Translate

quarta-feira, 6 de junho de 2018

UM GONÇALVES “do” CARVALHO!

por estatuadesal

(Joaquim Vassalo Abreu, 06/06/2018)

bjard

E eis como, como vão perceber, um “do” faz uma diferença abissal de um “de”!

E até que é fácil: um é “de” Jardim (ilha, flores, dinheiro, fragância, vida boa, boa vida, sinecuras várias, santo da sua igreja, sem mácula e receptuário daquilo a que tem, pelas normas do que a sua santa igreja manda, direito a uma pia reforma de 170.000 aéreos por mês…) e o outro não passa de um tresloucado energúmeno que sonhou um dia tomar posse daquilo que era dele e deles: um “do” Carvalho!

Mas que tem isso a ver com a figurinha do Carvalho e a vida do Sporting, dirigido pela figurinha? Como vão ver, muito e muito, no meu modesto entender e da minha forma um tanto oblíqua de ver as coisas!

Mas oblíquas, porquê? Porque eu quero lá saber se o Bruno é mesmo do Carvalho, se o Jesus é mesmo o Jesus, se o Patrício é mesmo um patrício, se o Williams é mesmo português ou se o Marta Soares é tão matarruano como eu julgo ser? Quero eu lá saber! Eu quero saber é do Gonçalves…

E a minha tese é, se querem saber, que esta coisa do Sporting, de que toda a Imprensa falada e escrita faz parangonas e gasta horas e horas em horário nobre, foi provocada pelo Jardim e pelo Salgado! Também pelo Salgado, acreditem em mim…Isso é que quero saber! Para ajuizar da sua “santidade”…

E quando começou? Quando um e outro lhe emprestaram aquela pipa de massa, uma batelada mesmo e, quando fizeram aquela supimpa de uma consolidação em médio longo prazo a perder de vista, então é que foi! Os adversários até ficaram loucos de inveja, e protestaram mesmo porque, não havia direito, pois eles tinham tudo em Obrigações…

Mas, sabiam eles, e os “Carvalhos” não, que tudo isso emanava de uma terrífica estratégia, tão bem elucubrada que ninguém nunca poderia imaginar! Ficariam para sempre umbricamente ligados, não só aos imprudentes empréstimos como às suas consolidações! Eu disse “consolidações”? É, simplesmente, uma boa metáfora…

E então, ambos em dificuldades várias por motivos “normais” de gestão, essa coisa tão abrangente que dissipa em todos os reguladores todas as dúvidas, resolveram combinar que o Sporting e o seu prefeito Bruno seriam não só o seu “alibi”, como o subterfúgio que utilizariam para passarem incólumes por uma imprensa tão devoradora quanto inábil e que, ao invés de denunciá-los, deles se esqueceriam para falarem apenas do prefeito Bruno e do seu Sporting! E Kafka não faria melhor…E também do Jesus… Percebem?

Como todos sabemos o Salgado, em conflito aceso com o “verde” primo Ricciardi, jogou em antecipação, não esperou até que o “Bruninho” fosse eleito e estrepou-se! Mas ele que tinha jurado vingança sobre o primo “verde” riu-se e esperou sentado! Estou certo, não acham? Ele saiu de cena mas deixou o primo encurralado!

Mas o Jardim “do” Gonçalves, esse não! É que o Jardim, para além da sua comenda de “santo” proposta e aclamada pela “Opus Dei”, divinamente acolitado sabia bem dos passos que dava e contou sempre com um fiel aliado, um tal de Costa, o do Banco de Portugal que, depois de muito activo, desapareceu completamente dos espaços etéreos da comunicação social, como seu antigo aliado nas “tramoias” que ele fez no BCP, guardou anos e anos a fio o seu processo de Coima numa gaveta do Banco de Portugal até que agora um determinado Tribunal não só o considerou inocente (de pagar), como o tornou livre de receber a sua parca pensão mensal de 170 mil aéreos/mês! Uma bagatela…PRESCREVEU, decidiram os tais de Magistrados!

Mas voltando à minha tese: porque é que tudo assim sucedeu? Porque, na rectaguarda, ele elucubrou, e volto à palavra, tudo o que se tem passado com o “Bruninho”, coitadinho para, enfrentando-o por diversas pessoas ligadas a quadrantes díspares- seguranças, tropas de elite das claques, um tal de Marta Soares (a quem uma vez uma Empresa que eu conheço lhe penhorou a cadeira de presidente da Câmara de Vila Nova de Poiares)- e que é que como um indivíduo destes pode ser presidente de uma assembleia geral de um clube- provocar aquele espalhafato todo que conhecemos e que levou toda a chamada comunicação social, e o CM incluído, a não falarem de outra coisa, esquecendo-se dele, do Gonçalves…o Jardim, pronto! Brilhante, tenho que concluir…

Eu, vou-vos confessar, ainda pensei a princípio que tudo o que vem sucedendo tivesse o dedo do Sócrates! Mesmo aquelas dívidas todas que têm vindo a público do Vieira! Porque, vamos convir, ele é assumidamente benfiquista, estão a ver? Mas porquê? Ora, ele não está em tudo e a tudo ligado?

