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quinta-feira, 26 de abril de 2018

A vida dos militares portugueses na República Centro Africana. Os combates, os ataques e os medos

26 Abril 2018

Pedro Raínho

Nas ruas da capital, sofrem emboscadas e são o alvo de apedrejamentos. A norte, já "limparam" zonas ocupadas por grupos armados. São a força portuguesa, o braço-direito do comandante da ONU.

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Em segundos, o som das hélices tornou-se nítido. O tenente-coronel Alexandre Varino, o sargento Rodrigo Silva e o cabo Sérgio Freitas sabiam que estava na hora do ataque. “Há um momento de adrenalina, quando vemos o helicóptero fazer fogo com armas de 20 milímetros”, recorda o sargento. “Aí, percebemos que está a acontecer alguma coisa.” Estavam 500 quilómetros a norte da capital da República Centro Africana (RCA) para ajudar a executar uma missão: uma centena de militares portugueses, a maioria comandos, tinha de recuperar o controlo de Bocaranga, uma vila ocupada por um grupo fortemente armado — um dos que o comandante da missão da ONU quer erradicar do país e cuja missão entregou aos militares portugueses, a sua força de confiança na RCA.

Os portugueses estão desde o início do ano passado no país. Como Força de Reação Rápida da missão das Nações Unidas deviam ser um último recurso, a resposta eficaz para as situações que fugissem ao controlo das outras unidades militares integradas na missão de paz, num momento em que a ONU tem mais de 12 elementos no terreno (sobretudo militares). Mas a instabilidade na República Centro Africana é demasiada e permanente e a força portuguesa acaba por estar diariamente envolvida em patrulhamentos nas ruas da capital, Bangui, além de ser convocada para missões de “limpeza” de pontos estratégicos, como aconteceu em Bocaranga, na região norte, no final do ano passado.

O grupo precisou de três dias para chegar a Bouar, onde estava instalado o comando de operações oeste da missão das Nações Unidas no país, a MINUSCA. Saíram de Bangui, fizeram todo o caminho para norte pelas estradas de terra que ligam as principais cidades e vilas do país e, finalmente, ao final da tarde de quinta-feira, 5 de outubro de 2017, chegaram ao ponto de concentração de forças que iam participar no assalto. O tenente-coronel Varino sabia qual era o objetivo da missão, mas precisava de planeá-la. Estava em causa uma das operações mais sensíveis da força nacional, num país em clima de pré-guerra civil e em que os capacetes azuis acabaram por tornar-se um alvo a abater para os vários grupos armados espalhados pelo território, que se dedicam à ameaça e à extorsão da população centro africana.

O comandante português tinha uma certeza: “A operação Bocarangatinha de ser lançada de madrugada para que se cumprisse a missão” de “limpeza” da cidade. Era importante apanhar o grupo armado com as defesas em baixo e garantir que havia tempo de luz suficiente para concluir o trabalho. Alexandre Varino não podia arriscar-se a que os seus homens ficassem presos, às escuras, em terreno inimigo. Por isso, o tenente-coronel precisava de definir o local de entrada no terreno na cidade, o posicionamento dos seus homens, e até o momento em que cada uma das equipas entrava em ação depois de os helicópteros fazerem a sua parte. Estudou o local, ouviu os outros comandantes ao serviço da ONU e apresentou a proposta ao comandante. Tinha poucas horas para definir o plano de ação e a última palavra ainda cabia ao comandante senegalês da MINUSCA. Chegou a luz verde. Iam avançar.

Depois de Bouar, o último ponto de reunião da força foi o aeródromo de Bocaranga, a sete quilómetros da cidade. Os militares portugueses chegaram na noite de sexta-feira, já conscientes de que voltariam a sair dali poucas horas mais tarde, ainda antes de a primeira luz do dia.

Depois de o helicóptero fazer um raide, os militares portugueses começaram a varrer a cidade, casa a casa. “Naquele momento, passam-nos muitas coisas pela cabeça, porque temos o intuito de caçar, mas, ao mesmo tempo, eles também são caçadores”, admite um dos militares envolvidos na operação. “Qualquer passo em falso pode ser a eliminar para nós.”

O primeiro helicóptero avançou. A carga desceu sobre os telhados de zinco e atingiu também as frágeis paredes de barro das casas, com menos de dois metros de altura, alinhadas ao longo da avenida principal da cidade. Dos homens que sobrevoavam a cidade, o comandante português ia recebendo indicações sobre onde tinham sido detetados elementos do grupo armado 3R (Retorno, Reclamação e Reabilitação) e ajustava a estratégia no terreno a essas informações recebidas.

Quando o primeiro raide aéreo terminou, Alexandre Varino já tinha dado ordens aos seus homens. De G3 na mão, o sargento Silva e o cabo Freitas estavam em alerta total quando saltaram dos Humvees brancos com as letras NU inscritas a negro. “Há grupos armados na vila que não querem sair e vai acontecer”. Era inevitável o confronto frente-a-frente, recorda o sargento. “É um momento difícil, porque não sabemos o que o grupo armado vai fazer”, explica. O inimigo vai fugir? Vai fazer fogo? Vai fazer fogo e fugir? Vai colocar armadilhas? Rodrigo Silva geria todos os cenários possíveis à medida que avançava na revista casa a casa.

