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terça-feira, 1 de maio de 2018

Quem tem medo da EDP?

Mariana Mortágua

Hoje às 00:04

Das telecomunicações à energia, a privatização das melhores empresas portuguesas serviu os interesses de bancos e escritórios de advogados, alimentou a especulação bolsista e uma clique de administradores habituados aos corredores do poder. O que tantas vezes foi apresentado como prova da excelência empresarial eram, na verdade, lucros fáceis de empresas em regime de quase monopólio, beneficiárias de rendas à medida.

Há de tudo no cadastro das privatizações, mas ninguém terá beneficiado mais deste rentismo parasita que os acionistas da EDP. Adensam-se agora as suspeitas de corrupção a olear a porta giratória entre interesses públicos e privados. O maior suspeito é Manuel Pinho, o ex-ministro do PS que mudou as regras dos CMEC para favorecer ainda mais a EDP. Criados em 2004, sob um Governo PSD/CDS, e em vigor desde 2007, estes contratos garantiram uma receita de 2500 milhões de euros a favor da EDP, financiado pelos consumidores de eletricidade. Destes, segundo a própria Entidade Reguladora, 510 milhões terão sido cobrados indevidamente.

Passaram-se dez anos e os partidos que partilharam o poder e apoiaram a privatização da EDP continuam sem fazer uma avaliação crítica do processo. PS, PSD e CDS travaram sistematicamente as iniciativas do Bloco e do PCP para combater as rendas excessivas, desde a proposta de revisão dos CMEC em 2011 até à criação de uma contribuição extraordinária sobre as rendas das renováveis no Orçamento do Estado para 2018.

Da Justiça, espera-se que faça rapidamente o seu caminho quanto às acusações de corrupção, nomeadamente a Manuel Pinho. Mas há um processo político que não pode esperar mais e que tem de ser consequente: as rendas da energia são abusivas e lesivas para os interesses do país. Devem ser eliminadas.

Este Governo faz mal se optar pela posição medrosa que já vimos antes, nomeadamente de Passos Coelho, que afastou o secretário de Estado da Energia Henrique Gomes por querer concretizar um corte nas rendas.

Não chega rever os pagamentos dos CMEC. É preciso pará-los, e há base para o fazer. O Conselho Consultivo da Procuradoria-Geral da República já emitiu dois pareceres, homologados pelo Governo, em que estabelece a nulidade das decisões de Manuel Pinho na redefinição dos CMEC: estes contratos constituem um tributo cobrado diretamente aos consumidores, que teria de ser decidido e votado no Parlamento. A sua elaboração a partir dos gabinetes ministeriais foi considerada "usurpação de poder", o que justifica a sua nulidade.

Suspender os pagamentos à EDP baseados nos CMEC é um primeiro passo de coragem, a que se deverão seguir outros. Teremos ainda, nesta legislatura, oportunidade de votar outras medidas de combate às rendas da energia. Esperemos que o escrutínio público e a visibilidade deste processo sirvam para que PS, PSD e CDS não as travem mais uma vez.

DEPUTADA DO BE

Quem Precisa de Eutanásia com um País Assim?

Novo artigo em BLASFÉMIAS


por Cristina Miranda

Europa. Ano de 2018. O Estado inglês decide sozinho que uma criança de 23 meses deveria morrer por ter doença degenerativa sem cura. Alegações? O superior interesse da criança. Sim, leu bem. O Estado, esse Deus omnipotente  sabia que Alfie Evans não tinha cura - mesmo sem ter tentado tudo o que a ciência permitia e sabendo que estão sempre a surgir novas curas -  e queria morrer. Por isso, decidiu "dar-lhe voz" ordenando que fossem desligadas as máquinas de suporte de vida. Ou seja, matá-lo. Em resposta, Alfie manteve-se vivo durante 5 dias completos, sem máquinas, mostrando assim que afinal queria mesmo viver e  havia outro caminho se houvesse vontade. Que pensaria Stephen Hawkins disto se fosse vivo? Pois.

De pouco serviu a ajuda do Vaticano para tratar o menino. De nada adiantou a vontade dos pais em se agarrarem à esperança lutando desesperadamente pela sobrevivência do seu filho amado. O Estado decidiu, estava decidido: nem tratamentos na Inglaterra nem em qualquer outro sítio do Mundo. Ordem para matar. Ponto final. Não fosse Inglaterra o país do 007. Por falar nisso, alguém viu a Rainha por aí? Ah! espera, essa é apenas peça ornamental.

