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quarta-feira, 4 de abril de 2018

Eu e as árvores

04/04/2018 by

 Autor Convidado

arvores
[António Manuel Ribeiro]

Hoje um vizinho decidiu terminar com a vida florescente de um pinheiro com uns bons 15 metros de altura. Quando cheguei vi o estandarte, a moto-serra começou a debitar ruído desesperado e os ramos começaram a cair, seguros por cordas que um operário, empoleirado no alto do tronco, faz descer para a relva. É uma decisão.
Comecei a estudar ecologia pelas páginas do vespertino A Capital, anos ’70, onde um senhor jornalista, de nome Afonso Cautela, nos avisava do mal que andávamos a fazer ao planeta e por junto ao bem-estar humano – esse bem-estar não coincide de todo com a política de terra queimada de alguns: matar tudo, cortar tudo.
Mas obrigaria, se houvesse inteligência para tanto, a extirpar a ganância e a arrogância, factores da queda humana continuada. A bem de alguns PIBs, claro, que enchem de regozijo qualquer ministro das Finanças – isolado na sua cátedra, deixa passar o que não lhe diz respeito. É um especialista, logo sabe cada vez mais sobre cada vez menos, para mal colectivo. A propaganda faz o resto.
Há muitos anos, quando fui viver para a Costa de Caparica, junto ao mercado, alguém com poder decidiu tapar a vala que dividia a avenida principal que leva às praias do Sul da Costa, começando por abater os velhos plátanos que bordejavam o riacho e mantinham o centro da Costa como a ilha ancestral que sempre foi – Francisco Manuel de Melo (século XVII) descia a cavalo até as areias, dizia-se que o amor e as letras o chamavam. A passarada, desorientada, esvoaçou e grasnou gritarias desencontradas porque receberam ordem de despejo sem pré-aviso e moradia de substituição. Chateei-me, escrevi um poemazito que se terá perdido nas andanças de casa que foi uma boa parte da minha vida.
Enfim, sou dado a estados de alma, como soe dizer-se, melancólicos, fazem bem, confirmam que os pés estão no chão, sou frágil quanto a força da natureza e o barro não me serve de pedestal. Mas o Randy Newman, que estou a ouvir, também ajuda. Bom dia.

MNE diz que Portugal quis manter operacionalidade da embaixada em Moscovo

Caso Skripal

Ministro Augusto Santos Silva no Parlamento

Foto: MÁRIO CRUZ/LUSA

Hoje às 10:34

O ministro dos Negócios Estrangeiros disse, esta quarta-feira, no parlamento, que Portugal optou por não recorrer à medida "do nível mais alto" na reação ao caso Skripal, preservando a operacionalidade da embaixada portuguesa em Moscovo.

Augusto Santos Silva, que esta manhã está a ser ouvido, a pedido do PSD, pelas comissões parlamentares de Negócios Estrangeiros, Assuntos Europeus e Defesa sobre o caso Skripal, defendeu que o Governo português considera que a decisão de chamar o embaixador português em Moscovo foi "a apropriada" tendo em conta a "informação disponível" e "a natureza dinâmica" do processo.

LISTA DOS PAÍSES QUE ANUNCIARAM A EXPULSÃO DE AGENTES RUSSOS

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"Decidimos começar não pelo fim", disse, considerando que a chamada do embaixador Paulo Vizeu Pinheiro "para consultas" - no dia 27 de março e que se mantém ainda hoje - representou "um nível relativamente alto" de resposta diplomática, "mas não ainda o nível mais alto" - o que significaria a expulsão de diplomatas russos, como fizeram quase 30 países e a NATO.

O chefe da diplomacia portuguesa destacou que esta foi uma medida tomada "com prudência" e que Portugal mantém "todos os graus de liberdade".

CHEFE DOS SERVIÇOS SECRETOS RUSSOS ACUSA LONDRES DE "PROVOCAÇÃO GROTESCA"

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Além disso, Santos Silva destacou que o Governo pretendeu manter a "operacionalidade da embaixada" em Moscovo, onde se mantêm dois diplomatas, após o regresso a Lisboa do embaixador, para continuar a prestar apoio consular e económico aos portugueses e empresários com interesses na Federação Russa.

Na semana passada, quase 30 países da Europa - incluindo mais de metade dos Estados-membros da União Europeia -, América do Norte e Austrália, bem como a NATO, decidiram a expulsão de diplomatas russos, afetando um total de 140 funcionários, na sequência do envenenamento do ex-espião russo Serguei Skripal no Reino Unido, cuja responsabilidade Londres atribui a Moscovo.

