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quinta-feira, 8 de março de 2018

Se hoje um homem lhe oferecer flores…

por estatuadesal

(Daniel Oliveira, in Expresso Diário, 08/03/2018) 

Daniel

Daniel Oliveira

O Dia Internacional da Mulher nasceu da confluência dos movimentos socialista e sufragista do início do século passado. O 8 de março, que foi antecedido por outras datas, celebra duas exigências: condições de trabalho dignas e direito ao voto. Nasce como um movimento laboral e cívico de uma enorme radicalidade para a época, tendo chegado a ser violento. Vê-lo transformado no elogio à sensibilidade feminina, com entrega de flores, promoções de roupa, descontos em ginásios e cursos gratuitos de maquilhagem não é apenas uma perversão da data. É um insulto ao feminismo que ela celebra.

Um dos mais claros sinais da derrota de vários movimentos emancipatórios é a sua captura pelo mercado. Em Nova Iorque, a marcha do orgulho gay é hoje mais um evento social com forte investimento de marcas em busca de nichos de mercado do que uma manifestação cívica e política pelos direitos LGBT. Em Portugal, o 1º de Maio já serve para grandes superfícies, sobretudo as que mais exploram os seus próprios trabalhadores, organizarem grandes campanhas de descontos para fidelizar clientes. E há países onde a coisa está muito mais avançada e a data perdeu já o seu sentido político. E o 8 de Março passou a ser mais um dia em que a mulher é reduzida ao seu papel ornamental.

O 8 de Março nasceu da confluência dos movimentos socialista e sufragista, de uma enorme radicalidade para a época, tendo chegado a ser violento. Vê-lo transformado no elogio à sensibilidade feminina, com entrega de flores, promoções de roupa e atividades dirigidas às mulheres, é um insulto ao feminismo que ele celebra

O mercado, como único espaço de socialização, tomou conta de todas as celebrações. Não se limitou a conquistar o presente. Conquistou o passado, esvaziando de memória tudo o que não corresponda às suas necessidades. Ofuscando com as cores do néon tudo o que cheire a contracultura. Querem marca que mais venda do que uma t-shirt com a cara de Che Guevara?

A magia cultural do capitalismo é a sua capacidade de padronizar a diversidade, reduzindo-a ao seu valor de mercado. De mercantilizar a subversão, tornando-a inofensiva e lucrativa. De embrulhar todas as tradições e memórias, por mais antagónicas que sejam, no mesmo papel brilhante. Até o Natal, o 1º de Maio, o dia da mulher ou o dia dos namorados se equipararem. Há qualquer coisa de “1984” neste apagar da nossa memória coletiva. Só que em vez do Estado omnipresente, temos o mercado absoluto.

Da mesma forma que oferecemos às multinacionais das Tecnologias da Informação o que nunca demos a uma ditadura, é voluntariamente que participamos neste processo de amnésia histórica em que cada celebração se torna o seu oposto. Em que o 1º de Maio reduz o trabalhador a consumidor e o 8 de Março celebra todos os estereótipos femininos. Para manter vivas estas datas, que correspondem a lutas que ainda estão em curso, não se pode ceder um milímetro ao comércio que as toma.

Por isso, se hoje um homem lhe oferecer flores explique-lhe que elas foram pagas com os 17 cêntimos por euro que os homens recebem indevidamente a mais do que as mulheres. Que elas foram pagas por si.

Entre as brumas da memória


Passos Coelho no ISCSP? Alunos não querem

Posted: 08 Mar 2018 12:37 PM PST

Alunos fazem abaixo-assinado contra ida de Passos Coelho para o ISCSP


«Este grupo de alunos sustenta não ser "plausível" que alguém que "nunca leccionou, nunca preparou uma tese na sua vida, nunca trabalhou em investigação e nunca teve um percurso académico minimamente relevante seja capaz de preparar alunos de mestrado e doutoramento". (…)


Para os promotores do abaixo-assinado, "o salário obsceno do novo docente (tendo em conta a sua formação académica), equiparado ao de um professor catedrático, é uma ofensa grave à meritocracia inerente ao percurso académico normal de um docente universitário".


Estes alunos sinalizam ainda o que pode ser visto como "cartelização política" dada a proximidade entre Passos Coelho e o actual presidente da instituição, Manuel Meirinho, eleito deputado como independente nas listas do PSD em 2011.»

