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sábado, 27 de janeiro de 2018

1945: Libertação de Auschwitz-Birkenau

CALENDÁRIO HISTÓRICO

UM CONFLITO QUE MUDOU O MUNDO

  • Há 73 anos, em 27 de janeiro de 1945, o Exército Vermelho libertou Auschwitz, o maior e mais terrível campo de extermínio dos nazistas. Em suas câmaras de gás e crematórios foram mortas pelo menos um milhão de pessoas.
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Auschwitz foi o maior e mais terrível campo de extermínio do regime de Hitler. Em suas câmaras de gás e crematórios foram mortas pelo menos um milhão de pessoas. No auge do Holocausto, em 1944, eram assassinadas seis mil pessoas por dia. Auschwitz tornou-se sinônimo do genocídio de judeus, sintos e roma e tantos outros grupos perseguidos pelos nazistas.
As tropas soviéticas chegaram a Auschwitz, hoje Polônia, na tarde de 27 de janeiro de 1945, um sábado. A forte resistência dos soldados alemães causou um saldo de 231 mortos entre os soviéticos. Oito mil prisioneiros foram libertados, a maioria em situação deplorável devido ao martírio que enfrentaram.
"Na chegada ao campo de concentração, um médico e um comandante questionavam a idade e o estado de saúde dos prisioneiros que chegavam", contou Anita Lasker, uma das sobreviventes. Depois disso, as pessoas eram encaminhadas para a esquerda ou para a direita, ou seja, para os aposentos ou direto para o crematório. Quem alegasse qualquer problema estava, na realidade, assinando sua sentença de morte.
Häftlinge im Konzentrationslager Auschwitz
Prisioneiros do campo de concentração de Auschwitz-Birkenau
Câmaras de gás e crematórios
Auschwitz-Birkenau foi criado em 1940, a cerca de 60 quilômetros da cidade polonesa de Cracóvia. Concebido inicialmente como centro para prisioneiros políticos, o complexo foi ampliado em 1941. Um ano mais tarde, a SS (Schutzstaffel) instituiu as câmaras de gás com o altamente tóxico Zyklon B. Usada em princípio para combater ratos e desinfetar navios, quando em contato com o ar a substância desenvolve gases que matam em questão de minutos. Os corpos eram incinerados em enormes crematórios.
Um dos médicos que decidiam quem iria para a câmara de gás era Josef Mengele. Segundo Lasker, ele se ocupava com pesquisas: "Levavam mulheres para o Bloco 10 em Auschwitz. Lá, elas eram esterilizadas, isto é, se faziam com elas experiências como se costuma fazer com porquinhos da Índia. Além disso, faziam experiências com gêmeos: quase lhes arrancavam a língua, abriam o nariz, coisas deste tipo..."
Trabalhar até cair
Os que sobrevivessem eram obrigados a trabalhos forçados. O conglomerado IG Farben, por exemplo, abriu um centro de produção em Auschwitz-Monowitz. Em sua volta, instalaram-se outras firmas, como a Krupp. Ali, expectativa de vida dos trabalhadores era de três meses, explica a sobrevivente.
"A cada semana era feita uma triagem", relata a sobrevivente Charlotte Grunow. "As pessoas tinham de ficar paradas durante várias horas diante de seus blocos. Aí chegava Mengele, o médico da SS. Com um simples gesto, ele determinava o fim de uma vida com que não simpatizasse."
Häftlinge im Konzentrationslager Auschwitz
Grupo de prisioneiros se dirige ao crematório de Auschwitz, onde eles seriam assassinados
Marcha da morte
Para apagar os vestígios do Holocausto antes da chegada do Exército Vermelho, a SS implodiu as câmaras de gás em 1944 e evacuou a maioria dos prisioneiros. Charlotte Grunow e Anita Lasker foram levadas para o campo de concentração de Bergen-Belsen, onde os britânicos as libertaram em abril de 1945. Outros 65 mil que haviam ficado em Auschwitz já podiam ouvir os tiros dos soldados soviéticos quando, a 18 de janeiro, receberam da SS a ordem para a retirada.
"Fomos literalmente escorraçados", lembra Pavel Kohn, de Praga. "Sob os olhos da SS e dos soldados alemães, tivemos de deixar o campo de concentração para marchar dia e noite numa direção desconhecida. Quem não estivesse em condições de continuar caminhando, era executado a tiros", conta. Milhares de corpos ficaram ao longo da rota da morte. Para eles, a libertação chegou muito tarde.

