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segunda-feira, 30 de abril de 2018

Entre as brumas da memória


Dica (752)

Posted: 29 Apr 2018 01:24 PM PDT

South Korea's spy chief plays key role in historic meeting with North (Soyoung Kim)

«Shedding tears behind South Korean President Moon Jae-in and North Korea’s Kim Jong Un after the two leaders announced a historic agreement on Friday was a man who has worked for two decades to set up unlikely dialogue between old enemies.»

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29.04.1945 – O primeiro dia em que as francesas exerceram o direito de voto

Posted: 29 Apr 2018 08:48 AM PDT

Em França, foi só há 73 anos que as mulheres exerceram pela primeira vez o direito de voto. Em eleições municipais, 87 anos depois dos homens.
Em Outubro do mesmo ano, foram 33 as eleitas para a Assembleia Constituinte, num total de 586 deputados. Isto no país que, em 1789, gritou: «Liberé, égalité, fraternité». Foi longo o caminho…

(Note-se que só em 1965 é que as francesas puderam abrir uma conta bancária, ou aceitar um emprego, sem autorização do marido. E não havia por lá um Salazar gaulês...)

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Até quando pode o PS ficar calado?

Posted: 29 Apr 2018 02:42 AM PDT

Pedro Adão e Silva no Expresso de 28.04.2018:

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Tribunais, animais, anormais e outros mais

por estatuadesal

(Carlos Esperança, 29/04/2018)

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A benevolência com que alguns juízes julgam as agressões a mulheres pode dar início a um novo paradigma jurisprudencial. Nem tudo está parado nas sociedades ou amolecido na consciência que as molda. De vez em quando, um sobressalto cívico torna contagioso o fervor da indignação. Ainda bem.

Espanha está em pé de guerra perante a complacência com que foram condenados cinco violadores de uma jovem de 20 anos, alcoolizada, enquanto os alarves a filmavam. Que raio de machos aqueles, que sentiam prazer na humilhação da mulher indefesa e vaidade na filmagem do crime! Que manada de filhos de uma nota de 5 euros!

Foi preciso que três juízes chamassem ‘abuso sexual’ à violação da «Manada», e que as mulheres reagissem contra as penas, eventualmente de acordo com o código penal, para porem em causa as leis e a jurisprudência, a sociedade machista e a tradição misógina, a violência ancestral e o sofrimento feminino milenar.

Em Portugal, há sentenças que não envergonham apenas os juízes que as proferiram e a sociedade conformada. Ficaram para a história do Portugal reacionário, que habita togas que escondem corpos sem cabeça, no país de agora.

As jovens violadas no Algarve, por se vestirem de forma provocante, seja isso o que for, numa zona de praia, em Albufeira, foram de algum modo incriminadas pela violação de que foram vítimas, na “coutada do macho ibérico”, o que reduziu largamente o crime.

O adultério, tão condenado pela santa Bíblia e por venerandos desembargadores, passou a atenuante de peso para a selvática e premeditada agressão a uma mulher.

Um taxista, perante uma jovem de 16 anos que, tendo fretado o táxi, a conduziu para um pinhal e aí a violou, viu a pena suspensa porque a vítima já tinha obrigação de perceber os riscos que corria ao entrar sozinha num táxi.

É verdade que Paulo de Tarso considerava obscenos o cabelo e a voz das mulheres, um bom motivo para lhes ser impedida a entrada nos templos, sem o véu que as cobrisse, e interdito o canto, para o que a Igreja preferia os “castrati”, jovens a quem castrava para preservar a voz e evitar as mulheres no canto lírico em louvor do Divino, mas isso era o pensamento de quem estava destinado à santidade e não à judicatura.