Alguns dos elementos do grupo armado resistiram à investida dos comandos portugueses e somaram baixas ao grupo que nenhum elemento se dispôs contabilizar, como que num código de silêncio em sinal de respeito. Muitos fugiram pelas traseiras da principal igreja da cidade, na zona oeste, deixada propositadamente livre pela força da ONU para permitir que escapassem. “A nossa missão não era aniquilar o grupo” mas garantir a recuperação daquele ponto, explica o tenente-coronel Varino.

Sérgio Freitas seguia ao lado do sargento Silva à medida que revistavam as dezenas de habitações. “Naquele momento, passam-nos muitas coisas pela cabeça, porque temos o intuito de caçar, mas, ao mesmo tempo, eles também são caçadores”, admite. “Qualquer passo em falso pode ser a eliminar para nós” e, por isso, “ao entrar numa casa ou ao fazer uma travessia, temos de manter a atenção redobrada para não haver fatalidades”. Pelo rádio, a equipa ia recebendo as orientações do comandante Alexandre Varino. Em sete horas, a cidade estava nas mãos dos portugueses. Algumas baixas do lado do grupo armado; um cenário diferente do lado da força portuguesa.

“Um militar ferido ou morto é um insucesso”

Foi a primeira vez que os três militares  se cruzaram numa missão. Nenhum se estreava num teatro de operações mas, para o tenente-coronel, aquela era primeira experiência como comandante de uma força. “A diferença é significativa, há muito mais peso” sobre os ombros, porque, “quando se comanda, não cuidamos só de nós, cuidamos de nós e de todos os outros que estão sob o nosso comando, temos o dever de zelar por eles, pela sua segurança, para que as regras sejam cumpridas e para que tudo corra como deve ser”, explica o comandante. “É um peso diferente.”

Alexandre Varino integrou o 100º curso de Comandos. “Esse curso teve um peso um simbólico maior, porque era o reativar de uma unidade importante da história militar, os Comandos, que têm 96 anos e são a unidade mais condecorada das Forças Armadas”, diz ao Observador.

São Tomé e Príncipe, Angola e Moçambique, Afeganistão — o currículo de missões já ia longo quando Alexandre Varino foi apontado comandante da segunda Força Nacional Destacada na República Centro Africana. A influência de um tio, antigo militar do Exército, e o fascínio pela “atividade física, pela disciplina, pelo rigor e pela ordem” empurraram-no para uma carreira nas Forças Armadas.

Foi na Academia Militar que teve o primeiro contacto com as tropas especiais e foi aí que decidiu desafiar-se num dos cursos mais exigentes — o de Comando. Mas em 1996, quando terminou a formação, o Regimento tinha sido extinto por decisão política (em 1993), na sequência da morte por exaustão de dois recrutas do curso e uma terceira morte sem explicação clara, nos anos anteriores.

O militar chegou a apresentar-se como candidato ao curso de Operações Especiais, mas não prestou provas porque os superiores se recusaram a dispensá-lo das suas funções na Escola Prática de Infantaria. Estava na região autónoma, já como comandante de companhia, quando a unidade de Comandos foi reativada, em 2002. Entretanto promovido a capitão, Alexandre Varino inscreveu-se. Integrou o curso 100 daquela força. “Esse curso teve um peso simbólico maior, porque era o reativar de uma unidade importante da história militar, os Comandos, que têm 56 anos e são a unidade mais condecorada das Forças Armadas”, diz ao Observador.

Na República Centro Africana, já como tenente-coronel e com meia dúzia de missões na ficha militar, Alexandre Varino teve mais de 100 homens sob o seu comando.

A preparação da missão começou cerca de seis meses antes da partida para África, assim que a primeira força portuguesa embarcou rumo a Bangui, no início de 2017. “O comandante tem de conhecer tudo: o teatro, as ameaças, a história do conflito e a sua própria força, à medida que é constituída”, explica ao Observador. Há ainda todo um processo burocrático, que envolve passaportes, preparação sanitária, exames médicos e a preparação tática e física dos militares.

1 milhão

A República Centro Africana é o sexto país mais pobre do mundo (em função do PIB per capita), o país com mais baixo nível de desenvolvimento humano (segundo as Nações Unidas), com uma esperança média de vida de 51 anos. Metade da população, que rondará os 4,5 milhões de pessoas, precisa de ajuda humanitária. O conflito atual já obrigou um milhão de centro africanos a abandonar as suas casas e mais de 400 mil fugiram do país.

Nalguns casos, ainda há questões menos óbvias que também têm de ser acauteladas — como tirar a carta. “As equipas de comandos são constituídas por cinco militares, um tem a função de condutor e, esses, a força já os terá quase todos” quando recebe a indicação de destacamento, diz o tenente-coronel. “Mas é sempre vantajoso na equipa ter mais de um militar com capacidade para conduzir, porque os deslocamentos são demorados, cansativos”, como aconteceu na viagem até Bocaranga e, logo a seguir, na subida até Bang, junto à fronteira com o Chade e os Camarões, o segundo ponto a ser recuperado das mãos de um grupo armado(naquele caso, o MPC), dias mais tarde.

O que significa falhar uma missão? “Poder ter um militar ferido ou morto é um insucesso, porque não quero que algum dos meus homens fique ferido ou que morra", diz o comandante da missão portuguesa na República Centro Africana. O risco esteve sempre presente. "Do lado de lá estão militares como nós", diz.