O Último Comboio para Auschwitz

O Último Comboio para Auschwitz


https://youtu.be/l46ez89YZuI


Auschwitz

Um homem é um homem e um bicho é um bicho.

Novo artigo em Aventar


por Bruno Santos

Os factos que a seguir se relatam são verdadeiros e estão documentados.

No dia 18 de Setembro de 2017 respondi por email a uma oferta de emprego surgida no conhecido site Net-Empregos. O anúncio era anónimo, informando apenas que se tratava de um “conceituado grupo de Empresas de Engenharia e Construção localizado em Vila do Conde” que pretendia recrutar um Designer Gráfico.

No dia seguinte, de manhã, recebi um telefonema da responsável pelo departamento de recursos humanos da empresa, Ana Cunha, informado-me que eu tinha sido seleccionado para entrevista de recrutamento e dando-me conta que a entidade em causa pertencia ao Grupo Azevedos, tratando-se, mais concretamente, da Construtora Lucios, uma empresa com actividade pujante em todo o país na área da reabilitação urbana e em outras áreas da indústria da construção. Assim sendo, convidou-me a realizar uma entrevista no dia 21 de Setembro, nas instalações da empresa, convite ao qual obviamente acedi com entusiasmo.

Realizada a entrevista, fui convidado pela empresa, ainda no âmbito do processo de recrutamento, a fazer um “teste” que consistia na criação de uma “marca gráfica” que assinalasse os 75 anos de existência da Lucios. Este desafio foi lançado às 18h26 do dia 22 de Setembro de 2017, uma sexta-feira, e o trabalho deveria ser entregue até ao final da manhã da segunda-feira seguinte. Às 8h36 dessa segunda-feira remeti o trabalho concluído. Foi este:

No dia 26 de Setembro, pelas 18h56, a Lucios formalizava uma proposta de contratação, afirmando, no email que me remeteu com as condições contratuais, que “recebemos com bastante agrado a indicação que aceita este nosso desafio e que poderemos em breve contar consigo. Da parte do Grupo Azevedo's e da equipa do Dep. de Marketing, tudo será feito para que tenha a melhor integração possível e que encontre na nossa organização uma carreira de sucesso.”

No dia 2 de Outubro de 2017 iniciei o exercício de funções na Lucios. Como é normal nestas circunstâncias, a responsável dos recursos humanos da empresa informou-me em detalhe das regalias e deveres a que estava sujeito, fez comigo uma visita guiada pelos vários departamentos da empresa, apresentando-me aos outros colaboradores, incluíndo a administração.

Iniciei o trabalho no Departamento de Marketing, sob a responsabilidade de Ondina Machado, a directora de Marketing da empresa, que me tratou com toda a cordialidade e me foi pondo ao corrente dos vários projectos em curso, aos quais eu me iria dedicar.

Um desses projectos é o Mercado da Beira-Rio, um empreendimento cujo proprietário é a Câmara Municipal de Gaia e cujo projecto de reabilitação foi da responsabilidade da Lucios. A Lucios é igualmente detentora, juntamente com outra conhecida empresa, dos direitos de exploração desse equipamento. Acrescente-se que o Mercado da Beira-Rio é um dos mais importantes projectos que a Lucios tem neste momento e uma das mais significativas obras levadas a cabo pelo actual executivo da Câmara de Gaia.

Como é sabido, fui exonerado do cargo de adjunto do gabinete de apoio à presidência da Câmara de Gaia em Julho de 2016, na sequência directa de um artigo que aqui publiquei, e mantenho com o presidente da Câmara, Eduardo Vítor Rodrigues, um litígio judicial que aguarda julgamento. Esse facto não deixou de ser tido em conta quando aceitei a proposta de trabalho da Lucios, mas presumi que, tratando-se de uma empresa idónea, de prestígio nacional, ele em nada influenciaria as suas opções de recrutamento, feitas com base na qualidade pessoal e profissional dos candidatos e não noutro qualquer factor a isso alheio.

Depois de iniciar, a 2 de Outubro de 2017, as minhas funções na empresa, o trabalho decorreu com absoluta normalidade durante cerca de uma semana, momento após o qual a directora de Marketing, Ondina Machado, que é a responsável da empresa pela gestão do Mercado da Beira-Rio, propriedade da Câmara de Gaia, sem nenhum motivo que o justificasse deixou, praticamente, de me dirigir a palavra. Estanhando a mudança repentina e totalmente injustificada de comportamento, percebi que algo de mais grave e profundo se poderia estar a passar, pelo que decidi comunicar o facto, por escrito, a algumas pessoas cuja identidade, por agora, não vem ao caso. Disse-lhes que alguém estava a tentar prejudicar-me profissionalmente e a fazer chantagem sobre a Lucios para que me despedisse.

