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quarta-feira, 6 de junho de 2018

Nova direção do PSD retira setas do símbolo do partido

Revista de Imprensa JE

10:03

A alteração, que terá passado despercebida à maioria dos militantes do PSD, está a ser alvo de críticas da militante histórica Virgínia Estorninho, que afirma que estão a apagar a identidade do partido.

A nova direção do Partido Social Democrata (PSD) remodelou o logótipo do partido, retirando as três setas que acompanham as letras que o identificam. A alteração, que terá passado despercebida à maioria dos militantes do PSD, está a ser alvo de críticas da militante histórica Virgínia Estorninho, que afirma que estão a apagar a identidade do partido, noticia o jornal “Público”.

Virgínia Estorninho explica que as setas simbolizavam “os três fatores do movimento: o poder político e intelectual, a força económica e social, e a força física. O seu paralelismo exprimia o pensamento da frente unida: tudo devia ser mobilizado contra o inimigo comum – o nazismo”. Desenhadas em sobreposição, as setas foram usadas, no início, para “anularem a cruz suástica, símbolo do regime nazi”.

A militante histórica considera um absurdo a alteração do símbolo e garante que se as setas não forem repostas, organiza uma manifestação à porta da sede do PSD. “Tiraram-nos as setas e enfiaram-nos num quadrado laranja. Não admito isso”, afirma. Anteriormente, o voto de protesto da militante fez com que Durão Barroso também recuasse quando tentou fundir as três setas numa só.

Questionado pelo jornal “Público”, o secretário-geral do PSD, José Silvano, indica que a alteração foi feita antes de assumir o cargo, mas admite que o símbolo original do partido pode vir a ser colocado no site. “As setas estão em quase todos os documentos oficiais. O site foi criado com um novo desenho. Vamos ver se acrescentamos o símbolo”, garante José Silvano.

Cinquentenário - Robert Kennedy

Quinta Emenda

Tenho o direito de ficar calado. Mas não fico!

  • Eduardo Louro
  • 06.06.18

Resultado de imagem para robert kennedy

Pouco mais de dois meses, exactamente dois meses e dois dias, depois de ter anunciado o assassínio de Martin Luther King, foi ele próprio assassinado. Como  o seu irmão, o Presidente John Kennedy, quatro anos e meio antes...

Fora Procurador Geral, onde enfentou a Mafia e o crime organizado em geral. Era senador por Nova Iorque e aprestava-se para garantir a nomeação do Partido Democrata para candiadato às presidenciais de Novembro de 1968. Comemorava a vitória nas decisivas primárias na Califórnia, no Hotel Ambassador, em Los Angeles quando, naquele dia 5 de Junho, não interessa quem - nunca os assassinos deveriam ficar na História -, o baleou na cabeça. Acabaria por morrer no dia seguinte, no Hospital Bom Samaritano, aos 42 anos. Há 50 anos!

A tragédia voltava a abater-se sobre a América. E sobre o mais mítico e poderoso clã americano. O crime voltava a ganhar, e os americanos acabariam  por, cinco meses depois, eleger finalmente Richard Nixon como 37º presidente americano, o primeiro obrigado a resignar, em 1974, na sequência do escândalo Watergate.

Prudência, dizia o ditador

Ladrões de Bicicletas


Posted: 05 Jun 2018 06:23 PM PDT

Imagem já não sei se do filme "No", se do documentário "Chicago Boys"