África não era novidade para o tenente-coronel. A República Centro Africana, sim. Numa missão de alto risco como aquela que os militares portugueses desempenham no país — neste momento, são os militares paraquedistas a assegurar a representação portuguesa —, o perigo é constante. “Para nós, não correr bem é termos uma baixa, e isso pensa-se sempre”, admite o comandante. “Poder ter um militar ferido ou morto é um insucesso, porque não quero que algum dos meus homens fique ferido ou que morra.”Nunca acreditou que pudesse perder um combate. Mas o risco de uma operação correr mal esteve presente. “Muitas vezes, porque do lado de lá estão militares como nós, com a mesma capacidade e que também disparam”, reconhece o tenente-coronel de 45 anos.

A missão Damakongo (que culminou com a libertação de Bocaranga e Bang) valeu à força portuguesa um louvor do general Simbuliani, comandante do setor. A nota — a primeira de três distinções ao trabalho dos militares portugueses na RCA — destaca a “iniciativa”, a “disciplina”, o “profissionalismo” e o “compromisso” que a Força de Reação Rápida (Quick Reaction Force) mostrou naqueles cenários. O nome de Alexandre Varino também é referido nesse louvor, para assinalar o “profissionalismo” e a “capacidade de liderança” do comandante português — mas o tenente-coronel relativiza. “O importante é a força” portuguesa que esteve no terreno. A operação no norte da RCA foi um caso limite, um ataque organizadopela força portuguesa para anular (ou repelir) um inimigo. A maior parte dos dias da missão foi dedicada a patrulhas na capital. Outro cenário, o mesmo risco iminente.

Combates em silêncio a 6 mil quilómetros de casa

Os militares que participam na missão na RCA sabem os riscos a que estão sujeitos. Passou mais de um ano desde a chegada dos capacetes azuis portugueses ao país e a tensão está a níveis explosivos. No início de abril, uma patrulha de paraquedistas “foi flagelada com tiros de armas ligeiras por elementos de um grupo armado” num bairro residencial de “influência muçulmana”, referiu então ao Observador uma fonte militar que acompanha a missão portuguesa no país. Nesse ataque, nenhum elemento daquela força especial ficou ferido, mas, exatamente uma semana mais tarde, um militar português sairia ferido, atingido por estilhaços de granada, de uma outra operação na capital. “Desde finais de 2017, quando a violência no país voltou a ganhar expressão, foi primeira vez que houve um ataque” a militares das Nações Unidas, disse então outra fonte militar ao Observador. A exceção está a tornar-se regra para a missão das Nações Unidas.

O trânsito em Bangui é caótico. Há motas que se cruzam por todo o lado, as buzinas apitam de forma ininterrupta. E, apesar de na capital haver edifícios em tijolo e cimento, a construção é maioritariamente precária, não há eletricidade, o saneamento básico é inexistente — os detritos são lançados de um balde pela janela das casas. As escolas estão destruídas, os hospitais não funcionam.

Na linguagem militar, o território está organizado por faixas de 360 graus, distinguidas entre si por um valor, a seguir à sigla PK, atribuído em função da distância desse ponto face ao centro. Por exemplo, a zona PK3, em que o “PK” significa, literalmente, pourkilometre, na expressão francesa, é a terceira mais distante do ponto zero, e fica a três quilómetros dessa referência central.

A população da capital do 6º. país mais pobre do mundo reúne-se com base na sua identidade religiosa, católicos com católicos, muçulmanos com muçulmanos — a religião foi, aliás, um dos principais motivos de um tumulto político com consequências sociais e militares fatais que, em 2013, levou à deposição do então presidente, o general François Bozizé, que já tinha assumido o poder com recurso à violência; a par da religião, o conflito é motivado por uma forte disputa pelo controlo dos recursos naturais do país.

Bangui continua a ser a única zona controlada pelo Governocentro africano e a força portuguesa esteve quase sempre destacada no terceiro distrito da cidade, um reduto muçulmano enclausurado entre outros bairros de maioria católica. Durante a presença dos comandos na República Centro Africana, o general Balla Keïta confiou aos portugueses a missão de erradicar os grupos armados que continuam a controlar partes significativas do território, inclusive em Bangui. Essa missão não foi concluída por aquela força, rendida no início deste ano depois de dois destacamentos consecutivos, e a tarefa passou para as mãos dos paraquedistas. Esse objetivo do comandante-geral da MINUSCA ajuda a explicar a crescente tensão com os capacetes azuis.

“Hoje em dia, esses grupos, inicialmente denominados de auto-defesa, dedicam-se à extorsão da população, funcionam como um grupo com armas, organizado, com líder e que controla determinada região dentro desse bairro” onde a força nacional esteve instalada, diz o tenente-coronel Alexandre Varino para explicar por que razão a própria ONU decidiu alterar a denominação destas unidades, de grupos de auto-defesa para grupos armados. Apesar de haver uma maior presença do Governo na capital, mesmo ali a tensão está presente a todo o momento.

Nas patrulhas que fizeram em Bangui, os militares portugueses foram-se apercebendo de que a missão da ONU não era recebida com o mesmo entusiasmo por toda a população centro africana. “A opinião não era toda igual, havia pessoal que nos apoiava e outros que não, que insultavam, não tanto com insultos verbais mas através de gestos”, diz o cabo Freitas. Por vezes havia lançamentos de pedras contra os militares. Noutros casos, eram feitas emboscadas como a que visou os paraquedistas, já este mês.