No dia 16 de Outubro de 2017, catorze dias depois de ter iniciado as minhas funções, enviei um pedido de informação à responsável de recursos humanos da Lucios, Ana Cunha, perguntando-lhe para que data estava prevista a assinatura do contrato de trabalho, que ainda não tinha sido assinado. Na resposta, Ana Cunha informou-me que o documento me seria entregue “nos próximos dias”.

No dia 18 de Outubro de 2017, pelas 11h48 recebi um email do departamento de recursos humanos da Lucios, dando-me instruções no sentido de me dirigir ao DRHU para “assinar o seu Contrato de Trabalho”, coisa que fiz de imediato.

A 26 de Outubro de 2017, oito dias depois de assinar o contrato de trabalho, fui despedido. A justificação que me foi dada pela directora de marketing, Ondina Machado, pessoa a quem coube comunicar-me o despedimento, foi que “não houve química”.

Não tenho, obviamente, qualquer prova material de que o meu despedimento se ficou a dever a pressões com origem na Câmara de Gaia, motivadas por sentimentos de vingança pessoal e relacionadas com o litígio legal que me opõe ao presidente da Câmara. Por não ter provas materiais desse facto, não posso afirmar que a Lucios cedeu à chantagem e às pulsões de vingança de Eduardo Vítor Rodrigues e que, por via dos interesses em causa no Mercado da Beira-Rio, me despediu oito dias depois de ter assinado comigo um contrato de trabalho.

Mas posso contar, e conto, esta história, que é verdadeira. Porque um Homem é um Homem e um bicho é um bicho.

A amante... A estranha verdade...

16/12/2017 às 15:33

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Alguns anos depois que nasci, meu pai conheceu uma estranha, recém-chegada à nossa pequena cidade.
Desde o princípio, meu pai ficou fascinado com esta encantadora personagem e, em seguida, a convidou a viver com nossa família.
A estranha aceitou e, desde então, tem estado conosco.
Enquanto eu crescia, nunca perguntei sobre seu lugar em minha família; na minha mente jovem já tinha um lugar muito especial.
Meus pais eram instrutores complementares... minha mãe me ensinou o que era bom e o que era mau e meu pai me ensinou a obedecer.
Mas a estranha era nossa narradora.
Mantinha-nos enfeitiçados por horas com aventuras, mistérios e comédias.
Ela sempre tinha respostas para qualquer coisa que quiséssemos saber de política, história ou ciência.
Conhecia tudo do passado, do presente e até podia predizer o futuro!
Levou minha família ao primeiro jogo de futebol.
Fazia-me rir, e me fazia chorar.
A estranha nunca parava de falar, mas o meu pai não se importava.
Às vezes, minha mãe se levantava cedo e calada, enquanto o resto de nós ficava escutando o que tinha que dizer, mas só ela ia à cozinha para ter paz e tranquilidade.
(Agora me pergunto se ela teria rezado alguma vez para que a estranha fosse embora).
Meu pai dirigia nosso lar com certas convicções morais, mas a estranha nunca se sentia obrigada a honrá-las.
As blasfêmias, os palavrões, por exemplo, não eram permitidos em nossa casa… nem por parte nossa, nem de nossos amigos ou de qualquer um que nos visitasse.
Entretanto, nossa visitante de longo prazo usava sem problemas sua linguagem inapropriada que às vezes queimava meus ouvidos e que fazia meu pai se retorcer e minha mãe se ruborizar.
Meu pai nunca nos deu permissão para tomar álcool.
Mas a estranha nos animou a tentá-lo e a fazê-lo regularmente.
Fez com que o cigarro parecesse fresco e inofensivo, e que os charutos e os cachimbos fossem distinguidos.
Falava livremente (talvez demasiado) sobre sexo.
Seus comentários eram às vezes evidentes, outras sugestivos, e geralmente vergonhosos.
Agora sei que meus conceitos sobre relações foram influenciados fortemente durante minha adolescência pela estranha.
Repetidas vezes a criticaram, mas ela nunca fez caso aos valores de meus pais, mesmo assim, permaneceu em nosso lar.
Passaram-se mais de cinquenta anos desde que a estranha veio para nossa família.
Desde então mudou muito; já não é tão fascinante como era no princípio.
Não obstante, se hoje você pudesse entrar na guarida de meus pais, ainda a encontraria sentada em seu canto, esperando que alguém quisesse escutar suas conversas ou dedicar seu tempo livre a fazer-lhe companhia...
Seu nome?
Ah! seu nome…
Chamamos de TELEVISÃO!
É isso mesmo; a intrusa se chama TELEVISÃO!
Agora ela tem um marido que se chama Computador.
Um filho que se chama Celular.
E um neto de nome Tablet.
A estranha agora tem uma família.
A nossa será que ainda existe?