Mas ninguém me tira da ideia! E se for o seu Amigo, o tal que lhe emprestava dinheiro, massa que supostamente era dele, como dizem os doutos Procuradores da República (República de quê? Recorram ao Woody Allen se querem mesmo saber…), que engendrou, aliviando o Sócrates, tudo isto e tivesse também jurado vingança sobre o “verde” Ricciardi? Ninguém me tira da ideia…

A dúvida pairará sempre, eu sei, mas e se a dita cuja dívida (dos de gravata verde) explodir,  quem se ficará a rir?

Admira-me os CM´s não terem tudo isto descortinado - deve ser da sua manifesta falta de inteligência e sentido da oportunidade dos tempos que os percorrem - mas, para mim, a dúvida pairará sempre!

É que ninguém me tira da ideia…

NB - Acham isto inverosímil? Dêem-me então a vossa versão!!!

Temos a certeza de que não temos população a mais?

por estatuadesal

(Pedro Tadeu, in Diário de Notícias, 05/06/2018)

tadeu

No domingo à noite o atual comentador do regime, doutor Marques Mendes, protestava na SIC contra o líder do seu partido, o PSD: "Rui Rio não tem causas próprias, não tem uma agenda alternativa, não tem propostas diferentes das do governo", disse, no Jornal da Noite. "Parece uma muleta de António Costa", protestou.

Pois logo no dia seguinte a esta acusação, "bam!", o presidente do Partido Social-Democrata respondeu à crítica do antigo líder do mesmo partido e mandou cá para fora um slogan de campanha estrepitoso: o PSD propõe que, a partir de agora, os pais portugueses recebam dez mil euros por filho.

Lendo as letras miudinhas do documento elaborado por um conselho de sábios (explicado ontem pela jornalista Paula Sá, no Diário de Notícias) percebe-se que, afinal, estes dez mil euros seriam pagos faseadamente até a criança fazer 18 anos, o que diminui um bocado o entusiasmo inicial da ideia...

Ah!, também fui fazer as contas e como, afinal, Rui Rio pretende acabar com o abono de família, a conclusão é que as famílias mais pobres com direito a esse subsídio, se esta proposta fosse para a frente, passariam a receber, ao fim de 18 anos, menos seis mil e 700 euros pelo primeiro filho do que agora recebem, enquanto as mais ricas receberão mais 5200 euros... e isto já é um verdadeiro balde de água fria despejado sobre a bondade do articulado tricotado pelo "Conselho Estratégico do PSD", dirigido por David Justino.

Mas o projeto tem outros detalhes, relevantes, que incluem apoios ao aumento de creches em empresas, um pagamento de 429 euros às grávidas, aumento da licença de maternidade para 26 semanas e algumas outras ideias avulsas.

O pressuposto é este: combater o que Rui Rio define como "hemorragia demográfica".

Não podemos dizer que o tema da demografia seja propriamente inovador: todos os partidos portugueses, há anos, abordam o assunto e ainda há poucos dias o primeiro-ministro António Costa veio defender um aumento de imigração para ajudar a resolver a questão.

Sendo assim, e aplicando os critérios de boa oposição definidos por Marques Mendes, estas propostas não podem ser catalogadas como "causas próprias" do PSD, não definem uma "agenda alternativa" às dos outros partidos mas podem ser consideradas "diferentes" das do governo. Rui Rio acerta, portanto, um em três.

Mas mais importante do que validar as estratégias da politicazinha cá de casa ou mesmo da apreciação do mérito de cada uma das propostas partidárias que venham a existir para combater a "hemorragia demográfica", gostava de perceber melhor a dimensão e a previsão de consequências que essa diminuição e envelhecimento da população podem trazer.

Não me parece rigoroso ver o que se passou na última meia dúzia de anos. Para perceber com rigor o que se passa, temos de analisar ciclos maiores. Vamos ver os últimos 30 anos.

É totalmente verdade que cada vez nascem menos crianças em Portugal: em 1987 foram 123 mil, em 2007 102 mil e no ano passado 86 mil. Mas a população não diminuiu: em 1987 éramos dez milhões, em 1997 dez milhões e cem mil e em 2017 serão dez milhões e 300 mil.

Já lemos uma explicação para isto: o aumento da esperança de vida justifica a subida populacional. Há mais idosos, muitos deles reformados e pensionistas e, como diminuem os jovens, a sustentabilidade da Segurança Social e a pressão financeira sobre o Serviço Nacional de Saúde fazem temer uma rutura desses sistemas.

Mas isto não é ver, apenas, uma parcela do problema? Não estamos a analisar o futuro com pressupostos do passado?