É verdade que os juízes são pessoas normais, mas os que apavoram são os anormais!

domingo, 29 de abril de 2018

A Falsa “Liberdade” da Esquerda

Novo artigo em BLASFÉMIAS


por Cristina Miranda

Confesso que já não tenho paciência para os discursos "bonitos" de homenagem ao 25 Abril como se ele tivesse acabado de acontecer e não soubéssemos ainda o que nos esperava. Foram 44 anos de mentira, de falsa sensação de liberdade só porque agora podemos dizer quase tudo o que pensamos sem ir preso. Por enquanto. E a prova está na abstenção que a seguir à revolução foi quase nula, no ano seguinte passou para 16,5% e a partir de 83,  disparou para 44%. A fraude não tardou a manifestar-se. Hoje, temos a terceira maior dívida do Mundo, o segundo maior défice da Europa, o quinto país mais corrupto do Mundo e estamos no ranking  com  maior carga fiscal. Esta é a "bela liberdade" que ganhamos: o aprisionamento  financeiro - por dívida e corrupção - que nos empobrece e impede de ter vida condigna.

O país não mudou com a Revolução dos Cravos. Quando cheguei a Portugal em 78, e até assinarmos contrato de adesão à CEE, em 85,  nosso país não tinha dado um passo ainda na mudança que hoje conhecemos. Muito pelo contrário. Nacionalizações mataram a economia e já tínhamos no currículo duas bancarrotas até 1983!!. Se temos vias de comunicação excelentes, melhor habitação, melhor escolas, melhores hospitais, melhor formação, melhor mercado de trabalho entre outros,  devemos à tão demonizada UE que ainda não parou de canalizar fundos (grande burra!) para encherem inclusivamente muita conta bancária de oportunistas. Se parecemos um país desenvolvido, hoje, é por mérito dessa Europa e não nosso.

Porque se esse dinheiro nunca cá tivesse chegado, estaríamos mais atrasados em todos os segmentos do que durante o Estado Novo, devido à nossa constante incapacidade de nos governar, gastando mais do que a colecta em impostos,  para servir interesses particulares gigantescos, só com uma diferença: já não podíamos contar com os milhões a fundo perdido da UE para nos salvar as contas. Estaríamos a imprimir desenfreadamente moeda para nos manter à tona, fazendo disparar a inflação e desvalorização do escudo, com todas as consequências que daí adviriam, elevando brutalmente o custo de vida e  pobreza. Ou seja, seríamos um "paraíso  Venezuelano" sem petróleo.

Não somos livres não senhor. Somos escravos modernos prisioneiros a escassos rendimentos, "dopados" por uma propaganda eleitoralista constante, para enganar incautos. Quando vejo as esquerdas encherem a boca com a palavra "Liberdade" a torto e a direito dá-me náuseas. E quando ainda por cima vejo liberais a festejar ao lado destes, fico doente. A "liberdade" que a esquerda festeja é exactamente aquela que os que presam a VERDADEIRA LIBERDADE, abominam. Como podem dar as mãos se não estão a celebrar o mesmo?

A "liberdade" que a esquerda defende hoje, é igual à que defenderam no passado: um Estado totalitário que concentra em si toda a economia e serviços, inclusivamente os meios de comunicação; que regula e  limita todas as liberdades individuais e colectivas. Regimes que conhecemos bem o "seu sucesso" através da Alemanha de Leste, na Coreia do Norte,  Cuba,  Venezuela e  União Soviética. É aquela "liberdade" que os faz tapar estátuas ou mudar os nomes às praças ou jardins para limpar a História ou atirar ovos em pleno festejo do dia da liberdade aos opositores. É a "liberdade" de dizer explicitamente que só fizeram uma aliança com o "diabo" para impedir a direita de governar (mas que democráticos) demonstrando intolerância por  todos os que não partilham a mesma cartilha. É a "liberdade" de quererem  controlar as redes sociais que consideram um "perigo à democracia". É a "liberdade" de Soros, esse multimilionário sádico que quer impor uma nova ordem mundial totalitária - a partir do caos causado pela desconstrução da sociedade - e que eles não se importam de figurar na sua plataforma como aliados dessa nova ordem. Veja aqui na Plataforma de George Soros os portugueses aliados, entre eles Marisa Matias, Liliana Rodrigues, Ana Gomes, João Ferreira. É a "liberdade" jornalística "independente" como o "Só Fumaça" - um jornal marxista - financiada com 80 000€ da Fundação George Soros (outra vez). Que bonito! Estou até "emocionada" com esta "liberdade" ditatorial que apregoam.