No meu texto "Eutanásia dá muito Jeito"  explicava o lado perverso das leis que dão poderes ao Estado para matar. Argumentei que era um pau de dois bicos porque se por um lado acudia a situações especiais de sofrimento extremo, por outro abria uma Caixa de Pandora porque esse mesmo Estado não era, muitas vezes,  "pessoa de bem". Não tinha ainda este exemplo tão bom para o demonstrar. Limitei-me aos casos já existentes de países que a usam e se viram confrontados com uma realidade cruel que não previram: pessoas a serem mortas sem ser por vontade delas. Com o caso Alfie não podíamos ter um exemplo mais assustador para demonstrar a perigosidade das  leis em que o Estado é rei e senhor do poder sobre a vida.

Estamos numa época em que a vida humana passou a ter menos valor que a dos animais. Em que se criminaliza todo e qualquer acto contra os bichos e se desresponsabiliza o abandono e morte dos humanos. Isto parece surreal. Mas não é por acaso.  Tem uma clara intenção política. Está na agenda dos desestruturadores de valores sociais. Os aliados de Soros na Europa. A reversão de valores está mesmo na agenda dos políticos. Está confuso? Vamos reflectir.

Comecemos por cá mesmo. Aqui já não é possível abandonar animais sem ser considerado um crime. No entanto, pode abandonar idosos em Hospitais ou suas casas que nada lhe acontece. A quem convém manter as coisas assim? Ao Estado, claro. Mais idosos à sua sorte, mais desprotegidos ficam, mais depressa morrem. Assim, equilibra a idade da esperança média de vida -  que aumentou consideravelmente - com as contas da segurança social.

Mas há mais: por muitos estudos que se façam não há desculpa alguma pelas longas listas de espera do SNS. Não há mesmo! Podem alegar falta de pessoal, podem alegar falta de verbas, podem alegar aumento de fluxo de doentes por isto ou aquilo. Mas a verdade é esta: não há vontade nenhuma de pôr o SNS a funcionar em condições.Porque é o sistema de "eutanásia legal" existente no país para fazer baixar a despesa do Estado e diminuir esperança de vida. Ficou chocado com o que escrevi? Então pense comigo.

Sempre que um banco precisa de dinheiro, mesmo não havendo dinheiro, ele aparece para pagar o buraco. Até hoje já foi enterrado, sem espinhas,  17 mil milhões dos contribuintes. Se não há dinheiro para acudir ao SNS, porque o há SEMPRE quando são bancos e sem limites? A vida humana vale menos que um banco? Vale.  Esta é a prova inegável. Mais: faltam cerca de 5000 especialistas médicos no SNS. O Estado suspendeu concurso que provocou ainda mais saídas. Alega o de sempre: falta de dinheiro. Mas Costa fez entrar na função pública, desde que tomou posse, mais de 10 000 funcionários na administração pública. Está a ver?  E mais esta reflexão: se o Estado quisesse mesmo dar a melhor saúde aos seus cidadãos, em vez de alegar falta de recursos, celebraria parceria com privados, eliminando todas as carências dos utentes, abrindo um leque de muitos mais serviços com qualidade, extensíveis a todos sem excepção. Resolveria assim três problemas: falta de meios,   qualidade de serviços e listas de espera.  Não o fazem porque não querem. Porque interessa manter um serviço que não funciona manietando o cidadão pobre a um destino quase certo em caso de doença: morrer mais cedo. Pense, porque pensar ainda não paga imposto.

Com isto, fica claro que interessa manter o SNS como fachada fingindo que o mesmo é extraordinário e que sem ele os pobrezinhos não tinham direito à saúde. O que não dizem é que tudo fizeram, durante décadas, para que esse mesmo sistema,  só servisse para curar rapidamente gripes e unhas encravadas, e fosse "desinvestido" subtilmente para que as pessoas, que não têm recursos para se curar no privado, definhem lentamente e assim libertem o Estado de despesas pesadas. Uma "Eutanásia" legalmente aceite e que não levanta suspeita. Porque as pessoas só pelo facto poderem ir ao médico sem pagar já as faz sentir protegidas. Problema é quando a doença é mesmo séria e morrem à espera.

