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quinta-feira, 31 de maio de 2018

Entre as brumas da memória


Dica (764)

Posted: 30 May 2018 10:30 AM PDT

Harakiri, Italian Style (Jan Zielonka)

«There is virtually no chance that Mattarella’s new pick to form a government, Carlo Cottarelli, will succeed in his mission. There will be new elections soon, and all polls indicate that the Northern League will gain the most from them. The same polls show that liberal parties are going to be pushed further into the margins of Italian politics. Democracy is obviously not only about elections, but depriving electoral winners of the possibility to form a government has little to do with democracy either. In an atmosphere of distrust and chaos, populists can only thrive. Prepare for an even more bumpy period in European politics. It didn’t have to be this way.»

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A fotografia que se tornou viral

Posted: 30 May 2018 05:50 AM PDT

… foi tirada ontem em frente à AR, enquanto eram discutidos os Projectos de Lei sobre morte assistida / eutanásia. Escolhida pelo Expresso diário como capa, encheu também Facebook e Twitter.

A fotografada é estudante de Medicina em Lisboa e está agora a afirmar que não deu autorização para que a sua imagem fosse divulgada e a pedir que seja retirada. Azar: pensasse antes de se exibir NA RUA. Talvez aprenda…

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A Lisboa de Medina

Posted: 30 May 2018 02:39 AM PDT

«Vi há dias um moderno e excitante vídeo da Câmara Municipal de Lisboa, no Instagram, sobre o próximo paraíso em Lisboa: os terrenos da antiga Feira Popular. A acreditar na promoção vai haver ali haver muitos apartamentos, escritórios e creches. Umas poucas árvores e muita relva, para dar um ar muito refrescante. Não faltarão candidatos a ter ali uma casa com vista privilegiada para ver e ouvir, de perto, aviões a rasar os prédios de minuto a minuto, rumo ao aeroporto da Portela.

É claro que também há pormenores menos idílicos: com a pressão automóvel nas avenidas da República e 5 de Outubro, que já é caótica a certas horas, não se imagina o que virá a ser a zona de Entrecampos: um purgatório lisboeta, que passará a fazer parte dos circuitos turísticos? Pior: trará muito mais poluição, numa zona que os efeitos de um aeroporto superlotado começam a tornar irrespirável.

No fundo, esta é a cidade imobiliária e turística, idealizada por Fernando Medina e Manuel Salgado. Uma "cidade pragmática", na senda do discurso oco e redondo do presidente da CML no Congresso do PS.

E ainda Medina quer ser o próximo líder o PS! Imagina-se a "ideologia Medina" a tomar conta de todo o Portugal: uma imensa Lisboa histórica sem portugueses (ou só como actores, contratados como figurantes para parecer "very typical") e só com franceses e brasileiros ricos.

A Lisboa que está a ser criada por Medina e Salgado é digna de muitos episódios dos "Simpsons". Sob um ar de pretensa modernidade, este "pragmatismo" sem alma e amoral está a destruir o que diferenciava Lisboa e a torná-la uma urbe sem vida própria, sem cultura, sem inovação e sem qualidade de vida. Será um grande legado que mais tarde choraremos. O espaço da Feira Popular poderia ser utilizado em parte para ser um jardim a sério, com árvores sólidas, para dar ar puro a uma zona poluída. Se fosse até poderíamos propor que o jardim se chamasse Fernando Medina ou Manuel Salgado. Para Sá Fernandes não ficar triste, poderíamos pôr no local um canteiro com o seu nome.»

Fernando Sobral

quarta-feira, 30 de maio de 2018

A Europa e o abismo



por estatuadesal

(Marco Capitão Ferreira, in Expresso Diário, 30/05/2018)

capitaoferreira

(Esta é a discussão que, por cá, ninguém quer fazer, pelo menos os partidos maioritários, PS e PSD. Mas, como chega sempre o dia da nossa morte - não se sabe é quando -, assim também lá chegará o dia em que teremos que enfrentar a realidade. Por enquanto, como bem diz o povo, "enquanto o pau vai e vem, folgam as costas". No caso de Portugal, em vez de "pau", talvez seja melhor dizer turismo, juros baixos, etc.

Comentário da Estátua, 30/05/2018)


Itália é apenas o último episódio na degradação contínua de um aspeto central da construção Europeia e da moeda única: a sua compatibilidade com o funcionamento das Democracias.

Diz muito do monumental falhanço que é a arquitetura do Euro que, por estes dias, entre a proteção da ortodoxia financeira inerente às regras e a garantia do direito dos povos a decidirem o seu futuro, faz com que prevaleça em muitas cabeças a segunda.

Como se já não bastasse que, pela segunda vez desde 2011, em Itália se vá nomear um Governo “tecnocrático”, que é uma palavra simpática para dizer que se vai nomear alguém sem legitimidade democrática, Bruxelas decidiu piorar as coisas com o habitual tom paternalista e ameaçador e as subsequentes retratações mais ou menos tíbias.