Em 1988, a perder a campanha de um referendo que se pretendia ser plebiscitário, o general Augusto Pinochet apelou à prudência dos chilenos. Não votem "No". Não queiram deitar a perder todo o sacrifício feito.
O que é que os chilenos poderiam perder?
A economia crescia, mas esses ganhos eram desigualmente repartidos. O milagreapenas fora conseguido pelos economistas conhecidos por Chicagos Boys com a quebra de liberdades fundamentais, com as tropas no governo e as polícias na rua. De 1980 a 1989, os gastos públicos com a saúde caíram 42%, os da educação 23%, os salários reais subiram 3% em dez anos mas ficando 10% abaixo do valor de 1970, o rendimento mínimo desceu 34%.
Só a ideia de prudência tem pressuposto todo um diagnóstico das causas das crises verificadas: a crise das dívidas públicas, motivadas por défices orçamentais elevados, em que no centro está o Estado. Esse diagnóstico está errado. E como tal, a terapia conexa - a austeridade, a contenção, a prudência - não resolve nenhum problema. Pior: evita que se olhe o problema de frente. Mas não se quer olhar o problema de frente porque isso seria olhar de frente o centro do poder e, como tal, pôr em causa a actual estrutura do poder.
A aplicação da prudência era, no Chile, a forma de manter essa realidade, essa distribuição de poder. Ao mesmo tempo, aproveitava-se para culpabilizar as políticas redistributivas da esquerda.
O mesmo apelo à prudência foi feito na Grécia em 2015, com o Syriza estava no poder. Para mostrar quão prudente poderia ser um governo de radicais, a equipa de Tsipras foi além das metas. Em vez do plano de Varoufakis, que previa um saldo orçamental primário de 1,5% do PIB complementado com uma reestruturação da dívida pública (única forma de solver o problema de base, criado pelo sistema financeiro corruptamente mantido pelo BCE, apoiado numa comunicação social falida e obediente), aumentou a meta para 3,5% do PIB, durante anos e anos, com uma vaga promessa de reestruturação no futuro.
Dois pontos percentuais a mais era o mesmo que esfolar vivo um povo já em plena crise social aguda.
E tudo por receio que o BCE fechasse a torneira de financiamento aos bancos e colocasse os gregos em bichas para retirar dinheiro das caixas multibanco. Havia alternativa?

Segundo Yanis Varoufakis, sim.
Primeiro, a alternativa seria realizar uma reestruturação da dívida como foi feito com a Alemanha no pós-guerra. Essa solução - apesar da História - nunca teve o aval de quem manda na Alemanha, porque prejudicaria a Alemanha e beneficiaria quem actualmente beneficia a Alemanha, através de uma moeda europeia desequilibrada que acentua esse desequilíbrio.
A outra alternativa era enfrentar esta realidade desigual: ganhar poder de fogo, sem falsos bluffs. Isso far-se-ia preparando soluções técnicas para poder virar a mesa do jogo. Preparar-se para a criação de uma moeda paralela que circulasse electronicamente, deixar falir o banco central (sucursal do BCE) e criar um novo banco central, revelar a insustentabilidade da dívida e fazer os credores pagar o que tinham feito na Grécia, não aceitar um resgate para pagar aos credores os seus desmandos que poria o povo a pagá-los, com a austeridade.
Ia ser difícil? Dificílimo. Mas era uma questão de respeito próprio nacional.
Ou seja, foram os apelos à prudência que mantiveram o mesmo tipo de poder, de rédea curta (apesar de um referendo contra o regime europeu), subjugando um país ao poder em Frankfurt - em que já não se sabe se o BCE é a ponta de lança do sistema financeiro europeu, ou se é a sua verdadeira cabeça - nunca resolvendo nenhum dos problemas de fundo, porque a dívida é a fonte do poder. Mas cá os nossos comentadores achavam tudo muito bem. Os mercados até tinham reagido bem...
Recordam-se agora de todos os apelos à prudência para que o Governo de Portugal em 2015, apoiado à esquerda, não desfizesse o que fora feito pela direita, não "deitasse fora" todo o sacrifício feito por todos? Recordam-se de todas as críticas ao OE de 2017 por ser contraccionista e esconder a austeridade? Era a forma de o governo ser prudente, sem que se perceba por que razão foi criticado à direita por o ser.
E relembram-se agora de todos os recentes apelos à prudência quando de todos os lados se critica os défices além do previsto e se coloca em causa a forma de gestão orçamental do recém-nomeado presidente do Eurogrupo? "Esperemos agora que a sorte continue a proteger António Costa para não pagarmos um preço elevado por essa falta de prudência." Ou ainda de outro: "A prudência não está na moda".
Para perceber ao que conduz tanta prudência - que no fundo não resolve nenhum dos problemas reais e apenas mantém uma forma de poder -, para perceber que poder está instalado na Europa e que poder necessariamente Centeno vai servir, aconselha-se vivamente a leitura do livro de Yanis Varoufakis, Comportem-se como adultos - A minha luta contra o establishment na Europa. Sente-se muito o ego do ex-ministro, mas eu acredito que o que ele conta é inteiramente verdade.
E de cada vez que ouvirem António Costa usar o argumento do sacrifício feito por todos, pensem que essa é a forma prudente do primeiro-ministro já estar a ceder e a defender a prudência que mantém no poder um certo tipo de poder.
Esse é um problema que o PS terá de resolver por si. Para onde quer levar os portugueses?

