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quarta-feira, 21 de março de 2018

A iniciativa liberal e a união europeia

por rui a.

Tendo manifestado o meu interesse pessoal, como liberal, sobre a Iniciativa Liberal, um partido que afirma representar o que penso, depois de ter lido o seu Manifesto, que os promotores parecem querer desvalorizar, fui tentar perceber um pouco melhor o que é que agregou os 7.500 subscritores desse novo partido, de modo a ver se me revejo nele.

Tendo encontrado, no site da nova organização, um documento intitulado Programa Portugal Mais Liberal, cuja natureza axiológica não compreendi exactamente em que consiste, e que, confesso, tenho algum receio em qualificar, vista a agressividade de algumas reacções aos meus comentários sobre o Manifesto, há uma passagem, quase no final, que gostaria de compreender melhor. É a seguinte: (A Iniciativa Liberal deseja) «Uma maior integração europeia, com novos patamares de governação e de cidadania.».

Ora, sendo a questão europeia da maior importância para Portugal e um assunto que divide profundamente os liberais, julgo que deve ser bem esclarecido este ponto, até pelo tom afirmativo com que surge naquele documento, em forma de síntese conclusiva do que está para trás.

Assim, quando se pede uma maior «integração europeia», o que quer isso dizer? Lembro que, actualmente, a União Europeia já atingiu um nível muito elevado de integração, de modo que desactualizou mesmo a tabela de Balassa, que considerava a fase da União Económica anterior à monetária, quando, como é sabido, a União já chegou a esta última sem ter ainda completado (longe disso) a primeira. O que propõe, então, a Iniciativa Liberal: um orçamento federal europeu, com receitas comuns e despesas comuns para além das áreas já comunitarizadas? A progressão, pura e simples, para uma União Federal total? E quando se fala em «novos patamares de governação» o que quer isto dizer? Que os Estados-Membros devem atribuir novas competências às instituições comunitárias? Que estas se devem reforçar, constituindo-se como governo federal da União? Em caso afirmativo, que competências entende a Iniciativa Liberal deverem ser atribuídas a Bruxelas? E quanto à «cidadania», falamos na nacional, dos Estados-Membros, ou da europeia? Acreditando que se referem a esta última, que direitos de cidadania europeia devem ser acrescentados aos já existentes? Os que constam da Carta dos Direitos Fundamentais da União Europeia? Outros? Quais, nesse caso, se for o caso?

Lembro, por fim, que a União Europeia já atingiu um grau de federalismo jurídico e monetário (e político, já agora) muito elevado. Muitos liberais não gostam disso, como não gostam da própria supranacionalidade da coisa. Por mim, satisfaz-meo supranacionalismo comunitário sectorial, aprecio - imenso - os princípios, verdadeiramente hayekianos, em que a coisa se fundou, estimo muito o federalismo jurídico, mas duvido imenso do federalismo monetário. Mas, como conto pouco nisto e o que importa é saber o que quer o novo partido liberal, é à Iniciativa Liberal que cabe esclarecer o que subscreveu. Obviamente, se estiver interessada.

Incêndios: Mais de metade das causas foram intencionais ou negligentes

21 mar 2018 10:57

MadreMedia / Lusa

Atualidade

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Mais de metade dos incêndios de outubro do ano passado deveram-se a causas intencionais ou a negligência, segundo o relatório da Comissão Técnica Independente entregue na terça-feira no parlamento.

Incêndios: Mais de metade das causas foram intencionais ou negligentesNUNO ANDRÉ FERREIRA/LUSA

Segundo o documento, “em termos de grandes grupos de causas (…) 40% tiveram origem em reacendimentos, 40% em causas intencionais e 20% em negligentes”.

Os elementos da comissão técnica admitem que as causas intencionais “são as que apresentam maior dificuldade na compreensão e na antecipação, por não ser conhecido o seu móbil, exceto posteriormente, se capturado e obtida confissão dos autores”.

Quanto às causas negligentes, “são já bastante mais previsíveis e podem permitir a atuação por antecipação”, refere o relatório.

“A renovação da pastagem é uma causa frequente no nosso país”, indica o documento, acrescentando que ela pode ser “antecipada através do uso do fogo em momentos adequados e previstos na regulamentação”.

Nas causas negligentes os técnicos incluem a ignição com origem nas linhas elétricas, afirmando que, neste caso particular, em que terá sido provocada por queda de uma árvore sobre uma linha de média tensão, “pode resultar do não cumprimento do regulamento de segurança das linhas elétricas pela entidade gestora, a EDP”.

