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segunda-feira, 16 de abril de 2018

Centeno Está com Medo. Muito Medo.

Novo artigo em BLASFÉMIAS


por Cristina Miranda

Não é irónico ver Centeno passados quase 3 anos de governação encarnar Vítor Gaspar e dizer alto e bom som: “O risco de retrocesso existe e é maior do que parece (...). Não temos memória curta e sabemos o que custou aos portugueses sair daquele pesadelo. Não seguirei esse caminho. Não podemos deixar que os erros do passado sejam cometidos“? É. Mas não estou surpresa. Eu mesma disse aqui que Centeno, assim que tomasse posse como Presidente do Eurogrupo iria mudar sua postura como Ministro das Finanças. E, pasmem-se! acertei em cheio.

Era fácil de prever esta viragem brusca à "direita" no que concerne a pôr um travão ao despesismo das clientelas e birrinhas dos radicais de  esquerda acoplados ao PS e segurar as contas do país. Porquê? Porque agora Centeno tem uma reputação a defender junto da CE e não pode mais brincar ao "faz de conta que estou a gerir as finanças de Portugal". Sobretudo agora que visa alcançar o cargo de Comissário.

Porque Centeno é o único que sabe realmente em que estado estão as contas. Ele sabe que mentiram o tempo todo. Ele sabe melhor que ninguém do embuste que foram os défices apresentados em 2016 e 2017. Sabe que ambos estão seguros por pinças e que basta um "espirro" lá fora para que nossa economia fique com uma grave "pneumonia" da qual pode não sobreviver. Também escrevi aqui sobre isso. É o medo  de uma bancarrota - enquanto ele estiver como Ministro das Finanças -  que ele não põe de todo de parte ao dizer "... o risco de retrocesso existe e é maior do que parece..."

Centeno que até agora estava refém da Geringonça, liberta-se finalmente do peso de ter de fingir com sorriso amarelo patético  que tudo vai bem. Pela primeira vez, comporta-se como um verdadeiro financeiro e sem receios de perder o lugar por cá, diz o que tem de ser dito. Este "basta!" mais direccionado para a UE ver - veja-se o tweet em inglês  antes de as publicar em português - , é a prova que Centeno privilegia seu cargo e imagem como Presidente do Eurogrupo.  Ele sabe que, ou faz um "garrote" às contas ou vai embora porque se ficar a Geringonça vai lhe estragar o futuro que ele almeja na UE.

Mas apesar desta contenção de despesa de Centeno, continua a ser uma gestão "à socialista" A maior inimiga dos financeiros responsáveis. Porque nada tem de estrutural. É apenas cosmética rasca. É suspender indiscriminadamente toda e qualquer despesa provocando a falência técnica de serviços e fornecedores  essenciais ao bom funcionamento do país. É deixar morrer quem precisa do SNS, é deixar morrer quem precisa de socorro no meio das chamas, é deixar descarrilar e avariar comboios por falta de manutenção, é deixar os polícias sem carros por falta de gasóleo,  só para dar alguns exemplos graves enquanto se injecta 5 mil milhões na CGD, 10 milhões na RTP, mais outros tantos mil milhões no Novo Banco e se multiplica quatro vezes a despesa com pessoal.

É curioso lembrar o que Costa alegava em 2015 para justificar o assalto ao poder (veja aqui): que a austeridade era ideológica e que por isso era preciso retirar a direita do governo. Precisamente numa época em que todas as economias estavam em recessão e nós acabávamos de ser resgatados pela UE por culpa de Sócrates.Agora que todas as economias estão em expansão vem este vendedor da banha da cobra com a mesma fórmula. Porquê?? Mas desde quando um paciente precisa de remédio para o cancro  "sem ter doença oncológica"?

A explicação é simples: Portugal está de facto  muito enfermo. Sofre de uma "doença gravíssima". Uma "leucemia" que já estava controlada mas que por opção deste governo, deixou de "fazer medicação". E agora? Só resta uma opção: ou continuar a mentir ou impedir a "morte". Centeno escolheu a segunda. Costa, vai fingir por uns tempos que está de acordo para voltar a fazer estragos perto das eleições para captar votos e segurar os amigos das esquerdas radicais.

