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terça-feira, 6 de março de 2018

Supremo brasileiro recusa habeas corpus e vota a favor da detenção de Lula da Silva

LULA DA SILVA

EM ATUALIZAÇÃO

O Supremo Tribunal de Justiça brasileiro recusou o habeas corpus pedido pela defesa de Lula da Silva. Cinco juízes votaram a favor da detenção do antigo presidente do Brasil.

MARCELO CHELLO/EPA

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Cinco juízes do Supremo Tribunal de Justiça brasileiro recusaram o habeas corpus pedido pela defesa de Lula da Silva e votaram a favor da detenção do antigo presidente do país. Este pedido da defesa visava afastar a possibilidade de prisão do ex-presidente antes de serem esgotados todos os recursos possíveis.

No passado mês de janeiro, Lula da Silva foi condenado em segunda instância pelo Tribunal Regional Federal da 4.ª região a 12 anos e um mês de prisão, pelos crimes de corrupção passiva e lavagem de dinheiro.

Um tribunal de segunda instância de Porto Alegre confirmou o veredicto da primeira instância, considerando Lula culpado por ter aceitado um apartamento triplex à beira-mar, oferecido por uma empresa de construção civil.

Além de arriscar ser preso, esta condenação em segunda instância pode impedir Lula de se candidatar novamente às eleições presidenciais. Ainda assim, o ex-presidente foi lançado como pré-candidato pelo Partido dos Trabalhadores às eleições de outubro e, de acordo com a Folha de S. Paulo, lidera as sondagens.

Já não chega chamarem-lhes fascistas

IMIGRAÇÃO

Já não chega chamarem-lhes fascistas

6/3/2018, 3:52339

O eleitorado do “populismo” não é a medida de um anseio de marchar com camisas negras. É o sinal do fracasso dos regimes europeístas, não apenas em resolver os problemas, mas até em falar deles.

Antigamente, sempre que o “sistema” na Europa era desafiado, bastava mencionar “fascismo”, para os eleitorados isolarem os intrusos. Foi assim em França, em 2002, contra Jean-Marie Le Pen. Desta vez, em Itália, o perigo era o Movimento 5 Estrelas e a Liga (antiga Liga Norte). Sim, são fãs de Putin, são proteccionistas, e abusam do contraste mitológico entre um povo inocente e uma oligarquia corrupta. Mas quando o regime tirou da gaveta as acusações do costume, o eleitorado não respondeu ao assobio do “fascismo”. Muitos abstiveram-se, mas muitos mais aproveitaram o segredo das cabines de voto para escolher os candidatos proscritos pelos bem pensantes.

O eleitorado do “populismo” não é a medida de um qualquer anseio de marchar com camisas negras. É, acima de tudo, o sinal de um fracasso: o dos regimes europeístas, não apenas em resolver os problemas, mas até em falar deles. A Itália é, com Portugal, uma das economias que menos bem se adaptou à chamada “globalização”. Há duas décadas que diverge do resto da Europa. Mas o problema não é só o desemprego. É uma oligarquia que insiste em introduzir, como fez em 2015, centenas de milhares de imigrantes em sociedades envelhecidas, economicamente estagnadas e culturalmente confusas. A combinação entre baixas expectativas sócio-económicas e imigração é a chave do “populismo” anti-europeísta.

Uma sociedade jovem, dinâmica e com valores claros poderia talvez dar oportunidades aos recém-chegados e começar a integrá-los. Foi o que aconteceu nos anos 60 e 70, embora os Estados, nessa época, não proporcionassem aos migrantes a assistência de hoje. Mas as sociedades europeias actuais já não são assim. O resultado é que as populações imigrantes não estão a integrar-se, mas a tornar-se o veículo para a projecção na Europa dos preconceitos e conflitos das sociedades de origem. Durante anos, as elites da UE usaram os apodos de “fascista” ou de “racista” para calar dúvidas e censurar constatações. Mas quando até as mais antigas referências da correção política no Ocidente, como o New York Times ou o Nouvel Observateur, descobrem a violência dos gangs de imigrantes armados de AK-47 nas cidades suecas, ou a nova perseguição contra os judeus patrocinada pelo fundamentalismo islâmico na Alemanha e na França, que dizer? Que o New York Times e o Nouvel Observateur também são “racistas”? Que é melhor estarmos todos calados, deixando os receios e os ressentimentos crescerem e alimentarem eleitoralmente as Frentes Nacionais e as Ligas?

