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sexta-feira, 25 de maio de 2018

A classe média é o centro da social-democracia

CONGRESSO DO PS

Eurico Brilhante Dias

24/5/2018, 15:31

A liberdade é essencial à igualdade; sem mercado a liberdade fica condicionada. Sem Estado não há garante que a liberdade de mercado promove uma sociedade livre e justa. A terceira via sempre foi isso

Um dia uma jornalista perguntou-me – como perguntou então a outros deputados – o que era a classe média. E eu respondi: ““A classe média é definida em função do rendimento do agregado familiar. É um conceito associado a quem não vive de transferências sociais, mas essencialmente do rendimento do trabalho, e que não tem acumulação de património que lhe permita fazer desse património forma de vida”. Mais adiante disse: “É aquele que ganha 800 euros, tem despesas com habitação própria, com educação dos filhos, com transportes, recorre ao Serviço Nacional de Saúde, vive essencialmente do trabalho e dos rendimentos do trabalho”. (inObservador). Pode ser curto, não será seguramente exaustivo e não definirá um perímetro conceptual absolutamente claro, mas era, nesse momento, uma aproximação.

A vida de quem trabalha, com um salário médio (em torno dos 876 euros), quem tem poucos apoios sociais (transferências), que recorre ao transporte (próprio ou coletivo) para ir trabalhar e que tem, no serviço nacional de saúde, na escola pública e na segurança social, a rede fundamental de vida. Há quem ganhe mais e pertença à dita classe média, ainda que tenha níveis de poupança baixos e sobreviva, no essencial, do seu trabalho.

Essa massa de gente – com que muitos se identificam –é o verdadeiro barómetro da situação do país, da sua economia, do seu Estado Social, e sente, de forma dura, os momentos em que o Estado falha. Quer porque o rendimento líquido é afetado por desequilíbrios graves, com impacto doloroso no poder adquisitivo (salários e pensões), quer porque os serviços públicos se deterioram, desvalorizando a troca que fazemos entre rendimento disponível (depois de impostos) e o acesso à saúde, à educação e a outros bens públicos como justiça, segurança e de defesa.

É impossível desvincular a qualidade de vida da classe média da natureza do vínculo laboral; não será por acaso que entre socialistas e democratas se encontram as forças trabalhistas – e de defesa do mundo do trabalho. O acesso e a segurança no emprego foram sempre centrais na vida daqueles cuja satisfação das necessidades mais básicas sempre dependeu do rendimento do único meio de produção que têm disponível: o trabalho.

As forças progressistas sempre viveram centrados na trilogia em torno da liberdade, da solidariedade e da fraternidade, onde a dimensão coletiva e individual sempre conviveram. Dela nasce uma ideia, uma terceira via, a economia social de mercado, que inscrevemos no Tratado de Lisboa, e que em grande medida partilham, como pedra angular do modelo social europeu, com os democratas cristãos. A ideia central de que a liberdade e a justiça social são condição para sociedades melhores, mais prósperas e decentes, e que todos os coletivismos forçados ou liberalismos castigadores dos mais fracos são vias de empobrecimento. A ideia de liberdade individual e de uma ética do coletivo, da comunidade, são características fundamentais da terceira via; de uma sociedade que avança em conjunto; mas, sublinhe-se, avança, rompe fronteiras, não estagna num atavismo coletivista que limita a criatividade e o empreendedorismo económico e social do indivíduo. A classe média é filha da social-democracia – e da democracia cristã. É por isso que a partir desta dialética entre o coletivo e o individual – num internacionalismo militante, em torno das grandes causas das sociedades modernas, que os partidos socialistas e sociais-democratas devem olhar para as causas comuns do desenvolvimento.

A defesa deste espaço de progressão social, de geração e distribuição de riqueza, de construção coletiva com respeito pela identidade e a diferença, obriga-nos a avançar com as forças que queiram defender radicalmente a democracia, a globalização e a integração económica, o desenvolvimento sustentável, assim como discutir os impactos da digitalização e a robotização sobre o trabalho, a demografia e a sustentabilidade do Estado Social, ou a coesão territorial como condição para a coesão social. Os nossos temas de futuro, coletivos, com impacto na proteção e construção das classes médias. As classes médias que precisam de Estado, mas que são também o ‘pulmão’ fundamental da inovação económica e social, e que precisam da liberdade de escolha para construir os seus projetos de vida (a sua ambição).