Neste dia, e perdoem-me a franqueza, o que esperava ver no Parlamento era um discurso arrebatador, verdadeiramente sentido, com muita revolta, a abanar com toda a estrutura política.  Alguém que olhasse nos olhos de todos os deputados presentes e dissesse em nome de todos nós, cidadãos defraudados: "Basta meus caros deputados! Basta!". Alguém que rasgasse o politicamente correcto e tirasse as unhas de fora apontando sem dó nem piedade, sem diplomacia,  um a um, os pecados cometidos em 44 anos pela classe política e que suprimiram a liberdade conquistada, e não o contrário. Porque é disso que se trata: roubo de liberdades aos cidadãos e não ganhos.

Mas isso, sou eu, que sou do povo e nunca tive vida fácil. Que tive de batalhar arduamente cada cêntimo ganho. Que desde os 17 passei por vários governos e  sei quanto custa a vida,  governado por mentirosos. Que contei tostões. Que tive mais que um emprego em simultâneo para puder chegar ao fim do mês. Que tive muitos fracassos e vitórias à minha conta por isso conheço o terreno como ninguém. Que possuo uma carreira profissional extensa carregada de experiências ricas em aprendizagem feita de escaladas difíceis, sem apoios. Que conheço o SNS e sei que só serve para curar gripes porque se for urgente e não houver umas economias no bolso para ir ao privado, morre-se na lista de espera. Que sei que se as  escolas públicas não estupidificam mais que ensinam e não são piores  porque temos profissionais maravilhosos que contrariam as estatísticas e se entregam de forma altruísta.

Porque é preciso nascer, crescer e trabalhar neste país desde cedo, no meio do povo,  para saber realmente o que ele é ou não é e do que precisa. Os outros, são parte do sistema, que viveram sempre confortavelmente e que rosnam mas não abocanham com medo de  perder o lugar ao sol.  Não sentiram a perda de liberdade.  Nem sabem sequer do que falo. Por isso vão continuar a festejá-lo como no 1º dia alheios ao roubo da liberdade pelas esquerdas.

Junta de Freguesia de Válega cede moinho à Casa de Povo de Válega

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No passado dia 25 de abril, a Junta de Freguesia de Válega de celebrou com a Casa do Povo de Válega um contrato, em regime de comodato, dos prédios onde se encontra implantado o moinho existente na Rua da Sociedade Columbófila, cuja proprietária é a Junta de Freguesia de Válega.

A Junta de Freguesia de Válega procedeu à entrega à Casa do Povo de Válega dos terrenos e do respetivo recheio que deles fazem parte, para que os mesmos sejam utilizados e neles sejam desenvolvidas atividades objeto de cariz folclórico, etnográfico e gastronómico, representativas dos costumes e tradições da Freguesia de Válega.

Com esta cedência, que tem a validade de 25 anos, cumpre-se uma vontade antiga e estão reunidas as condições para que o moinho seja reabilitado, surgindo, assim, mais um polo de atração turística na Vila de Válega.

Note-se que este processo iniciou-se no mandato autárquico anterior, tendo a Junta de Freguesia de Válega solicitado às coletividades de Válega que apresentassem projetos para ocupação do moinho.

A Casa do Povo de Válega foi a única coletividade que se mostrou interessada, tendo feito chegar uma proposta muitíssimo interessante, quer a nível da preservação do património histórico edificado, quer ao nível do desenvolvimento do potencial turístico.

Resta felicitar a Casa do Povo de Válega pela ousadia e por ter respondido, afirmativamente, ao repto lançado pela Junta de Freguesia de Válega.

Estamos certos de que o projeto apresentado chegará a bom termo.

Válega está cada vez mais viva.

O progresso da nossa freguesia é desiderato de Todos.

Estamos juntos.

Há que continuar a trabalhar com Paixão, em prol do bem-estar e da melhoria da qualidade de vida dos nossos fregueses, e da promoção da cultura e do engrandecimento do nome da nossa Terra.