Os comandos optaram sempre por desvalorizar esses sinais. “Não era essa a nossa missão e, além disso, qualquer atitude negativa da nossa parte seria pior”, porque potenciava o conflito, explica o cabo.

O cabo Freitas queria mesmo tentar concluir o curso de comandos. “Para me desafiar a mim próprio”, diz. “Ouvi falar de uma tropa rija, dizia-se que era complicada.” Não imaginou que fosse tão rija. Foi o frio, a ele que veio da Covilhã, o que mais o marcou nas provas da formação.

A namorada ficou à espera em Lisboa, a mais de seis mil quilómetros de distância, quando o militar partiu para a missão. Instalados no acampamento de Bangui, perto do aeroporto, onde a força passou a maior parte dos cerca de sete meses de missão, a comunicação com a família estava facilitada. Uma ligação através do WhatsApp e ficavam tranquilos. “Sempre que conseguíamos ter comunicações” — e a própria missão disponibilizava sinal WiFi aos militares destacados —, “comunicava para casa, dizia que estava tudo bem, para não se preocupar”, recorda das conversas com a namorada.

Os pormenores, guardava-os para si. “Por vezes, apareciam notícias das ações que fazíamos, mas não lhe explicava detalhadamente, porque há coisas que ficam para nós e que não devemos partilhar”, resume o cabo. Fora da capital — precisamente quando se realizavam as missões de ataque as grupos armados —, essa tarefa tornava-se impossível. Sem ligação à Internet, em alguns casos o silêncio chegou a prolongar-sepor mais de um mês.

Em março do próximo do ano, esses problemas ficam para trás. O contrato que o militar assinou  com o Exército expira— representando o fim de seis anos da ligação com as Forças Armadas. Já tinha concorrido uma primeira vez àquela que viria a ser a sua força especial, em 2007, mas, como “demoraram muito a responder”, desistiu. Trabalhou como técnico de aparelhos de ar condicionado até que, em 2012, com os clientes a escassear, voltou a tentar a tropa. O cunhado, um boina verde dos paraquedistas, já tinha partilhado com ele algumas histórias sobre a vida militar. Mas Freitas queria mesmo tentar os comandos. “Para me desafiar a mim próprio”, diz. “Ouvi falar de uma tropa rija, dizia-se que era complicada.” Quando assistiu a uma reportagem sobre três irmãos gémeos que partilhavam uma vida militar, sentiu a motivação que faltava.

Procurou informação sobre aquela força especial, queria estar preparado para o percurso até conquistar as insígnias. “Já estava mentalizado de que ia ser duro, mas não imaginava que fosse tanto. Pude comprovar que não é fácil conseguir a boina e o crachá de comando”, admite. Apesar de ter crescido na Covilhã e de estar habituado ao frio seco da serra da Estrela, aquilo que deixou a marca mais profunda das semanas de curso foi o frio que sentiu. “Cheguei a ver camaradas a pedir para desistir, porque já não conseguiam aguentar as provas, e quando me senti um pouco mais débil foi quando me expus mais ao frio”, recorda. O curso decorreu durante o inverno. Num momento, o corpo ferve com a exigência dos exercícios físicos a que são sujeitos. No outro, os recrutas estão gelados. “A camaradagem e a entreajuda que se cria é o que nos fica mais presente”, garante.

Sérgio Freitas não tem um modelo de militar a apontar. “Cada um é comando à sua maneira e eu sou-o à minha, tento cumprir a minha missão da melhor maneira possível”, diz ao Observador. Mas o prazo está a expirar. Traído pela idade — tinha 23 anos quando entrou para as Forças Armadas —, falhou o objetivo inicial de integrar os quadros do Exército. Por isso, o cabo já tem em marcha o seu plano B: “Enquanto aqui estive, tive oportunidade de estudar”, conta. Está no segundo ano da faculdade, curso de gestão. “Cada um tira o melhor proveito do seu tempo livre, cada um tem uma visão diferente” daquilo que vai fazer quando despir a farda.

Diferenças dentro de muros

Rodrigo Silva está há 14 anos no Exército. Esteve três vezes no Afeganistão antes de embarcar para a sua quarta missão, na República Centro Africana, e quando partiu já tinha uma “noção” do que o esperava. “Agora, uma coisa é essa noção prévia, outra é estar no teatro e viver a situação em si.”

O sargento estudou a lição. Quando fala sobre os seus sete meses em África, descreve a topografia, deixa pequenos apontamentos sobre a geografia e mesmo as matizes culturais estão bem presentes. “Eles [os elementos dos grupos armados] sabem que somos de um país católico, e como as nossas missões preponderantes foram contra grupos armados na zona de Bocaranga, em tudo o que era bairros muçulmanos havia uma resistência passiva à nossa passagem”, conta o militar de 34 anos.

Esse contacto com gentes de outras paragens também se fazia sentir quando regressavam ao quartel em que estiveram instalados, num acampamento francês das Nações Unidas próximo do principal aeroporto do país. Ali, partilhavam o espaço do com forças de França, Nepal, Marrocos, Sri Lanka, Burundi, entre outros.

“A NATO obriga a normalizar procedimentos, a ONU não”, nota o sargento. “Tínhamos países com hábitos completamente diferentes e isso é muito mais difícil de conciliar” porque, explica, “enquanto um militar de qualquer país NATO sabe falar inglês, naqueles países isso não acontece”.