Por exemplo: num mundo revolucionado pela Inteligência Artificial (IA) e pela automação, que aí vêm a toda a velocidade e que vão comer milhões de empregos, de forma imediata, a motoristas, caixas de supermercado, maquinistas, bancários ou, até, cirurgiões, será melhor ter exércitos de desempregados de longa duração, muitos deles jovens, do que uma legião de idosos reformados? A contração demográfica não pode ser uma ajuda para solucionar estes novos problemas? O aumento de riqueza e do PIB que essas novas tecnologias proporcionarão não deveriam ajudar a pagar as reformas dos mais velhos, em vez de pagar a inatividade dos mais novos? Não será isso, do ponto de vista das relações sociais entre gerações, entre classes, muito mais suportável?

Imaginemos, otimistas, que essa mudança no mercado de trabalho é compensada por um aumento de qualificação da juventude de tal forma sofisticada que permite arranjar novos empregos onde a IA não atua. Esse mundo, quase ideal, será, à luz dos critérios dos nossos dias, um mundo de produtividade superlativa.

Será que, neste caso, a equação sobre a demografia portuguesa muda? Ou será que o problema da Segurança Social e da Saúde deixa de se colocar porque as contribuições e os impostos destes trabalhadores e das suas empresas, numa economia superacelerada, superprodutiva, super-rentável, pagará com facilidade esse custo, mesmo que o número de reformados suba exponencialmente?

O que vamos enfrentar no futuro não se trata, antes, de um problema clássico de divisão da riqueza criada, em vez de uma tragédia social suscitada por uma "hemorragia demográfica"? Não estamos aqui a iludir o verdadeiro problema?

Voltemos a olhar para o ciclo de 30 anos: acontece que a população ativa portuguesa, a que pode fazer descontos para a Segurança Social e pagar impostos para a Saúde, subiu, de 1987 até agora, 419 mil pessoas, enquanto a idosa, a que recebe pensões e reformas, subiu 917 mil. A diferença, numa população média de dez milhões, é de apenas 498 mil pessoas.

É assim uma diferença tão dramática que uma gestão assisada dos recursos existentes não possa acomodar?

Afinal, o PIB per capita em 1987 era de 3318 euros e agora é de 17 964 euros, quase cinco vezes e meia mais... Isto não conta para a análise do problema?

Em média as mulheres portuguesas têm 1,23 filhos. As angolanas 6,2. Prevê-se que a população portuguesa, em 2050, seja de nove milhões e cem mil pessoas, a mesma que teve em 1975. A angolana, que ronda os 30 milhões, será nessa altura de 68 milhões, um valor inimaginável na história do país. Este é um exemplo do que se passa no mundo sobre a diferença demográfica entre países ditos "desenvolvidos" e os ditos "emergentes".

O mundo tem atualmente 7600 milhões de habitantes e prevê-se que em 2100 chegue a 11 200 milhões. Os recursos do planeta Terra não estão a chegar para alimentar a população terrestre. Mesmo o aumento da produção agrícola previsto não evitará a fome que atinge, atualmente, 805 milhões de pessoas. E não sabemos claramente se todos terão acesso a água potável ou energia. Sabemos é que o planeta, desde o ano passado, entrou em défice e que gastamos mais recursos naturais do que a Terra é capaz de produzir.

E as alterações climáticas aumentam ainda mais a incerteza...

O mundo precisa de controlar o crescimento demográfico - querer aumentá-lo, aqui ou noutros países desenvolvidos, com população envelhecida, não pode ser um erro fatal?

Depois há outro aspeto que não vejo normalmente analisado, a não ser do lado avarento que ameaça com mais cortes de pensões ou com subidas de idade para reforma: com o aumento da esperança média de vida, um homem ou uma mulher de 67 anos têm ainda muito para dar.

O aproveitamento que a sociedade faz destas pessoas tem de ser outro: eles e elas têm todo o direito a reformar-se e a libertar-se de uma série de deveres que a organização formal do trabalho implica. Mas também muitos deles e muitas delas têm desejo de usufruir da reforma de uma forma produtiva, ativa, participativa na vida familiar e social, com uma intensidade que as gerações passadas não conseguiam oferecer.

Seja como consumidores, como excursionistas, como turistas, como voluntários, como conselheiros, como educadores, como trabalhadores em part-time, como diretores de clubes ou associações, como autarcas, seja como for, a participação ativa destes milhões de indivíduos na sociedade produz uma riqueza económica adicional e traduz um contributo para o equilíbrio da vida social que tem de entrar na conta na forma como vemos hoje a demografia e que, no passado, quando falávamos dos "mais velhos", não tinha, de facto, a mesma equação.

Um "velho" de hoje vale economicamente e socialmente muito mais do que um "velho" do passado e, por isso, não podemos olhar para a demografia do século XXI como analisávamos a do século passado.

Portugal teve sempre uma população inferior a nove milhões de pessoas. Só em 1995 chegou aos dez milhões. Temos a certeza de que não temos população a mais?