De repente nos 30. Os medos, as frustrações e a ansiedade de crescer

29 Abril 2018

Ana Cristina Marques

Relacionamentos longos que acabam, amizades que mudam substancialmente e carreiras interrompidas. Os 30 são uma altura de reavaliação pessoal e de ansiedade que nos faz perguntar: "Afinal, sou feliz"?

Tecnicamente, não é possível chamar-lhe “crise dos 30”, mas a angústia e frustração que atinge quem passa por esta fase é real. Não é necessariamente uma banalidade, nem tampouco um exagero de quem não está habituado às adversidades da vida. E antes que culpemos apenas a geração dos Millennials pela “crise”, vale a pena recordar um artigo do The New York Times sobre exatamente o mesmo assunto, publicado a 9 de maio de… 1977. Este artigo em particular conta a história de pessoas que há 41 anos celebravam os 30 a fazer coisas diferentes que até então nunca tinham experimentado: como cortar as longas madeixas negras e furar as orelhas pela primeira vez ou inscrever-se num mestrado por acharem o trabalho atual pouco desafiante. Convenhamos, esta não é uma conversa sobre instabilidade financeira, precariedade laboral ou pressões sociais — disso já antes falámos –, mas de uma transição nem sempre pacífica.

"Fiz 30 anos em setembro. Fugi para Nova Iorque e passei o dia na companhia de duas grandes amigas. Costumo dizer que tive a minha crise dos 30 aos 27. Tinha ataques de choro constantes, andava ansiosa e meio agressiva. Agora estou mais serena. Vem da aceitação (não confundir com conformismo). Os medos ainda cá estão todos, apenas sei lidar melhor com eles: medo da solidão, de nunca vir a ter uma família, medo de que não conseguir um trabalho que me faça feliz. Reconciliei-me com muitas coisas. É um trabalho gradual e constante."

Maria, 30, Setúbal

Aos 30, as decisões são disruptivas

Na casa dos 20, celebrar um aniversário é relativamente arbitrário. Os 21, 22 e 23, por aí fora, remetem todos para o mesmo: “Somos jovens, temos a vida pela frente”, explica ao Observador a psicóloga clínica Filipa Jardim da Silva. Não é que uma pessoa de 30 anos possa ser considerada velha, nada disso, mas a chegada a esta década é para muitos o realizar de que não somos eternos. Se aos 20 o desafio era descobrir o que gostamos de fazer, aos 30 a vida coloca-nos uma pergunta bem mais desafiante: tirado o curso e iniciada a carreira profissional, afinal, quem somos?

“Obviamente que isto não é exclusivo dos 30. De uma forma global, algures entre os 27 e os 33 notamos que este desafio mais existencial surge”. A partir do momento em que os primeiros guiões pré-definidos acabam — escola primária, básica, secundário e faculdade, por exemplo –, e à medida que se começa a ter dinheiro para tomar decisões, surgem as primeiras perguntas. “Que contributo estou a dar ao mundo?”, “Faço mesmo aquilo que me concretiza”, “Sou feliz?”, enumera a psicóloga. É provável que até muito tarde se tenha apontado o dedo a pais e professores pelas coisas que foram acontecendo. Agora, chega a altura de assumir responsabilidade pelas decisões tomadas e suas consequências. “Cheguei aos 31. Vou apontar o dedo a quem?”, pergunta retoricamente Filipa Jardim da Silva. “A apropriação da nossa vida e das nossas escolhas é essencial”, diz, referindo-se, por oposição, ao medo que existe em assumir as consequências e em estar “por nossa conta num mundo infinito de possibilidades”.

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Nesta fase pode também existir dificuldade em lidar com o que não é possível controlar e a consciencialização da finitudeà medida que se chega aos 30 desponta uma urgência maior.Não é à toa que a psicóloga se refere a esta fase como a “era do empoderamento pessoal”, no sentido em que, para muitos, os 30 são marcados por decisões disruptivas. Isto é, relações amorosas de longa data que terminam, relações de amizade que mudam significativamente e até carreiras que tomam percursos particularmente distintos. Filipa Jardim da Silva aconselha a refletir sobre as inquietações mais importantes durante algumas semanas para não tomar decisões a mando da impulsividade. “Ajuda se fizermos um trabalho interior paralelo. É preciso perceber quais são os nossos valores e perceber o que isso significa concretamente para nós”, diz.

