Translate

domingo, 18 de março de 2018

De volta a José Sócrates

por estatuadesal

(Por Joaquim Vassalo Abreu, 18/03/2018)

socratesx1

(Podemos, quanto a Sócrates, classificar o público em quatro categorias: 1) Os que acham que está mais que provado que é culpado de tudo e mais alguma coisa; 2) Os que acham que foi vítima de uma cabala da Justiça, apoiada na comunicação social, e que é inocente; 3) Os que acham que não está provado nem uma coisa nem outra e que a Justiça está fazer bem o seu percurso; 4) Os que acham que nada está provado mas que a Justiça nunca será capaz de lhe fazer um julgamento limpo e justo. Pertenço a esta última categoria, mas respeito, e publico, a opinião de quem pertence à segunda categoria, a qual vai ganhando adeptos perante os recentes acontecimentos vergonhosos que a Justiça tem protagonizado: publicação dos despachos em blogs, cedência de informações processuais a troco de camisolas de clubes, etc.

Comentário da Estátua, 18/03/2018)


Eu tenho uma Amiga, uma Mulher a quem com toda a facilidade deverei apelidar de Senhora, que criou propositadamente um BLOG para nele fazer a defesa de José Sócrates, enquanto cidadão, Político e Primeiro Ministro deste País.

Tendo-nos encontrado no Facebook, através de textos por mim escritos e por mim próprio e outros divulgados, chegamos a um conhecimento real mútuo. Para a ajudar na sua Luta, enviei-lhe alguns textos que ao longo destes tristes anos escrevi acerca do tema e, em justa homenagem a esta enorme lutadora pelo encontro da verdade, mais este estou a escrever. Ao correr do pensamento, como sempre faço, mas em sua homenagem.

Há muito eu já percebi, e agora mais ainda percebo, das razões que levam esta distinta Senhora a se dar ao trabalho de por esta Luta pugnar quando, por via desta dúbia e incompreensível Justiça que vemos acolitada por alguma imprensa indigna de o ser e que, ainda por cima, faz do crime o seu “modus vivendi”, se verifica que a maior parte dos cidadãos, mesmo aqueles que antes o adularam, do seu próprio Partido concretamente, já formaram a sua opinião: Culpado, sem qualquer dúvida!

E o tão repetido “slogan” do “à Justiça o que é da Justiça”, servindo o politicamente correcto como escapatória, mais não tem feito que dar força aos inconfessáveis desígnios de alguns agentes dessa mesma Justiça.

Ao longo destes tempos e a todos os que, cientes da sua certeza, confrontando-me com as suas formadas convicções me perguntavam, “mas tu ainda o defendes?”, eu respondia muito simplesmente: Acusem-no!

Os tempos foram passando, os dias se sucedendo, um governo desgovernando e o esquecimento, coisa deveras inultrapassável, acontecendo. E ele, José Sócrates, passou a ser culpado por tudo: pelos negócios da Lena, dos seus tios, dos seus primos e dos seus cunhados e ainda dos cunhados dos seus cunhados, dos do BES e dos seus deserdados, dos da PT e dos seus acobardados, mas muito bem resguardados e com depósitos aferrolhados, da famosa “banca rota” e de dinheiros extraviados, de negócios imobiliários nunca bem explicados, da OPA da Sonae à PT e dos seus resultados, etc. etc. etc. e de tudo o que fossem negócios privados falhados…

De que mais, ela mesma se pergunta? Da queda da bolsa, pois claro! Do imobiliário, pois claro está! Da intervenção da Troika, também é óbvio! Do desemprego, da recessão, da fuga dos jovens, da descapitalização da Banca, das imparidades, das humidades, das sujidades, das maldades, das incapacidades, das obscenidades, da pobreza, da avareza, da incerteza, da impunidade, da vaidade e da precaridade! Tudo culpa sua!

E ela pasma: não será de mais?

