Translate

quinta-feira, 28 de junho de 2018

Merkel pressiona 28 a solução conjunta para a crise migratória

Paulo Alexandre Amaral - RTP28 Jun, 2018, 11:13 / atualizado em 28 Jun, 2018, 11:13 | Mundo

Merkel pressiona 28 a solução conjunta para a crise migratória

A chanceler Angela Merkel dirigiu-se esta manhã ao parlamento alemão | Reuters

A crise migratória pode não ser menos do que a própria sobrevivência da União Europeia nos moldes que hoje formam o bloco europeu. O recado aos 28 foi deixado esta manhã pela chanceler alemã, Angela Merkel, como mote para a cimeira que arranca esta quinta-feira em Bruxelas. Pressionada em casa pelo seu próprio ministro do Interior, Merkel procura assim forçar uma solução de consenso para a crise migratória que se sobreponha às medidas unilaterais tomadas pelos Estados-membros, que nas últimas semanas têm feito do jogo do empurra uma solução para os desafios colocados à Europa com barcos apinhados de migrantes.

A chanceler Angela Merkel dirigiu-se esta manhã ao parlamento com a ideia clara de que na solução para os dramas dos refugiados pode estar o oxigénio para a sobrevivência do próprio projecto europeu: “A Europa enfrenta muitos desafios, mas este que está relacionado com a questão migratória poderá decidir o destino da União Europeia”.

O tema vai dominar a Cimeira de Bruxelas, com arranque marcado para esta quinta-feira, e não é certo que os parceiros europeus sejam capazes de cozinhar uma solução para o problema que possa responder ao desejo de Merkel de uma solução multilateral. Uma solução que saiba responder a esta crise sem que haja um fecho de fronteiras com efeito dominó na União Europeia e assim preserve o espaço Schengen e a abertura à circulação livre de pessoas, mercadorias e ideias que está na base de toda a União.

“Ou nós somos capazes de chegar a um consenso, de forma a que outros na África percebam que somos guiados por valores e acreditem no multilateralismo, não unilateralismo, ou ninguém mais irá acreditar no sistema de valores que nos fez forte”, afirmou Angela Merkel, sublinhando que “é por isso que esta questão é tão importante”.

A situação que se vive actualmente nas portas da Europa é diferente do ambiente de há quatro anos, com os números de ilegais que procuravam chegar a solo europeu a cair 96% desde Outubro de 2015. Estão ainda frescas na memória as imagens de centros de detenção apilhados de imigrantes que buscavam a rota do Mediterrâneo, passando pela Grécia e Balcãs, em busca dos países ricos como a Alemanha, Inglaterra ou Dinamarca, onde projectavam uma promessa de vida.

As perseguições na fronteira húngara geraram na altura polémica, com vídeos oficiais a ameaçarem directamente aqueles que estivessem dispostos a arriscar a escala húngara. Nos dias que correm, o repúdio pelos fluxos de refugiados mantém-se em países dominados por governos de extrema-direita, com o Mediterrâneo a encher-se de barcos “à deriva”, empurrados de porto em porto, cada um deles abrindo o seu próprio dossier de crise, enquanto centenas de migrantes aguardam pela futuro apilhados nas embarcações das organizações não-governamentais.

Foi este o caso do navio Aquarius, com 629 imigrantes a bordo, impedido de atracar nos portos italianos pelo ministro do Interior, Matteo Salvini. Riscada Malta como destino proposto por Roma, acabaria por ser Espanha, onde foi recentemente empossado o governo socialista de Pedro Sánchez a oferecer uma solução para o problema.

A questão voltou a colocar-se nos últimos dias com o navio “Lifeline” e ameaça repetir-se todos os dias com as embarcações das ONG que patrulham as águas do Mediterrânio à procura de gente desesperada em busca de uma Europa que parece não ter uma resposta para a sua situação.

A chanceler alemã pressiona Bruxelas a um consenso que mantenha vivo o projecto europeu, nas suas palavras, mas poderá ser também a sua sobrevivência política na Alemanha a estar na agenda desta cimeira. Em causa está o ataque lançado pelo ministro do Interior, Horst Seehofer, um crítico da política de portas abertas de Angela Merkel.