O Estado empreendedor é necessário, como bem explica a Mariana Mazzucatto, mas deve centrar-se nas atividades de rutura tecnológica, onde a incerteza (e não o risco) predomina; mas não deve cercear a capacidade inovadora do mercado, sob pena impedir que o indivíduo, também ele, assumindo risco, possa ser agente de boa alocação de recursos, e, acima de tudo, de ser ele próprio protagonista de inovação económica e social.

A liberdade é essencial à igualdade; sem mercado a liberdade fica condicionada. Sem Estado não há garante de que a liberdade de mercado promove uma sociedade livre e justa. A terceira via sempre foi isto. Não somos, nem seremos, liberais, que em torno do mercado constroem a sociedade; nem agentes de padronização estatizante que castra a capacidade de inovar e avançar que a liberdade de iniciativa proporciona.

Em grande medida é aqui que tem estado o cerne do êxito da governação do PS. Um programa político europeísta e internacionalista, de defesa do multilateralismo para a resolução das grandes questões das sociedades contemporâneas, contra o protecionismo (económico e social), que promove e não estigmatiza o investimento privado, e que reforça o Estado social (ex. nas prestações sociais, na reposição de salários e pensões, na proteção dos trabalhadores com vínculos mais precários). Um desígnio coletivo que pode ser apropriado pela classe média.

Nunca fizemos política de ‘nichos’, nem promovemos a confrontação, e as vias unilaterais e excludentes, como forma de fazer política. A classe média precisa de escolha, mas precisa também da estabilidade que só os consensos de regime tornam possível. A abertura que nenhum enquistamento à esquerda ou a à direita permite. Nós somos, sempre fomos, a terceira via: desde Soares a Costa. Da Fonte Luminosa aos acordos de governabilidade à esquerda.

Membro do Secretariado Nacional do PS

Entre as brumas da memória


Dica (762)

Posted: 24 May 2018 01:30 PM PDT

Why China Is Winning the Trade War (John Cassidy)

«As confusion reigns, internal recriminations have begun. The rival factions in the Trump trade team are squabbling bitterly. On Capitol Hill, a number of Republicans, led by Senator John Cornyn, of Texas, have joined Democrats in signing a letter criticizing Trump’s effort to ease the restrictions against ZTE. Reflecting fears that the Administration might be about to make further concessions on the sale of sensitive technologies to the Chinese, the bipartisan letter also warns that “any such move would bolster China’s aggressive military modernization and significantly undermine long-term U.S. national security interests.”

Somewhere in Beijing, a senior Chinese official is probably smiling.»

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Prémio Nobel da Paz?

Posted: 24 May 2018 10:30 AM PDT

Las Abuelas de Plaza de Mayo, nominadas al Premio Nobel de la Paz.

Seria tão justo, mas tão justo!
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Apelo às Emissoras Televisivas

Posted: 24 May 2018 08:26 AM PDT

Nos últimos anos temos assistido a um desvirtuar total do desporto enquanto actividade de valores, de humanismo. A luta de palavras invadiu a normalidade dos noticiários e as agressões verbais tornaram-se a norma num ecossistema que parece alimentar-se dessa mesma violência.

Abarcando cada vez mais espaço nas mentalidades, os programas de comentário desportivo levam, muitas vezes, ao limite do inimaginável o prazer do azedume, da acusação, da maledicência. É a prática constante de uma violência verbal que alimenta essa voragem em que cada vez mais cidadãos se encontram, fechados nesse clima de intriga, ruminando um ódio que pode eclodir a qualquer momento.

Com uma grelha televisiva centrada nestes debates, muitos jovens não resistem à tentação dessa presença contínua nas televisões, sorvendo uma cultura que gera o ódio, que incita à violência e que desagrega a sociedade como um espaço de fraternidade e de paz.

Pelas consequências vistas nos últimos anos; Pelas consequências vistas nos últimos dias; Porque é preciso restituir dignidade aos telespectadores, lançamos um APELO aos canais televisivos para que criem mecanismos de regulação ética que enquadrem estes debates, e para que reduzam o tempo de exposição das dimensões colaterais ao futebol, fomentando uma cultura de respeito e de tolerância, sendo esses programas instrumentos de diálogo e de compreensão através do debate livre, e não ferramentas de disseminação do ódio em que parte do país se acha mergulhado, moldando mentalidades.

21 de Maio de 2018.