Um Estado que mata a vida e a esperança é um carrasco legal. Legitimizar isso com o nosso voto é ser-mos cúmplices dessa matança. O caso Alfie Evans deve servir para  uma profunda reflexão sobre a verdadeira aplicação dessas leis na prática.

Quem precisa de eutanásia num país  sem valores humanos? Ninguém.

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Estados Unidos prolongam por um mês isenção das tarifas sobre importações

Ladrões de Bicicletas


1º de Maio

Posted: 01 May 2018 01:51 AM PDT

Do filme Matrix Revolutions

Revista Manifesto: lançamento em Lisboa

Posted: 30 Apr 2018 05:34 PM PDT

«Começar de novo era uma expressão frequentemente utilizada por Miguel Portas, quando se tratava de dar impulso a um processo político ou um projeto editorial, demonstrando dessa forma o seu entusiasmo e a vontade de o semear em seu redor. Talvez por isso seja também apropriado encarar a série que agora se inicia como um certo recomeço. Curiosamente, apesar das diferentes conjunturas em que a revista Manifesto existiu – nos anos 90 dirigida por Ivan Nunes, em formato jornal; nos anos 2000, pelo Miguel Portas – os propósitos de fundo mantêm-se, porventura, pouco alterados. Com novos problemas e outros desafios, certamente, continuamos interessados nos debates plurais à esquerda, nas discussões sobre o seu futuro e o seu papel no contexto português, e nos possíveis processos de convergência entre as diferentes sensibilidades que a constituem, incluindo pessoas e movimentos que não integram nenhuma formação partidária
Do editorial do primeiro número da segunda série da Revista Manifesto, que será lançada a 9 de maio em Lisboa, às 18:30h, na Livraria Linha de Sombra, na Cinemateca Portuguesa (Rua Barata Salgueiro, 39). A apresentação estará a cargo de Helena Roseta, José Neves e Ana Drago. Apareçam.

O folclore e a fragilização da democracia

Posted: 30 Apr 2018 07:01 AM PDT

Há dias foi a votos no Parlamento o Programa de Estabilidade do Governo.
Espanta que, ao fim de dez anos sobre o desencadear da crise internacional, ainda se pugne por mais austeridade. E no entanto é isso que a direita e a direita do PS sustentam como programa. E mais tarde ou mais cedo vão ter de assumi-lo.
A direita do PS terá de assumi-lo porque essa é consequência prática da ideia vazia de quem quer "mais Europa", a qual se baseia nas vantagens do cumprimento estrito do Tratado Orçamental, até que alguém poderoso o reforme. Em privado, são capazes de se lastimar, mas em público aplaudem essas regras que mais não representam do que o dispositivo que força governos de esquerda (por muitos votos que tenham) a aplicar políticas de direita. Ir além das metas pode parecer uma ideia cautelosa, mas redunda apenas em ir além de um programa de direita traçado em Bruxelas.
A direita à direita do PS assume hoje aquela posição bipolar: acusa o governo apoiado à esquerda de praticar a austeridade - por cortar no SNS, nas escolas e na segurança, no investimento público, etc. - e grita que o "Estado está a falhar". Mas os deputados contorcem-se em resoluções que gostariam de aprovar no Parlamento em que se esquivam para não dizer que querem ainda mais "menos despesa" (caso do CDS) ou em que condenam o governo por "agravar a despesa corrente permanente do Estado", porque é feita sem um "qualquer exercício de racionalização da despesa corrente" (caso do PSD)...
Ora, ao ponto a que chegaram os serviços públicos ao fim de dez anos de austeridade, é impossível continuar com jogos: ou se quer "menos Estado" e, por isso, "menos despesa pública" e, por isso, "mais austeridade"; ou se quer "menos austeridade" e, por isso, "mais despesa pública" e, por isso, "mais Estado".
Mas esta esquizofrenia hipócrita é apenas um epifenómeno com causas profundas.
A direita e a direita do PS alimentam este falso dilema de curtas visões, porque querem evitar tocar na ferida do problema. E a ferida do problema é que essa política representa um mecanismo de transferência de rendimento - em cada país dos mais pobres para os mais ricos e, na Europa, dos países mais pobres para os países mais ricos, vulgo Alemanha - que está a favorecer a ascensão da extrema-direita e a fragilização da democracia.
E nada fazer para o evitar é levar a Europa ao abismo, com a cumplicidade até de um partido de esquerda. Como há décadas atrás. Mas talvez seja isso que se pretende, porque só isso justifica que se mantenha de pé todos os mecanismos que estão a alimentar essa vaga de fundo. Para quê mais democracia, se vai ser possível ter menos? "Mais Europa" vai significar "menos democracia".