Secura de ideias

Posted: 08 Mar 2018 09:12 AM PST

«Voltou a falar-se da água em Portugal. Agora porque tem chovido muito a norte e pouco a sul. Como antes tinha sido notícia porque a seca do ano passado mostrava, claramente, que o tempo do equilíbrio ambiental no nosso país terminara. Mas ainda não chegámos ao extremo: aquele momento em que, à beira do abismo, a classe política indígena sente que tem de se mover para não perecer. Ao contrário do que aconteceu, por exemplo, na Califórnia ou no Colorado, onde a água sempre inflamou a política, por aqui, enquanto as torneiras continuarem a verter o precioso líquido em Lisboa e no Porto, nada se modificará. As cidades olham, sobranceiras, para os problemas do interior. Ou do campo, como depreciativamente se referem àquilo que não é betão e auto-estradas. Não acreditamos que Portugal possa um dia tornar-se numa imensa Cidade do Cabo. Mas os sinais estão aí, mesmo que o distraído ministro do Ambiente continue a assobiar para o ar e a oposição considere que esse é um problema que o futuro resolverá. Esquecemos mesmo que alguns dos maiores projectos de engenharia das civilizações antigas tiveram a ver com o movimento e o controlo das águas.

Olha-se para o Tejo e percebemos a crise que aí vem. A política de Madrid sobre este rio emblemático e crucial, entre transvases e cortes no caudal (perante o mutismo das autoridades portuguesas), a agricultura intensiva e a poluição, está a matá-lo. A falta de água (e veremos como o Alqueva vai aguentar tanta pressão), que irá ser estrutural, demonstra a falta de políticas sérias do Estado para prevenir o futuro próximo. A classe política continua a cantar "Bridge Over Troubled Waters" de Simon & Garfunkel, como se nada se passasse. Mas o certo é que um dia destes haverá ponte, mas não existirá água para passar por baixo. As tentativas de privatização da água e a disseminação de empresas municipais de águas, uma canalização que se sabe há muito ser catastrófica, só ampliam o problema. Mas, à superfície, o Estado está calado. Seco de ideias.»

Fernando Sobral
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Dia da Mulher? Não

Posted: 08 Mar 2018 06:55 AM PST

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Portugal e direito a voto das mulheres

Posted: 08 Mar 2018 02:37 AM PST


Quanto a direito ao voto feminino, em Portugal foi assim:

Tudo começou com o decreto 19.692, de 5 de Maio de 1931. Mas com excepções, como a de Carolina Beatriz Ângelo (na foto) que foi a primeira mulher portuguesa a exercer o direito de voto (nas constituintes de 28.05.1911), concedido por sentença judicial, após exigência da condição de chefe de família, dada a sua viuvez.

Em 1933 e em 1946 foram levantadas algumas restrições, mas só quase no fim de 1968, já durante o marcelismo, é que acabaram por ser removidas quaisquer discriminações para a eleição de deputados à Assembleia Nacional. (Depois do 25 de Abril, o direito universal de voto passou a aplicar-se também às eleições presidenciais e autárquicas.)

As 100 palavras mais engraçadas da Língua Portuguesa e os seus significados

por admin

A Língua Portuguesa adoptou, ao longo dos anos, várias palavras de outros idiomas e origens, como o árabe, por exemplo, mas também dos povos com quem os portugueses contactaram durante a época dos Descobrimentos. Como resultado, a variedade de vocabulário da nossa língua é imensa. Algumas palavras antigas caíram em desuso e já raramente se utilizam. Outras palavras são pouco conhecidas. E outras... são simplesmente engraçadas. Algumas das palavras que aqui irá ler são bem conhecidas mas optámos por colocá-las apenas por soarem a algo engraçado. Nesta selecção estão ainda algumas palavras mais usadas pelos brasileiros do que pelos portugueses ou usadas em Portugal com outro significado. Descubra 100 palavras engraçadas da língua portuguesa! E divirta-se!

1. Abricó

Fruta cultivada em todo o Brasil, principalmente no Pará.

2. Arapuca

Armadilha que serve para apanhar aves vivas.

3. Araraquara

Nome de uma cidade perto de São Paulo, no Brasil.