Promotores:

Paulo Mendes Pinto, Prof. Universitário / António Serzedelo, Activista cívico / Catarina Marcelino, Deputada / José Eduardo Franco, Prof. Universitário / Patrícia Reis, Jornalista e escritora / Pedro Abrunhosa, Músico

Assinam:

Alexandre Castro Caldas, Médico / Alexandre Honrado, Escritor / Anabela Freitas, Presidente da C.M. de Tomar / Anabela Mota Ribeiro, jornalista / Annabela Rita, Directora da Associação Portuguesa de Escritores / Ana Umbelino, Vereadora da C. M. de Torres Vedras / António Araújo, Prof. Universitário / António Avelãs, Prof. Universitário / António Borges Coelho, Prof. Universitário / António Pinto Pereira, Advogado / Berta Nunes, Presidente da Câmara Municipal de Alfândega-da-Fé / Carlos Bernardes, Presidente da C. M. de Torres Vedras / Carlos Moreira Azevedo, Bispo / Carlos Vargas, Gestor Cultural / Cipriano Justo, Médico / Cláudia Horta Ferreira, Vereadora da C. M. de Torres Vedras / Elísio Summavielle, Gestor Cultural / Eugénio Fonseca, Presidente da Cáritas Portuguesa / Fernanda Câncio, Jornalista / Fernando Pereira, Cantor / Fernando Ventura, Frade Franciscano Capuchinho / Francisco Sarsfield Cabral, Jornalista / Graça Morais, Pintora / Henrique Pinto, Fundador-Presidente da Impossible – Passionate Happenings / Jaime Ramos, Médico, Fundador da ADFP / João de Almeida Santos, Prof. Universitário / João Couvaneiro, Vice-Presidente da C. M. de Almada / João Paulo Leonardo, Director do Agrupamento de Escolas Baixa-Chiado / Joaquim Franco, Jornalista / Joaquim Moreira, Quórum dos Setenta da Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias / Jorge Proença, Director da Fac. de Ed. Física e Desporto da Un. Lusófona / José Maria Brito, Pe. Jesuíta / José Vera Jardim, Jurista / Mafalda Anjos, Jornalista / Mário Beja Santos, Escritor / Manuel Sérgio, Provedor de Ética no Desporto / Mendo Castro Henriques, Prof. Universitário / Miguel Real, Escritor / Nidia Zózimo, Médica / Nuno Camarneiro, Escritor / Nuno Júdice, Poeta / Patrícia Fonseca, Jornalista / Paulo Borges, Prof. Universitário e Presidente do Círculo do Entre-Ser / Paulo Fidalgo, Médico / Rachid Ismael, Director do Colégio Islâmico de Palmela / Raul Castro, Presidente da C. M. de Leiria / Richard Zimler, Escritor / Rui Martins, Vereador Suplente na C. M. de Lisboa / Sofia Lorena, Jornalista / Tânia Gaspar, Dirigente Associativa / Zara Pereira, Presidente da Associação Humano

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O futuro do SNS

Posted: 24 May 2018 03:03 AM PDT

«Jacques Coeur, mestre que criou moeda para as necessidades guerreiras de Carlos VII de França, chegou a ser considerado um alquimista. Dizia-se que ele conseguia transformar metais básicos em prata. Talvez não o conseguisse fazer, mas conseguia criar moeda que deixava muita gente rica, incluindo o rei. Mas o seu fascínio pela amante do rei, Agnès Sorel, determinou o seu destino. Ela apareceu morta, envenenada, e Coeur foi acusado pelos inimigos e por outros, que lhe deviam dinheiro, da sua morte. António Arnaut, alquimista que criou o SNS, deixou um legado e criou uma legião de inimigos dissimulados. Não teve o trágico destino de Coeur, mas foi colocado nas margens do poder. O SNS é talvez o mais importante legado do 25 de Abril, para lá da democracia. Ou melhor, foi o alargamento da democracia à saúde. Não deixa de ser curioso verificar como o desaparecimento de Arnaut coincide com uma anemia acelerada do SNS e do seu financiamento, algo que não é de agora. Mas que está a servir às mil maravilhas para algum populismo ligado ao sector da saúde criar uma imagem favorável a novos tempos.