UM GONÇALVES “do” CARVALHO!

por estatuadesal

(Joaquim Vassalo Abreu, 06/06/2018)

bjard

E eis como, como vão perceber, um “do” faz uma diferença abissal de um “de”!

E até que é fácil: um é “de” Jardim (ilha, flores, dinheiro, fragância, vida boa, boa vida, sinecuras várias, santo da sua igreja, sem mácula e receptuário daquilo a que tem, pelas normas do que a sua santa igreja manda, direito a uma pia reforma de 170.000 aéreos por mês…) e o outro não passa de um tresloucado energúmeno que sonhou um dia tomar posse daquilo que era dele e deles: um “do” Carvalho!

Mas que tem isso a ver com a figurinha do Carvalho e a vida do Sporting, dirigido pela figurinha? Como vão ver, muito e muito, no meu modesto entender e da minha forma um tanto oblíqua de ver as coisas!

Mas oblíquas, porquê? Porque eu quero lá saber se o Bruno é mesmo do Carvalho, se o Jesus é mesmo o Jesus, se o Patrício é mesmo um patrício, se o Williams é mesmo português ou se o Marta Soares é tão matarruano como eu julgo ser? Quero eu lá saber! Eu quero saber é do Gonçalves…

E a minha tese é, se querem saber, que esta coisa do Sporting, de que toda a Imprensa falada e escrita faz parangonas e gasta horas e horas em horário nobre, foi provocada pelo Jardim e pelo Salgado! Também pelo Salgado, acreditem em mim…Isso é que quero saber! Para ajuizar da sua “santidade”…

E quando começou? Quando um e outro lhe emprestaram aquela pipa de massa, uma batelada mesmo e, quando fizeram aquela supimpa de uma consolidação em médio longo prazo a perder de vista, então é que foi! Os adversários até ficaram loucos de inveja, e protestaram mesmo porque, não havia direito, pois eles tinham tudo em Obrigações…

Mas, sabiam eles, e os “Carvalhos” não, que tudo isso emanava de uma terrífica estratégia, tão bem elucubrada que ninguém nunca poderia imaginar! Ficariam para sempre umbricamente ligados, não só aos imprudentes empréstimos como às suas consolidações! Eu disse “consolidações”? É, simplesmente, uma boa metáfora…

E então, ambos em dificuldades várias por motivos “normais” de gestão, essa coisa tão abrangente que dissipa em todos os reguladores todas as dúvidas, resolveram combinar que o Sporting e o seu prefeito Bruno seriam não só o seu “alibi”, como o subterfúgio que utilizariam para passarem incólumes por uma imprensa tão devoradora quanto inábil e que, ao invés de denunciá-los, deles se esqueceriam para falarem apenas do prefeito Bruno e do seu Sporting! E Kafka não faria melhor…E também do Jesus… Percebem?