Dentro dos muros do aquartelamento, as diferenças entre as forças, ainda que notórias, eram fáceis de conciliar e ultrapassar. No terreno, essa gestão era mais complicada. Em teoria, a força portuguesa só seria chamada a intervir em Bangui quando a situação no terreno se tornasse complicada. A prática revelou outra realidade. “Muitas vezes, a Joint Task Force Bangui — que agrega todas as forças militares e policiais de Bangui — necessitava de pessoal e pedia a nossa intervenção para fazer patrulhas conjuntas com outros países”, recorda o comandante da força portuguesa.

Macron em Washington: O Novo Patrão da Europa

Macron em Washington: O Novo Patrão da Europa

No “governo” das relações transatlânticas, o “tamdem” Trump-Macron substituiu o casal Merkel-Obama. A “Europa” tem um novo patrão que foi a Washington para garantir a “paz económica” euro-americana e afirmar-se como a única potência militar e estratégica de uma “Europa” sem Inglaterra.

A “nova Europa” (Estados da antiga “Europa de Leste”), organizada no Grupo de Visegrád e no quadro estratégico do Intermarium, adopta cada vez mais posições próprias, ignorando as directivas de Berlim/Bruxelas, a Itália procura desesperadamente um governo para apresentar e evitar mais um mergulho numa interminável crise de confiança, o governo de Madrid ocupa-se a apreender camisolas amarelas e mesmo o “resto” da soma começa a ter prioridades próprias. Neste (des)concerto, Washington precisa de saber o número de telefone para que valha a pena ligar… E só Paris tem condições para responder.

Paradoxalmente, a estratégia austeritária e nacional-mercantilista de Merkel tem como corolário o voltar a colocar a França como centro estratégico da Europa (aqui sem aspas). Em Paris, ainda há muita gente que nem quer acreditar no que está a começar a ver… Trump e Macron partilham talvez muito mais do que os separa. São ambos “populistas” (embora cada qual a seu modo), ambos se apresentaram contra a classe política instalada e ganharam e ambos ignoram ideologias ou credos e são apenas pragmáticos. A separá-los têm, sobretudo, o facto de Trump ter o dinheiro suficiente para não estar dependente de ninguém. O que está longe de ser o caso de Macron.

Por isso, pelas suas características e pelo jogo das circunstâncias, parecem fadados para se entenderem. Se, durante oito anos, o casal Obama-Merkel (com mais ou menos arrufos para consumo da plateia) governou as relações transatlânticas, tudo indica que esses tempos passaram mesmo à história e que agora é o “tamdem” Trump-Macron que vai estruturar o desenvolvimento das relações entre as duas margens do “Mare Nostrum” da NATO.

Macron foi a Washington como patrão da Europa, com uma agenda muito preenchida e onde duas questões se destacam. Uma muito vistosa e mediática, a da enorme bagunça em que está transformado o Médio Oriente, e outra mais discreta e muito mais preocupante: a de safar a União Europeia da inevitável guerra económica que vai assolar os próximos tempos (um tema que dá suores frios a Merkel).

Os verdadeiros resultados desta visita não constarão de comunicados oficiais e nem de declarações. Macron é o único aliado militar possível para Washington, nesta “Europa” sem Inglaterra. A França bate-se há anos contra os islamismos em África: na Nigéria (muito discretamente), no Mali, na RCA, etc.. Tem a posição europeia mais forte no xadrez médio-oriental. E, sobretudo, é o único Estado da UE que tem capacidade de projecção de forças, que tem serviços de inteligência sérios e dotados de meios e, sobretudo, que tem ânimo para se bater.

Macron, continuando a política externa de Hollande que ele viveu por dentro, sabe bem o que precisa e o que pode dar em troca. O seu êxito (ou não…) ver-se-à nos próximos meses, não agora em comunicados e declarações oficiais. O não dito é, neste momento, mais importante que o dito. Como não ditas são igualmente as posições de Moscovo, Londres ou Varsóvia. Mas o senhor Vladimir deve a esta hora estar a fazer figas, tal como a senhora Theresa e muita gente pelo Intermarium, pelo êxito da missão de Macron…

"Quanto maior for a pressão anti-Rússia, maior será a resistência"

Em entrevista ao Vozes ao Minuto, o embaixador da Rússia em Portugal fala numa campanha russofóbica que é protagonizada por alguns países do Ocidente.

"Quanto maior for a pressão anti-Rússia, maior será a resistência"

© Global Imagens

Notícias ao Minuto

HÁ 5 HORAS POR ANDREA PINTO

MUNDO OLEG BELOUS

Na sequência da crescente tensão entre o Ocidente e a Rússia, o Notícias ao Minuto esteve à conversa com o embaixador da Federação Russa em Portugal. Oleg Belous, por cá desde 2013, fala numa campanha contra a Rússia e acredita que o seu país está a ser acusado sem provas nos casos do envenenamento do ex-espião Sergei Skripal, no Reino Unido, e no alegado ataque químico na cidade de Douma, na Síria. Tudo isto, defende, não passará de "uma provocação" daqueles que não concordam com a política "independente" da Rússia.

Embora não acredite na possibilidade de uma terceira guerra mundial, defende que os problemas no mundo só terão fim quando os países perceberem que vivemos numa nova realidade, onde já não existem hegemonias de Estados.

Está em Portugal como embaixador desde 2013. Como é ser representante de um país como a Rússia?