O guião é já bem conhecido, os (ir)responsáveis europeus de um lado, e os mercados do outro, num ciclo mutuamente alimentado, com tal grau de sincronia que nos podemos interrogar se ainda sabemos onde começa o poder económico e acabam as instituições europeias, ou se a sua fusão é já completa, criam a própria realidade para a qual avisam: Instabilidade nos mercados. Juros mais altos. Bolsas em queda.

A solução política não agrada ao binómio Bruxelas/mercados e, mesmo sem um único ato real de governação, a mera possibilidade da sua existência, lança a instabilidade nos mercados, como se alguma coisa de substantivo tivesse mudado.

Os mercados são instrumento de Bruxelas, ou Bruxelas é o instrumento dos mercados. Nenhuma das duas é uma coisa boa. E, infelizmente, parecem cada vez mais verdadeiras.

Hoje é Itália, ontem foi a Grécia. Até nós tivemos direito a uma pressão elevadíssima aquando da formação do atual Governo. Eu ainda me lembro dos avisos de que teríamos um segundo resgate, sanções, orçamentos “chumbados” em Bruxelas. Porque a nossa solução de Governo não agradava. Também me lembro de o Presidente da República à data ter “ameaçado” com o fim do Mundo e/ou um Governo de gestão de Passos Coelho, mesmo se chumbado (como foi) por uma maioria no Parlamento, que duraria meses ou mesmo um ano. Há sempre colaboracionistas oportunos nestas coisas.

É assim que se têm plantado e regado as sementes dos populismos e dos autoritarismos que vão despontando por aí: o mais provável resultado desta última incursão pelo disparate europeu é que Itália venha a ser governada por uma maioria agora reforçada de uma mescla de extrema-direita e populistas. Quem desconhece a história pode não se lembrar, mas quando Hitler chegou ao poder já Mussolini governava desde 1922, e Itália já era uma ditadura desde 1925. Vai fazer um século. Já tínhamos tido tempo de o aprender.

Vamos cortar a conversa a direito: se a União Europeia e o Euro não são compatíveis com a Democracia, o projeto europeu matou-se a si próprio. Porque a Europa nasce das Democracias. Nasce da vontade de partilhar valores, de afirmar a liberdade, de garantir a paz. Se não serve para isso, não serve para nada.

O Congresso do PS, as televisões e os cromos da minha caderneta

por estatuadesal

(Carlos Esperança, 29/05/2018)

barreto_cavaco

O congresso de qualquer partido é importante, não apenas para os militantes, para todos os cidadãos que se interessam pela res publica.

Sendo o PS o partido do Governo aumenta o interesse pelos seus principais atores e as propostas que apresentem, malgrado a liturgia que as ofusca ou o ruído que provocam. O que eu dispenso é a explicação do que é dito por profissionais da exegese política e a sobreposição destes ao filme dos congressos. Representam para os telespetadores o que os tradutores gestuais são para os surdos-mudos, às vezes com a qualidade do intérprete que se notabilizou num ato solene da África do Sul, a gesticular sem nexo.

É, pois, por uma questão de salubridade mental que assisto, em diferido, aos congressos, limitando-me à imprensa escrita. Evito as colunas que explicam o que leio, e divirto-me com outras leituras. Exultei com o aparecimento da múmia de Cavaco Silva, receosa de que a eutanásia seja retroativa, a declarar que, nas próximas eleições, vota PCP ou CDS, isto é, por exclusão, em partidos que sejam contra a legalização da eutanásia.

No sábado, João César das Neves, talibã romano que, em matéria de fé, nunca desilude, zurzia «a liberalização da reprodução artificial, a subsidiação do aborto, a banalização do divórcio, a educação sexual libertina, o casamento homossexual, a promoção das uniões de facto, o laxismo na mudança de sexo e o planeamento da eutanásia e do suicídio assistido já na próxima semana.» [sic]. E, nessa homilia semanal no DN, numa tirada de humor negro, deixa esta pérola:

«Se vamos permitir matar crianças no seio das mães, porquê limitar às 24 semanas? O aborto devia ser permitido pelo menos até aos 18 anos; afinal um adolescente gera muito mais despesa e problemas do que um bebé. Se a definição de casamento depende apenas do amor, porquê reduzir a extensão aos homossexuais? Porque não autorizar incesto, poligamia, até o matrimónio com animais? Será que somos caninofóbicos ou felinofóbicos? Porquê confinar a eutanásia ao sacrifício físico? Porque não permitir eutanasiar pobres, deprimidos, criminosos e tantas outras formas de sofrimento?»

No domingo foi António Barreto quem me deliciou. Dissidente do PCP para a extrema-esquerda, viajou através do PS para a AD, como Renovador útil. Falhada a liderança do PS, onde era o seu único apoiante, o sucessivamente marxista, estalinista, soarista, eanista, cavaquista, soarista (de Alex. Soares dos Santos), e ora marcelista, é o verdugo do partido que o fez ministro e lhe permitiu verter o ódio à reforma agrária:

«Na verdade, hoje, o PS existe por um acaso estatístico e um golpe de sorte irrepetível. Não fora o período de austeridade, talvez o PS não fosse hoje mais do que uma coleção de cromos.».