4. Bagulho

Semente da uva ou de outro fruto baciforme. Também designa alguém com aspecto pouco cuidado.

5. Bagunça

Desordem, confusão.

6. Balacobaco

Atributo ou beleza extraordinários.

7. Balofo

Algo muito volumoso ou pessoa com excesso de peso.

8. Banguela

Pessoa sem dentes.

9. Batráquio

Grupo de animais ao qual pertence a rã.

10. Batuta

Peça usada pelo maestro para conduzir a orquestra.

11. Beiçola

Pessoa que tem um dos lábios com tamanho superior ao normal.

12. Berimbau

Instrumento musical de origem angolana.

13. Bicudo

Animal com um bico grande. Algo muito problemático.

14. Biruta

Dispositivo que consiste numa espécie de saco cónico de tecido colocado no alto de um mastro para indicar a direcção e intensidade do vento.

15. Bochecha

Parte da face. Usa-se sobretudo em crianças com em pessoas com cara redonda.

16. Bodum

Transpiração semelhante a fedor de bode não castrado.

17. Bombachas

Nome de uma peça de roupa.

18. Braguilha

Parte onde estão as casas e os botões ou o fecho de calças.

19. Cabrito

Nome de animal.

20. Caçarola

Recipiente cilíndrico mais largo que alto, geralmente de barro ou metal e com cabo, usado para cozinhar.

21. Cafuné

Acto de coçar a cabeça de alguém, dando estalidos com as unhas para fazê-lo adormecer.

22. Camundongo

Nome de um roedor.

23. Cangote

Parte superior e posterior do pescoço.

24. Carapuça

Parte de peças de roupa destinada a cobrir a cabeça.

25. Careca

Alguém que não tem cabelo.

26. Carrapato

Nome de um insecto.

27. Cauby

Nome próprio com origem brasileira.

28. Caxinguelê

Animal roedor semelhante a um esquilo.

29. Chinfrim

Grande desordem ou agitação.

30. Chorumela

Lamúria, lengalenga, algo de pouco valor.

31. Chouriço

Comida de fabrico artesanal feita, normalmente, de carne de porco.

32. Chuchu

Fruto/hortaliça muito comum no Brasil.

33. Chupeta

Artefacto que as crianças usam na boca.

34. Cueca

Peça de roupa.

35. Cuscuz

Cereal de origem árabe.

36. Dodói

Usado para designar um ferimento quando se fala com uma criança.

37. Empada

Prato que consiste em massa de pão recheada com carne ou outros ingredientes.

38. Enxaqueca

Dor forte de cabeça.

39. Esculacho

Maltrato, descuido, agressão.

40. Espiroqueta

Tipo de bactéria.

41. Faniquito

Pequeno fanico, ataque nervoso ligeiro.

42. Farofa

Tipo de alimento.

43. Filó

Tecido transparente, semelhante a uma rede muito fina, muito utilizado para véus, vestidos, saiotes, etc.

44. Fofo

Adjectivo para definir algo que é suave.

45. Fuinha

Tipo de animal.

46. Futrica

Designação dada, entre os estudantes de Coimbra, a quem não é estudante.

47. Gaiato.

Criança, menino.

48. Garrincha

Pequeno pássaro de plumagem vermelha.

49. Geringonça

Construção improvisada com pouca solidez. Nome dado à coligação dos actuais partidos políticos de esquerda que actualmente governam Portugal.

50. Goela

Espaço que antecede imediatamente a laringe dos mamíferos.

51. Gogó

Saliência na parte anterior do pescoço formada pela cartilagem tiróide.

52. Hermengarda

Nome próprio feminino.

53. Inhame

Tipo de planta algo semelhante à batata.

54. Jararaca

Tipo de serpente.

55. Jururu

Relacionado a tristonho, melancólico, apático.

56. Lambão

Pessoa gulosa, que come muito e de forma descontrolada.

57. Linguiça

Comida artesanal típica do fumeiro tradicional.

58. Lumbago

Dor nevrálgica, bastante intensa, que surge na região lombar e que é mais frequentemente de causa reumática ou consecutiva a um esforço inadequado.

59. Macacão

Peça de roupa usada em trabalho por vários profissionais, como por exemplo os mecânicos.

60. Maçaroca

Espiga de milho.

61. Mafuá

Embaraçado, bagunça, confusão.