Sinto-me muito confortável. Temos relações excelentes com Portugal, não temos nenhuns problemas políticos. O que temos são oportunidades para desenvolver as nossas relações, tanto na economia, como na cultura, como no desenvolvimento dos contactos entre as pessoas. Posso dizer que me sinto muito confortável e acredito que vamos conviver numa atmosfera de amizade e trabalhar em prol da prosperidade da Europa.

Ser embaixador, num país como Portugal, que mantém uma política de boas relações, facilita o seu trabalho?

Sim, a coisa que facilita mais o meu trabalho é que Portugal está disposto a construir boas relações com a Rússia. O facto de Portugal querer manter e desenvolver relações boas e positivas com todas as nações do mundo é muito positivo. Isso agrada-nos.

Recentemente e, no âmbito do caso Skripal, vários diplomatas foram expulsos dos países onde representavam a Rússia. Isso não aconteceu em Portugal. O que acha que levou Portugal a assumir uma postura diferente da de outros países?

Temos acompanhado e continuamos a acompanhar com muita atenção todas as declarações feitas pelo ministro dos Negócios Estrangeiros e pelo Presidente da República [portugueses]. Esta foi uma decisão soberana de Portugal e compreendemos essa decisão.

Caso Skripal? É uma provocação. Um gesto hostil da parte da Grã-Bretanha. Eles não apresentaram provas nenhumas

A Rússia alega não ter nenhum envolvimento no caso do envenenamento do ex-espião Sergei Skripal e chegou a falar numa campanha anti-Rússia”. Quem é que lidera esta campanha?

Poderia falar durante muito tempo sobre este assunto. Mas, de forma breve, é uma provocação. Um gesto hostil da parte da Grã-Bretanha. Eles não apresentaram provas nenhumas, nenhuma pergunta colocada pela Rússia recebeu resposta por parte do Reino Unido e até o presente momento continuam a impedir os diplomatas russos de ter contacto com Yulia e com Sergei Skripal.

O Reino Unido declarou, desde o primeiro dia, que a culpa é da Rússia, como se isto fosse um ultimato. O ministro dos Negócios Estrangeiros britânico, Boris Johnson, afirmou que aquele agente nervoso encontrado tinha sido produzido alegadamente na Rússia mas o próprio laboratório britânico e a Organização para a Proibição de Armas Químicas não provaram que a origem desta substância seja a Rússia.

Estes assuntos foram debatidos várias vezes nas reuniões do Conselho de Segurança das Nações Unidas e também no decorrer das reuniões do Conselho Executivo da Organização para a Proibição das Armas Químicas mas não recebemos nenhuma resposta nova às perguntas que colocámos. Tudo se mantém no mesmo nível do 'highly likely', ou seja altamente provável, mas nada concreto, nem provado.

Esta campanha russo-fóbica é feita não só pela Grã-Bretanha mas também, e sobretudo, pelos Estados Unidos da AméricaE qual é objetivo desta campanha?

O melhor é perguntar-lhes. Provavelmente, estão interessados numa confrontação com a Rússia ou simplesmente não gostam da linha de política externa e independente da Federação da Rússia. Se calhar têm a intenção de distrair a atenção dos problemas internos do Reino Unido. E, infelizmente, tenho a dizer que esta campanha russo-fóbica é feita não só pela Grã-Bretanha mas também, e sobretudo, pelos Estados Unidos da América.

Primeiro, afirmaram que tínhamos interferido nas eleições norte-americanas e não há provas disto até ao momento. Depois, aproveitaram cada oportunidade para desenvolver esta campanha anti-Rússia e introduzir novas sanções. Se calhar, querem fazer com que nós corrijamos de qualquer maneira a nossa linha de política externa mas existe uma lei da natureza, da física, que diz que 'quanto maior é a pressão, maior é a resistência'.

Falando nessa resistência, Vladimir Putin afirmou que haveria “consequências”. A que se referia?

Temos de perguntar ao Sr. Putin. No que se refere à área militar, no seu discurso perante a Assembleia Federal da Rússia, ou seja no parlamento, ele anunciou certas medidas que já foram tomadas para garantir a segurança e a defesa do nosso país. Em relação à expulsão dos diplomas, já tomámos medidas simétricas. No que se refere às recentes sanções introduzidas pelos EUA, estamos a analisar qual será a nossa resposta, sendo que sem dúvida haverá uma resposta. O presidente da Rússia tomará essa decisão.

E sentem que esta alegada campanha já está a ter impacto no desenvolvimento das vossas relações internacionais?

Acho que tem mais impacto no clima das relações. Está a criar obstáculos para uma cooperação nas relações internacionais, que é o essencial.

No que se refere ao recente espetáculo com uso de armas químicas, evidentemente estes vídeos são uma encenaçãoNa sequência do caso Skripal, e com o aumento de tensões com o Ocidente, a Rússia volta a ser acusada de estar envolvida num alegado ataque químico, desta vez em Douma, na Síria. Qual seria o interesse da Rússia em perpetrar um ato desses?

Nos últimos dois ou três meses, a Federação da Rússia já tinha avisado várias vezes que, segundo dados dos nossos serviços secretos, estava a ser preparada uma provocação na Síria e que consistira no uso das armas químicas pelos terroristas para provocar uma acusação às autoridades sírias. Os terroristas na Síria estão a perder terreno, quase todo o território do país está livre dos terroristas e neste momento eles precisam de financiamento e armamento adicional para tentar fortalecer as suas posições naqueles pequenos terrenos que ainda continuam a dominar.