A ideia é semelhante à do psicólogo consultado pela publicação norte-americana e semanal New Scientist, que apelida esta fase mais conturbada de “crise do quarto de vida”, que se ocupa sobretudo de pessoas com idades compreendidas entre os 25 e os 35 anos. Para Oliver Robinson, da Universidade de Greenwich, em Londres, isto acontece quando alguns jovens adultos dão por si num trabalho do qual não gostam ou numa relação que não os satisfaz. No artigo datado de 2011, o psicólogo diz que fingir que está tudo bem não é resposta e pode estar na origem de uma maior ansiedade ou até de problemas mentais. Mas para perceber exatamente o que acontece durante esta “crise”, Robinson e um colega entrevistaram 50 pessoas que passaram por esta situação e determinaram 5 fases:

  1. Sensação de se sentir preso tendo em conta as escolhas de vida tomadas; sensação de que se vive em piloto automático;
  2. Sentimento crescente de querer abandonar o barco; sentimento de que se pode mudar de vida;
  3. Abandonar o trabalho, a relação ou qualquer coisa que faça a pessoa sentir-se presa e embarcar num período de “time out”, que permita experimentar coisas novas;
  4. Refazer a vida;
  5. Desenvolver novos compromissos mais sintonizados com o interesse e aspiração individuais.

"Um pouco antes dos 30, e após o falecimento da minha avó, dei por mim a questionar-me se a vida aparentemente perfeita que tinha não era uma mera aparência. Tinha um marido, uma casa, um cão e um ótimo trabalho, mas, no fundo, estava sozinha. Ele passava os fins-de-semana fora e eu ficava sozinha. Comecei a sentir um grande vazio emocional, como se ninguém me entendesse. Não foi só a morte da minha avó, que me criou e que era o meu modelo, que me fez mudar de vida. Foi também o medo gigante de morrer. Dei por mim casada com uma pessoa há 4 por quem já não sentia nada. Comecei a sentir que tinha perdido os meus 20 e que estavam a chegar os 30. Não conseguia aceitar a ideia de ter 29 anos e não ser feliz. Separei-me há dois anos. Desde então tive um bebé, hoje com 7 meses. Mudei de casa duas vezes. Mudei a minha postura no trabalho para ser mais produtiva e aproveitar melhor o meu tempo. Hoje sou sócia do escritório onde trabalho. A maior mudança foi o bebé, foi ser mãe. Não tenho dúvidas que sou uma pessoa mais feliz do que era há dois anos. E não só por ter sido mãe, mas porque decidi ser honesta comigo própria."
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Teresa*, 31 anos (*nome fictício, esta pessoa não quis ser identificada)

“É importante aceitar a nossa realidade”

Não dá para voltar atrás. Pode parecer que ainda ontem o espelho refletia um adolescente de 13 anos, mas a verdade é que o tempo passou e a vida aconteceu. Daí que o nem sempre fácil exercício de aceitar o passado e seguir em frente seja particularmente importante. Na prática, é uma questão de perspetiva. “À medida que nos aproximamos dos 30 há uma fase de maior serenidade e maturidade emocional que permite que olhemos para trás de forma mais introspetiva. É aí que conseguimos valorizar, por exemplo, aspetos da dinâmica familiar nos quais ainda não tínhamos reparado. O exercício da aceitação é dos mais desafiantes que existe e vai acompanhar-nos sempre”, diz Filipa Jardim da Silva. Já a nostalgia que se pode sentir, acrescenta a psicóloga Cláudia Morais, tem que ver com a incerteza que as pessoas sentem quando alcançam esta faixa etária. “É natural que haja alguma saudade por antecipação, como se esta idade de maior responsabilidade implicasse ter de abdicar de muita coisa.”