“Trata-se, neste caso, de situações devidamente regulamentadas e cujo cumprimento pode só por si evitar situações deste tipo e todas as suas consequências”, acrescenta o relatório.

Os reacendimentos são outra das causas “bastante importantes” nestas ocorrências, referem os técnicos, sublinhando que são situações em que “o desempenho no combate tem que ser nitidamente melhorado, nomeadamente através da implementação de ações de rescaldo e de vigilância adequadas”.

“A utilização adequada de máquinas de rasto para a consolidação de rescaldos, por operadores devidamente formados e acompanhados, com verificação dos perímetros com maior risco de deflagração e expansão, nomeadamente através da utilização de câmaras de infravermelhos, e a vigilância armada nesses locais, deverão ser medidas a implementar em todas as situações com potencial de deflagração de grandes incêndios”, acrescenta.

O relatório da Comissão Técnica Independente indica um documento, que teve como fonte o Sistema de Gestão de Informação de Incêndios Florestais do Instituto da Conservação da Natureza e Florestas (ICNF) e que analisa sobretudo 10 incêndios, apontando as causas de casa um deles, os concelhos e as empresas afetados e os prejuízos estimados.

Como causa negligente aparecem os incêndios de Monção (queimadas e renovação de pastagens) e Lousã (linhas elétricas). No caso do primeiro incêndio afetou um concelho e duas empresas, com um valor de prejuízos estimado em 550.000 euros. Já o fogo da Lousã afetou nove concelhos e um total de 169 empresas, com prejuízos acima dos 49,5milhões de euros.

Como tendo causas intencionais o documento indica os incêndios de Vouzela (vandalismo), Figueira da Foz (vandalismo), Seia (vandalismo) e Sertã (outras situações). O fogo de Vouzela afetou três concelhos e 79 empresas, com mais de 81 milhões de euros de prejuízos, o da Figueira da Foz passou por cinco concelhos, afetou 51 empresas e provocou mais de 72,5 milhões em prejuízos, o de Seia afetou dois municípios e 12 empresas, com mais de 1,8 milhões de euros em prejuízos e o da Sertã queimou área de três concelhos e afetou 33 empresas, com 1.138.581 euros de prejuízos.

Já os reacendimentos foram a causa dos incêndios de Arganil, que queimou cinco concelhos e afetou 130 empresas, com mais de 61 milhões de euros de prejuízos, Alcobaça, com um concelho atingido, nove empresas afetadas e 891.630 euros de prejuízos, Vale de Cambra, com três concelhos e 33 empresas atingidas e mais de 5,7 milhões de prejuízos, e o de Guimarães, que queimou área de um município e afetou três empresas, com um total de 300.000 euros de prejuízos.

O relatório da Comissão Técnica Independente relativo aos fogos de outubro envolveu oito distritos das regiões Centro e Norte.

O documento, que atualiza para 48 o número de mortos nesse mês, conclui que falhou a capacidade de “previsão e programação” para “minimizar a extensão” do fogo na região Centro (onde ocorreram as mortes), perante as previsões meteorológicas de temperaturas elevadas e vento.

A junção de vários fatores meteorológicos, descreve, constituiu “o maior fenómeno piro-convectivo registado na Europa até ao momento e o maior do mundo em 2017, com uma média de 10 mil hectares ardidos por hora entre as 16:00 do dia 15 de outubro e as 05:00 do dia 16”.

Contudo, acrescenta, a Autoridade Nacional de Proteção Civil pediu um reforço de meios para combater estes incêndios devido às condições meteorológicas, mas não obteve “plena autorização a nível superior” e a atuação do Instituto Nacional de Emergência Médica (INEM) foi “limitada” por falhas na rede de comunicações.

Os peritos consideram que tem de haver das autoridades “flexibilidade para ter meios de previsão e combate em qualquer época do ano” e defendem a criação de uma unidade de missão para reorganizar os bombeiros.

Cofundador do WhatsApp diz que chegou a hora de apagar o Facebook

21 mar 2018 15:33

MadreMedia

Tecnologia

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Um dos cofundadores do WhatsApp, que o Facebook comprou há quatro anos, juntou-se ao movimento pela eliminação da rede social. A ‘hashtag’ (tópico de conversa nas redes sociais) “#DeleteFacebook” (apagar o Facebook) tem estado a ganhar popularidade nos últimos dias.