Como transformar as leis do Trabalho, no século 21

por estatuadesal

(Alain Supiot, in Outras Palavras, 30/05/2018)

180530-Mourin2Imagem: Charles Mourin, A Aurora do Trabalho (1891)

Velhas normas e lógicas da era fordista já não servem, mas o neoliberalismo propõe uma regressão feudal. É hora de buscar alternativa que combine autonomia, desalienação e dignidade.


Seria necessário ser cego para negar a necessidade fundamental de reforma das leis trabalhistas. No decorrer da história, os avanços tecnológicos sempre levaram à reestruturação das instituições. Foi o caso nas revoluções industriais do passado, que depois de derrubar a velha ordem – ao abrir as comportas para a proletarização, a colonização e a industrialização da guerra e do extermínio — resultaram na reconstrução de instituições internacionais e na invenção do Estado de bem-estar social. O período de paz e prosperidade desfrutado por países europeus no pós-II Guerra pode ser creditado a esse novo tipo de Estado e às fundações sobre as quais ele foi construído: serviços públicos integrados e eficientes, uma rede de segurança social cobrindo toda a população e leis trabalhistas que garantiam aos trabalhadores um nível mínimo de proteção.

Essas instituições, nascidas na segunda revolução industrial, foram agora colocadas em questão, minadas por políticas neoliberais que levam a uma corrida social, fiscal e ambiental de rebaixamento entre as nações; e pela revolução digital, que está tragando o mundo do trabalho – manual ou do conhecimento [1]. Não se espera que trabalhadores “conectados” sigam ordens como robôs mas que, ao contrario, respondam em tempo real à informação que recebem. Esses fatores políticos e tecnológicos trabalham juntos. Ainda assim, eles não poderiam ser associados, porque o neoliberalismo é uma escolha política reversível, enquanto a revolução digital é um fato irreversível que pode servir a diferentes fins políticos.

As mudanças tecnológicas que alimentam os atuais debates sobre automação, fim do trabalho e “uberização” têm duplo sentido. Podem tanto aprofundar a desumanização do trabalho engendrada pelo taylorismo quanto levar à adoção de “condições humanas de trabalho” estipuladas na Declaração de Filadélfia, o documento essencial da Organização Internacional do Trabalho (OIT). Este texto propõe-se a assegurar empregos em que os trabalhadores tenham “a satisfação de dar a mais completa medida de sua habilidade e realização e façam sua maior contribuição ao bem-estar comum” [2]. Essa perspectiva seria um aprimoramento do modelo de trabalho assalariado, ao invés de um retorno à “mercantilização do trabalho”.

Emprego no século 21: um acordo em evolução

Até os anos 1970, o emprego envolvia uma barganha: obediência em troca de segurança. Os empregados renunciavam a qualquer tipo de autonomia sobre seu trabalho em troca de um número limitado de horas de trabalho, negociação coletiva e proteção contra a perda do emprego. Esse modelo, implementado de várias formas legais em todas as nações industrializadas, reduziu a justiça social aos termos quantitativos da troca de trabalho e segurança física no trabalho e liberdade aos sindicatos. Mas o trabalho em si – seu conteúdo e conduta – era excluído dessa barganha. Tanto na sociedade capitalista como nos países “comunistas”, o trabalho era considerado uma questão de “organização científica” – ou o chamado taylorismo. Não havia lugar para a autonomia, que existia somente para executivos sênior e autoempregados.

A revolução digital oferece uma chance a todos os trabalhadores de adquirir maior autonomia. Mas, ao mesmo tempo, ameaça sujeitar todo o mundo – incluindo os autoempregados, executivos e categorias profissionais – a formas agravadas de desumanização do trabalho. Essa revolução não é limitada à difusão das novas tecnologias. Ela está mudando o centro de gravidade do poder econômico, agora menos concentrado na propriedade material dos meios de produção do que na propriedade intelectual dos sistemas de informação. Hoje, esse poder não é exercido principalmente por meio de ordens a serem seguidas – mas de objetivos a serem alcançados.

Ao contrário de revoluções industriais anteriores, não são as habilidades físicas que as novas tecnologias poupam e superam – mas as ações mentais. Mais precisamente, as capacidades de memorização e cálculo, que podem ser usadas para a execução de qualquer tarefa programável. Estas tecnologias são incrivelmente poderosas, rápidas e obedientes mas também, como diz o cientista da computação Gérard Berry, totalmente estúpidas [3]. Elas possibilitariam aos humanos concentrar-se no lado “poético” do trabalho – aquele que requer imaginação, detalhe e criatividade, e portanto não é programável.

A revolução digital será também uma fonte de novos perigos se, ao invés de colocar computadores a serviço dos humanos, organizar o trabalho humano no modelo de trabalho dos computadores. Ao invés da subordinação dar lugar a maior autonomia, o trabalho tomaria a forma de subordinação a números. Equivaleria a estender à mente a garra que o taylorismo mantinha sobre o corpo.