A direita - e a direita do PS - sabem que, desde 1992, que a moeda única é coxa. Vítor Constâncio sempre o disse, sem que nunca a tenha deixado de defender, tanto em Portugal como em Frankfurt. E sabem que, sendo-o, enriquece os países mais ricos e empobrece os mais pobres, porque as economias fracas têm uma moeda forte, enquanto as economias fortes têm uma moeda fraca.
Essa esquizofrenia - ao mesmo tempo que se deu a liberalização da globalização - favorece a desigualdade e acentua-a. Favorece a tomada de activos pelos países ricos nos países pobres, acentuando a concentração da riqueza. Cria défices comerciais nas economias fracas, enquanto faz aumentar superávites nas economias fortes.
Esses défices têm de ser pagos e traduzem-se na subida de dívida privada. Essa dívida privada caminha no mesmo sentido da progressiva perda de competitividade externa da economia, que se transforma em menores crescimentos económicos, que se reflectem num maior desemprego estrutural, que se traduz em menores receitas fiscais para pagar maiores despesas públicas, decorrentes do aumento do desemprego, do empobrecimento e do envelhecimento relativo da população. Ou seja, tudo se transforma em maiores défices públicos que se transformam em maiores dívidas públicas.
A dívida vai rolando. Mas quando se dá uma crise, então os "mercados" - ou seja, quem nos países ricos está a financiar esses défices dos países pobres - exigem os seus retornos rapidamente. Agravam os "prémios do risco país"e tudo se torna impossível de pagar.
Então, os credores tudo fazem para evitar perder dinheiro. Sensibilizam quem está à frente dos Estados dos países ricos credores, que também não querem que nada mude e, muito menos, que tenham de cobrir essas perdas dos financiadores privados. Então tudo fazem para evitar a falência dos Estados pobres devedores porque sabem que isso corresponderia a penalizar quem emprestou aos Estados devedores. Para o evitar, zangam-se publicamente. Começam por culpar os Estados pobres devedores - que viveram acima das suas possibilidades, que foram gastadores, que não foram formiguinhas como no Norte, que não sabem gerir a sua casa, que não foram como uma dona de casa. E depois, no clímax da pressão (ajudada pelo BCE, com o corte do financiamento aos bancos nacionais), com os ditos "mercados" a pressionar nas taxas de juro, "resgatam" esses Estados dos países pobres.
Com o dinheiro do "resgate", os Estados dos países pobres pagam de imediato a quem lhes emprestou levianamente, que assim se escapam da aflição de perder dinheiro. Ficam sempre a ganhar, antes e após a crise. Dessa forma, passam a sua potencial perda (que adviria com uma reestruturação ou corte da dívida) para o Estado pobre, que dessa forma acumula mais dívida, a qual terá de pagar tudo. Mais não seja porque se repete à exaustão - e a comunicação social repete igualmente - aquelas leviandades de quem é pobre mas honesto, que está disposto a honrar todas as suas dívidas, independentemente de quem esteja no Governo.
Mas como pagar? Com políticas de austeridade sobre toda a população.
A dívida pública dos Estados dos países pobres aumenta, os encargos públicos com a dívida aumentam e fazem pressão para que o Estado encolha, cortando-se no investimento público e nas suas despesas correntes - serviços de Saúde, de Educação, de protecção social, na Segurança, etc. - , degradando-se em consequência a sua economia, o que prejudicará ainda mais as contas públicas, o que faz com que o Estado se encontre cada vez mais fragilizado, a necessitar de novos "resgates" num momento de crise...
O "resgate" é o mecanismo de redistribuição invertida de rendimento em favor de quem mais tem e em prejuízo de quem menos tem.
É desta forma que a austeridade se auto-alimenta e reproduz. Como um vírus. O vírus não pára até matar o hospedeiro. Só que tudo está controlado: se o hospedeirofor bem comportado, o dono do vírus abranda o aperto; se for mal comportado, mantém a pressão, nunca soltando a trela apertada, com acentuados conselhos para que faça reformas estruturais.
A direita e a direita do PS sabem isto. A direita e a direita do PS contam ser bem comportados. Mas sabem que não podem fazer nada para colocar em perigo este ciclo de exploração dos países pobres pelos países ricos e, com ele, os rendimentos de quem lucra com isto. E por isso evitam discutir este imbróglio. Preferem submeter-se e fazer com que todos paguemos a quem tem interesse nisso.
Possivelmente, as pessoas honestas de direita ou da direita do PS pensam que assim protegem melhor os portugueses. Que evitam o fecho dos bancos e as bichas à frente de um Multibanco. Mas se os portugueses soubessem que é assim que pensam, tenderiam - acho - a votar de outra forma. Como o fizeram na Grécia, no referendo. Aliás, é por isso que, de cada vez que isso se torna possível, todas as instituições dos poderosos países chantageiam os povos para que não adoptem uma posição de força, de rompimento, que faria o carrocel parar de repente, com prejuízo para todos, mas também para os emprestadores... E há povos que se deixam chantagear e outros não.
Aliás, o problema é que cada vez menos o fazem. E tendem a votar na Europa, só que nos ditos populismos que tanto parecem - repito, parecem - assustar o status quo. Em face disso, e em desespero, defende-se uma reforma do sistema político - vulgo eleitoral - para que a direita - e a social-democracia de direita - vençam sempre. Nada de novo. Em Portugal, tivemos isso durante 48 anos.
Ora, se isto assusta realmente, mais valia que se actuasse sobre as causas do problema. E nos deixássemos de folclore. Porque se repetirmos as mesmas políticas, é provável que tenhamos os mesmos resultados.
Mas tanta teimosia em nada fazer, faz pensar se não é isso mesmo que se pretende: uma fragilização da democracia.