Cofundador do WhatsApp diz que chegou a hora de apagar o Facebook

Na rede social Twitter, Brian Acton publicou uma mensagem onde se pode ler “Chegou a hora. #ApagueOFacebook”.

O Facebook completou a compra da aplicação de mensagens móveis WhatsApp em outubro de 2014, pela quantia de 22 mil milhões de dólares (17,4 mil milhões de euros). O acordo de venda tinha sido assinado em fevereiro desse ano, atura em que se falou que o montante da transação atingiria os 19 mil milhões de dólares.

“Estamos a olhar para a frente, com vista a conectarmo-nos cada vez com mais pessoas em todo o mundo e a continuar a criar valor para as pessoas que usam o WhatsApp”, lia-se num comunicado divulgado pelo Facebook.

Os termos do acordo incluíam que o cofundador do WhatsApp, Jan Koum, tivesse assento na administração do Facebook. Jan Koum iria receber um salário simbólico de um dólar por ano, de acordo com a documentação entregue na Autoridade Bolsista Norte-Americana. O cofundador do WhatsApp Brian Acton ficou na companhia até ao final de 2017.

A Comissão Federal do Comércio, dos EUA, abriu esta terça-feira uma investigação ao Facebook que poderá implicar uma multa milionária, perante as suspeitas de facilitar o acesso a informação relativa a 50 milhões de utilizadores a uma empresa ligada a Donald Trump.

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Durante o fim de semana, o norte-americano ‘New York Times’ e o britânico ‘The Observer’ revelaram que a empresa de análise de dados Cambridge Analytica teve acesso, em 2014, a dados compilados pela empresa dirigida por Mark Zuckerberg, o que supõe uma clara violação das condições de confidencialidade desta companhia emblemática das redes sociais.

Segundo a imprensa britânica, a empresa de análise de dados, que colaborou com a equipa de Trump durante a campanha eleitoral para as presidenciais de 2016, usou aquela informação para desenvolver um programa informático destinado a influenciar as decisões dos votantes.

Os três dias que abalaram o Facebook

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A Cambridge Analytica tem entre os seus investidores o chefe da campanha eleitoral de Trump em 2016 e posteriormente assessor deste na Casa Branca, até se demitir, Steve Bannon.

O Facebook já rejeitou as alegações, mas o facto de a Cambridge Analytica ter admitido que teve acesso a informação de milhões de utilizadores daquela rede social implica uma de duas: ou o Facebook sofreu um roubo de informação, ou violou as suas regras e facilitou os seus arquivos a terceiros, conclui o jornalista Rafael Salido, da agência Efe.

Em 2011, o Facebook comprometeu-se a solicitar o consentimento dos seus utilizadores antes de fazer determinadas alterações nas preferências de privacidade daqueles, como parte de um acordo com o Estado, que então a acusava de abusar dos consumidores, ao partilhar com terceiros informação não autorizada.

Por este motivo, a suspeita de que a rede social pode ter facilitado esta informação à Cambridge Analytica pressuporia que o Facebook violou o acordo, do que poderia resultar uma multa diária de 40 mil dólares (33 mil euros) diários por cada violação, como informou hoje a Bloomberg.

Esta possibilidade, bem como a perda de atração das ações Facebook, tiveram nos últimos dois dias um claro reflexo em Wall Street, com desvalorizações de quase 7% na segunda-feira e mais 2,56% hoje.

Esta terça-feira, a bolsa de Nova Iorque fechou em alta, apesar da queda das ações da empresa de Zuckerberg. Os investidores estão preocupados com um endurecimento da regulamentação das grandes empresas das redes sociais, depois das revelações sobre o desvio de dados pessoais.  De resto, o Facebook, que perdeu quase 7% na sessão bolsista de segunda-feira, fechou hoje a recuar mais 2,56%.

“As inquietações quanto a uma futura regulamentação são agora fortes”, consideraram os analistas da Briefing, em texto de comentário. Um endurecimento da regulamentação tende a aumentar os custos das empresas do setor.

A Twitter, por seu lado, caiu 10,38%, enquanto o governo israelita pondera ações contra esta rede social, que acusa de incitar ao terrorismo, por acolher contas de organizações que os dirigentes de Telavive consideram terroristas.

Estas não são as únicas preocupações de Mark Zuckerberg, que foi alvo de pedidos de audição por parte no Senado dos EUA e dos parlamentos Europeu e britânico.