Os populistas não são solução. Frequentemente, como agora na Itália, nem sequer é claro que sejam verdadeiras alternativas de governo. Falta-lhes os meios para mudar sociedades que, embora zangadas e aproveitando as eleições para votar neles, não desejam romper com a vida que a integração europeia lhes garante: por isso, na Grécia, o Syriza acabou como simples executante das políticas de Bruxelas, e na Itália, o 5 Estrelas e a Liga já se calaram sobre o euro. Talvez isso baste para sossegar alguns auto-proclamados europeístas nos seus sofás dourados. Mas com ou sem “populismo”, devia-nos preocupar a contradição de uma elite que por um lado quer uma Europa democrática, solidária e tolerante, e por outro lado vai sujeitando o continente a uma dinâmica que acabará por comprometer tudo isso. Que se pode fazer para escapar, a prazo, à pulverização das sociedades europeias em comunidades segregadas e hostis, inviabilizando democracias e Estados sociais?  Os populistas, com a sua agitação apocalíptica, não sabem; mas muitos europeístas, com a sua complacência burocrática, também não.

Bilhetes para jogos e merchandising do Benfica na origem da detenção de Paulo Gonçalves

POLÍCIA JUDICIÁRIA

6/3/2018, 9:142.816

Paulo Gonçalves, alto funcionário do Benfica, e um funcionário judicial foram detidos por suspeitas de corrupção. Bilhetes para jogos e merchandising do Benfica são as contrapartidas sob suspeita.

Filipe Amorim / Global Imagens

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O diretor do departamento jurídico do Benfica, Paulo Gonçalves, e um técnico de informática do Instituto de Gestão Financeira e Equipamento da Justiça foram detidos esta terça-feira no âmbito da operação “E-toupeira”. De acordo com um comunicado da Polícia Judiciária (PJ) os detidos são suspeitos dos “crimes de corrupção ativa e passiva, acesso ilegítimo, violação de segredo de justiça, falsidade informática e favorecimento pessoal.” As buscas no Estádio da Luz terminaram por volta das 18:15, revelou fonte da Polícia Judiciária ligada ao processo. Paulo Gonçalves saiu com os inspetores e está no Estabelecimento Prisional da PJ de Lisboa, onde vai permanecer durante a noite, para ser presente a juiz esta quarta-feira. Em causa estará uma rede montada pelo Benfica junto do sistema judicial para recolher informações de processos que envolve o clube encarnado e que corriam, sobretudo, no Departamento de Investigação e Acção Penal de Lisboa, numa informação que já tinha sido avançada pelo Correio da Manhã e a revista Sábado. Um dos inquéritos sobre o qual Paulo Gonçalves terá recebido informações em segredo de justiça é o famoso caso dos emails.

Ao que o Observador apurou, os indícios de corrupção recolhidos pela PJ assentam em prendas que alegadamente terão sido dadas por Paulo Gonçalves aos funcionários judiciais suspeitos de corrupção passiva. Bilhetes para lugares cativos ou privilegiados do Estádio da Luz para assistir a jogos do Benfica ou até peças de merchandising do clube encarnado são algumas das alegadas contrapartidas que a PJ suspeita que terão alegadamente sido dadas por Gonçalves aos funcionários judiciais sob suspeita. Tais prendas terão, de acordo com os dados recolhidos pela investigação, um valor financeiro significativo que não estava ao alcance do poder de compra daqueles funcionários públicos.

A Sábado avançou que, no caso de José Silva (o informático detido) estará em causa um emprego dado ao seu sobrinho no Museu Cosme Damião, o museu do Benfica, uma informação desmentida pelos encarnados em comunicado. “Essa informação carece de qualquer fundamento sério porque invoca o nome de alguém que não pertence, nem nunca pertenceu, aos quadros profissionais de qualquer estrutura do Sport Lisboa e Benfica e Sport Lisboa e Benfica – Futebol, SAD”, garantiram as águias.

[Veja no vídeo dois momentos-chave em que Francisco J. Marques denuncia Paulo Gonçalves na tv]

Uma dessas alegadas ofertas tinha sido conhecida a 2 de janeiro de 2018 quando, no seguimento da colocação de uma série de emails que teriam sido enviados por Paulo Gonçalves a circular pela internet, Francisco J. Marques, diretor de comunicação do FC Porto, leu um email que teria sido enviado pelo assessor jurídico da SAD dos encarnados para Ana Zagalo, funcionária do Benfica. “Para além dos bilhetes que requisitei, preciso dos seguintes convites: Nuno Cabral, 3; Ferreira Nunes, quatro; Júlio Loureiro, três (…)”, diria o pedido feito a 27 de março de 2017, vésperas do Benfica-FC Porto.