Enquanto isso os comentadores reles de serviço que não se calavam em acusações gravíssimas a PPC por este usar a dita austeridade para levantar o país da bancarrota herdada pelo PS, estão caladinhos como ratos a fingirem-se de mortos com esta AUSTERIDADE SEVERA sem precedentes, em tempos de bonança económica. Porque agora a austeridade "é boa": sem aumentos para a Função Pública; sem dinheiro para os artistas; sem dinheiro para os professores; sem dinheiro para médicos do SNS; sem dinheiro para doentes do SNS; sem dinheiro para as escolas; sem dinheiro para porcaria alguma! Mas não piam.

Porque o medo não é só de Centeno. Também eles comentadores da treta, têm medo de ter de admitir que mentiram aos portugueses em directo. Só isso.

Voltemos então às coisas ditas sérias!

por estatuadesal

(Jorge Rocha, in Ventos Semeados, 16/04/2018)

marcelo_espanha

Agora que já se fechou mais um parêntesis holandês na minha quotidianidade, eis-me disponível para acompanhar com mais atenção as frivolidades de que vão sendo feitas as cenas políticas nacionais e internacionais. Começando pela capa do «Público» de hoje, a escolher ´como notícia principal a produção horária de 29 «T-Roc» na fábrica da Autoeuropa, dando gás às exportações e enervando um pouco mais as impotentes direitas, que veem o governo surfar agilmente as ondas, sem que nada o venha propriamente perturbar. Não tivessem sido os incêndios do verão passado - e o aproveitamento oportunista de Marcelo para com eles entalar António Costa - e a popularidade deste último pediria claras meças ao demagogo das selfies e dos abraços. Razão acrescida para tomar medidas cautelares muito eficientes contra os incendiários, que uma reportagem mostrada na TVI nos últimos dias, comprova serem como as bruxas espanholas: «que los hay, hay…»

Passemos oportunamente para Espanha e para a mais recente «pérola» presidencial, pois correspondendo ao convite do símbolo maior da opressão por que passam hoje em dia os catalães, Marcelo pôs o patriotismo de férias e disse-se muito apegado aos «nuestros hermanos» desde que tinha seis anos. Vale então a pena lembrar Almada Negreiros (saudação especial daqui ao Gustavo Morais da Marinha Grande!) que dizia se o Dantas era português, antes quereria ser espanhol. Podemos atualizar a máxima e invertê-la adequadamente: se o Marcelo gosta tanto de se sentir espanhol, mais uma razão bem forte para nos sentirmos arreigadamente portugueses!

Continuando nas notícias da primeira página do matutino da Sonae, dá para sentir algum prazer com os aborrecimentos do pato bravo dos ferries do Douro, que quereria construir um hotel em leito de cheia. Se Passos Coelho e Aguiar Branco lhe proporcionaram a escandalosa negociata, que dele fez o intermediário do «Atlântida» entre os ainda públicos Estaleiros de Viana e o seu comprador final, talvez os seus esquemas encontrem bem menos acolhimento neste governo do seu descontentamento.

Concluindo, enfim, com o propósito de Centeno em ser o campeão europeu da redução da dívida - e o que isso poderá implicar para que a qualidade de vida dos portugueses não melhore tão substantivamente quanto as condições atuais justificariam - sobretudo na saúde - mantenho a dúvida quanto ao verdadeiro objetivo do ministro das Finanças: provar que a dívida é resolúvel sem qualquer revisão nas suas periodicidades ou juros? Ou tudo fazer para objetivos pessoais, que já se conjeturam, mesmo justificando-se a máxima prudência para com as tergiversações do semanário de Balsemão?

Vistos Gold: a elite que flutua acima dos comuns mortais que vão presos por roubar mercearias em supermercados

16/04/2018 by João Mendes

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Fotografia: Mário Cruz/Lusa

Durante as alegações finais do julgamento de António Figueiredo, antigo presidente do Instituto dos Registos e Notariado, preso desde 2014 no âmbito do caso Vistos Gold e acusado dos crimes de corrupção passiva, peculato, branqueamento de capitais e tráfico de influência, o conhecido advogado Rogério Alves, citado pelo jornal Público, alegou que Figueiredo não devia sequer ser condenado por tráfico de influência na medida em que era “incapaz de dizer que não” aos pedidos que recebia, viessem eles de onde viessem.

