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segunda-feira, 22 de abril de 2019

Não se deve economizar na repetição...

Ladrões de Bicicletas


Posted: 22 Apr 2019 02:04 AM PDT

O facto desconfortável para muitos socialistas e liberais é que ‘nenhum contrato social e nenhum sistema de distribuição pode funcionar num quadro político aberto’ – isto é, sem fronteiras e sem regras sobre quem está dentro e sobre quem está fora.  A nação e o Estado são interdependentes. Tamir enfatiza neste contexto o conteúdo psicológico e cultural do nacionalismo – o aspecto da criação de representações geradoras de laço social. Eu enfatizaria igualmente os aspectos económicos. A nação, qualquer que seja a sua construção, requer um Estado que forneça aquilo que os economistas designam por bens públicos – educação, infra-estruturas, lei e ordem. O Estado, por seu lado, precisa da nação para lhe fornecer a legitimidade, a confiança interpessoal e um sentido de destino comum (…) Só uma pequena minoria de profissionais qualificados e de investidores endinheirados é que se pode dar ao luxo de andar pelo mundo em caça de redes sociais alargadas e de oportunidades económicas em expansão. Estes globalistas cosmopolitas (…) conseguiram sacudir as suas responsabilidades na sua nação de origem e não assumiram responsabilidades noutro lado (…) Como qualquer outra ideologia, o nacionalismo pode ser levado em direcções construtivas ou destrutivas (…) É melhor levarmos a sério a sua mensagem antes que seja demasiado tarde para combater os extremistas e para salvar o nacionalismo dos fascistas. [minha tradução]
Ainda não acabei de ler o livro de Yael Tamir. Quando o tiver feito, talvez diga qualquer coisa por aqui. Por agora, quero apenas sublinhar excertos do prefácio, da autoria de Dani Rodrik, sobre a questão do nacionalismo.
Trata-se, de resto, de um economista convencional ao qual se pode aplicar uma versão invertida de Frei Tomás: não faças o que ele diz do ponto de vista teórico e metodológico, mas faz o que ele faz em algumas áreas da economia política, graças ao institucionalismo, em geral, e a Karl Polanyi, em particular: do justamente famoso trilema da economia política internacional à valorização do estado nacional, passando pela defesa de um certo tipo de populismo económico, associado a uma variegada desglobalização. Nenhum destes temas pode ser tratado de forma adequada no quadro da teoria económica convencional. 

Entre as brumas da memória


Aí vou eu

Posted: 21 Apr 2019 01:54 PM PDT

Amanhã, bem cedo, vou até ao Aeroporto Humberto Delgado, o meu destino preferido em Lisboa. Quando voltar aqui será do outro lado do Atlântico, a Norte. Mas não, não vou para a Groenlândia.

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O Sri Lanka também é isto

Posted: 21 Apr 2019 10:40 AM PDT

Por menos racional que seja, os locais onde já estivemos ficam-nos para sempre mais próximos. É o meu caso com o Sri Lanka.

Pôr-do-sol paradisíaco em Beruwela, Sri Lanka (2011)

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Páscoa? Esperem pelo Marcelo, ele vai a caminho!

Posted: 21 Apr 2019 07:30 AM PDT

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Greta Thunberg

Posted: 21 Apr 2019 02:57 AM PDT

«A Antonia estava em Estrasburgo e aproveitou para vir ao Parlamento assistir ao discurso da Greta Thunberg, que para ela é uma heroína. A menina de 7 ou 8 anos emocionou-se quando a Greta se emocionou e não descolou os olhos enquanto ela falava. Quando, no final do discurso, se passou à ronda dos grupos parlamentares, a Antonia perguntou se podia sair. Disse que tinha entendido tudo o que a Greta tinha dito, mas que lhe custava estar ali porque não percebia nada do que diziam as pessoas que estavam agora a falar. Poucos minutos antes de a Antonia ter pedido para sair, eu tinha comentado com a minha colega Jude, com quem a Antonia estava, que me envergonhava a forma como os grupos parlamentares estavam a dirigir-se a Greta.