Essa tentativa quixotesca de programar seres humanos aliena-os da experiência da realidade. Ela explica o crescimento de problemas de saúde mental e o aumento do mesmo tipo de fraude contábil já vista nas economias planejadas da União Soviética. Encarregado de atingir metas impossíveis, um trabalhador tem pouca escolha: ou se afunda em depressão, ou joga com o sistema para satisfazer indicadores de desempenho fora da realidade. A fantasia cibernética subjacente à governança por números adequa-se perfeitamente à promessa neoliberal de globalização. Mais precisamente à autorregulação de uma “grande sociedade aberta” pelas forças de um mercado que tudo abarca. Essa é a razão por que esse tipo de governo está se espalhando, em detrimento do que a Declaração Universão de Direitos Humanos define como Estado de Direito.

Não é, portanto, nas velhas fórmulas do neoliberalismo que podemos buscar as ferramentas legais para dominar a tecnologia de informação e civilizar seu uso de modo a libertar, ao invés de alienar, a mente humana. Essas fórmulas, administradas em doses maciças no decorrer dos últimos quarenta anos, ajudaram a formatar o mundo em que vivemos. Um mundo de uso abusivo dos recursos naturais e dominação da economia pelas finanças, gerando nitidamente o crescimento de desigualdades de todos os tipos, a migração em massa de pessoas que fogem da guerra e da pobreza, a volta da violência religiosa e do nacionalismo, o declínio da democracia e o crescimento do poder de homens fortes com ideias fracas. Diria o senso comum que, ao invés de insistir no erro, aplicando mecanicamente as “reformas estruturais” prescritas pelos responsáveis por esse desastre, deveríamos aprender com esses erros, particularmente no campo das leis.

O que é particular no neoliberalismo – e o diferencia do liberalismo clássico – é o modo como ele trata as leis em geral, e as leis trabalhistas em particular. Elas passam a ser vistas como um produto legislativo em competição num mercado internacional de regulações em que reina suprema a corrida para rebaixar os padrões sociais, fiscais e ambientais. O Estado de Direito é portanto substituído pelo “shopping” legal, subordinando a lei a cálculos econômicos ao invés do contrário.

Redesenhar as leis trabalhistas, olhando além do emprego

Como os governos não querem mais assumir nenhuma das principais alavancas macroeconômicas que afetam o emprego (controle de moeda e das fronteiras, taxa de câmbio, gasto público), eles empurram com mais força a última alavanca que restou: as leis trabalhistas, que são tidas como um obstáculo ao emprego. Isso embora nenhum estudo sério dê suporte a esse argumento.

Como os limites ao “direito” de demitir foram abolidos, as promessas extraordinárias que acompanham cada nova desregulação do mercado de trabalho nunca se materializaram. As taxas de desemprego continuam muito altas [4]. Mas não tem havido revisão das leis empresariais (elas permitem, por exemplo, recompra de ações que levam ao enriquecimento dos acionistas sem dar nada em troca, destruindo o capital e minando o investimento), das leis contábeis, ou das leis sobre finanças (tais como a existência de bancos privados que são “muito grandes para falir” e que portanto usufruem de uma inviolabilidade negada a Estados endividados) [5]. Os efeitos negativos de tais mudanças, nos investimentos e no emprego, estão provados. No noticiário atual, reduzir a indenização por demissão injusta é visto como “reforma corajosa”, enquanto limitar os ganhos de opções de ações que um executivo pode receber em razão de tais demissões é tido como “demagogia”.

Qualquer reforma séria das leis trabalhistas deveria ter como alvo mais democracia econômica – ou a própria democracia política continuará a se dissolver. Idealmente, reformas verdadeiras deveriam dar a todo mundo mais autonomia e controle sobre suas vidas profissionais, criando mais salvaguardas ativas, que permitam às pessoas tomar iniciativas, e complementar as salvaguardas passivas herdadas do modelo fordista. Mas isso não pode ser feito sem levar em conta as profundas mudanças na organização das empresas e do trabalho que vêm ocorrendo desde os anos 1980.

A primeira condição para tal reforma seria estender as leis do trabalho para além do emprego, de modo a que protejam todos os tipos de trabalho economicamente dependente. Hoje, a revolução digital e o modelo de start-up estão ressuscitando esperanças de empoderamento por meio do autoemprego e pequenas cooperativas. Mas na realidade as linhas entre autoemprego independente e autoemprego dependente estão sendo apagadas, com os trabalhadores presos por laços de fidelidade que reduzem sua autonomia em vários graus. Do mesmo modo, a ideia de que plataformas digitais que reúnem trabalhadores e usuários de seus serviços beneficiará o autoemprego não é confirmada pelos fatos, como demonstram as ações coletivas apresentadas por motoristas da Uber, com algum sucesso, para forçar a empresa a reconhecê-los como empregados.