Acresce que, segundo o 'The New York Times', o chefe de segurança do Facebook, Alex Stamos, anunciou a sua saída do cargo, devido a desacordos internos sobre como a rede social se deve posicionar perante a difusão de informações falsas.

Rússia nega uso de gás neurotóxico militar: teria feito “múltiplas vítimas” em Salisbury

HÁ UMA HORA

Um responsável da diplomacia russa negou que Skripal tenha sido envenenado com químico militar o ataque. "Qualquer substância tóxica militar teria feito múltiplas vítimas no local do envenenamento."

MAXIM SHIPENKOV/EPA

Autor
  • Agência Lusa

    Um alto responsável da diplomacia russa afirmou esta quarta-feira que se o ex-espião russo Serguei Skripal tivesse sido atingido por um agente neurotóxico militar, como sustentam as autoridades do Reino Unido, o ataque “teria causado múltiplas vítimas”.

Serguei Skripal, de 66 anos, e a filha Yulia, 33, foram encontrados inconscientes a 4 de março em Salisbury, no sul de Inglaterra, e permanecem hospitalizados em estado crítico. As autoridades britânicas determinaram que os dois foram envenenados com Novichok, um gás neurotóxico de fabrico russo.

“Qualquer substância tóxica militar teria feito múltiplas vítimas no local do envenenamento. Mas em Salisbury não foi esse o caso”, declarou um alto responsável da diplomacia russa, Vladimir Ermakov, no decorrer de uma reunião com diplomatas estrangeiros organizada por Moscovo para explicar a sua posição no caso. O caso Skripal provocou uma crise diplomática entre a Rússia e o Reino Unido, que já levou à expulsão de 23 diplomatas russos do território britânico e ao congelamento das relações bilaterais. Moscovo respondeu expulsando 23 diplomatas britânicos e suspendendo a atividade do British Council na Rússia.

O Ministério dos Negócios Estrangeiros russo convocou os embaixadores acreditados em Moscovo para uma reunião, esta quarta-feira às 12h00, para transmitir a sua posição em relação ao envenenamento. A embaixada do Reino Unido informou o Ministério russo de que o embaixador não participaria e iria fazer-se representar por outro funcionário. “É mais uma eloquente manifestação de uma situação absurda em que se colocam questões, mas não se quer ouvir as respostas”, afirmou à imprensa o porta-voz do Kremlin, Dmitri Peskov.

Na reunião com os diplomatas, Vladimir Ermakov considerou ainda que o envenenamento de Skripal pode ter sido uma de duas situações: ou um ataque terrorista que as autoridades britânicas não conseguiram evitar ou uma “encenação” montada por Londres. “Ou as autoridades britânicas não são capazes de garantir proteção contra este tipo de, digamos assim, ataque terrorista, ou eles participaram direta ou indiretamente – não acuso ninguém do que quer que seja – na encenação de um ataque contra um cidadão russo”, declarou Ermakov. Número dois do departamento de não-proliferação do MNE russo, Ermakov reiterou que a Rússia “nada tem a ver (com o envenenamento)” uma vez que, insistiu, o ato “não beneficia em nada [a Rússia]”.

Por outro lado, Ermakov disse que o Reino Unido está a “esconder factos”, pelo que o governo russo receia que provas chave possam “desaparecer”. A Rússia já tinha alegado anteriormente que não tem motivos para matar Skripal, que foi condenado por espiar a favor do Reino Unido, mas foi libertado em 2010 numa troca de espiões. Moscovo também insiste que concluiu a destruição dos seus arsenais de armas químicas no ano passado, sob supervisão internacional. O cientista russo Leonid Rink declarou à agência estatal russa RIA Novosti na terça-feira que tanto o Reino Unido como outros países poderiam, facilmente, sintetizar Novichok, uma vez que o químico Vil Mirzayanov emigrou para os EUA e revelou a fórmula deste agente neurotóxico.

Além do Reino Unido, também a embaixada dos Estados Unidos enviou à reunião um diplomata de baixa hierarquia. A porta-voz do Ministério dos Negócios Estrangeiros da Rússia Maria Zakharova afirmou esta quarta-feira de manhã, através da rede social Twitter, que pelo menos “140 pessoas já estavam acreditadas para a reunião”. “O importante não é o estatuto (das pessoas que participam na reunião), mas sim que exista uma discussão”, afirmou.