No que se refere ao recente espetáculo com uso de armas químicas, evidentemente estes vídeos são uma encenação. Já foram encontrados testemunhos desta falsificação e que indicam que foram usadas personagens nas imagens. Os peritos da Organização para a Proibição do Uso de Armas Químicas estão em Douma e vamos ver que conclusões é que eles vão tirar. Quanto à conclusão dos nossos peritos da defesa anti-química, segundo as análises deles, não houve nenhuma aplicação de armas químicas naquele território. Foi incompreensível aquela situação quando os EUA, Grã-Bretanha e França decidiram atacar o território da Síria com mísseis não tendo nenhuma prova desta situação. Posto isto, acreditamos que se trata de um ato de agressão.

Mas acreditam que há o envolvimento destas três forças no ataque em Douma?

De acordo com alguns dados, como os representantes russos já falavam, não se pode excluir a possibilidade de envolvimento dos serviços secretos da Grã-Bretanha e dos Estados Unidos.

A Rússia já está a ser acusada pelo hacking de toda a Internet mundial. Estes são só os primeiro sinais. Vamos ver o que vai acontecer

Trata-se, portanto, de uma nova campanha contra a Rússia?

Vai haver um novo ciclo desta campanha. Um ciclo novo porque a Rússia já está a ser acusada pelo hacking de toda a Internet mundial. Estes são só os primeiro sinais. Vamos ver o que vai acontecer.

Morreram mais de 70 pessoas neste alegado ataque químico e as pessoas parecem mais preocupadas em arranjar culpados do que encontrar uma solução para o povo sírio...

Mas até ao momento não foi encontrada nenhuma vítima deste ataque. Os próprios médicos sírios dizem que não havia nenhuma pessoa com sinais de envenenamento químico. Vamos pensar nisto de uma forma lógica. Porque é que o presidente al-Assad faria este ataque? Com que objetivo? A cidade de Douma e a região de Ghouta estão livres dos terroristas. Para que é que ele iria usar as armas químicas? Não há nenhuma razão. Além disso, os três países ocidentais atacaram a Síria com os seus mísseis precisamente quando os peritos já estavam na Líbia e prontos para entrar no território sírio para fazer esta investigação. Talvez não queiram nenhuma investigação imparcial desta situação. Não querem que apareçam as provas de que, na verdade, não houve nenhum ataque.

Enquanto aliado do regime sírio, como reage a Rússia a esta aliança destes três países para atacar a Síria?

Esta aliança do Ocidente não é nova. Na Líbia aconteceu o mesmo. A Líbia foi bombardeada também por estes três países e em violação da resolução do Conselho de Segurança das Nações Unidas. Pode ver qual foi o resultado na Líbia: não há Estado, não há economia, a população está a sofrer muito e numa situação muito precária, os terroristas fogem da Síria para a Líbia… Suponho que este é o resultado que os três países Ocidentais querem repetir na Síria. Alguns dados interessantes, segundo o nosso ministério da Defesa, e de que estes três países não gostam de falar, apontam para que só cerca de 30% dos mísseis lançados ao território sírio atingiram os seus alvos. Foram lançados cerca de 100 mísseis , os outros 70% foram destruídos pela força de defesa aérea da Síria.

Os EUA não gostam de Assad, acham que é mau, mas não podem querer destruir a Síria só com base nesta atitudeA Rússia é um dos principais apoiantes de Bashar al-Assad, sendo que esse apoio prejudica as relações entre o vosso país e o Ocidente. Até que ponto é que isso vos é vantajoso? Alguma vez ponderaram alterar a relação que têm com a Síria?

Não posso compreender a pergunta. Porque deveríamos alterar ou corrigir as nossas relações com a Síria? Para nós, todos os Estados são iguais. A Síria tem um presidente legítimo. O território sírio viveu uma guerra terrorista e os EUA declararam que o seu objetivo, pelo menos um dos seus principais, é derrubar o governo de Bashar al-Assad. Os EUA não gostam de Assad, acham que é mau, mas não podem querer destruir a Síria só com base nesta atitude. 

O nosso objetivo na Síria é único: é manter a integridade territorial da Síria, manter o Estado multinacional, multiconfessional, laico. E isso só pode ser providenciado através do diálogo político entre todas as forças e participantes do processo político da Síria.  Isto foi debatido há pouco tempo entre os líderes da Rússia, Turquia e do Irão, países que são garante dos acordos e entendimentos alcançados ultimamente em relação à Síria. E é por isso que foi organizado no final de janeiro, em Sochi, um congresso onde ficou decidido que se iria criar uma comissão constitucional composta e eleita pelos próprios sírios, algo a que atribuímos muita importância. Vão ser os próprios sírios a tratar dos assuntos referentes ao futuro do país porque deve ser o povo a decidir o seu futuro. E os ataques aéreos não facilitam isto.

Este conflito com os Estados Unidos intensificou-se com a eleição de Donald Trump?

Não quero fazer uma conexão entre o aumento da tensão nas relações com a eleição do presidente Trump. Esta intensificação do conflito tem origem no início dos anos 2000, sobretudo após o discurso do presidente russo na conferência sobre os assuntos da política de segurança em Munique em 2007. Naquela altura, ele declarou que a Rússia iria realizar uma política externa independente e que não ia permitir que o mundo fosse gerido e administrado por um só Estado ou algum grupo de Estados. Isso não agradou aos EUA. Porque eles afirmam que têm um papel exclusivo, que são líder único, e que todos devem subordinar-se às ordens de Washington.