A SAD do Benfica já veio defender Paulo Gonçalves, dizendo que tudo o que diretor do departamento jurídico fez foi legal. O Benfica confirmou ainda as buscas na Luz e disse estar inteiramente disponível para colaborar com as autoridades. Deixou, no entanto, a garantia que vai pedir, com urgência, uma audiência à Procuradora-geral da República, Joana Marques Vidal.

A Polícia Judiciária confirmou igualmente que a operação envolveu cerca de 50 elementos da PJ, um juiz de instrução criminal e dois magistrados do Ministério Público. De acordo com o comunicado foram “realizadas trinta buscas nas áreas do Porto, Fafe, Guimarães, Santarém e Lisboa que levaram à apreensão de relevantes elementos probatórios.” Um comunicado da Procuradoria-Geral da República especifica que foram cumpridos “seis mandados de buscas domiciliárias, um mandado de busca a gabinete de advogado e 21 mandados de buscas não domiciliárias.”  Um destes locais alvos de buscas é o Estádio da Luz.

A revista Sábado lembra que é num destes tribunais que trabalha o funcionário Júlio Loureiro, já visado no caso dos emails por alegadamente ter enviado para o assessor jurídico do Benfica uma notificação do tribunal de Guimarães referente a uma audição do treinador dos encarnados, Rui Vitória. De acordo com o Correio da Manhã, Paulo Gonçalves terá sido detido na sua casa em Santarém, mas acompanhou, sob detenção, as buscas ao seu gabinete no Estádio da Luz.

Há também um empresário de futebol, Óscar Cruz, suspeito neste processo. Filho de um antigo vice-presidente do FC Porto com o mesmo nome, o agente que está ligado à empresa True Soccer (sem jogadores “conhecidos”), conhece há muitos anos não só Paulo Gonçalves mas também Alexandre Pinto da Costa, filho do presidente do FC Porto. De acordo com o Expresso, Óscar Cruz terá sido sócio de Alexandre Pinto da Costa (e Pedro Pinho) na Energy Soccer, mas hoje em dia já nem se falarão.

A PJ esclarece ainda ainda que “nesta investigação, iniciada há quase meio ano, averigua-se o acesso ilegítimo a informação relativa a processos que correm termos nos tribunais ou Departamentos do Ministério Público a troco de eventuais contrapartidas ilícitas a funcionários“. No mesmo comunicado, a Unidade de Combate à Corrupção informa ainda que “os detidos vão ser sujeitos a primeiro interrogatório judicial” e que “a investigação prossegue com vista à continuação de recolha de prova e ao apuramento dos benefícios ilegítimos obtidos”.

Haverá indícios que o técnico informático do IFGEJ, bem como os outros funcionários judiciais suspeitos, recolhiam informações através do Habilus (sistema que contém informação sobre os processos judiciais durante a fase de investigação) e passavam depois esses dados a Paulo Gonçalves. O comunicado da Procuradoria Geral da República reitera isso mesmo: “No inquérito indicia-se a prática de acessos por funcionários a diversos inquéritos em segredo de justiça para obtenção de informação sobre diligências em curso, informações que eram depois transmitidas a assessor da administração de uma sociedade anónima desportiva a troco de vantagens”.

Numa primeira fase, foi noticiado que esta informação provinha da plataforma Citius. Na SIC Notícias, o advogado Miguel Matias esclareceu a confusão criada entre o Citius e o Habilus – duas plataformas informáticas com informação sobre os processos judiciais.

“O sistema Citius é um sistema que nós advogados todos utilizamos para comunicar com o tribunal e com os colegas. No processo penal, até à acusação ou ao despacho de arquivamento, o processo na fase de investigação é normalmente decretado o segredo do processo na fase de investigação e não é possível este tipo de comunicação dos advogados ou o acesso ao processo”, explicou Miguel Matias, esclarecendo que a informação obtida por Paulo Gonçalves estava alojada no Habilus, e não no Citius.

Quando questionado sobre se um advogado poderia ter acesso ao processo enquanto este estivesse no Habilus, Miguel Matias não tem dúvidas: “Advogados não, de forma nenhuma”. Nesta fase, as únicas pessoas que podem consultar o processo são magistrados do Ministério Público e funcionários judiciais.