A questão da aceitação não implica apenas olhar para trás, mas também conviver bem com o presente. Num artigo do britânico Metro, de abril de 2017, também ele focado na crise dos 30, lê-se que muitas mulheres imaginam o que querem ter aquando da chegada desta década, o que tende a chocar com a realidade. A noção dos 30 é, no imaginário infantil, ser-se adulto, estar casado, ter filhos e ter uma casa e um trabalho perfeitos. É preciso não só aceitar o que não se tem, como também a possibilidade de ainda não se saber o que se quer. “Aos 30 anos há um conjunto de expetativas da própria pessoa e também em termos sociais. Se uma pessoa estiver a viver em casa dos pais, mesmo que não haja pressão da família, ela vai questionar-se. Em relação às mulheres, essa angústia surge mais frequentemente associada às expetativas por cumprir do ponto de vista profissional e familiar, tendo em conta o ter ou não ter filhos”, diz Cláudia Morais.

"A transição não foi fácil, lembro-me que tinha dificuldade em verbalizar o número 30 quando me perguntavam a idade. Porque não queria envelhecer. Não queria ver os outros envelhecer e morrer. Queria que ficasse tudo igual. De há uns anos para cá que vejo os meus pais envelhecer e, pela primeira vez, senti que eles podiam desaparecer. Isso assustou-me de morte. Tive mesmo a sensação de que eles não são eternos. Caiu-me a ficha."

Joana, 35 anos

Curiosamente, um artigo da Forbes de 2015 faz uma comparação entre noções desatualizadas e outras bem mais recentes do que é fazer 30 anos — o autor do artigo apresenta o mesmo exercício para quem faz 40 ou 50 anos. Se antes fazer 30 significava estar com alguém há cerca de uma década a construir uma família, hoje o paradigma é totalmente diferente: “Estás a começar a perceber quem és enquanto adulto e estás grato por não teres ficado preso às escolhas feitas na década anterior”. Segundo a Forbes, em cada uma destas fases da vida — 30, 40 e 50 — estamos a reinventarmo-nos enquanto pessoas, ao invés de continuarmos numa trajetória estável e ascendente. “O que tens agora, em cada fase, é uma rara oportunidade para criar o tipo de vida que é fiel às tuas esperanças, sonhos e valores. Tens liberdade sem precedentes.”

"O bom de fazer 30 está relacionado com o que sinto nestes últimos tempos: uma aceitação maior da pessoa que sou, uma consciência maior daquilo que é o meu valor e que me diferencia como pessoa, o meu trajecto e a minha missão aqui. Nunca me considerei alguém muito influenciável, mas sem dúvida que os 30 trazem um aceitar do não ter de agradar a todos. E não há mal nisso, de saber dizer não, de saber quem são os meus e naqueles em que vale a pena investir. Percebo agora que o 'tempo' é feito de vontade. Outra contestação é que somos mais parecidos com os nossos pais do que pensamos. E isso tem tanto de bom como de mau."

Tânia, 30 anos

“É importante aceitar a nossa realidade, o que não significa que não vamos fazer nada para a mudar. Também é normal que queiramos coisas antagónicas. Aceitando as nossas necessidades tornar-se mais fácil encontrar respostas”, assegura Cláudia Morais, que incentiva as pessoas a evitar fazer comparações com os outros. “Quando faço comparações com aqueles que estão à minha volta estou a desviar a atenção do que é essencial, menos atenção vou dedicar à minha vida e às minhas circunstâncias.”

“Existe dificuldade em escolher um caminho e em tomar uma decisão. Mas os jovens têm de começar a aprender a errar. Esta geração sempre foi muito criticada pelo erro, mas errar é fantástico, permite-nos saber o que realmente queremos”, assegura o neuropsicólogo Fernando Rodrigues ao Observador, embora errar pareça ir contra ao que a sociedade proclama. Um artigo de opinião do The Guardian explora precisamente essa ideia, ao admitir que a nossa cultura dá um significado “pouco racional” à idade em causa. “Graças à televisão e aos filmes, continuo a acreditar que as mulheres de 30 anos são supostas ser ultra bem-sucedidas, viver em casas imaculadas e usar saltos altos muito caros. São supostas estar casadas e ou ter crianças ou começar a planeá-las.”