E lá veio a acusação: quase quatro mil páginas, para três ou quatro crimes, como a nossa Justiça gosta de fazer. Se consideram um putativo crime reiterado, ele multiplica-se exaustivamente em quesitos sem fim, tentando demonstrar pela exaustão aquilo que no fim pretendem: a condenação! É um clássico…

Mas provas? Aí é está o “busílis” da questão! Os ditos crimes estão sistematizados: fuga ao fisco (não pagou o imposto de selo sobre os ditos empréstimos), corrupção nem que seja em forma tentada e outro que já nem me lembro, mas que vocês sei que sabem e, por isso,  nem vale a pena ir procurar…

Diz-se que quando algo por mais extenso e exaustivo que seja é de quase impossível comprovação, principalmente quando, para o desiderato que antes enunciei, tudo se pretende misturar (Lena, Vale do Lobo, PT, BES e ida à Lua), que a “montanha pariu um rato”! Que fatalmente irá parir…

Mas o mal que lhe pretendiam fazer está feito e a “vendetta” consumada. Foi longe de mais! Meteu-se com quem não devia: com os Magistrados quando lhes cortou o subsídio de residência quando disso não necessitavam; quando lhes cortou nas férias e pretendeu fazer deles funcionários públicos iguais aos demais; quando reduziu os mandatos camarários ao máximo de três, tentando assim acabar com as coutadas; quando promulgou a Lei das Finanças Locais, tendo como objectivo o terminar com o regabofe em que se transformaram mandatos extensos e para lá do razoável ou quando disciplinou o Fisco e acabou com o mito da impossibilidade do cruzamento de dados… foi de mais, foi longe de mais!

E mesmo estando tudo isso instituído e mais que instituído, não tem perdão! E tem que ser condenado, para exemplo e para ensino. Está feito, ok, mas não se pode repetir…!

A minha querida Amiga tem toda a razão: a razão da decência! A do não julgamento antecipado e o da prevalência da Justiça como ela está edificada desde o tempo dos Gregos e Romanos. A presunção da inocência como trave mestra de qualquer decisão Judicial. O segredo de Justiça como pilar essencial e a equidade de meios da defesa como factor primordial. Depois, se tiver que ser condenado, pois que seja! Que seja a imprensa a fazer Justiça tal como uma horda incontrolável…isso NÃO!

E não o seja por qualquer que for o ângulo da ética civilizacional por que o possamos ver. Eu sei que já nos primórdios do século passado (ver o CITIZEN KANE, o THE POST, o “GARGANTA FUNDA” e outros mais…) a imprensa tomou um poder desmesurado, mas um poder que se comprovou poder tender para qualquer dos lados, o da justiça ou o da injustiça, quando começou a ser controlada pelos interesses de grupos económicos, tanto lobistas como de pressão. E aí a coisa mudou, até chegarmos a estes desgraçados tempos…

Claro que no meio de tudo isto há imensos seres ignóbeis e indignos de se chamarem de gente humana, porque “gente humana” pressupõe ser gente dirigida por princípios éticos e civilizacionais que impulsionem a Sociedade no sentido da Justiça e da Igualdade e não o seu contrário.

Por isso Minha Querida AMIGA, continue! Porque eu sei que o que apenas a move é esse sentido moral e ético de não querer ver condenada uma pessoa que, para si e para muitos mais, deu o seu melhor pelo País e pelo seu progresso…pelo menos até prova em contrário! E que, apesar de tudo, para gente de boa fé, continua sendo talvez o melhor Primeiro Ministro da nossa Democracia.

Ao inverso de um outro, que tanto mal a este mesmo País fez, ao deixar desperdiçar Fundos Comunitários sem fim e ao ter sido patrono espiritual de um bando que formou um Banco e  o saqueou, sem que ele um dedo tivesse erguido e que nos está a custar os olhos da cara. Mas que, ao fim de mais longos e penosos dez anos, ainda é premiado com um gabinete num convento e sinecuras várias.

E ainda de um outro ainda que, tendo deixado o Povo na penúria unicamente para salvar Bancos estrangeiros, vê o seu indecoroso “trabalho” reconhecido com um cargo para o qual nunca concorreu…

Por continuar pugnando para que lhe seja aplicada uma Justiça digna e limpa, o meu grande BRAVO, minha querida Amiga!

Feliciano Barreiras Duarte demite-se de secretário-geral do PSD

POLÍTICA

"Saio de consciência tranquila", disse o secretário-geral do PSD em comunicado, onde diz que o limite do combate político "é quando atinge gravemente a minha família e a expõe ao intolerável".