Como todos sabemos o Salgado, em conflito aceso com o “verde” primo Ricciardi, jogou em antecipação, não esperou até que o “Bruninho” fosse eleito e estrepou-se! Mas ele que tinha jurado vingança sobre o primo “verde” riu-se e esperou sentado! Estou certo, não acham? Ele saiu de cena mas deixou o primo encurralado!

Mas o Jardim “do” Gonçalves, esse não! É que o Jardim, para além da sua comenda de “santo” proposta e aclamada pela “Opus Dei”, divinamente acolitado sabia bem dos passos que dava e contou sempre com um fiel aliado, um tal de Costa, o do Banco de Portugal que, depois de muito activo, desapareceu completamente dos espaços etéreos da comunicação social, como seu antigo aliado nas “tramoias” que ele fez no BCP, guardou anos e anos a fio o seu processo de Coima numa gaveta do Banco de Portugal até que agora um determinado Tribunal não só o considerou inocente (de pagar), como o tornou livre de receber a sua parca pensão mensal de 170 mil aéreos/mês! Uma bagatela…PRESCREVEU, decidiram os tais de Magistrados!

Mas voltando à minha tese: porque é que tudo assim sucedeu? Porque, na rectaguarda, ele elucubrou, e volto à palavra, tudo o que se tem passado com o “Bruninho”, coitadinho para, enfrentando-o por diversas pessoas ligadas a quadrantes díspares- seguranças, tropas de elite das claques, um tal de Marta Soares (a quem uma vez uma Empresa que eu conheço lhe penhorou a cadeira de presidente da Câmara de Vila Nova de Poiares)- e que é que como um indivíduo destes pode ser presidente de uma assembleia geral de um clube- provocar aquele espalhafato todo que conhecemos e que levou toda a chamada comunicação social, e o CM incluído, a não falarem de outra coisa, esquecendo-se dele, do Gonçalves…o Jardim, pronto! Brilhante, tenho que concluir…

Eu, vou-vos confessar, ainda pensei a princípio que tudo o que vem sucedendo tivesse o dedo do Sócrates! Mesmo aquelas dívidas todas que têm vindo a público do Vieira! Porque, vamos convir, ele é assumidamente benfiquista, estão a ver? Mas porquê? Ora, ele não está em tudo e a tudo ligado?

Mas ninguém me tira da ideia! E se for o seu Amigo, o tal que lhe emprestava dinheiro, massa que supostamente era dele, como dizem os doutos Procuradores da República (República de quê? Recorram ao Woody Allen se querem mesmo saber…), que engendrou, aliviando o Sócrates, tudo isto e tivesse também jurado vingança sobre o “verde” Ricciardi? Ninguém me tira da ideia…

A dúvida pairará sempre, eu sei, mas e se a dita cuja dívida (dos de gravata verde) explodir,  quem se ficará a rir?

Admira-me os CM´s não terem tudo isto descortinado - deve ser da sua manifesta falta de inteligência e sentido da oportunidade dos tempos que os percorrem - mas, para mim, a dúvida pairará sempre!

É que ninguém me tira da ideia…

NB - Acham isto inverosímil? Dêem-me então a vossa versão!!!

Temos a certeza de que não temos população a mais?

por estatuadesal

(Pedro Tadeu, in Diário de Notícias, 05/06/2018)

tadeu

No domingo à noite o atual comentador do regime, doutor Marques Mendes, protestava na SIC contra o líder do seu partido, o PSD: "Rui Rio não tem causas próprias, não tem uma agenda alternativa, não tem propostas diferentes das do governo", disse, no Jornal da Noite. "Parece uma muleta de António Costa", protestou.

Pois logo no dia seguinte a esta acusação, "bam!", o presidente do Partido Social-Democrata respondeu à crítica do antigo líder do mesmo partido e mandou cá para fora um slogan de campanha estrepitoso: o PSD propõe que, a partir de agora, os pais portugueses recebam dez mil euros por filho.

