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domingo, 3 de junho de 2018

Um imenso teatro de fantoches

Novo artigo em Aventar

por Ana Moreno

Anda tudo a fingir que o sistema funciona. O Conselho da UE “discute, altera e aprova legislação e coordena as políticas europeias“, o parlamento europeu debate e aprova; no país, o presidente "zela pelo cumprimento da constituição e fiscaliza a actividade legislativa dos outros órgãos de soberania", os deputados na AR aprovam legislação, os cidadãos elegem e comentam; os media...  e por aí fora.

Contudo, essa aparência de normalidade democrática é um logro abismal, uma reprodução orwelliana.

De facto, mesmo as pessoas mais avessas a teorias da conspiração (como é o meu caso), lêem e constatam estupidamente abismadas que, ainda muito mais do que suspeitavam, os cordelinhos são puxados por entidades gigantescas e obscuras, como o Pedregulho Negro, aqui ou aqui.

A UE a fazer frente a Trump? Que graça! É tudo muito, muito engraçado, neste teatro surreal.

Resta enfileirar nas abomináveis hostes do mais reles cinismo?

Marcelo Rebelo de Sousa: “Não pode haver vários ‘portugais’’, a várias velocidades”

Almerinda Romeira e Jornal Económico com Lusa

Ontem 16:35

O Presidente da República disse este sábado, em Santarém, que a legislatura de 2021 a 2023 “é essencial para se perceber” se o país consegue reduzir as desigualdades territoriais atualmente existentes.

Cristina Bernardo

Na inauguração da Feira Nacional da Agricultura, ao princípio da tarde, o Presidente da República considerou que a próxima legislatura é “essencial” para redução das desigualdades no país. “Não pode haver vários ‘portugais’, a várias velocidades, dentro de Portugal. Não é possível, porque se isso continuasse para o futuro, que não vai continuar, isso atrasava o país todo. É uma ilusão pensar que havia uma parte do país que podia avançar e o resto ficava para trás. Isso não existe. Estamos no mesmo barco”, declarou Marcelo Rebelo de Sousa, no Centro Nacional de Exposições e Mercados Agrícolas (CNEMA), em Santarém, onde até dia 10 de junho decorre este emblemático certame.

A redução das desigualdades é para o Presidente da República “uma aposta” para o período do próximo quadro comunitário, de 2021 a 2027, mas que “começa já”. “Até digo mais – acrescentou –  a legislatura que começa para o ano e vai até 2023 é essencial para se perceber se conseguimos reduzir ou não as desigualdades que existem em termos territoriais” no país, disse, frisando a sua convicção de que esse objetivo será atingido.

Já de manhã, no Encontro Nacional de Associações Juvenis, no Estoril, Marcelo Rebelo de Sousa apelou a que não seja esquecido o objetivo de “mais igualdade e mais justiça”.

“Temos uma sociedade ainda muito desigual. Há vários portugais que são esquecidos. E nós não precisamos de esperar por tragédias para nos lembrarmos desses portugais. Devemos antecipar, prevenir, para não ter de remediar”, pediu.

Ao final do dia, o Presidente vai estar na 15.ª edição do “Serralves em Festa!”, na Fundação de Serralves, no Porto.

Portugal é o quarto país europeu mais satisfeito com o Governo

Revista de Imprensa JE

09:15

Portugal é também um dos países onde a satisfação com quem o governa mais aumentou entre 2014 e 2016, subindo 2,01 pontos, para 5,02 pontos, numa escala de zero a 10.

Portugal é dos países europeus com índices mais altos de satisfação com o Governo, ocupando o quarto lugar entre 23 estados, segundo os últimos dados do estudo internacional European Social Survey (ESS), divulgados este domingo pelo jornal “Público”.

Portugal é também um dos países onde a satisfação com quem o governa mais aumentou entre 2014 e 2016, subindo 2,01 pontos, para 5,02 pontos, numa escala de zero a 10.

Este estudo é feito de dois em dois anos, desde 2002, e, até agora, a nota máxima que os portugueses tinham dado a um executivo tinha sido 3,61 pontos, em 2006, refere o diário. Em 2012, verificou-se o grau de satisfação mais baixo desde que o estudo é feito, com 2,15 pontos.

A liderar a lista está a Suíça, com 6,58 pontos, seguindo-se a Noruega, com 5,58 pontos. À frente de Portugal aparece, ainda, a Holanda, com 5,46 pontos.

Os últimos lugares da lista são ocupados por Espanha, com 3,28 pontos, pela França, com 3,2 pontos, e pela Itália, com 3,07 pontos.

O ESS mede diferentes variáveis em vários países europeus — satisfação com as instituições, abertura à imigração, sentimento de felicidade, por exemplo — a partir de um inquérito a 44.387 pessoas com mais de 15 anos.

sábado, 2 de junho de 2018

Entre as brumas da memória


A visita de Merkel

Posted: 02 Jun 2018 12:56 PM PDT

Bandeirinhas, bandeirolas.
Paulo Buchinho, no Expresso de 02.06.2018.
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Angola mudou?