Entre as brumas da memória


Dica (753)

Posted: 30 Apr 2018 01:46 PM PDT

Morte Assistida: “É chegado o tempo de alargar o campo dos direitos e da tolerância” (José Manuel Pureza)

«Bloco de Esquerda, PS e PAN propõem debate no parlamento sobre a despenalização da morte assistida para 30 de maio. “Os nossos projetos de lei são diferentes, mas são convergentes naquilo que é essencial: a despenalização da morte medicamente assistida”.»

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Taxista amigo...

Posted: 30 Apr 2018 10:00 AM PDT

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30.04.1975 – O fim da Guerra do Vietname

Posted: 30 Apr 2018 06:11 AM PDT

No dia 30 de Abril de 1975, a rendição de Saigão (actual Ho Chi Minh) pôs fim à Guerra do Vietname que durou quase duas décadas e se saldou, como se sabe, por uma estrondosa derrota dos norte-americanos.

Foi motivo para grandes contestações enquanto durou, despertou para a política toda uma geração, nos Estados Unidos e não só, esteve na origem de protestos um pouco por toda a parte. Até em Portugal, em tempos de fascismo e apesar de proibidas, tiveram lugar pelo menos duas manifestações em Lisboa, em 1968 e em 1970. Quem lá esteve lembra-se certamente da polícia a pé e a cavalo, na Duque de Loulé (era lá que se situava então a Embaixada dos EUA), a dispersar tudo e todos à bastonada. Mas confesso que só interiorizei verdadeiramente a dimensão do que foi o conflito em questão quando estive no Vietname.

Nunca esquecerei o War Remnants Museum, um dos mais terríveis que conheço, onde se encontram muitas imagens, instrumentos de tortura e outros pavorosos testemunhos da ferocidade de que o homem foi e é capaz. Foi muito difícil percorrê-lo depois de ter visitado Cu Chi, «Terra de ferro, cidadela de bronze», como se autodenomina, localidade a 60 quilómetros a Noroeste de Ho Chi Minh, que se orgulha de ter contribuído de um modo muito especial para a vitória da «Guerra anti-Yankees». É lá que se encontram 200 quilómetros de túneis que serviram de vias de comunicação, de esconderijo, de hospitais, e até de salas de parto, para os resistentes vietnamitas. Se tinha lido varias descrições, o que vi toca os limites do inacreditável.

E, para além de tudo isto, é quase impossível perceber como é que os americanos alguma vez acreditaram que podiam ganhar aquela guerra, apesar dos dois milhões de mortos que ficaram para trás.

Dois vídeos, um sobre o Museu, outro sobre os túneis de Cu Chi:



E de preferência com bonecos

Posted: 30 Apr 2018 03:19 AM PDT

(Hugo van der Ding no Facebook)