Credores rejeitam proposta de Moçambique sobre reestruturação da dívida pública

MOÇAMBIQUE

20/3/2018, 22:13

O Governo de Moçambique propôs aos credores e investidores na dívida pública um perdão de 50% da dívida atrasada, mas os credores já disseram que a proposta vais ser rejeitada.

LUSA

Autor
  • Agência Lus
  • O representante do grupo de investidores que detém mais de 80% da dívida pública moçambicana disse esta terça-feira que a proposta apresentada pelo Governo vai ser rejeitada num novo encontro que está marcado para quarta-feira.

“Vamos transmitir a ideia de que a chamada proposta não serve para início de conversa”, disse à agência de informação financeira Bloomberg o advogado Thomas Laryea, conselheiro legal do autodenominado Grupo Global de Detentores de Títulos de Dívida de Moçambique, que diz representar mais de 80% do total de 727,5 milhões de dólares emitidos em 2016.

A resposta é a primeira reação dos investidores às propostas apresentadas esta tarde por Moçambique numa reunião com os credores, na qual o ministro das Finanças, Adriano Maleiane, defendeu um corte de 50% da dívida atrasada, 318 milhões de euros do total de 636 milhões de dólares em dívida que já devia ter sido paga.

O Governo de Moçambique propôs aos credores e investidores na dívida pública um perdão de 50% da dívida atrasada, ou seja, 318 dos 636 milhões de dólares de dívida que já devia ter sido paga.

De acordo com o documento apresentado esta tarde aos credores em Londres, e a que a Lusa teve acesso, Moçambique propõe um ‘haircut’ [perdão de dívida] de 50% nos juros passados e nas penalizações, caso existam”, e alterações às taxas de juro e à maturidade da emissão de dívida, cujo prazo inicial terminava em 2020 e já foi alargado para 2023 no final de 2016.

As diretrizes da reestruturação, lê-se no documento, são “um cupão e taxas de juro muito baixas até 2023, uma taxa de juro ou cupão para além de 2023 em níveis moderados para lidar com os constrangimentos no serviço da dívida, um ‘haircut’ nos juros passados e capitalização do saldo, limitadas amortizações até 2028 e oferta de pagamentos em moeda local aos detentores nacionais da dívida”.

Na apresentação aos investidores e credores sobre os passos que o Governo defende para reestruturar a dívida pública, que atingiu níveis insustentáveis para as finanças públicas moçambicanas, o Executivo propõe aos credores a opção de trocarem os títulos por um de três instrumentos financeiros.

Em todas elas, a maturidade é alargada em oito, 12 ou 16 anos, sendo que nesta última será pago duas vezes por ano um cupão de 2% até ao quinto ano e depois um de 3% entre o quinto e o décimo ano, que sobe para 6% a partir desse ano. Na prática, Moçambique suaviza as prestações da dívida nos próximos anos e aceita pagar mais no final do período, contando com as receitas do gás natural, que deverão entrar em força a partir da próxima década.

As organizações da sociedade civil têm acusado o Governo de falta de transparência e pediram que o executivo prestasse informação “perante os cidadãos através de um informe em sessão plenária na Assembleia da República”, antes da reunião em Londres, o que não chegou a acontecer. Em causa está um rombo nas contas públicas de Moçambique, que nasceu em 2013 e 2014.

Três empresas públicas com negócios de fachada, segundo uma auditoria internacional da Kroll, contraíram dívidas de cerca de dois mil milhões de dólares (cerca de um oitavo do PIB do país à data) com base em garantias do Estado assinadas à revelia da lei, das autoridades e dos parceiros, naquele que ficou conhecido como o escândalo das dívidas ocultas.

Entre os investidores com que o Governo tem de negociar, há detentores de 727,5 milhões de dólares em títulos de dívida, que já tiveram um corte no rendimento devido ao ‘default’ (incumprimento) de Moçambique na respetiva remuneração.

Os detentores destes títulos (que resultam da troca por obrigações da Ematum) recusam ser equiparados a bancos e investidores que emprestaram os restantes 1,4 mil milhões de dólares às empresas públicas Mozambique Asset Management (MAM) e à Proindicus.

Os bancos que emprestaram o dinheiro foram o Credit Suisse e o russo VTB, cuja atuação está também a ser investigada pela polícia federal (FBI) e Ministério da Justiça dos Estados Unidos, além dos reguladores financeiros do Reino Unido e da Suíça.