Posted: 02 Jun 2018 09:13 AM PDT

«O Presidente da República, João Lourenço, causou sensação no aeroporto das Astúrias, em Espanha, ao chegar num Boing 787 VIP, cujo valor comercial está estimado em 320 milhões de dólares.»

(Daqui)
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Não mostrar ao Ministério da Educação...

Posted: 02 Jun 2018 06:36 AM PDT

Indispensável ver mesmo até ao fim.
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Marchar com confiança para o desastre

Posted: 02 Jun 2018 02:59 AM PDT

Francisco Louçã no Expresso Economia de 02.06.2018:

«Quando a crise financeira se transformou em crise das dívidas soberanas e atingiu as economias europeias periféricas, era uma questão menor para Berlim e Bruxelas. Nada que não se resolvesse com uma cura de culpa e austeridade, vantajosa para conseguir votos nos países centrais cujos governos mostravam músculo contra os recalcitrantes do sul. Quando a crise chegou a Espanha, disfarçou-se um programa para os bancos. Quando a crise chegou a França, era só uma questão política, mania de franceses que são sempre excessivos nos queijos e nas eleições. Mas agora a crise está por todo o lado e é política e social. E ninguém na liderança europeia tem a menor ideia sobre o que se deve fazer, acumulando o pior dos disparates, as ameaças esbracejantes.

Um ano desastroso

O problema é que as eleições é que têm sido o problema. Desde há um ano que cada uma das eleições europeias agrava a crise institucional e demonstra o estertor do bipartidismo que tem sido a forma de gestão política desde o pós-guerra. Foi assim na Holanda em março de 2017 (a Europa respirou de alívio porque a extrema-direita só ficou em segundo lugar, e o PS passou de segundo para sétimo lugar), em França (a extrema-direita em segundo lugar e uma crise dos partidos tradicionais, com o ascenso da nova direita macronista que destroçou o PS), na Áustria (a entrada da extrema-direita no Governo), como já era na Hungria, Polónia e República Checa (com maiorias de direita xenófoba). Na Suécia, a extrema-direita é a terceira força política.

Na Alemanha, o único dos grandes países da União Europeia em que ainda sobrevive um bipartidismo combalido, os herdeiros do nazismo entraram no Parlamento pela primeira vez desde o fim da Segunda Guerra Mundial e pressionam uma ameaçadora recomposição da direita. E agora temos o caso de Itália, com a Liga Norte em vias de se transformar no primeiro partido.

Em resumo: crises políticas estruturais estão instaladas em Itália e Espanha, ameaçam França, o ‘Brexit’ está a concluir-se, a instabilidade financeira voltou e ninguém se entende no Conselho Europeu.

Espanha e Itália em eleições

O fim anunciado do governo Rajoy, com o PP varrido por condenações por corrupção, deverá conduzir a eleições em Espanha. Não é difícil antecipar o resultado dessas eventuais eleições, dado que as sondagens consistentemente indicam a possibilidade de uma vitória do Ciudadanos, a versão moderna do Partido Popular (“o PP limpinho”, explica Portas), o que conduziria a uma coligação da direita, mas sem Rajoy e porventura com o PP reduzido a escombros, ou até a uma aliança com o PSOE. O PP tem sido a formação histórica hegemónica da direita espanhola e representou o sucesso da transição do franquismo para uma direita europeísta, sempre mantendo um cariz autoritário, mas a condenação judicial do seu tesoureiro e de uma máfia de empresários e dirigentes foi o sinal da implosão. Rivera-Macron é uma promessa para salvar as pratas da casa, mas garante mais instabilidade do que liderança.

O cenário italiano é ainda mais complicado. A primeira recusa pelo presidente Mattarella do governo da maioria parlamentar italiana, que coligava a Liga Norte, um movimento proto-fascista, e o 5 Estrelas, foi um pretexto: o ministro recusado, Paolo Savona, deveria ser dos menos imprevisíveis da equipa governamental, mas o presidente quis marcar uma proibição – o euro não se discute e está fora do âmbito de ação de um governo maioritário.

A confirmação veio pela precipitação do comissário Gunther Oettinger, que explicou aos italianos que os mercados financeiros lhes dariam uma lição sobre em quem votar. Oettinger é reincidente: durante o período da troika, sugeriu que “as bandeiras dos pecadores da dívida poderiam ser colocadas a meia haste nos edifícios da União Europeia” para envergonhar esses países “pecadores”, e propôs que as ilhas gregas fossem vendidas para acertas contas da dívida. Mais recentemente, defendeu que Portugal devia sofrer sanções pelo défice de 2015. Useiro e vezeiro em pesporrência, Oettinger é o retrato alemão da Comissão.

Não é difícil adivinhar o efeito destas ameaças nas eleições italianas. Numa viragem de última hora que relançou o mesmo governo, o chefe da Liga Norte, Salvini, só pode dar preces pela chantagem de Bruxelas, que é o seu seguro de vida.

E os mercados, Senhor?