O ex-espião russo Serguei Skripal, 66 anos, e a filha, Yulia, de 33, foram expostos a um gás neurotóxico a 4 de março e encontrados inconscientes num banco perto de um centro comercial em Salisbury, sul de Inglaterra.

O Governo britânico responsabilizou a Rússia, mas Moscovo nega.

O ex-espião continua em estado crítico, mas a filha recuperou na semana passada e está consciente e capaz de falar, segundo as autoridades.

Para acabar de vez com a Cultura

Opinião

Miguel Guedes


  • A Cultura, essa coisa das artes num país miseravelmente assimétrico. Tantas vezes encarada como o reflexo menor do pão para a boca, como algo que se alimenta por autojustificação contorcionista a fazer caminho directo dos olhos para o umbigo. Com a sua barriguinha nova-rica e macrocéfala, o centralismo continua a olhar para a Cultura como o parente pobre das dotações, sem cuidar da criação em diversidade, da autoria e da interpretação porque do respeito só sabem da écharpe, sempre o seu pano de fundo para o jugo saloio que intimamente acha que o território só permite a coesão à medida da dimensão da metrópole onde mora ou que tem por vizinha. Até na Cultura, para essas almas uma espécie de segunda vida para um bem de segunda espécie, partimos o país em tranches ceifadas à distância. Sem proximidade ou conhecimento da realidade, com a displicência e a arrogância do costume. Às vezes com sensação de gozo. Pela incompetência, desinvestimento e incompreensão que o poder político veta os seus agentes culturais se percebe a dimensão do desprezo do país pelo seu futuro e identidade.

O reforço orçamental já anunciado pelo Ministério da Cultura é insuficiente. É insustentável não recuperar os valores de financiamento de 2009. Os critérios de avaliação de quem decide à distância têm de mudar. A Cultura não pode continuar a ser uma arma de reforço da falta de coesão territorial (vejam-se as enormes disparidades regionais nos apoios ao Teatro, à Música ou às Artes Visuais, onde a Área Metropolitana de Lisboa continua a receber assustadora e incompreensivelmente mais per capita). Financiamento zero no Porto para o TEP, FIMP, FITEI, Seiva Trupe, entre tantos outros. Em Évora, Coimbra, Setúbal... Tudo fora dos prazos e do tempo. Figuremos mandrágoras na Ponte das Barcas. O debate no Rivoli em boa hora convocado por Rui Moreira, fruto da insatisfação que grassa unanimemente no país, abre uma porta de louvor à arte que nenhum artista pode trair ou deixar amolecer. Mesmo que a arte seja já a seguir, é tempo agora de exigir o óbvio.

No livro de Woody Allen, título destas linhas, somos confrontados com a Morte em personagem que, indo ao encontro da sua próxima vítima, se depara com um jogador exímio em lhe ganhar mais uns dias de vida. Quando a dotação orçamental à Cultura resultante do Programa de Apoio Sustentado 2018-2021 da Direcção-Geral das Artes está infectada pela crónica insuficiência de verbas e por critérios decisórios absurdos - que só têm a enorme virtude de tornar evidente a sua brutal incapacidade -, pergunto-me se caberá aos artistas portugueses negociar mais umas verbas, cenouras maiores num simulacro de redistribuição ou partir, desde já, para outro patamar de exigência e justiça que, de uma vez por todas, deixe de negociar dias com a Morte.

O autor escreve segundo a antiga ortografia

* MÚSICO E JURISTA

RTP - O Essencial

O Essencial

4 Abril, 2018

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Sérgio Alexandre
Jornalista
Sérgio Alexandre

Bem-vindo

Greve dos tripulantes de cabine deixa em terra 12 voos da Ryanair previstos para esta manhã. Pressão turística sobre Lisboa e Porto aproxima-se do ponto de saturação. Portugal não quis “começar pelo fim” na reação ao caso Skripal, diz Ministro dos Negócios Estrangeiros. PSD: José Silvano eleito em Conselho Nacional sem Santana Lopes. China anuncia imposição de taxas sobre produtos dos Estados Unidos.


Ryanair, terceiro dia de greve

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Até à hora de fecho desta newsletter, doze voos da Ryanair, com partidas de Lisboa, Porto e Faro, previstos para esta manhã, foram cancelados. Os tripulantes de cabine das bases portuguesas da companhia aérea irlandesa cumprem esta quarta-feira o terceiro e último dia de greve.