Feliciano Barreiras Duarte demite-se de secretário-geral do PSD

Negócios jng@negocios.pt18 de março de 2018 às 19:08

"Estou no combate político desde os meus tempos de estudante, sei que o combate político é duro, mas não vale tudo: o limite é quando atinge gravemente a minha família e a expõe ao intolerável. Por isso, conversei com o Dr. Rui Rio e manifestei-lhe a minha vontade de deixar o cargo de secretário-geral do PSD, tendo em conta os ataques de que estava a ser alvo e os efeitos desses ataques no seio da minha família; o Dr. Rui Rio manifestou-me o seu apoio e solidariedade, tendo compreendido e aceite todos os meus argumentos", explica Feliciano Barreiras Duarte em comunicado divulgado este domingo, 18 de Março, onde anuncia a sua demissão.

"Considero que, neste momento, e face à violência inusitada dos ataques e aos efeitos para mim e a minha família, atingimos o limite: por isso apresentei ao presidente do meu Partido o pedido irrevogável de demissão – tão irrevogável que já está concretizada – de secretário-geral do PSD", acrescenta.

Depois de no passado dia 13 de Março ter dito que não se demitia, Barreiras Duarte acabou mesmo por o fazer. Ontem, o DN noticiava que a direcção do PSD estava descontente com a forma como Barreiras Duarte estava a conduzir este processo e que o presidente do partido, Rui Rio, esperava que o secretário-geral tomasse a iniciativa de se demitir.
Sobre a polémica envolvendo um certificado que atesta que Barreiras Duarte tem o estatuto de professor convidado (visiting scholar) da Universidade de Berkeley (Califórnia, EUA), Rui Rio afirmou há uma semana que o secretário-geral lhe tinha comunicado que havia um aspecto do seu currículo "que estava a mais, não era preciso, e corrigiu".

"É inequívoco que ele fez referência a um aspecto do seu currículo que não era preciso e corrigiu, é esta informação que eu tenho e ele deu essa informação à comunicação social", afirmou Rui Rio, questionado no final do Congresso do CDS-PP, realizado em Lamego (Viseu) no fim-de-semana passado.

À pergunta se, tal como fez com a vice-presidente do PSD Elina Fraga, iria pedir a Feliciano Barreiras Duarte que desse mais explicações, Rui Rio considerou que o secretário-geral do PSD já se tinha explicado.

Recorde-se que o semanário Sol noticiou que Feliciano Barreiras Duarte teve de rectificar o seu currículo académico para retirar o item que o indicava como professor convidado na Universidade de Berkeley.

Entretanto, em comunicado enviado à comunicação social no dia 13 ao início da noite, Barreiras Duarte sublinhava que nada tinha feito de errado no chamado processo de Berkeley. "Todos os movimentos e acções relacionados com esse caso estão devidamente documentados e são inequívocos quanto à minha inocência; fui convidado para ‘visiting scholar’ (estatuto que não confere qualquer grau académico) e não me fiz convidado; não tirei qualquer proveito da Universidade de Berkely – nem financeiro, nem académico, nem profissional, nem político", afirmou.

(notícia actualizada às 19:22)

Marielle

Novo artigo em Aventar


por José Gabriel

​“Sou uma mulher negra, mas antes disso tenho falado muito que antes de reivindicar e compreender o que era ser uma mulher negra no mundo, eu já era favelada. Nascida e criada na Maré (…)” - palavras de Marielle Franco, vereadora do Rio de Janeiro, mulher progressista,socialista, feminista, lutadora, livre. Assassinada - executada? - após ter criticado com dureza a intervenção violenta das forças militares nas favelas. Pode haver quem julgue esta associação de factos forçada, mas o modo de ataque, a natureza do crime, traz-nos irresistivelmente à memória o Brasil dos esquadrões da morte dos tempos chumbo. Que, optimistas, julgávamos superados. Tristeza não tem fim.

Non hay pan para tanto chorizo!