62. Marmota

Animal roedor.

63. Matusquela

Que ou quem tem as capacidades mentais afectadas.

64. Mingau

Alimento de consistência cremosa, feito de farinha, leite e açúcar.

65. Minhoca

Tipo de animal.

66. Mixórdia

Mistura de coisas que não fazem sentido ser misturadas.

67. Mixuruca

Que se considera ter pouco valor ou pouca qualidade.

68. Mocotó

Mão de vaca preparada culinariamente. Homem velho, muito gordo e pesado. Planta silvestre, da família das acantáceas.

69. Pachola

Pessoa boa, simples, ingénua, para quem tudo está bem. Pessoa preguiçosa, vadia.

70. Pamonha

Bolo, doce ou salgado, feito de milho verde ralado, leite de coco, etc., cozido e enrolado em folhas de milho ou de bananeira. Que ou aquele que é pouco esperto ou pouco inteligente.

71. Papalvo

Indivíduo que se deixa enganar facilmente; pacóvio; simplório; lorpa.

72. Patusco

Que ou quem gosta de se divertir ou de divertir os outros; que ou quem é cómico ou divertido.

73. Pelanca

Pele excessivamente frouxa ocasionada por falta de elasticidade da pele (seja por idade, ou por emagrecimento rápido), ou falta de músculo.

74. Perereca

Espécie de rã que vive nas moitas e sobe às árvores. Conjunto das partes genitais femininas.

75. Peteleco

Pancada, geralmente com a cabeça do dedo médio ou indicador, curvando-o até apoiar a unha sobre a cabeça do polegar e endireitando-o de repente (ex.: peteleco na orelha).

76. Pipoca

Grão de milho que rebentou com o calor.

77. Pororoca

Grande vaga impetuosa que, em certos rios, se forma quando as águas do rio encontram as águas da preia-mar.

78. Quiproquó

Nome dado para uma situação onde determinado equívoco é gerado por engano.

79. Rapapé

Mesura, cortesia que se faz arrastando o pé para trás.

80. Risoto

Prato de arroz cozinhado com muita calda, de forma a ficar solto na altura de ser comido, por vezes colorido com açafrão, e a que geralmente se adiciona manteiga ou queijo ralado.

81. Sacripanta

Pessoa desprezível; canalha; patife; falso beato; hipócrita.

82. Sopapo

Pancada dada com a mão fechada na zona abaixo do queixo.

83. Supimpa

Muito bom, excelente, óptimo.

84. Tanajura

Formiga de asas. Mulher com rabo maior que o normal.

85. Tiririca

Designação comum a várias plantas da família das ciperáceas. Pessoa muito zangada.

86. Trambolho

Cepo que se prende ao pescoço ou ao pé dos animais domésticos para que não se afastem muito. Aquilo que não tem utilidade; aquilo que atrapalha ou incomoda. Pessoa considerada de pouco valor. Pessoa muito gorda que tem dificuldade em andar.

87. Treco

Coisa a que não se quer ou não se sabe dar um nome. Problema de saúde.

88. Trombone

Instrumento musical.

89. Tutu

Saia de tule em camadas que têm comprimentos diferentes, usada pelas bailarinas no ballet. Monstro imaginário com que se pretende assustar crianças.

90. Umbigo

Parte do corpo humano correspondente ao local onde estava o cordão umbilical.

91. Urucubaca

Tecido quadriculado em branco e preto. Variedade de larva dos cereais e do algodão.

92. Vitrola

Aparelho que reproduz sons gravados em discos colocados num prato rotativo, geralmente accionado mecanicamente. Pessoa muito faladora.

93. Xaveco

Conversa de quem deseja conquistar alguém. Patifaria; conduta daquele que age sem moral, de modo criminoso. Pequena embarcação, com três mastros, que navega a vela e a remo.

94. Xereta

Intrometido; mexeriqueiro; bisbilhoteiro.

95. Xexelento

É uma expressão popular usada para qualificar pessoas ou objectos de má qualidade, sem valor ou ainda que apresentam aspecto desagradável, má aparência.

96. Xodó

Expressão carinhosa para chamar uma pessoa de quem se gosta.

97. Zarolho

Que ou quem tem estrabismo. Que ou quem não tem um olho ou é cego de um olho.

98. Zebróide

Semelhante à zebra.