Decidi continuar a ser como era, o que pode ser visto como disruptivo se a perspectiva geral for a do acinzentamento obrigatório a partir dos 30. Não deixei de fazer nenhuma das coisas de que gostava e que muita gente com mais de 30 não pode, não quer, não consegue ou tem vergonha de fazer. A sociedade, apesar de livre, é bastante normalizante. Ninguém se deveria deixar normalizar, nem sentir pressionado a diferenciar-se. Há falta de pessoas com autoconfiança que lhes permita ser como querem ser, especialmente depois dos 30.

Alberto, 39 anos

“Cada geração tem os seus desafios”

O mundo em que vivemos cresce a olhos vistos, pelo que, numa primeira análise, os nossos horizontes também se expandem, o que pode ser estimulante e desorganizante. “As pessoas vivem com mais intensidade e com menos foco no futuro”, assegura o neuropsicólogo Fernando Rodrigues, referindo-se à mutação geracional que separa, por exemplo, os Millennials dos seus pais, os Baby Boomers. A geração que anda agora na casa dos 30 é descrita como tendo mais parceiros de vida e um maior número de pessoas na esfera social — mas nem aqui a quantidade se pode traduzir em qualidade. “Estamos a tornar a nossa sociedade mais focada no eu. Os vínculos são cada vez menores.”

Os meus 30 não são os 30 normais. Estou a passar uma fase que a maioria das pessoas passa aos 40 ou aos 50. Neste momento não estou a tentar garantir a minha sobrevivência, mas a sobrevivência da minha mãe. Acho que os meus 30 são uma exceção, estão a ser muito difíceis e são totalmente diferentes dos 30 do meu pai, que já tinha casa, carro e filhos. Eu sou o completo oposto disso. Mas sou feliz. A vida é uma experiência e isso deixa-me muito grata.

Dulce, 32 anos

Embora diga que os Millennials foram educados a pensar que a vida seria mais fácil, Fernando Rodrigues não associa momentos de angústia e frustração unicamente a eles e fala ainda numa “crise dos 40” vivida pela geração anterior. “Cresci a ouvir falar da crise dos 40, a propósito da geração dos meus pais”, conta também a psicóloga Cláudia Morais. Falava-se nisso porque nessa fase esta geração já tinha a vidaestabilizada emprego, casa, filhos. Era quando surgiam as primeiras questões. Associava-se a crise aos Porsches e às amantes”, continua. A geração dos pais de Cláudia Morais chegou aos 30 anos casada, o que não é normativo nos dias que correm. “Antes, as pessoas achavam que tinham de se casar. Na maior parte das vezes, a decisão pode não ter sido tão consciente”, diz, referindo que atualmente não existe tanto automatismo. “Cada geração acaba por ter os seus desafios. Mas as necessidades são comuns.”

Os 30 são mesmo os melhores anos?

Não é difícil encontrar referências na cultura popular de como os 30 são os melhores anos, tal como esclarece um artigo do The Huffington Post. Por esta altura é mais provável do que nunca termos encontrado estabilidade financeira — ainda que os Millennials enfrentem de momento desafios socioeconómicos — e segurança pessoal. Há estudos que sugerem que a melhor idade é os 35 e outros que apontam que é aos 33 que as pessoas são mais felizes.

“É preciso encarar a crise dos 30 com respeito e com um grande marco de desenvolvimento pessoal e não banalizar, como se fosse uma crise existencial que vai passar. É de aproveitar aquilo que surgir sempre num sentido construtivo”, assegura Filipa Jardim da Silva. Na verdade, ainda se vai a tempo de muita coisa. Seja disso exemplo o artigo da The Atlantic que revela que grandes avanços são feitos na carreira já depois dos 30. Ou a investigação de 2012, que mostra que 70% dos britânicos inquiridos com mais de 40 anos afirmam não foram realmente felizes antes dos 33. E ainda o estudo conduzido pelo The Huffington Post e pelo YouGov que dá a entender que o melhor equilíbrio entre a vida pessoal e profissional chega aos 34 anos e que a “verdadeira satisfação”— seja ela qual for — aos 38. Certo que não há grande dificuldade em encontrar estudos para todos os gostos mas, assim de repente, está tudo em aberto e, afinal, não nos faltam oportunidades.