A crise em dois dos grandes países europeus precipitou imediatamente uma subida dos juros e uma queda do euro, e ainda se verá o que vem depois, porque a novela não terminou. A Itália e Espanha têm pela frente pelo menos quatro meses de dúvida sobre o resultado das eleições de recurso. São dois gigantes europeus paralisados e na expectativa de eleitorados mais divididos e governos mais impotentes. O facto é que, uma vez destroçado o esquema do bipartidismo do pós-guerra ou, no caso espanhol, da transição pós-franquista, não se sabe o que pode acontecer.

Os mercados, em contrapartida, sabem bem o que querem. A emissão de títulos de dívida italiana a dez anos teve a sua maior procura desde 2014, porque se sabia que os juros iam ser mais saborosos. Quase duplicaram, de 1,7 para 3%, arrastando os de outros Estados. Este maravilhoso sentido de oportunidade demonstra o que vamos ter na Europa: crise política permanente com subida de taxa de juros. Segure a sua carteira, já sabe quem vai pagar isto, não sabe?»

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Rajoy: «Oito horas brutais»

Posted: 01 Jun 2018 02:02 PM PDT

Ficaram célebres as oito horas passadas por Rajoy, ontem, num restaurante, enquanto continuava o debate que acabaria, hoje, com a sua destituição. Vale a pena ler este texto publicado no Público.es.

«Que Rajoy no tiene respeto alguno por los ciudadanos ha quedado demostrado sencillamente con sus medidas de gobierno y con su participación en el tremebundo robo y destrucción de lo público. Pero ocho horas de sobremesa…»

Continuar a ler aqui.

A República dos sem-papéis

por estatuadesal

(António Guerreiro, in Público, 01/06/2018)

Guerreiro

António Guerreiro

Para um estudo de iconologia política da nossa época, uma imagem exibida nas televisões e nos jornais de todo o mundo fornece matéria fecunda. Trata-se da imagem de um jovem do Mali, que entrou no Palácio do Eliseu na sua condição de imigrante ilegal, sans-papiers, e à saída exibiu um conspícuo papier que, disse ele aos jornalistas num francês ainda pouco treinado, “me dá muito prazer, é a primeira vez que ganho um troféu como este”.

O papier que ele recebeu das mãos do Presidente francês tinha o carimbo da “République française” e foi outorgado como diploma de um “Acte de Courage et de Dévouement”. Na véspera, o jovem do Mali tinha trepado quatro andares de um edifício, em menos de um minuto, arriscando a vida, para salvar uma criança que estava a cair de uma varanda. Alguém, entre os muitos transeuntes que assistiram à cena e aplaudiram no final a operação espontânea de salvamento, filmou com um telemóvel a impressionante performance atlética, de força, habilidade e equilíbrio, deste “super-herói” (como foi logo designado) e esse filme atravessou a França e o planeta. O dévouement, a abnegação, essa disposição que consiste em servir outrem ou uma causa, arriscando eventualmente a própria vida, é uma palavra bem conhecida da retórica republicana francesa. Compreende um “dom de si”, a renúncia e o sacrifício pessoal, e implica também uma exigência de obediência. A figura ideal do dévouement é uma forma superior de amor e gratuito que transcende a condição humana comum. Quanto à etimologia, a palavra deriva da forma latina devotio, O dévouement da filosofia política republicana é ao mesmo tempo um herdeiro da devotio romana e uma laicização da devoção religiosa. A França que aplaudiu este novo herói, saído dos contingentes de imigrantes indesejáveis, está cada vez mais surda aos hinos nacionais. Mas o Estado não quer de modo nenhum perder o monopólio da enunciação da identidade. E, assim, sob a aparência de prestar homenagem a um jovem imigrante clandestino, a República Francesa emite um diploma que é uma representação de si, exibida à Nação com o carimbo da República Francesa, homenageando-se a si própria e assegurando a eficácia política das imagens. O “super-herói” do Mali saiu do encontro com Emmanuel Macron como um francês honorário, francês reconhecido e diplomado pela República por “courage et dévouement”. No frente-a-frente com o Presidente, ele sobressaía pelas roupas informais, mas também por outra razão: tendo realizado uma performance física assinalável, passou a oferecer-se à observação segundo esse critério. E, neste aspecto tornado demasiado notório porque foi um motivo central do acto heróico, o corpo político republicano surge em clara desvantagem.

Exibido como exemplo à Nação que já teve um Ministério da Imigração, da Integração e da Identidade Nacional, o novo super-herói recebido no Palácio do Eliseu por Emmanuel Macron corre o risco de, servindo involuntariamente a retórica republicana do dévouement, prestar um bom serviço a uma biopolítica humanista que passa diplomas de “francidade” honorária a “super-heróis” que salvam crianças em queda iminente de um quarto andar, enquanto expulsa a multidão de anónimos sans-papiers e sem um papel com um carimbo de reconhecimento outorgado pela República. Não é difícil explicar este mecanismo: começa-se por reconhecer que há imigrantes que são heróis e acaba-se por exigir heroicidade dos imigrantes. É quase o mesmo que se passa com a cultura: descobre-se pontualmente a sua utilidade e acaba-se por exigir que ela seja sempre útil.