Lendo as letras miudinhas do documento elaborado por um conselho de sábios (explicado ontem pela jornalista Paula Sá, no Diário de Notícias) percebe-se que, afinal, estes dez mil euros seriam pagos faseadamente até a criança fazer 18 anos, o que diminui um bocado o entusiasmo inicial da ideia...

Ah!, também fui fazer as contas e como, afinal, Rui Rio pretende acabar com o abono de família, a conclusão é que as famílias mais pobres com direito a esse subsídio, se esta proposta fosse para a frente, passariam a receber, ao fim de 18 anos, menos seis mil e 700 euros pelo primeiro filho do que agora recebem, enquanto as mais ricas receberão mais 5200 euros... e isto já é um verdadeiro balde de água fria despejado sobre a bondade do articulado tricotado pelo "Conselho Estratégico do PSD", dirigido por David Justino.

Mas o projeto tem outros detalhes, relevantes, que incluem apoios ao aumento de creches em empresas, um pagamento de 429 euros às grávidas, aumento da licença de maternidade para 26 semanas e algumas outras ideias avulsas.

O pressuposto é este: combater o que Rui Rio define como "hemorragia demográfica".

Não podemos dizer que o tema da demografia seja propriamente inovador: todos os partidos portugueses, há anos, abordam o assunto e ainda há poucos dias o primeiro-ministro António Costa veio defender um aumento de imigração para ajudar a resolver a questão.

Sendo assim, e aplicando os critérios de boa oposição definidos por Marques Mendes, estas propostas não podem ser catalogadas como "causas próprias" do PSD, não definem uma "agenda alternativa" às dos outros partidos mas podem ser consideradas "diferentes" das do governo. Rui Rio acerta, portanto, um em três.

Mas mais importante do que validar as estratégias da politicazinha cá de casa ou mesmo da apreciação do mérito de cada uma das propostas partidárias que venham a existir para combater a "hemorragia demográfica", gostava de perceber melhor a dimensão e a previsão de consequências que essa diminuição e envelhecimento da população podem trazer.

Não me parece rigoroso ver o que se passou na última meia dúzia de anos. Para perceber com rigor o que se passa, temos de analisar ciclos maiores. Vamos ver os últimos 30 anos.

É totalmente verdade que cada vez nascem menos crianças em Portugal: em 1987 foram 123 mil, em 2007 102 mil e no ano passado 86 mil. Mas a população não diminuiu: em 1987 éramos dez milhões, em 1997 dez milhões e cem mil e em 2017 serão dez milhões e 300 mil.

Já lemos uma explicação para isto: o aumento da esperança de vida justifica a subida populacional. Há mais idosos, muitos deles reformados e pensionistas e, como diminuem os jovens, a sustentabilidade da Segurança Social e a pressão financeira sobre o Serviço Nacional de Saúde fazem temer uma rutura desses sistemas.

Mas isto não é ver, apenas, uma parcela do problema? Não estamos a analisar o futuro com pressupostos do passado?

Por exemplo: num mundo revolucionado pela Inteligência Artificial (IA) e pela automação, que aí vêm a toda a velocidade e que vão comer milhões de empregos, de forma imediata, a motoristas, caixas de supermercado, maquinistas, bancários ou, até, cirurgiões, será melhor ter exércitos de desempregados de longa duração, muitos deles jovens, do que uma legião de idosos reformados? A contração demográfica não pode ser uma ajuda para solucionar estes novos problemas? O aumento de riqueza e do PIB que essas novas tecnologias proporcionarão não deveriam ajudar a pagar as reformas dos mais velhos, em vez de pagar a inatividade dos mais novos? Não será isso, do ponto de vista das relações sociais entre gerações, entre classes, muito mais suportável?

Imaginemos, otimistas, que essa mudança no mercado de trabalho é compensada por um aumento de qualificação da juventude de tal forma sofisticada que permite arranjar novos empregos onde a IA não atua. Esse mundo, quase ideal, será, à luz dos critérios dos nossos dias, um mundo de produtividade superlativa.