O ultimato de Seehofer, do partido conservador da Baviera CSU, não podia ser mais claro: “No final desta Cimeira de Bruxelas deve regressar a casa com uma solução pan-europeia capaz de impedir que a imigração ilegal continue a sangrar a Alemanha. Ou isso, ou vou unilateralmente fechar as fronteiras alemãs”.

Trata-se de uma inversão total da política defendida pela chanceler Merkel com custos internos nos últimos anos e um desafio à sua própria autoridade enquanto chefe do governo. Falhar em Bruxelas poderá agora significar num horizonte muito próximo a ruptura da coligação alemã e novas eleições.

Coligação de vontades

Angela Merkel deverá, portanto, constituir-se como o pivot de uma cimeira que vai girar em torno da pressão migratória que ameaça despedaçar a estrutura política da Europa dos 28. A chanceler apela, nesse sentido, a uma “coligação de vontades” que permita concluir acordos contemplando a vinculação – e regresso – dos migrantes ao primeiro país onde foram registados.
“Não é certamente uma solução perfeita, mas é um começo” para controlar a movimentação dos requerentes de asilo na União Europeia, que não têm o direito de escolher o país de acolhimento.
A partir do Bundestag, a líder alemã colocou também em cima da mesa o regresso a um cenário de negociação com os países da outra margem do Mediterrâneo, à semelhança do que foi feito há uns anos com a Turquia no Velho Continente, como plano de trabalho para conter as massas de refugiados.
Angela Merkel sublinharia, perante o parlamento alemão, que é uma ideia geral das lideranças europeias a prioridade de reduzir a imigração ilegal que chega do Norte de África e países árabes.
Entretanto, chega agora a questão terminológica: que tipo de imigrante é cada imigrante. Definir a natureza de cada indivíduo que busca um destino na Europa está na base de ideia de lançar postos avançados em solo africano, onde as autoridades europeias estabelecerão a legitimidade dos avanços migratórios: aqueles que fossem classificados de imigrantes económicos (em busca de uma vida melhor) seriam repatriados, apenas sendo permitido viajar aos refugiados ou aqueles com direito a asilo.
Na Alemanha, fontes próximas do executivo de Merkel estimavam um rácio três em dez para o cenário de uma cimeira com uma solução para a crise migratória que não leve ao fecho de fronteiras em cadeia e coloque em causa o espaço Schengen: “E se Schengen falhar, é o início do fim da União Europeia”, afirmou um membro do governo à BBC, com o pano de fundo das declarações dominado pela ideia real da proliferação de governos nacionalistas e de extrema-direita na Europa.

Ladrões de Bicicletas


Contra-reforma

Posted: 27 Jun 2018 05:32 AM PDT

Não é que haja uma grande esperança neste debate de amanhã. Até porque Mário Centeno já avisou - de forma espantosa, enganadora e quase escandalosa - que os "últimos resquícios da crise do euro" acabaram com o fim do programa de financiamento à Grécia.
Não há qualquer expectativa. Mas poderá ser uma oportunidade para questionar insistentemente a maioria dos oradores - nomeadamente o secretário de Estado do ministro Centeno - sobre como é que algo que acabou precisa ainda de ser reformado...
E, depois, que reforma será essa - apenas uma mais que coxa união bancária? - que acabe por manter todas as razões que explicam a actual crise do euro?
Nomeadamente: Por que razão os países do centro europeu acumulam excedentes externos e os países da periferia défices externos - que precisam de ser financiados - e que prejudicam toda a actividade económica dos países lesados, com impacto nas suas contas públicas? De que forma se vai resolver esse problema de fundo? Será uma reforma ou apenas um papel a dizer que "os últimos resquícios da crise do euro" acabaram como o disse o presidente do Eurogrupo, em linha com o pensamento dominante desse eurogrupo informal (ilegal) e opaco, sem quaisquer actas nem documentos consultáveis?