Face a essa mudança, a dependência econômica deveria ser o critério essencial para um contrato de emprego, como recomendado por uma série de propostas provocadoras elaboradas por um grupo de acadêmicos franceses [6]. Adotar esse critério simplificaria as leis do trabalho, e ligaria o grau de proteção recebido pelos trabalhadores à sua dependência. A gestão de resultados tem sido acompanhada pelo retorno da velha estrutura legal da “propriedade feudal”, na qual um arrendatário garantiria lealdade ao dono da terra em troca do direito de trabalhar um lote de terra. O ressurgimento de tais laços tornou-se possível devido a ferramentas digitais que permitem aos proprietários controlar o trabalho de outros sem lhes dar ordens.

Esses laços de lealdade formam a estrutura legal da economia de rede e são encontrados, de diferentes modos, em todos os níveis de trabalho: dos chefes executivos sujeitos aos caprichos dos acionistas ou clientes até aos empregados assalariados, de quem é demandada flexibilidade – eles têm de estar disponíveis o tempo inteiro. Os debates sobre a uberização iluminam a necessidade de uma estrutura legal que possa manter as promessas (de autonomia) e mitigar os riscos (de exploração) inerentes a essas situações de lealdade.

Reformas visionárias

Neste novo contexto, qualquer reforma que coloque no centro das relações de trabalho as negociações diretas entre patrões e empregados é irrelevante. Este enfoque pode ter sido adequado nos Estados Unidos em 1935, quando a Lei Nacional de Relações de Trabalho foi adotada como parte do New Deal. Mas ele não resolve os problemas colocados pela organização atual do trabalho – interconectada e transnacional.

A primeira questão é: que mecanismos permitem aos trabalhadores recuperar algum grau de controle sobre o sentido e o conteúdo de seu trabalho? Na França, o direito dos asssalariados à expressão coletiva, consagrado nas Leis Auroy, de 1982, inauguraram este processo, que poderia ter prosseguido se a concepção e a organização do trabalho tivessem se transformado em ponto de negociação coletiva e consciência individual. Hoje, este tema é tratado apenas de modo negativo, quando o trabalho, sob a ordem atual, leva a suicídios ou distúrbios psicossociais. É preciso voltar a tratá-lo de modo propositivo.

É preciso que haja condições de conduzir negociações coletivas nos níveis corretos, não apenas no de cada indústria ou empresa. Dois destes níveis merecem atenção particular: o da cadeia produtiva e o do território. Tal tipo de negociação permitiria que aflorassem, por exemplo, os interesses específicos de empresas hoje dependentes. Elas poderiam articular-se os empregados, diante do poder das companhias de que todos dependem. Também permitiria envolver todas as parts interessadas no dinamismo de uma dada região. O cara-a-cara dinâmico entre empregador e empregado, numa empresa ou num ramo de produção, deixou de ser adequado. É preciso convocar a presença de outras partes, em torno da mesa de negociação.

Uma terceira ideia para uma reforma verdadeira tem a ver com a partilha de responsabilidades no interior das redes de empresas. Estas redes permitem que quem as controla exerça poder econômico intenso, mas exima-se de suas responsabilidades em relação a subordinados. Trata-se, portanto, de ligar a responsabilidade de cada membro da rede ao grau de autonomia de que de fato desfruta [7]. Tal reforma permitiria clarear as áreas cinzentas existentes em torno do conceito contemporâneo de “responsabilidade social” – que representa, para o neoliberalismo, o que o paternalismo foi para o liberalismo. Onde necessário, a mudança obrigaria a empresa dominante a responder conjuntamente por danos causado pelas organizações que ela cria e controla.

No plano internacional, deverámos assumir por inteiro a sentença inscrita na Carta de Filadélfia da OIT. “O fracasso de qualquer nação em assegurar condições humanas para o trabalho é um obstáculo no caminho de outras nações, que desejam melhorar as condições em seus próprios países”. E deveríamos levar em conta que a divisão internacional do trabalho e nosso impacto ambiental sobre o planeta são temas inseparáveis.

Padrões sociais e ambientais devem ter, portanto, a mesma força legal que as normas que regem o comércio internacional. Isso exigirá a criação de um órgão para disputas internacionais com poder de autorizar os países que asseguram trabalho digno e proteção do ambiente a fechar seus mercados para os que não os respeitam [8]. No plano regional, blocos como a União Europeia poderiam recuperar legitimidade política liderando tal reforma e renovando um compromisso adotado em seus tratados – em relação a “condições melhores de vida e trabalho, para tornar possível sua harmonização”, ao inveś de encorajar uma corrida social e fiscal rumo ao fundo do poço, como ocorre hoje

Uma reforma ambiciosa das leis trabalhistas deveria incluir também o trabalho hoje não pago – como o cuidado com as crianças e os parentes idosos, vital para a sociedade e hoje ignorado pelos indicadores econômicos. Desde que a luz artificial tornou possível o trabalho durante as 24 horas do dia, as leis trabalhistas ofereceram uma estrutura espacial e temporal compatível com nosso relógio biológico e o direito humano ao respeito pela vida privada e familiar. Esta estrutura é agora ameaçada pelo neoliberalismo e pela tecnologia da informação, que juntas estendem o trabalho assalariado para todos os lugares e todas as horas [9]. O preço, particularmente em termos de vida familiar, é exorbitante – mas nunca reconhecido por aqueles obcecados com o trabalho aos domingos e às noites. Exatamente o que está destruindo os últimos vestígios de tempo social que escaparam à mercantilização da vida humana.