A jovem sueca de 16 anos fez um discurso poderoso, emotivo, fundado e carregado de urgência. Começou com as palavras: "O meu nome é Greta Thunberg, tenho 16 anos, venho da Suécia, e quero que vocês entrem em pânico. Quero que ajam como se esta casa estivesse a arder (...). Um grande número de políticos já me disse que o pânico nunca conduz a um bom resultado e eu concordo. Entrar em pânico, a não ser que seja necessário, é uma ideia terrível. Mas quando a tua casa está a arder e queres impedir a tua casa de arder completamente, isso requer algum nível de pânico." O resto do discurso foi um apelo fundamentado e um pedido de responsabilização, sem desculpas, no combate às alterações climáticas. As primeiras intervenções dos meus colegas insistiram nas desculpas. A um discurso sobre a vida responderam com a burocracia e as "dificuldades" de contornar as decisões do Conselho ou as insondáveis versões sobre atos delegados e quejandos. A um discurso sobre ação responderam com a pesadíssima máquina e com "o tanto que já fizemos na União Europeia".

A Antonia teve razão em sair. A densidade do discurso de Greta foi, na maioria das reações, reduzida a um menu de procedimentos mais ou menos obscuros e contra os quais supostamente é difícil, senão impossível, lutar. Uma ativista apaixonada a informada não se deixa abater por um discurso conformista e vazio de esperança num futuro melhor. Estou certa de que terá saído do Parlamento mais segura das suas convicções e da dimensão do combate que temos pela frente. O que algumas das intervenções produziram foi a triste confirmação da ausência de vontade política em avançar com medidas efetivas e consequentes. A fraqueza que encontrou no Parlamento para juntar vozes e ações no combate às alterações climáticas contrastam com a força que os jovens trazem para as ruas na sua greve climática.

Greta não está sozinha. Somos muitos e muitas e seremos ainda mais.»

Marisa Matias

A austeridade, afinal, acabou ou não?

por estatuadesal

(Pedro Lains, in Diário de Notícias, 18/04/2019)

Pedro Lains

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Uma amêndoa para a Estátua. Click aqui

Desapareceram, aos poucos, os economistas e afins que, por moto próprio ou respondendo a perguntas acertadas, durante anos nos disseram que era preciso austeridade, que era preciso cortar nos salários, nas pensões, nas ajudas à pobreza, nas fundações, nos institutos, no que fosse. Desaparecidos que estão, não podemos contar com eles para responder a uma das grandes perguntas que tem grassado o debate público dos últimos três anos. Todavia, muitos dos que fizeram as perguntas ou criaram o ambiente próprio recordam-nos afincadamente que a austeridade continua, sempre a mesma, sem dúvidas e sem enganos. Acrescentam apenas que é uma austeridade disfarçada e não assumida. Em que ficamos, continuamos ou não com a austeridade?

Há várias formas de responder a essa questão, mas um recente episódio mediático dá-nos uma forma altamente profícua de o fazer. Para tal, apenas precisamos de fazer um simples exercício mental do tipo "cenário alternativo". Peguemos nesse episódio e imagine-se o que aconteceria na governação do país caso Passos Coelho e seguidores lá estivessem, apoiados nos tais economistas da "desvalorização salarial" e demais ideólogos "revolucionários".

O episódio foi a divulgação de um estudo, sério, com muito trabalho envolvido, sobre cenários futuros para a segurança social nacional. O estudo tem perguntas e preocupações legítimas, utiliza técnicas apropriadas e chega a conclusões que promovem o debate. Trata de matérias importantes, para as quais há objectivamente pouca coisa, sendo uma contribuição fundamental. Com ele, sossegados, sentados em mesas de trabalho, políticos, cientistas sociais, representantes da sociedade civil têm mais uma arma para a interpretação dos problemas da segurança social e para as escolhas a fazer.