O dia em que o polvo autárquico tremeu

Novo artigo em Aventar


por João Mendes

via Expresso

Durante a manhã de ontem, a PJ efectuou cerca de 70 buscas na zona de Lisboa, tendo por alvos a sede concelhia do PS, a sede nacional do PSD, a sede da comissão distrital do PSD, os serviços centrais de Urbanismo da CML e três freguesias governadas pelo PSD: Areeiro, Santo António e Estrela. Outras buscas, que se estenderam a outras geografias, visaram ainda instalações partidárias e escritórios de advogados.

Em causa estão suspeitas de crimes de corrupção passiva, tráfico de influência, participação económica em negócio e financiamento proibido. Segundo o MP, citado pelo Expresso, "Um grupo de indivíduos ligados às estruturas de partido político, desenvolveram entre si influências destinadas a alcançar a celebração de contratos públicos, incluindo avenças com pessoas singulares e outras posições estratégicas".

Ler mais deste artigo

O crime e a cobardia estão no DNA da extrema-direita

  por estatuadesal

(Daniel Oliveira, in Expresso Diário, 27/06/2018)

Daniel

Daniel Oliveira

O jornalista autor do livro “Gomorra”, Roberto Saviano, vive há 12 anos protegido pela polícia por se dedicar a investigar a máfia napolitana. Graças à sua obra sobre a Camorra, a sua presença é frequentemente solicitada no estrangeiro para conferências. Por ter a cabeça a prémio, é sempre acompanhado por seguranças policiais. A proteção de Saviano não é um favor do Estado, é um dever do Estado. O escritor é perseguido por criminosos por denunciar criminosos. Está do lado da lei contra o crime e a sua liberdade (incluindo a de movimentos) não pode ser limitada por isso.

Recentemente, numa entrevista ao canal Rai Tre, o ministro do Interior e líder da Liga italiana, Matteo Salvini, disse que seria útil avaliar se Saviano ainda precisa da proteção policial. Que os italianos tinham direito a saber como andava a ser gasto o seu dinheiro, já que o jornalista viajava bastante. O que está em causa não são, como é evidente, os custos para o Estado. O que está em causa é o facto de Saviano ser bastante crítico do novo governo e das suas políticas para a imigração e tê-lo expresso de forma bastante vocal. Salvini não gosta e, como é costume em líderes autoritários, começou a pensa como poderia calar o homem. Assumindo, como também é hábito, que é o Estado que está ao seu serviço e não ele que está ao serviço do Estado, acha que a “sua” polícia não deve proteger os seus opositores. E a ameaça de o deixar desprotegido foi o que lhe ocorreu.

A resposta de Saviano foi esta: “Viver sob proteção policial é uma tragédia, e a Itália é o país ocidental com o maior número de jornalistas nestas condições, porque tem as mais poderosas e perigosas organizações criminosas do mundo. No entanto, e apesar disso, em vez de libertar os jornalistas sob a sua proteção dos riscos, Matteo Salvini, o ministro do Interior, ameaça-os. As palavras pesam, e as palavras do Ministro do Submundo (...) são palavras da máfia. As máfias estão a ameaçar. Salvini ameaça.” E é isto mesmo: o ministro do Interior de Itália, responsável pela segurança dos italianos, usa o medo da máfia para tentar calar os seus opositores. Salvini é, por isso, um criminoso.

Não devemos criminalizar as posições políticas de ninguém. Tenho até defendido que os partidos fascistas deviam ser legais em Portugal desde que cumpram as leis e as regras democráticas. Até ao dia que as deixem de cumprir. Mas não tenhamos ilusões: chegados ao poder, acabam sempre por violá-las. Porque o crime faz parte do seu DNA.

O que quer dizer que um sistema político só os pode tolerar se estiver defendido por instituições sólidas que lhes partam as pernas ao primeiro deslize. Em Itália, com Salvini, devia ser agora mesmo. E pouco interessa ele dizer que serão as autoridades competentes a verificar. A ameaça está lá. E é mais abjeto o governante que ameaça desproteger um opositor para que os criminosos o abatam do que aquele que manda abater. Além de criminoso é cobarde. Mas também a cobardia está no DNA de quem faz do ataque aos mais fracos, sejam imigrantes ou minorias étnicas, a sua maior arma política.