99. Zebu

Tipo de animal semelhante ao boi.

100. Zureta

Que ou o que é um pouco maluco. Que ou o que está agastado ou exaltado.

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​Guterres, Crato e as suas sombras

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08/03/2018 by

Autor Convidado

Santana Castilho*

Num artigo publicado no Observador, Nuno Crato arguiu contra uma afirmação de António Guterres, feita a propósito do seu recente doutoramento honoris causa (“o que hoje fundamentalmente interessa no sistema educativo não é o tipo de coisas que se aprendem, mas a possibilidade de aí se aprender a aprender”), concluindo que “aprender a aprender, em vez de aprender, é o caminho direto para nada aprender, nem sequer aprender a aprender”.

Esta decantada polémica, na qual se projectam sombras negras de Guterres e Crato, é responsável por um erro de décadas, que tem partido ao meio o que só unido pode dar certo. Com efeito, as alterações que o sistema de ensino tem sofrido caracterizam-se ciclicamente por uma divisão de natureza bipolar: ora se hipervalorizam as ciências da Educação, com desprezo pelo valor intrínseco do conhecimento, ora se hipervaloriza o conhecimento puro, com ignorância daquelas. Ora se centra tudo no declarative knowledge (conhecimento “declarativo“, teórico, baseado no estudo dos factos) ora apenas se considera o procedural knowledge (conhecimento “processual“, prático, mesmo que o actor o não saiba explicar, mas tenha “competências”).

Diz Crato, agora e bem, invocando uma das ciências a que outrora chamou “ocultas”, que “a psicologia cognitiva concluiu que as capacidades não podem ser adquiridas independentemente das matérias concretas estudadas”.

Quanto a Guterres, é de pasmar, para quem ainda for capaz de se deixar pasmar, a falta de memória da maioria, apagada pelos feitos internacionais do engenheiro. O gosto pelo diálogo, como forma de controlo dos erros governativos (são dele as primeiras “competências essenciais” e o “estudo acompanhado”), gerou uma lúdica imobilidade, que o levou da “paixão pela Educação” ao “pântano”, de que fugiu, deixando no trajecto, como descoberta sua, políticos (Sócrates e Armando Vara) que reinaram nos labirintos do poder como novos deuses de um Olimpo de subúrbio. Mas acerta agora, quando defende a necessidade de prover os alunos com a capacidade de gerir os seus próprios processos cognitivos, tornando-os aptos para escolherem os melhores métodos de aprender. É disto, afinal, que se ocupa a metacognição, de John Flavel.

Para a Educação, em geral, é tão redutor ignorar o papel e a importância da metacognição como menorizar a precedência do conhecimento factual relativamente ao conhecimento experimental.

Como provavelmente acontecerá com a maioria dos professores, estou farto deste assunto. E há uma boa razão para isso: é que o facto de até agora não ter sido possível enfiar pela goela dos professores de bom senso nenhuma destas posições extremadas, só prova que qualquer delas é por eles rejeitada.

Quanto mais tempo passarem, governos do meio, da direita ou da esquerda, a tentarem alinhar em carreiros separados o que é indissociável, maior será o equívoco de base e a dimensão do erro. Falo de uma espécie de golpe de estado pedagógico, alternado mas permanente, que coloca na clandestinidade os professores de bom senso, os que protegem os alunos, no dia-a-dia da sala de aula, de normativos fundamentalistas e de sequestros ideológicos.

Esta enorme perda de tempo, dinheiro e energias, convenientemente acompanhada por pancadaria verbal infindável, radica na preponderância, na política educacional, do proselitismo sem bases sobre o estudo fundamentado e do totalitarismo pedagógico por etapas sobre a ética e a deontologia docentes. Estas visões políticas, supostamente tendentes a apressarem o caminho do sucesso dos nossos jovens, mais não têm conseguido que moer o juízo dos seus professores.

Há décadas que bato neste teclado palavras para defender os professores daquilo de que ética e deontologicamente discordam e são obrigados a fazer. Falhada cada hipótese de mudança, sobrevém a próxima esperança. Porque o interesse livre dos alunos e dos professores vai sempre à frente do interesse de qualquer dicionário político que os pretenda aprisionar, por decreto, no capítulo das ideologias.

*Professor do ensino superior (s.castilho@netcabo.pt)