Ponto de saturação

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Um estudo do Instituto de Planeamento e Desenvolvimento do Turismo mediu a relação entre residentes e turistas e concluiu que Lisboa e Porto estão a aproximar-se do ponto de saturação. Perante a expectativa de que o número de visitantes do nosso país vai continuar a aumentar, uma das formas de aliviar a pressão turística sobre as duas principais cidades portuguesas é encontrar novos pontos de interesse noutras regiões do país, aconselha o presidente do IPDT, ouvido pela Antena1, sendo que o arquipélago dos Açores é visto como a região com maior potencial.


"Não começar pelo fim"

O ministro dos Negócios Estrangeiros disse esta manhã no parlamento que Portugal preferiu “não começar pelo fim” na atitude político-diplomática perante o caso Skripal e optou por preservar a operacionalidade da embaixada portuguesa em Moscovo. Augusto Santos Silva, ouvido, a pedido do PSD, pelas comissões parlamentares de Negócios Estrangeiros, Assuntos Europeus e Defesa, reitera que a decisão de chamar o embaixador português em Moscovo foi “a apropriada” tendo em conta a “informação disponível” e “a natureza dinâmica” do processo.


Silvano eleito em Conselho Nacional sem Santana

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Com 78 por cento dos votos do Conselho Nacional, José Silvano foi ratificado como novo secretário-geral do PSD. As quase cinco horas de discussão na reunião de ontem foram sintetizadas por Paulo Mota Pinto como uma “grande manifestação de unidade e apoio” a Rui Rio. Mas Santana Lopes fez-se notar pela ausência. Questionado sobre essa não comparência na reunião do principal órgão do partido entre congressos, o líder social-democrata escolheu o silêncio.


Guerra comercial: China responde aos EUA

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EUA e China intensificam o braço de ferro na guerra comercial iniciada pela decisão de Donald Trump agravar as penalizações fiscais e aduaneiras às importações de aço e alumínio. Pequim anunciou hoje igual medida para um conjunto de produtos americanos. Para já, esta disputa está circunscrita ao plano político, porque as medidas protecionistas americanas só poderão entrar em vigor quando terminar o período de consulta pública, a 11 de maio, sendo que a China só retaliará se isso acontecer. Mas os mercados já estão a refletir a tensão.


Atiradora acusava Youtube de discriminação

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Foi identificada a mulher que ontem abriu fogo na sede do YouTube, em San Bruno, perto de São Francisco, antes de se suicidar. Era uma residente em San Diego, de 39 anos, que se queixava da censura contra os seus vídeos. Resta apurar se essa foi a sua motivação principal para o tiroteio que feriu outras três pessoas, duas delas com gravidade.


Regressem, pede Maduro

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Dados recentes do Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados dão conta de que mais de quatro milhões de venezuelanos atravessaram as fronteiras para fugir à gravíssima crise política, económica e social em que o país está imerso há, pelo menos, quatro anos. Ontem, o Presidente Nicolás Maduro apelou, de “mãos estendidas” ao regresso dos que partiram. Um repto em tom emotivo que dificilmente será atendido, dado o estado caótico do país.


Não foi na Playstation, foi a sério

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O segundo golo de Cristiano Ronaldo contra a Juventus está a correr mundo. É um espetacular pontapé de bicicleta que atira a bola direitinha para a baliza defendida por outro monstro sagrado do futebol comtemporâneo, Gianluigi Buffon. A imprensa especializada internacional lançou o debate sobre se o craque português terá marcado ontem o melhor golo da História da Liga dos Campeões. É uma boa pergunta. Talvez seja melhor ver outra vez.


A NÃO PERDER

Ser ou não ser papagaio, eis a questão

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A história foi inicialmente divulgada pela CNN, mas “explodiu” este fim-de-semana, quando o site Deadspin fez um vídeo que resume toda a polémica de um modo extremamente rápido e eficaz. Dezenas de pivots de informação da Sinclair Broadcasting Group, (cadeia de televisão com 200 estações regionais que cobrem quase metade da população norte-americana) recitam nos respetivos noticiários, palavra por palavra, um texto que reflete as posições de Donald Trump sobre os mass media que divulgam notícias que não agradam ao atual inquilino da Casa Branca. A “encomenda” foi do patrão da SBG e foi “entregue”, com maior ou menor esforço, por inúmeros canais de tv. O vídeo é este. A história (em inglês) está contada aqui e aqui. É claro que os jornalistas que, pressionados ou não, que permitiram esta invasão do seu profissionalismo foram imediatamente bombardeados pelos colegas. Não é para menos. Aqui está um exemplo.