Notas

[1] Michel Volle (2017). Anatomie de l’entreprise. Pathologies et diagnostic. In Pierre Musso (Ed.), L’Entreprise contre l’État?Manucius, Paris.

[2] Declaração de Filadélfia (1944).

[3] Gérard Berry (2008). Pourquoi et comment le monde devient numérique. Annuaire du Collège de France.

[4] A taxa oficial de desemprego é de 11,1% na Itália, 17,8% na Espanha e 21,8% na Grécia.

[5] Ao substituir um antigo princípio de contabilidade, este padrão indexa o valor dos ativos de uma empresa a seu preço de mercado estimado, destacando o que é riqueza puramente hipotética. Ver, de Jacques Richard (2005). “Une comptabilité sur mesure pour les actionnaires”. Le Monde diplomatique, Novembro de 2005.

[6] Emmanuel Dockès (2017). Proposition de code du travail. Dalloz, Paris.

[7] Alain Supiot e Mireille Delmas-Marty (2015). Prendre la responsabilité au sérieux. PUF, Paris.

[8] O uso de novas formas de ação coletiva, incluindo o boicote a certos produtos, também deveria ser reconhecisdo com ou direito inerente à liberdade de associação e ao direito de organização.

[9] Laurent Lesnard (2009). La famille désarticulée. Les nouvelles contraintes de l’emploi du temps. PUF, Paris.

Entre as brumas da memória


Dica (766)

Posted: 05 Jun 2018 02:20 PM PDT

Leis laborais: o PS onde sempre esteve. (Mariana Mortágua)

«António Costa abriu o Congresso a puxar pelos galões de Esquerda do PS e fechou-o jurando combater a precariedade. Dois dias depois era apresentado um acordo com os patrões que deixa quase tudo na mesma na legislação laboral. (…)

Para quem se governa? É esta escolha - e não os discursos identitários -, que define a latitude de um partido político no espectro ideológico. No seu discurso, António Costa respondeu também a quem se perguntava sobre o novo compromisso do PS com uma governação à Esquerda: "Estamos onde sempre estivemos e estaremos exatamente onde estamos". Que pena.»

.

Portugal no mapa

Posted: 05 Jun 2018 08:33 AM PDT

Em muitos murais do Facebook, e até em noticiários de TV, vejo gente indignada com títulos como este, escolhido por vários jornais porque é bem bombástico. Decidi ir ler rapidamente alguns textos e cheguei às seguintes conclusões.

Na prova de aferição de História e Geografia, 2º ciclo, 2017, os resultados até foram muito bons. Mas verificou-se que «os pontos cardeais não são um conhecimento consolidado e 23% dos alunos trocaram oeste com este. Na mesma lógica, 16% trocaram sudoeste com sudeste e noroeste com nordeste.» (cfr. Observador). Ora o que era pedido aos alunos de 10/11 anos era que situassem Portugal em relação ao continente europeu utilizando os pontos colaterais da rosa-dos-ventos. Ou seja: não conseguiram localizar o país no sudoeste da Europa. Grave? Talvez, mas não é bem a mesma coisa, para uma criança, do que olhar para um mapa da Europa e não saber localizar Portugal.

Além disso: os meus netos (que têm mais ou menos estas idades, embora não tenham feito esta prova), sabem muito mais de geografia do que eu sabia com a idade deles (embora eu tenha aprendido estações e apeadeiros da linha do Norte de Portugal, na escola primária, em Moçambique, o que me foi utilíssimo, como se imagina...). E, para eles, que já nasceram na era do GPS, a Rosa dos Ventos tem tanta utilidade prática como para mim o ábaco (embora até tenha um e já tenha sabido manipulá-lo em tempos).

Se todos os problemas da educação fossem esses…

.

100.000 lagostins???

Posted: 05 Jun 2018 07:43 AM PDT

China envia carregamento de 100,000 lagostins rumo a Moscou para servir às mesas durante Copa do Mundo.

«“Estes lagostins foram já previamente preparados para o consumo na China. Após chegados aos estabelecimentos de consumo, basta aquecer por 5 minutos para servir à mesa”, disse Cai Xin, presidente do China National Agricultural and Development Group, a empresa responsável pelo envio. Devido aos diferentes paladares em todo o mundo, Cai Xin, refere que os lagostins foram preparados com diversas quantidades de picante e de condimentos, de modo a satisfazer uma base alargada de consumidores.»

.

Enfim, uma geringonça!