E a reeleição de Vladimir Putin este ano, com uma votação recorde, é a prova de que acreditam que ele é o líder certo para fazer frente a esse tipo de pensamento?

Sem dúvida. Ele como candidato ao cargo de presidente recebeu mais de 76% dos votos e é uma prova bem evidente do apoio que a sua política tem, tanto nos assuntos internos como externos.

E quais são as características que fazem dele um bom líder?

É russo. Simplesmente isso. É um russo que dá prioridade inequívoca aos interesses do seu país , do seu povo, à prosperidade económica da sua pátria. Mas não com uma posição agressiva. Está sempre a dizer que temos os nossos interesses nacionais, mas no que se refere as relações internacionais sabe que é preciso ter em conta os interesses legítimos dos outros Estados. Ou seja, as relações devem ser feitas com base na igualdade de direitos, sem fazer linhas divisórias, definindo que estes são os bons e estes são os maus.

Se nós conseguirmos convencer todos a abrir os olhos para o facto de que estamos num mundo diferente, as coisas vão ser mais fáceisAcredita numa solução para pôr termo a estes conflitos? E, se sim, é algo para breve?

O processo vai ser muito longo e não é por causa da Síria. O assunto mais importante e que nós tentamos explicar é que o mundo está a entrar numa nova fase das relações internacionais, uma fase em que não há a hegemonia de um Estado ou de um grupo de Estados. Este mundo novo já tem vários polos de poder, centros de influência, como a China, a Índia… Se nós conseguirmos convencer todos a abrir os olhos para o facto de que estamos num mundo diferente, as coisas vão ser mais fáceis. Portanto, o problema não é a Síria mas a visão geral do mundo em que vivemos.

Se houver uma guerra de grande escala serão aplicadas armas nucleares e será o fim da civilizaçãoHá quem fale numa possível terceira guerra mundial. É a isso que vamos assistir caso se mantenha este período de tensão?

Não estou a ver nenhuma terceira guerra mundial. Se falarmos de uma guerra mundial isso significará a destruição da humanidade. Se houver uma guerra de grande escala serão aplicadas armas nucleares e será o fim da civilização.

Mudando de tema, a Rússia recebe este ano o Mundial de Futebol. Como é que o país se está a preparar para este grande evento?

A própria FIFA acredita que o processo de organização está a correr perfeitamente, todos os estádios estão prontos, os bilhetes a ser vendidos e toda a infraestrutura está pronta. A única coisa que não sei é se a seleção da Rússia e de Portugal estão preparadas. E há aqui um problema que podemos vir a ter com Portugal: como estamos em grupos diferentes, caso consigamos passar, há a probabilidade de as seleções dos dois países se virem a confrontar.

E vai estar do lado de quem, nesse caso?

O que acha? Claro que vou torcer pela Rússia.

Diz-se que o futebol é capaz de unir o mundo. Será esta uma oportunidade para a Rússia passar uma imagem diferente e mudar a relação que tem com alguns países?

A coisa mais importante no desporto é que não sejam introduzidos elementos políticos. O Reino Unido, por exemplo, já está a dizer que as autoridades não vão estar presentes no campeonato e não vão à Rússia. Mas se o desporto ficar fora da política vai sempre consolidar os povos e construir pontes entre as nações. 

RTP - O Essencial

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26 Abril, 2018

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Sérgio Alexandre
Jornalista
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Tenho o direito de ficar calado. Mas não fico!

  • Eduardo Louro
  • 25.04.18

Resultado de imagem para cravo na lapela

Grande discurso da Margarida Balseiro Lopes, nova líder da JSD, e cá da região, nas comemorações oficiais do 25 de Abril, na Assembleia da República, em representação do PSD, de cravo ao peito. Muito aplaudido por Rui Rio, também com o cravo no sítio certo.

Apenas um reparo: não houve nenhuma revolução em 1975, e hoje tratava-se de lembrar 1974. Abril, 25. Mas não é certamente isso que explica uma coisa que não tem explicação: Por que é que nenhum deputado aplaude o discurso do de outro partido? 

Mas, claro... os olhos estão sempre no Presidente da República. Marcelo, cujo percurso político até à actual unanimidade nacional é conhecido, entrou de cravo na mão. Não é novidade. Como novidade não é o destino que lhe tenha dado, mesmo que tenha sido possível confirmar que o casaco que vestia tinha lá o bolsinho que dá para acolher o lencinho, mas também serve de casa para aconchegar o cravo ao peito. Na hora do discurso lá estava, despido de simbologias. Do outro lado da fronteira que o cravo vermelho sempre traça a cada comemoração do 25 de Abril, no lado onde sempre vimos o seu antecessor, que não deixou saudades e de quem já nem nos queremos lembrar. 

Se calhar foi por isso que o discurso do PR não mereceu os aplausos da esquerda do Parlamento... Mesmo que o principal da mensagem tenha sido a óbvia e urgente necessidade de renovação do sistema político, como já fora a do Presidente do Parlamento, Ferro Rodrigues, ao referir-se à necessidade da "renovação democrática das instituições" e da exclusividade dos deputados, mesmo que revisitando a sua lamentável posição relativamente às últimas denúncias sobre os deputados insulares.

E viva o 25 de Abril. Sempre!