Circo a mais, pão a menos

[Santana Castilho]

A 22 e 23 de Março, sob organização conjunta da OCDE, do nosso ministério da Educação e da Internacional da Educação, reuniram-se em Lisboa governantes e sindicalistas de cerca de 30 países. A cimeira (assim foi apodado o encontro)  quis apurar o que fazer para que os professores se sintam bem no trabalho. Como se tal não estivesse, há muito, sobejamente identificado.

A propósito do acontecimento, Tiago Brandão Rodrigues afirmou ser “a ocasião para levar mais longe o nosso empenhamento com os co-autores das nossas políticas de educação, os professores”. Como se os professores fossem autores de políticas de que discordam e não simples executores, obviamente coagidos.

Num comunicado recentemente tornado público, professores socialistas exprimiram perplexidade perante o comportamento do Governo no actual contencioso com os sindicatos, comportamento esse que, afirmaram, não teve em conta “a necessidade do PS recompor as relações do Governo com os professores portugueses, depois de anos de ataque” aos mesmos. Estes professores referiram que o Governo não honrou o compromisso assinado em 18 de Novembro de 2017 e lembraram a resolução nº1/2018, aprovada na AR pelo PS, BE, PCP e PEV, que lhe recomendou a contabilização de todo o tempo de serviço. Mas o patusco Tiago não ouviu.

Também a propósito do acontecimento, Andreas Schleicher, Diretor de Educação da OCDE, disse que Portugal constituía “um excelente exemplo de como os sistemas escolares podem progredir rapidamente para resultados educacionais melhores e mais equitativos, investindo nos seus professores”. É preciso não ter vergonha para dizer isto, depois de dois governos consecutivos que mais não fizeram que desinvestir e malhar nos professores e sentado ao lado de um ministro que lhes quer agora amputar das carreiras uma década de trabalho efectivamente prestado.

Nos últimos anos, nas suas habituais análises aos sistemas educativos, a OCDE começou a estabelecer conexões entre os resultados dos alunos e o bem-estar dos professores. No seu último inquérito sobre o tema, de 2013, Teaching and Learning International Survey, só 10% dos professores portugueses consideravam que a profissão era valorizada pela sociedade em geral. Mais recentemente, em 2016, a Fundação Manuel Leão apurou, também em inquérito, números preocupantes: um terço dos inquiridos deixaria de dar aulas, se pudesse; 35%, falando da sua relação com o trabalho, disseram-se exaustos e desesperados; 60% afirmaram que a desmotivação dos alunos cresceu. Igualmente em 2016, o oficial “Perfil do Docente” mostrou que 39,5% dos professores das escolas públicas tinham mais de 50 anos e só 1,4% estavam abaixo dos 30. A tudo isto acresce que 30% dos docentes portugueses são considerados sob burnout, devido à desmotivação e indisciplina dos alunos, à desconsideração profissional por parte do poder político e da sociedade em geral e ao agravamento das condições de trabalho, designadamente o elevado número de alunos por turma, o excesso de carga horária, a pressão para a obtenção de resultados a qualquer preço e o acumular de tarefas burocráticas sem sentido. Mas o distraído Andreas Schleicher disse o que disse. Porque não importa o pão, desde que se alimente o circo.

A diplomacia (ou a hipocrisia politicamente recomendável) a que os protocolos obrigam não chega para justificar o sorriso cúmplice e inapropriado exibido durante a cimeira pelo sindicalista que, na véspera, disse do Governo o que Maomé não disse do toucinho. Muito menos deixou bem o ministro anfitrião, que se comportou do mesmo modo, quando acabou de negar um regime especial de aposentação aos professores e lhes quer reduzir a dois dez anos de trabalho efectivo.

E lá ficaram, da cimeira em análise, mais três compromissos para cumprir o ritual das inutilidades hipócritas. Três compromissos (apoio às comunidades desfavorecidas, mais investimento e mais autonomia para as escolas e para os professores) que sim, se fossem cumpridos, mudariam muito. Mas que não, nada mudarão, porque apenas alimentam o circo, mas não dão pão.

*Professor do ensino superior (s.castilho@netcabo.pt)