir essa malta toda de cá entrar e deitar fogo a estes projectos todos. Porque não vamos deixar produzir cá uma coisa que até é proibida para efeitos medicinais.

Recordo que, em 2012, a JSD, na altura liderada por Duarte Marques, apoiou a Marcha Global da Marijuana em Lisboa. Grande maluco. A desculpa do PSD para chumbar a legalização da canábis para uso medicinal é: "Pode causar habituação." Ou seja: "Coitados, é verdade que a canábis ajuda no sofrimento de cancros terminais, mas depois essas pessoas podem ficar agarradas." Provavelmente, vão para o céu fazer filtros.

Resumindo, no país de horas e mais horas de publicidade ao cogumelo do tempo e ao Calcitrin, que é vendido directamente ao público, sem intermediação das farmácias, nem pensar em permitir a canábis para efeitos terapêuticos. Não aguento tanta hipocrisia, preciso de fumar uma.