Os sofrimentos do jovem universitárioOs sofrimentos do jovem universitário

da Redação

Salvador, o nadador: do bar da praia a presidente da câmara (até ser braço direito de Rio)

OBSERVADOR

26 Janeiro 2018154

Pedro Raínho

Foi nadador-salvador em Esmoriz. Fez-se engenheiro. Investigou para a Renault. Ganhou a câmara de Ovar. Ajudou a eleger um líder do PSD. É suspeito de favorecimento. Afinal, quem é Salvador Malheiro?

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“Se um dia perder isto vou fazer outra coisa qualquer! Vou ser nadador-salvador ou outra coisa qualquer, não me importo”, desabafava Salvador Malheiro, no final de uma entrevista ao Observador na Câmara Municipal de Ovar. O diretor da campanha de Rui Rio para a liderança do PSD começava a dar sinais de irritação. O tema não era fácil: suspeitas de favorecimento. Uma parte da conversa tinha sido sobre os contratos-programa de 2,2 milhões de euros que a autarquia estabeleceu com os clubes da terra, quase todos adjudicados à Safina, uma empresa de Pedro Coelho, líder da concelhia do PSD e posteriormente vereador no executivo do próprio Salvador Malheiro.

Naquele dia, sexta-feira, 19 de janeiro, o presidente da câmara ainda não sabia que o Ministério Público de Aveiro tinha aberto um inquérito ao caso dos relvados sintéticos, depois de uma denúncia anónima que o visava, ao seu vereador Pedro Coelho e a um adjunto da câmara, Henrique Araújo — que foi um dos operacionais na organização da campanha interna de Rui Rio. A denúncia relaciona o alegado favorecimento com o financiamento de campanhas eleitorais. O Observador sabe que Rui Rio — que se apresentou a dizer que a política precisa de um “banho de ética” — tem estado preocupado com este assunto.

Salvador Malheiro podia dizer que se deixasse a política voltaria a exercer engenharia, que lhe deu dinheiro e prestígio académico, antes de ser presidente de uma câmara. Mas preferiu dramatizar com o regresso à praia como nadador-salvador. Por trás da secretária a que o autarca está sentado, no seu gabinete, um quadro mostra dois pescadores num plano apertado, abraçados. “É do anterior presidente e eu deixei-o ficar”, explica Salvador Malheiro. Camisa branca apertada até ao último botão, gravata escura, às pintas brancas: à primeira vista, só os longos cabelos disfarçadamente penteados revelam a figura que, ainda adolescente, passava o verão de olhos postos no mar de Esmoriz, atento aos banhistas. Foi ali, como nadador-salvador, que se lançou à vida.

No seu conjunto, o percurso de Salvador Malheiro é pouco habitual na classe política atual: vem de uma família numerosa e humilde, formou-se em engenharia, doutorou-se e deu aulas em universidades, chegou a fazer investigação em França, tinha uma profissão onde ganhava bom dinheiro como consultor, e só depois decidiu dedicar-se à causa pública. Foi uma paixão tardia. Não frequentou a escola de caciques das jotas. Mas teve de aprender os truques todos quando a ambição cresceu. Nas eleições internas do PSD, que deram a vitória a Rui Rio, teve ao seu serviço a carrinha de uma associação recreativa — financiada pela autarquia — para transportar militantes de um bairro pobre à mesa de voto. O resultado esmagador de quem joga em casa ficou evidente ao fim da noite: dos 476 votantes do PSD de Ovar, 409 puseram a cruz em Rui Rio.

Na campanha interna do PSD, acompanhou Rui Rio por todo o lado. Era o diretor de campanha. Embora não fosse íntimo do ex-presidente da câmara do Porto — é um conhecimento recente — foi um dos principais operacionais para a mercearia partidária: votos, apoios, transportes e mobilização para salas cheias de gente. A partir de setembro, coordenou a máquina com outros líderes de aparelho: Rui Rocha, de Leiria, Carlos Peixoto, da Guarda, Bruno Coimbra, de Aveiro, Luciano Gomes, do Porto, Fernando Campos, de Boticas. O seu braço direito para o terreno foi Henrique Araújo, seu adjunto na câmara de Ovar.