A crise do SNS tem que ver com a do Estado social, que chegou bem tarde a Portugal e que caminha inexoravelmente para o seu fim, mesmo com "face liftings". Não há, nem vai haver, dinheiro público suficiente dos contribuintes para suportar as crescentes despesas da saúde (como das reformas). Vai-se mascarando as coisas, mas em momento de contenção orçamental, o que tapa de um lado, destapa-se do outro. A saúde é muito cara. Só que nada substitui o SNS como forma de prestar os serviços de primeira linha e de saúde que não é rentável para os privados (ou que os com menos posses não podem pagar). Este estrangulamento tem que ver com as novas linhas com que se cose a economia global, onde vão escasseando as receitas para alimentar serviços complexos e caros como é o SNS. Esse é um dilema do Ocidente em geral e de Portugal em especial. Que saúde estará o país disposto a pagar no futuro? E qual vai ser o lugar do vital SNS nele?»

Fernando Sobral

quinta-feira, 24 de maio de 2018

A guerra económica contra Gaza

por estatuadesal

(Alexandre Abreu, in Expresso Diário, 23/05/2018)

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Mais de cem palestinianos foram assassinados pelas forças armadas israelitas nas últimas semanas junto à fronteira entre Gaza e Israel em circunstâncias em que não representavam qualquer ameaça. É imensamente trágico que um Estado que resultou de uma das maiores, se não a maior tragédia do século XX – o Holocausto – seja hoje o perpetrador de quotidianas violações de direitos humanos, assentes numa cultura de superioridade racial e desumanização dos palestinianos.

Não é possível ouvir responsáveis israelitas a justificar os assassinatos com o argumento que ‘não conseguimos pôr todos os manifestantes na cadeia’ sem escutar ecos do passado e sentir um calafrio na espinha.

Porém, a violência da ocupação israelita não se limita àquela que é directamente perpetrada pelas forças armadas. Igualmente terríveis, imorais e ilegais – à luz do direito internacional – são os constrangimentos exercidos sobre a viabilidade dos territórios ocupados palestinianos. O caso de Gaza, que é um verdadeiro campo de concentração a céu aberto, não é único, mas é o mais chocante. A grande maioria dos seus dois milhões de habitantes não pode entrar ou sair do território, cuja área é semelhante ao concelho de Sintra, em resultado do fecho das fronteiras terrestres e do bloqueio marítimo e aéreo israelita. Esse mesmo bloqueio, imposto por Israel desde 2007, implica igualmente que as perspectivas de viabilidade económica e social do território sejam inexistentes.

Israel limita enormemente a entrada e saída de bens, incluindo a importação de materiais de construção, alimentos e até medicamentos. As exportações também cessaram praticamente após 2007. Segundo uma estimativa do Banco Mundial, o PIB do território caiu mais de 50% em resultado do bloqueio. A indústria anteriormente existente foi dizimada. A taxa de desemprego, de mais de 40%, é a mais alta do mundo. Cerca de 40% da população, três vezes mais do que na Cisjordânia, vivem em situação de pobreza. Estes não são problemas de subdesenvolvimento, mas de ‘des-desenvolvimento’ deliberadamente imposto por Israel, para usar o termo de um relatório das Nações Unidas.

Imagine o que é viver sem acesso a energia durante mais de vinte horas por dia durante anos em resultado do racionamento de combustível por parte de uma potência ocupante. Imagine uma situação em que apenas 10% da população têm acesso a água potável em condições de segurança. Imagine um território em que os pescadores são alvejados pela potência ocupante quando se afastam mais de 5km da costa para tentarem aceder a zonas de pesca menos exauridas. Em que, segundo um estudo da Organização Mundial da Saúde, 65% dos bebés com menos de um ano sofrem de anemia.

A situação que se vive em Gaza, perante a ignorância ou indiferença da maior parte do planeta, é a de um território sujeito a uma guerra económica que constitui, na descrição do Comité Internacional da Cruz Vermelha, uma forma de punição colectiva. O relator especial das Nações Unidas para a situação dos direitos humanos nos territórios ocupados caracterizou o bloqueio israelita como um crime contra a humanidade, para além de uma violação reiterada do direito internacional. Nos anos ’80 do século passado, o apartheid sul-africano pôde ser desmantelado em grande medida graças às sanções internacionais e ao boicote dos cidadãos de todo o mundo. Hoje, devemos todos mobilizar-nos para corrigir esta outra mancha na consciência da humanidade.

Francisco Assis – viagem sem regresso

por estatuadesal

(Carlos Esperança, 24/05/2018)

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O eurodeputado Francisco Assis tem um passado político demasiado relevante para que as suas legítimas opções possam ser ignoradas, dentro e fora do PS.

Quem, como eu, se reclama social-democrata, não pode rever-se da deriva neoliberal que se acentua no velho militante do PS e, muito menos, na reincidência com que se identifica com as aspirações da direita portuguesa.