Cavaco, César das Neves e Barreto hilariam. São cromos de estimação. Não valem uma missa, mas substituem um congresso.

Gostei de ver



por estatuadesal

(In Blog O Jumento, 30/05/2018)

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Gostei de ver. Apesar de com a passagem do tempo já estarmos habituados a ver muitas coisas e de ainda não ter conseguido ver um porco a andar de bicicleta, ainda consigo ser surpreendido sem duvidar de que os olhos e os ouvidos me estão a proporcionar uma perceção da realidade.

Vi o homem dar os primeiros passos na Lua, vi o Álvaro Cunhal reformar-se, vi cair o Muro de Berlim, vi a Zita Seabra aderir ao PSD e o delfim de Cunhal, Vital Moreira, ir para o PS, vi a Ana Gomes ir ao congresso e não falar do Sócrates, vi o Negrão chegar a deputado e a líder parlamentar, vi o Passos ser primeiro-ministro, mas mesmo depois de tantas visões a realidade ainda me surpreende.

É verdade que não cheguei a ver o Jerónimo aplaudir a Cristas, esta a aplaudir o Jerónimo ou os dois a juntarem as suas palmas radiantes pelo estranho encontro entre o defensor dos taxistas e a esposa do gestor da Uber. Mas vi uma geringonça com três pares de pedais, a circular alegremente pelos Passos Perdidos graças à energia motora das pernas do Negrão, do Jerónimo e da Cristas.

Não vi o Bernardino Soares sugerir aos parlamentares que em vez da eutanásia o país usasse os métodos paliativos do seu amigo Kim da Coreia do Norte, com os velhos divertidos a levarem com tiraços de antiaéreas. Talvez um dia ainda veja, mas quando vi o António Filipe subir ao púlpito para fazer dele os argumentos da extrema direita, criticando os que querem ajudar a matar em vez de ajudar todos a morrer lenta e alegremente em cuidados paliativos, acabei por ter a esperança de um dia destes ir a Fátima mais o deputado Manuel Tiago para ver a próxima aparição da Nossa Senhora.

As promessas de cuidados paliativos tão bons que ninguém quer morrer dá-me esperança de um dia destes ver uma notícia dando conta do primeiro nascimento de uma criança filha de utentes dos cuidados paliativos do Hospital de Santa Maria. Agora acredito em tudo e percebo como o pensamento humano é volátil, como as ideologias já não são o que eram e como a direita portuguesa consegue entender-se tão bem com a esquerda mais conservadora, sem quaisquer negociações ou acordos.

Ontem vi um padre dizer na TVI24 que ainda não tinha perdido a esperança de conquistar a deputada Isabel Moreira. Começo a acreditar que o padre pode ter motivos de esperança, ainda que seja mais difícil ele conquistar a Isabel Moreira do que eu ver na próxima campanha legislativa a Cristas a visitar lares acompanhada pelo Jerónimo de Sousa.

Montenegro acusa Rio de ter pressionado deputados do PSD

O líder parlamentar considera que Rio "atentou" contra a história do PSD ao sugerir que estava a "fazer um enorme esforço para não impor a disciplina de voto" aos deputados do partido.

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"Ouvir Rui Rio dizer que estava a fazer um enorme esforço para não impor a disciplina de voto é para a nossa história um atentado"

JOÃO PORFÍRIO/OBSERVADOR

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Luís Montenegro, antigo líder parlamentar do PSD e assumido opositor de Rui Rio, acusou o presidente social-democrata de ter pressionado os deputados sociais-democratas a votarem favoravelmente a despenalização da morte assistida.

No espaço de debate que divide com Carlos César na TSF, o social-democrata criticou a gestão que Rio fez de todo o processo.

[O líder do PSD] acusou não sei exatamente quem de estar a pressionar os deputados do PSD, com isso estando ele próprio a fazer uma pressão direta sobre os seus deputados para seguirem a posição dele”, afirmou Montenegro.

O social-democrata chegou a mesmo a dizer-se “indignado” com “a forma desajeitada, desastrada, como o líder do PSD enfrentou o debate nos últimos dias”. “Ouvir Rui Rio dizer que estava a fazer um enorme esforço para não impor a disciplina de voto é para a nossa história um atentado”, condenou o ex-líder parlamentar do PSD.

Recorde-se que Rui Rio defendeu abertamente a despenalização da eutanásia (contra a vontade maioritária da sua bancada parlamentar) e criticou publicamente as manifestações de várias figuras ligadas ao partido (Cavaco Silva, Pedro Passos Coelho, Pedro Santana Lopes ou Paulo Rangel, por exemplo) contra os quatro projetos de lei que foram a discussão na terça-feira. O “chumbo” dos diplomas acabou por representar, por isso mesmo, uma derrota para Rui Rio.

Carlos César, esse, não deixou de aproveitar a falta de sintonia entre Rui Rio e a bancada social-democrata, classificando de “errática e pouco esclarecida” a liderança do ex-presidente da Câmara do Porto.

“Temos aqui uma nova fase que se inicia ao centésimo dia do calvário de Rui Rio. Um partido que não se entende é um partido que dificilmente se poderá entender para governar o país”, resumiu o socialista.