Novo artigo em Aventar


por Ana Moreno

o que significa “Não há pão para tanto ladrão!” e foi uma das palavras de ordem de mais de 30.000 pessoas nas ruas de Barcelona - e de outros muitos milhares em Madrid e noutras cidades espanholas – como resposta ao ridículo aumento de 0,25% aos pensionistas.Na denúncia do empobrecimento dos pensionistas e exigência de pensões dignas estavam nas ruas todas as gerações. Mais uma bela expressão de cidadania de “nuestros hermanos”.

A mais ociosa das ocupações

por estatuadesal

(António Guerreiro, in Público, 16/03/2018)

Guerreiro

António Guerreiro

Durante os dias em que decorreu um congresso partidário, o comentário político jorrou em catadupa dos jornais, da rádio, da televisão. Mesmo em tempos normais, ele é abundante; mas nestes momentos de festa é pletórico e dilata de maneira demagógica os seus atributos. A situação espiritual do nosso tempo — como se dizia outrora — deve muito a este exército de soldados da eloquência, mobilizados para uma marcha fútil e exuberante de frases e frases que, de certo modo, nada dizem. “De certo modo, nada”: esta expressão podia ser um tique de linguagem usado por estas milícias de jornalistas, intelectuais, professores e políticos em reciclagem. Experimentemos em inglês: somehow nothing. Soa melhor ou, pelo menos, disfarça o vazio. Porquê o modalizador somehow? Para deixar a indicação clara de que o juízo que classifica uma frase como não substancial ou não significativa é subjectivo, é uma questão de perspectiva. A minha perspectiva foi a do leitor, a do ouvinte e a do espectador que quanto mais escutava e olhava de perto as análises e comentários em catadupa, mais eles pareciam olhar-me de longe. Mobilizei-me, compareci e aguentei até soçobrar. Não por dever cívico, mas por uma circunstância especial e irrepetível que me pôs colado aos ecrãs, às colunas de rádio, às páginas dos jornais. Julgava que sabia tudo ou quase tudo sobre o comentário político tal como ele é praticado pelos seus oficiantes. Mas fiquei a saber ainda mais: que o puro vazio, contemplado de olhos abertos, provoca um estado de letargia e encantamento.

O exército de comentadores e analistas é ecléctico: há os histéricos, os teatrais, os circunspectos, os cómicos, os enfáticos e os académicos. Estes últimos não provêm necessariamente da Universidade e podem não pertencer à categoria dos politólogos. De igual modo, professores universitários em missão comentarista podem ser tão cómicos como os profissionais da comédia.

Adiciono um elemento de autocrítica: por mais que me queira vigiar e não cair na caricatura, é difícil resistir. Certamente que muita desta gente faz outras coisas respeitáveis e valiosas, merece consideração quando se dedica a outras actividades. Mas como é que tantos, ao mesmo tempo, aceitam transfigurar-se em representantes da tagarelice, em veículos de comunicação onde tudo é somehow nothing? Presumo que deve haver uma suspensão do pudor e da crítica, tal como eu experimentei a suspensão da credulidade.

Quero dizer: habituámo-nos de tal modo a este discurso que nos é oferecido como análise e comentário políticos que só quando nos colocamos numa atitude de vigilância e de interrogação das regras do jogo é que ele nos parece somehow nothing. “Chatter”, uma palavra inglesa, encontra aqui a sua significação. Como traduzi-la? Conversa vazia ou tagarelice, em português; bavardage, em francês; garrulitas, em espanhol; Geschwätz, em alemão; mataiologos, em grego: aprendo estas e outras traduções possíveis na introdução de um livro de um americano sobre “linguagem e história em Kierkegaard”.

Como é que tanta gente consegue fazer desta tarefa que consiste em produzir um discurso vazio (não tinha necessariamente de ser assim, mas é-o efectivamente) uma actividade prestigiada e considerada de interesse público? Como evitam que chegue o momento em que deveriam sentir aversão pelo papel que desempenham, pelo somehow nothing a que se entregam, às vezes com tanto ênfase que parecem investir naquele vazio a plenitude dos grandes momentos da vida? Como é que gente com reputações a defender e ciência a transmitir aceita fazer o jogo do ócio intelectual? Haverá certamente uma explicação, mas não é bonita de se ver.