De acordo com o Correio da Manhã, a sociedade de advogados Vieira de Almeida chegou a dar formação aos funcionários do Benfica sobre a forma como se deveriam comportar caso a PJ fizesse buscas à SAD. Quando as buscas aconteceram, a PJ encontrou processos que se encontram em segredo de justiça que envolvem não só processos do Benfica, mas também de outros que envolvem o Sporting e o FC Porto.

(em atualização)

Novo Banco. Acordo com Bruxelas admite dinheiro do Estado em último recurso

NOVO BANCO

HÁ 34 MINUTOS

Acordo com Comissão Europeia para venda do Novo Banco admite injeção de fundos do Estado, num cenário adverso, como último recurso. Bruxelas diz que resolução do BES exigiu apoios de 9,2 mil milhões.

MANUEL DE ALMEIDA/LUSA

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O Estado ainda pode ser chamado a fazer uma injeção de fundos públicos no capital do Novo Banco. A possibilidade de uso desta almofada de segurança ou de capital de último recurso (designada como capital backstop) está prevista no acordo com a Comissão Europeia que deu luz verde à venda da instituição ao fundo Lone Star, caso se verifique um cenário adverso.

A venda do Novo Banco ao fundo americano é uma operação que envolve mais ajudas de Estado, para além das autorizadas na sequência da resolução do Banco Espírito Santo em 2014. Portugal apresentou um valor máximo de ajuda pública que será necessário para garantir a viabilidade de longo prazo do banco, de acordo com a avaliação da DG Comp (autoridade da concorrência europeia).

Segundo Bruxelas, a conta aos apoios de capital necessários após a resolução do BES soma 9,2 mil milhões de euros, mais um valor de uma eventual entrada de fundos do Estado. Ainda que não haja intenção de o concretizar, o cenário de entrada direta de fundos públicos fica já salvaguardado neste acordo com Bruxelas, sem que haja necessidade de uma nova resolução e decisão sobre ajudas públicas. A contrapartida será uma nova reestruturação do Novo Banco, com mais redução de funcionários e agências.

A direção-geral europeia da concorrência (DG Comp) deu luz verde à venda do Novo Banco à Lone Star em novembro do ano passado, mas só agora é conhecido o documento enviado às autoridades portuguesas que fundamenta o sim de Bruxelas. A operação pode envolver, no entender dos serviços da concorrência, três medidas de apoio público, ainda que nem todas venham a ser executadas.

A primeira medida de ajuda do Estado diz respeito aos 3,89 mil milhões de euros que são o limite máximo das responsabilidades a assumir pelo Fundo de Resolução, por perdas em ativos problemáticos que venham a ter um impacto negativo nos rácios de capital do Novo Banco. Este mecanismo de capital contigente pode ser ativado já este ano se a instituição apresentar prejuízos avultados, na sequência de perdas reconhecidas nos ativos tóxicos que a Lone Star não quis assumir no negócio.

O Fundo de Resolução é uma entidade pública, cujas responsabilidades devem ser financiadas pela banca, mas que na prática tem feito intervenções em bancos em resolução com dinheiro emprestado pelo Estado. E se tiver de meter mais capital no Novo Banco este ano, é provável que tenha de recorrer a mais um empréstimo público. O Governo já acautelou essa necessidade, reservando 850 milhões de euros no Orçamento do Estado, mas ainda na semana passada o primeiro-ministro, António Costa, colocou a ênfase no facto deste eventual apoio ser um empréstimo.

Bruxelas elenca uma segunda medida em caso de necessidades adicionais de capital e que vai até 400 milhões de euros,assegurados por via da emissão de instrumentos de capital TIER2 que podem ser colocados junto de investidores privados, em condições de mercado. Caso não seja possível atrair terceiros investidores com uma taxa de juro considerada de mercado, o Fundo de Resolução volta a ser chamado a subscrever estes instrumentos durante um determinado período.

Portugal argumenta que o montante efetivamente mobilizado, pela combinação das duas medidas, nunca será superior aos 3,89 mil milhões de euros. Mas a forma como as duas medidas estão estruturadas leva Bruxelas a considerar que o reforço do quadro de garantias obriga a reconhecer de forma autónoma o segunda ponto, concluindo que o apoio público ao nível do capital pode chegar a 4,29 mil milhões de euros.