Posted: 05 Jun 2018 03:17 AM PDT

«Ao formarem governo, os socialistas espanhóis deram pretexto a uma comparação, agora bastante repetida entre nós: eis outra geringonça! Comparação errada, se é que se quis dizer que o PSOE conseguiu o mesmo que o PS português. Um partido governar não tendo maioria no Parlamento seria analogia melhor. Mas não é essa a que tem sido usada porque a simples circunstância - governar sem deputados suficientes para fazer sozinho maioria (o PSOE tem 84 eleitos, no total de 350 no Congresso dos Deputados) - já acontecera outras vezes, tanto em Espanha como em Portugal.

Porém, lançar a ideia de "geringonça à espanhola" pode vir a dar aos adversários do governo de António Costa uma vantagem: Pedro Sánchez tem fortes probabilidades de cair antes de acabar a legislatura portuguesa. E, então, lá se recordará daqui a pouco: a dos vizinhos já foi, agora só falta a nossa... Assim, a atual exportação do termo permitirá a chicana política que se pretendia que tivesse a invenção da "geringonça" por cá, mas nunca teve, ao ponto de os protagonistas dela, o PS, o PCP e o BE, a assumirem como uma alcunha simpática.

A palavra, lembro, foi inventada por um cronista, Vasco Pulido Valente, tão bom de frases límpidas quanto é desacertado em batizar políticas e políticos. Um dia, ele chamou a António Guterres "picareta falante". Ora, a imagem daquele que viria a ser secretário-geral da ONU indiciou sempre mais um político de falar cauteloso, aborrecido até, do que o violento e incisivo que a ideia de picareta fazia supor. Também foi de Vasco Pulido Valente o cunhar da "geringonça" para o governo PS, apoiado pelos comunistas e bloquistas. Ora, geringonça é aquilo que é mal-amanhado e precário. A imagem foi lançada logo a seguir a Costa ter chegado a São Bento e só aí poderia ter algum sentido, como previsão. O tempo tornou-a tola. Porque ela durou (provavelmente pela legislatura toda); e sobretudo pelo evidente benefício político que a geringonça trouxe ao país. Obrigou dois partidos, PCP e BE, que tinham sequestrado o voto de um terço dos portugueses, a responsabilizarem-se pelo governar e não só a dar bitates...

Outra coisa é o governo do PSOE, um remedeio, não mais, para Sánchez chegar ao poder. Ele foi só possível com o apoio de forças centrífugas e independentistas, do País Basco e da Catalunha, e vai ser curto. Em Espanha, sim, está a acontecer uma geringonça, coisa mal--amanhada e precária.»

Ferreira Fernandes

terça-feira, 5 de junho de 2018

Carta aberta a Miguel Sousa Tavares

Olá, Sr. Comentador Miguel Sousa Tavares,

Às vezes consigo ouvi-lo com atenção... hoje não foi um desses dias. Mas gostava de lhe falar um pouco da minha vida.
Tenho 42 anos, ainda sou casado, e tenho 1 filho de 10 anos. Sim, ainda sou casado, porque não é fácil manter uma família quando a minha entidade patronal (Ministério da Educação) resolve destruí-la.
Passo a explicar:
Dou aulas há 18 anos... andei boa parte deles a percorrer o país. Nos últimos 12 consegui ter o luxo de trabalhar a menos de 50km de casa. Como deve imaginar, fui estabilizando a minha vida... casando, comprando casa, aumentando os membros da família...
De repente, uma iluminada resolve atropelar a lei pensando que por 50€ por dia me pode usar da forma que mais lhe convier. Com esse atropelo fui colocado a dar aulas a 200km de casa, ganho 50€ por dia e gasto 40€ e pronto ainda estou pior que aquelas Senhoras da fábrica dos Açores que parece que ganham o mísero salário mínimo. Como já deve ter feito, as contas ganho 300€ por mês... já mudei 2 vezes de pneus e fiquei parado na estrada 2 vezes. Já devo no mecânico mais de 1000€.
Já sei o que está a pensar.... porque não fica a dormir lá no local onde foi colocado? Não fico porque ainda sou casado, porque ainda tenho um filho e porque tenho pais que precisam dos meus cuidados.
Mas gostei muito daquela parte em que o sr. lamentou o facto de as famílias dos alunos não saberem o que vai acontecer desta greve. Sabe que os professores também têm família e os filhos dos professores também sofrem muito, e todos os anos, sem saberem se em setembro vão mudar de casa, se vão mudar de escola, sem saberem se vão ter que deixar de praticar desporto, sem saberem se vão ter de abandonar as suas actividades extracurriculares... olhe, sem saberem o seu futuro. Pense lá um bocadinho como será a estabilidade emocional desses professores e dessas famílias.
Também gostei de saber que os professores querem progredir na carreira mais depressa que os restantes funcionários públicos... sou sincero, não sei nada sobre as outras carreiras profissionais... mas relativamente à minha, trabalho há 18 anos e nunca progredi na minha vida, estou tal e qual aquelas sras que são exploradas lá nos Açores.

Podia dizer mais coisas... mas não vale a pena.

Fonte: Aventar.eu