A entrevista ao Público desta terça-feira foi um serviço aos partidos que o usaram, quando da formação do atual Governo, e o dispensaram logo que deixou de ser útil. E não se arrepende do mal que fez ao partido e ao País, com o discurso catastrofista e anticomunista primário, ignorando a legitimidade do voto, igual para todos os partidos.

Contra o seu desejo, o BE, o PCP e o PEV pouparam o PS à chantagem da direita, de que estava refém, onde o PSD ameaçava ser a eterna charneira.

Se há uma dívida de gratidão, é do PS aos partidos à sua esquerda e não o contrário, mas Assis insiste em excluir da vida democrática os partidos que lhe apraz sem se dar conta do seu défice democrático, do benefício da atual solução governativa e dos malefícios do Governo anterior.

Inesperada é a insistência na disponibilidade para continuar eurodeputado de um PS contra o qual foi o mais ruidoso adversário, não ter uma palavra de condenação sobre o Governo dos partidos que prefere, e persistir no que é mais caro à direita para envenenar o funcionamento das instituições democráticas.

A insistência absurda na recondução da PGR, que a própria reiteradamente considerou função de um único mandato, desejo também antes manifestado pelo atual PR, é uma provocação de quem deseja ser satélite da concorrência. Na véspera do Congresso do PS é porta-voz do PSD.

Francisco Assis perdeu a visão política e o pudor, aliado aos trânsfugas que viajaram da extrema-esquerda para os braços da direita caceteira e miguelista, na política, no jornalismo e na opinião remunerada. Ao dizer que este governo tem um prazo de validade, não se limitou a dizer o óbvio, aliás com limites legais, revelou apenas que excedeu o seu.

É natural que mantenha ainda alguma influência dentro do PS, mas suicidou-se perante o País, ética e politicamente. É deprimente o fim, mas a direita costuma pagar favores com avenças.

O ESPETÁCULO VAI COMEÇAR

por estatuadesal

(In Blog O Jumento, 24/05/2018)

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Ainda que nem se tenha reparado o país está sendo informado sobre o que se passou em Alcochete com base na informação constante no processo, isto é, graças a mais uma violação do segredo de justiça, algo muito frequente nos casos investigados a partir da capital. É raro o processo cuja investigação seja feita a partir de Lisboa que não dê lugar a este tipo de informação, até faria sentido que fosse acrescentado um canal à grelha dos canais televisivos transmitidos por cabo, precisamente para fornecer esta informação.

A última novidade é a exibição de fotogramas, criteriosamente selecionados para passar uma imagem do assalto a Alcochete, como se estivéssemos perante uma operação de comandos do DAESH, só não se consegue perceber muito bem nas imagens se os terroristas traziam consigo metralhadoras Ak 47. Como consta que foram encontradas armas nos carros podemos imaginar o pior.

Tudo isto tem alguma graça pois não se percebe o que se pretende, se justificar a prisão preventiva de 23 jovens com o argumento de serem terroristas, assustar a comunidade provocando alarme público para justificar os processos e argumentação dos investigadores ou passar a mensagem de podemos dormir descansados porque temos alguém que não dorme para poder conduzir a tarefa de higienização da sociedade, designadamente do meio político e agora, do futebol.

Fica-se com a sensação de que depois de se ter depurado a classe política alguém se lembrou de que seria a hora de limpar o meio futebolístico e, no mesmo dia em que somos bombardeados com o pouco que há no processo do assalto do DAESH a Alcochete, ficamos também a saber que Bruno de Carvalho é acusado por um dos colegas da direção do SCP, que o abandonou, de ter ficado com luvas no negócio de Bryan Ruiz. A conclusão é óbvia, zangam-se as comadres e sabem-se as verdades; é bom que o Bruno de Carvalho se cuide pois a esta hora já devem estar a acrescentar uma cama ao lado de Vale e Azevedo.

Há no ar  a ideia de que para o derrube do “ditador de Alvalade” não vai ser necessário encomendar ao Trump uma operação militar ao estilo da que derrubou Noriega, no Panamá. Por cá, temos quem faça isso com menos tiros e tabefes do que se ouviram em Alcochete e pela informação que vai saindo nos jornais já se percebeu a mensagem.

Para que a promiscuidade entre o mundo da política e o mundo da bola ficasse completa só faltava o envolvimento de magistrados.  Depois de políticos, banqueiros e empresários só faltavam os magistrados para que o espetáculo de mais uma ópera bufa tivesse início.