Colocado desta forma, ficamos com a sensação de estar perante um bravo justiceiro, preparado para contornar o sistema para facilitar a vida ao mais comum dos mortais. Claro que, individualidades como o antigo jogador do Benfica, David Luiz, o barão social-democrata, Marques Mendes, ou a esposa do turbo-licenciado Miguel Relvas não são simples mortais. Fazem (ou faziam, no caso de David Luiz) parte da elite mais poderosa e endinheirada deste país. Da elite que flutua acima dos comuns mortais que vão presos por roubar mercearias em supermercados.

Imagine-se, caro leitor, numa situação em que depende do favor de uma alta patente da Administração Pública para resolver um determinado problema. Acredita verdadeiramente que o presidente do IRN, ou de outra entidade pública qualquer, vai atender o telefone para lhe fazer um favor, por mais simples que seja? É claro que não. Terá muita sorte se conseguir chegar até ao assistente ou secretário, mas dali, garantidamente, não passa. E nem tem que ser de outra forma, que o presidente de uma entidade pública está ali para trabalhar e para garantir que todos são tratados de igual forma, não para fazer favores a quem quer que seja, aristocrata ou plebeu.

Claro que, no improvável caso de estar a ser lido por um jogador de futebol de classe mundial, pela esposa de um influentíssimo político ou por um advogado de um dos maiores escritórios a operar em Portugal, famoso por ter acesso privilegiado a todo o tipo de informação, o caso muda de figura. Como sabem, vossas excelências fazem parte da privilegiada elite, a tal que, como anteriormente referido, flutua acima dos comuns mortais. É natural que os favores aconteçam, porque hoje é um poderoso político que precisa de um Visto Gold para ontem, amanhã um António Figueiredo que precisa de outro frete qualquer.

Não queria terminar sem aqui aventar um apelo, que me parece da maior importância nestes tempos conturbados em que a imprensa nacional se encontra capturada pelo regresso do mais nefasto e atroz estalinismo: parem de azucrinar Miguel Macedo! Já chega de tanta notícia, tanto debate, tanto artigo de opinião. A perseguição política promovida contra este general do saudoso Passos Coelho já ultrapassou o limite do razoável e é tempo de dizer basta. Não é aceitável. Já chega o que fizeram a Marco António Costa, Miguel Relvas, Maria Luís Albuquerque e Pedro Passos Coelho, seus comunistas de uma figa!


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O tio Quim está de volta

Novo artigo em BLASFÉMIAS


por vitorcunha

A vida era dura, naquele tempo. O tio Abel, perante todas as adversidades anteriores às alterações climáticas – naquela altura nevava sempre –, lá conseguia levar o rebanho a pastar no declive adjacente ao terreno do Morgado. O tio Quim, mais velho, ocupava-se da horta, das batatas e do combate ao flagelo do míldio. Por muito que se esforçasse, sem os pesticidas modernos, não havia colheita que agradasse à matriarca da família, uma mulher roliça de meia-idade que, apesar de viver a mais de mil quilómetros de homens, vivia deprimida entre assédios imaginários e a visão diária de um rabo a murchar como laranja azeda em Março. O tio Abel era o preferido dela. Feminista dos sete costados, fez-se acompanhar das cabras viçosas que enchiam de orgulho a mãe, e, maricas que chegue, dedicou-se ao comentário político (ou assim).

Farto de ser preterido pela mãe em favor do azeiteiro do irmão, que isto de ter cabras lindas à conta de lhe comerem as melhores batatas já há muito o enjoava, o tio Quim, enfurecido, matou o tio Abel. Foi triste. Enfim, até foi exagerado, que bastava matar-lhe uma ou outra cabra à paulada e coisa ficava por ali, sem violência desnecessária. Porém, o receio de acusações de racismo por matar bicho de outra raça falaram mais alto e a justiça social, a igualdade e as restantes lérias progressistas imperaram: “vais mesmo tu, meu querido irmãozinho”.

Isto tudo para dizer que, até ontem, nunca soube o que tinha acontecido ao tio Quim. Diz-se que fugiu para França ou para outro deserto qualquer, mas não posso confirmar. Foi com bastante surpresa que o vi então, ontem, a apresentar o projecto de um novo partido liberal. Força, tio Quim! A tua família apoia-te.