E se, por fim, a avaliação do supervisor feita no quadro do SREP (Supervisory Review and Evaluation Process) — — o SREP, explica o Banco Central Europeu, revela a situação de uma instituição de crédito em termos de requisitos de fundos próprios e o modo como responde ao risco —  concluir que o nível de capital do Novo Banco está abaixo do exigido, Portugal irá fornecer capital adicional. Esta terceira medida, apenas será utilizada para cobrir a fatia que não for obtida pelas seguintes operações:

  • medidas internas adotadas pelo Novo Banco para ultrapassar as falhas de capital em nove meses;
  • um pedido ao investidor privado — a Lone Star — para colocar o capital necessário, o que já está previsto no acordo;
  • ou uma operação de captação de fundos em mercado.

Só se estas operações não permitirem suprir as falhas de capital identificadas, é que Portugal fica desde já autorizado a meter capital no Novo Banco, seja através da subscrição de instrumentos de dívida (obrigações do tipo que a Caixa emitiu em 2017) que contam para os rácios, seja por via de uma “injeção de capital público”.

Se for usado dinheiro público nesta solução de capital de último recurso (capital backstop), Portugal comprometeu-se a reduzir mais o perímetro do Novo Banco com a saída de mais 800 a 1100 colaboradores e o fecho de mais 90 a 120 agências num novo plano de reestruturação.

Esta medida, na leitura da DG Comp, contem um “compromisso potencialmente significativo por parte da República portuguesa”. Para a Comissão, todas as três medidas colocam em risco os recursos do Estado, nomeadamente do Fundo de Resolução, para além de proporcionarem uma vantagem seletiva ao Novo Banco.

Bruxelas avisa ainda que a Lone Star pode não estar disponível para injetar mais capital no Novo Banco, para além do que já se comprometeu a fazer. O fundo americano já mobilizou mil milhões de euros, antecipando a última tranche de 250 milhões de euros, prevista no contrato.

A Comissão Europeia admite que o investidor privado poderá mobilizar até mais 500 milhões de euros se esse valor for suficiente para resolver uma falta de capital, uma vez que isso permitirá diluir a participação atual de 25% do Fundo de Resolução no capital do Novo Banco. Mas num cenário em que seja necessário ainda mais capital do que aquele que o acionista privado estará disposto a colocar, a terceira medida, com recursos do Estado, irá funcionar como um mecanismo de último recurso que permitirá assegurar a solvência da instituição, isto num cenário desfavorável que foi desenhado pela própria Comissão Europeia.

Mesmo sem quantificar esta última componente, a Comissão diz que o montante total máximo de apoio de capital corresponde a 23% do RWA (sigla inglesa para “ativos ponderados pelo risco”) de 47 mil milhões de euros contabilizados na altura da resolução do banco, o que está dentro dos limites previstos no quadro comunitário.

Nas contas de Bruxelas, todas as ajudas de capital disponibilizadas desde a resolução do BES em 2014 ascendem a 9,2 mil milhões de euros, uma soma que ainda não inclui a ajuda adicional prevista no mecanismo de último recurso (backstop).

  • Em 2014, a resolução do BES envolveu uma ajuda de 4,900 mil milhões de euros na recapitalização do Novo Banco, dos quais 3.9 mil milhões foram financiados com um empréstimo do Estado ao Fundo de Resolução. As ajudas concedidas à liquidez com aval do Estado foram entretanto devolvidas.
  • Em 2017, o acordo de venda à Lone Star contempla um mecanismo de recapitalização contingente até 3,89 mil milhões de euros, assumido pelo Fundo de Resolução.
  • O mesmo acordo prevê que possam ser emitidos mais 400 milhões de euros em instrumentos que contam para o rácio, que serão subscritos pelo Fundo de Resolução se o mercado falhar, elevando o total de ajudas públicas autorizadas nesta operação a 4,29 milhões de euros.

A reestruturação em cima da mesa

O plano de negócios associado à venda à Lone Star compromete-se a manter a política de redução de funcionários, incluindo saídas por reforma, e do número de agências — para atingir 4.500 a 4.000 colaboradores, face aos 5.760 existentes em 2016 e chegar às 350 a 400 agências, face às 537 no final de 2016. A Comissão Europeia destaca que, até agora, a instituição tem vindo a ultrapassar as metas fixadas para a redução de funcionários e balcões e para a diminuição de custos.