Será que, neste caso, a equação sobre a demografia portuguesa muda? Ou será que o problema da Segurança Social e da Saúde deixa de se colocar porque as contribuições e os impostos destes trabalhadores e das suas empresas, numa economia superacelerada, superprodutiva, super-rentável, pagará com facilidade esse custo, mesmo que o número de reformados suba exponencialmente?

O que vamos enfrentar no futuro não se trata, antes, de um problema clássico de divisão da riqueza criada, em vez de uma tragédia social suscitada por uma "hemorragia demográfica"? Não estamos aqui a iludir o verdadeiro problema?

Voltemos a olhar para o ciclo de 30 anos: acontece que a população ativa portuguesa, a que pode fazer descontos para a Segurança Social e pagar impostos para a Saúde, subiu, de 1987 até agora, 419 mil pessoas, enquanto a idosa, a que recebe pensões e reformas, subiu 917 mil. A diferença, numa população média de dez milhões, é de apenas 498 mil pessoas.

É assim uma diferença tão dramática que uma gestão assisada dos recursos existentes não possa acomodar?

Afinal, o PIB per capita em 1987 era de 3318 euros e agora é de 17 964 euros, quase cinco vezes e meia mais... Isto não conta para a análise do problema?

Em média as mulheres portuguesas têm 1,23 filhos. As angolanas 6,2. Prevê-se que a população portuguesa, em 2050, seja de nove milhões e cem mil pessoas, a mesma que teve em 1975. A angolana, que ronda os 30 milhões, será nessa altura de 68 milhões, um valor inimaginável na história do país. Este é um exemplo do que se passa no mundo sobre a diferença demográfica entre países ditos "desenvolvidos" e os ditos "emergentes".

O mundo tem atualmente 7600 milhões de habitantes e prevê-se que em 2100 chegue a 11 200 milhões. Os recursos do planeta Terra não estão a chegar para alimentar a população terrestre. Mesmo o aumento da produção agrícola previsto não evitará a fome que atinge, atualmente, 805 milhões de pessoas. E não sabemos claramente se todos terão acesso a água potável ou energia. Sabemos é que o planeta, desde o ano passado, entrou em défice e que gastamos mais recursos naturais do que a Terra é capaz de produzir.

E as alterações climáticas aumentam ainda mais a incerteza...

O mundo precisa de controlar o crescimento demográfico - querer aumentá-lo, aqui ou noutros países desenvolvidos, com população envelhecida, não pode ser um erro fatal?

Depois há outro aspeto que não vejo normalmente analisado, a não ser do lado avarento que ameaça com mais cortes de pensões ou com subidas de idade para reforma: com o aumento da esperança média de vida, um homem ou uma mulher de 67 anos têm ainda muito para dar.

O aproveitamento que a sociedade faz destas pessoas tem de ser outro: eles e elas têm todo o direito a reformar-se e a libertar-se de uma série de deveres que a organização formal do trabalho implica. Mas também muitos deles e muitas delas têm desejo de usufruir da reforma de uma forma produtiva, ativa, participativa na vida familiar e social, com uma intensidade que as gerações passadas não conseguiam oferecer.

Seja como consumidores, como excursionistas, como turistas, como voluntários, como conselheiros, como educadores, como trabalhadores em part-time, como diretores de clubes ou associações, como autarcas, seja como for, a participação ativa destes milhões de indivíduos na sociedade produz uma riqueza económica adicional e traduz um contributo para o equilíbrio da vida social que tem de entrar na conta na forma como vemos hoje a demografia e que, no passado, quando falávamos dos "mais velhos", não tinha, de facto, a mesma equação.

Um "velho" de hoje vale economicamente e socialmente muito mais do que um "velho" do passado e, por isso, não podemos olhar para a demografia do século XXI como analisávamos a do século passado.

Portugal teve sempre uma população inferior a nove milhões de pessoas. Só em 1995 chegou aos dez milhões. Temos a certeza de que não temos população a mais?