Entre as brumas da memória


Da série «Grandes Capas»

Posted: 27 Jun 2018 01:59 PM PDT

«Ports interdits, frontières grillagées, murs de séparation… Le Conseil européen qui s’ouvre ce jeudi est celui d’un continent d’exclusion qui se replie sur lui-même.»

.

Maria Velho da Costa, 80

Posted: 27 Jun 2018 09:36 AM PDT

Com um imperdoável dia de atraso, não quero deixar de assinalar que a «minha» escritora portguesa mais do que preferida, que conheci como Fátima Bívar bem antes de tudo o que veio a celebrizá-la, chegou ontem aos 80.

Maria de Fátima de Bívar Velho da Costa nasceu em 26 de Junho de 1938. Andámos por aí, na noite de Lisboa, em grupos improváveis que já se foram esvaziando pelas leis da vida – e do fim da mesma.

Se foi sobretudo a sua colaboração nas célebres Novas Cartas Portuguesas, que escreveu a seis mãos com Isabel Barreno e Teresa Horta e que a trouxeram, com estrondo, para a ribalta da perseguição da PIDE e dos tribunais, ela é para mim, antes de mais e acima de tudo, a grande autora de Maina Mendes(1969) que li de um trago e já reli nem sei quantas vezes. Muitos outros livros vieram, talvez com destaque para Missa in Albis (1988).

Parabéns, Fátima!

.

E não há racismo em Potugal?

Posted: 27 Jun 2018 06:13 AM PDT

(Fotografia divulgada no Facebook)

"Preta de merda, queres apanhar um autocarro, apanhas no teu país"

A ler, nem comento.
.

O nosso VAR

Posted: 27 Jun 2018 03:06 AM PDT

«Imaginemos, por momentos, que havia um VAR na política nacional. Que, após uma decisão qualquer, intervinha, e deixava ministros, deputados e cidadãos em suspenso. Sobre se existia um fora-de-jogo num concurso público, um penálti duvidoso numa nomeação, uma simulação na distribuição de fundos públicos. O VAR, no futebol, prometeu o fim dos fingimentos e a nobre vitória da verdade sobre a mentira. Repara-se, neste Mundial de futebol, que ele democratiza o erro. Tentando acabar com os erros, erra tanto como os mortais árbitros. E, além disso, destrói a emoção e a dúvida, a sorte e o azar, que são a essência do futebol. E que, de alguma maneira, também o são da política. Se o VAR se aplicasse ao modo austero como a selecção nacional tem jogado neste futebol, diríamos que Portugal ainda não saiu da tutela da troika. Portugal não investe, poupa. E, muitas vezes, esquece-se de jogar futebol. Não arrisca, não tem fibra, defende em vez de ousar, atacar. Fernando Santos, ao colocar Ricardo Quaresma em campo, tinha uma ideia: que ele cruzasse para que a cabeça de Ronaldo marcasse golo. Não aconteceu assim.

No sábado defrontamos um tenaz Uruguai, também ele sôfrego em busca da bola, e com melhores talentos do que o Irão ou Marrocos. Se contra estes Portugal viu jogar, teme-se o que aí vem. Sofrimento e fado, como é habitual. E crença em Ronaldo. Só que Portugal não sabe jogar ao ataque, dentro da engenharia conservadora de Fernando Santos: Bernardo Silva, por exemplo, está mais preocupado em defender do que em criar rupturas ofensivas. Não há desmarcações, nem fibra. Portugal gere o jogo de longe, sem pôr o pé, à espera que Ronaldo, num dia sim, resolva. Mas esta foi sempre a táctica do seleccionador. Uma cultura táctica que não é diferente daquela que encontramos na política portuguesa: o tempo, ou a sorte, há-de resolver os problemas mais sérios. O caso do Infarmed é exemplar: decisões tomadas a medo são potenciadoras de desastres futuros.»

Fernando Sobral