As denúncias de caciquismo, porém, são mais antigas. Há dois anos, em fevereiro de 2016, quando venceu a distrital de Aveiro, hoje a quarta maior do PSD — decisiva nas disputas eleitorais internas — Malheiro já era acusado de viciação de dados. Ulisses Pereira, o seu adversário, que perdeu aquela estrutura para o homem de Ovar, chegou a enviar uma carta para o Conselho de Jurisdição do PSD a denunciar “indícios de irregularidades graves e eventual falsificação de dados”, como 16 militantes que viviam na mesma morada e 77 que tinham o mesmo telemóvel. Em causa estava a inscrição de 418 militantes. Pedro Coelho, o mesmo envolvido no caso dos relvados sintéticos, que liderava a concelhia, acusava Ulisses Pereira de querer “ganhar na secretaria”.

Para ganhar a câmara com o apoio do anterior presidente, do PS, ter-se-á comprometido em manter o filho e a nora do ex-presidente em cargos dirigentes, assim como a chefe de gabinete do executivo socialista. Cumpriu. Não tocou em nenhuma destas pessoas desde 2013, apesar da mudança de partido na gestão da autarquia.

O senhor engenheiro “ratinho”

O pai, Albertino Silva, tem uma enorme coleção de uísques. Era um comercial que andou a vender pelas antigas colónias portuguesas, em África, e foi dele que herdou o amor ao Sporting e a admiração por Sá Carneiro. Foi um “militante da primeira hora” do PPD. Salvador nasceu em 1972 (tem hoje 45 anos) e foi a mãe quem o criou, com a ajuda dos filhos mais velhos. Naquela família de poucos recursos, Salvador Malheiro, o penúltimo dos 10 irmãos, percebeu cedo que teria de fazer o seu próprio caminho. “Houve ali períodos complicados, mas nunca passámos fome”, recorda ao Observador, sentado no gabinete que ocupa desde 2013, o presidente da Câmara Municipal de Ovar.

“Sempre tive uma atividade muito intensa, desde as primeiras horas que trabalhei na praia, trabalhei nos bares à noite, fui nadador-salvador” em Esmoriz, e o passar dos anos apenas apenas reforçou a “ligação intensa” à terra que marcaria o seu percurso. Até completar o ensino básico, Salvador Malheiro andou por ali. “Os meus pais sempre fizeram questão, mesmo com todas as dificuldades, de permitir a quem gostasse da escola, quem tivesse potencial na escola, que nada lhe faltasse”.

Entre os “ratinhos”, alcunha pela qual a família é conhecida na terra, o percurso dos vários irmãos acabaria por ser diferente. Uma irmã tornar-se-ia médica; outro irmão, jogador de futebol; outro é quadro do grupo empresarial criado por Américo Amorim. Ainda miúdo, Salvador destacava-se como um dos melhores alunos da turma. De tal forma que, aos 24 anos, era licenciado em Engenharia, com especialização em fluídos e calor e uma média de 16 valores – “fui o melhor aluno da minha opção” — e nunca perdeu um ano.

Antes de completar 25 anos já era mestre, com uma equivalência pelo curso que frequentou em Paris, patrocinado pela União Europeia, em que estudou o desenvolvimento da tecnologia usada em motores de combustão interna. Em 1996, no primeiro regresso do geek das engenharias a Portugal, começou a dar aulas a alunos do 5º ano do curso de Engenharia da Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro. “Mais de 90% dos meus alunos eram mais velhos que eu”, lembra.

O doutoramento veio a seguir. Durante três anos voltou a viver em França, mas dessa vez para trabalhar no centro de investigação da Renault, onde desenvolveu um “projeto altamente confidencial” para “reduzir ao máximo o consumo e a poluição” dos motores automóveis. “Consegui colocar em combustão um rácio quase 10% inferior, completamente em rutura com estado da arte da altura”, conta Salvador Malheiro, perdido entre as memórias de um percurso que acabaria por abandonar por completo quando decidiu que todo o seu empenho seria dedicado à atividade política.

Social-democrata convidado por socialista

Essa descoberta só veio mais tarde, já depois de completar 30 anos. Depois da viragem do milénio, o engenheiro regressou em definitivo a Portugal, por não conseguir resistir àquilo que descreve como um chamamento – da terra e da família. Em 2003, casado “com uma lisboeta” e com a família a crescer (o primeiro dos três filhos, dois rapazes e uma rapariga, nasceu quando estava em França), recusou “muitas oportunidades” que lhe apresentaram para cruzar o Atlântico e ir dirigir centros de investigação da Renault no Brasil.