Venda de ativos, incluindo os que estão no veículo de operações problemáticas, limites ao pagamento de salários e prémios de gestão, bem com uma política conservadora de remuneração dos depósitos — Bruxelas avisa que em 2017 o limite imposto para os juros dos  depósitos, de não ultrapassar a média do mercado, foi ultrapassado — também fazem parte do caderno de encargos da gestão liderada por António Ramalho.

António Ramalho (à direita), que assumiu a liderança do Novo Banco há pouco mais de um ano, deverá manter-se no cargo até 2021.

O plano de negócios até 2021 aponta para a redução em 20% dos custos operacionais, o que implica ainda uma reorganização do modelo de serviços centrais, e um reforço da política de gestão do risco onde os técnicos da DG Com encontraram muitas deficiências, sobretudo ao nível do crédito.

A gestão presidida por António Ramalho terá ainda de diminuir substancialmente as provisões para crédito em risco — de 1.300 milhões de euros em 2016 apara 150 a 200 milhões de euros por ano.

Nesta avaliação, Bruxelas revela diz ainda que a operação de troca de dívida obrigacionista com perda para os investidores privados, que era uma das condições do acordo de venda, não atingiu o resultado previsto de 500 milhões de euros ao nível do reforço de capital. Esta operação, concluída em outubros acabou por ser feita através de uma recompra dos títulos a desconto. Segundo Bruxelas, o comprador e o vendedor acabaram por aceitar o resultado da transação como satisfazendo a condição que impunha uma parte da fatura aos credores privados.

Da podridão do futebol

Novo artigo em Aventar


por João Mendes

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Quero começar por dizer que sou portista desde pequenino, que apoio os atletas do meu clube incondicionalmente e que tenho um grande orgulho por aquilo que o meu clube representa como um dos bastiões da luta contra o centralismo putrefacto que corrói este país. Tal não significa que seja cego ao ponto de negar o óbvio: que dirigentes do meu FC Porto incorreram em práticas condenáveis no passado e que não pagaram por isso, porque a justiça portuguesa ainda não tem a força suficiente para lidar com os poderosos, sejam eles dirigentes de futebol, políticos, banqueiros ou empresários.

Feita a minha declaração de interesses, e quem me conhece sabe que ela é honesta, e aproveitando o momento para sublinhar que o futebol está podre, fruto de uma impunidade generalizada que permite as mais variadas irregularidades, aqui como em qualquer outro país, para não falar no compadrio político-partidário, que promove borlas e sistemas panamianos de não-pagamento de impostos, quero aqui dedicar umas linhas ao caso do dia, sabendo de antemão o que me espera na caixa de comentários. É para o lado que durmo melhor.

Paulo Gonçalves, advogado, director do departamento jurídico do SL Benfica e um dos homens mais próximos de Luís Filipe Vieira na estrutura vermelha e branca, foi hoje detido pela Polícia Judiciária, no âmbito da Operação e-toupeira, após uma série de buscas e apreensão de elementos probatórios. Paulo Gonçalves é suspeito da prática dos crimes de corrupção activa e passiva, acesso ilegítimo, violação do segredo de justiça, falsidade informática e favorecimento pessoal. O dirigente encarnado é ainda suspeito de ter subornado dois funcionários judiciais e um técnico informático, que lhe terão vendido informações que estavam em segredo de justiça sobre as investigações dos casos dos vouchers e dos e-mails.

Foi preciso chegarmos a este ponto para que a justiça conseguisse enfrentar/afrontar o poderoso Benfica. O Benfica das claques ilegais que contam com o apoio da estrutura, o Benfica que presenteia árbitros com vouchers e camisolas do clube, o Benfica que tem um presidente caloteiro que nos deve a todos qualquer coisa como 400 milhões de euros. Sim, eu sei que há muito quem esteja indignado com os métodos utilizados para acertar no porta-aviões. Mas serão eles mais graves ou condenáveis que aqueles que permitiram que as escutas do Apito Dourado saíssem da sala de provas da Polícia Judiciária?

O futebol, caras senhoras e senhores, está podre até ao tutano. Podre. E não tenho dúvidas que tudo o que sabemos, do Apito Dourado aos milhões desviados do BES por Álvaro Sobrinho, que injectou uma pipa de massa no Sporting, passando pelo caso do dia, são apenas a ponta de um gigantesco icebergue capaz de corar de vergonha alguns mafiosos profissionais. Precisamos de uma justiça forte e corajosa, capaz de limpar o entulho que se acumula fora das quatro linhas. E que nos deixem ver o futebol em paz.