Todavia, o estudo foi feito no âmbito de uma fundação que tem uma agenda política própria, visível a todos, e que é a responsável pela montagem da bagagem mediática com que estes estudos são divulgados. Essa bagagem - que recorrentemente não é do agrado dos autores envolvidos - inclui grandes e dispendiosas conferências, um programa de televisão pago, comunicados de imprensa, assim como a colaboração dos muitos que jogam no tabuleiro do quanto mais se assusta mais atenção as pessoas dão, e mais audiências há. Toda essa máquina conseguiu lançar na opinião pública a ideia de que as "nossas" pensões estão em risco e que é preciso fazer alguma coisa, sendo que todas as opções avançadas são um custo para os que menos têm. Pelo meio, surgiram entrevistas a cidadãos assustados, a dizerem que preferiam guardar eles o dinheiro em vez de o colocar num "bolo" que não sabiam como era gerido (pessoas que naturalmente não leram o suficiente sobre o que se tem passado no Chile de 1980 para cá). Outros falaram com grande ardor do modelo sueco, passando quase despercebida a conclusão de que levou ao aumento do risco e das desigualdades entre os pensionistas daquele país.

O estudo sobre as pensões nacionais foi, todavia, algo precipitado numa questão fundamental, que ajudou à sua utilização abusiva. Na verdade, toma como plausível a descida da população portuguesa de 10,2 para 7,9 milhões de habitantes, entre 2020 e 2070. Ora, a história - que nada ensina sobre o futuro - de Portugal e da Europa diz-nos que isso dificilmente acontecerá.

E, sendo um problema, então o estudo deveria centrar-se também na discussão de medidas de reversão desse projectado declínio populacional, a saber, medidas de apoio à natalidade ou de atracção e integração de imigrantes.

O que tem isto tudo a ver com a pergunta inicial? É muito simples. Vejamos a resposta que o actual ministro da tutela deu ao assunto e imaginemos a resposta que seria dada por um governo de Passos Coelho. O que viria, perante tanta ciência, seriam cortes. Cortes de 600 milhões de euros aqui ou, já agora, uma vez que os cortes aumentam, segundo essas ideias anacrónicas, a "produtividade", talvez se pudessem chegar a mais alguns milhões de euros. É essa a diferença. A austeridade, que fique bem claro, tem de envolver cortes.

Saltemos a conclusão sobre o que acima se disse para recordar que a austeridade, a verdadeira, a séria, ainda sobrevive num canto da Europa, precisamente aquele que é governado pela mesma gente que a defendeu cá, a saber, o Reino Unido. É isso que queremos, políticas que dividem as populações, que põem ricos contra pobres, regiões afastadas contra regiões centrais, desregulação e instabilidade financeira? Ou queremos um país a fazer honras à sua história?

Professor universitário e investigador.

Escreve de acordo com a antiga ortografia.

domingo, 21 de abril de 2019

Autarca e Sacerdote

Novo artigo em Aventar


por dariosilva

Ricardo Rio, no exercício do seu segundo mandato como presidente da Câmara Municipal de Braga fotografado hoje, no interior do edifício-sede da Câmara Municipal de Braga, no exercício das funções de sacerdote religioso.
O Estado português é laico.
A CMB não é.  Já o sabíamos.

Entre as brumas da memória


Memorial aos Presos e Perseguidos Políticos - Inauguração (2)

Posted: 20 Apr 2019 11:32 AM PDT

Mais um excerto do filme que poderá ser visto num dos televisores do Memorial, a partir do dia 25 de Abril.

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Coimbra 1969

Posted: 20 Apr 2019 09:00 AM PDT

A lição do 17 de Abril.

Muito se publicou, sobretudo em Coimbra, a propósito do 50º aniversário do início da Crise Académica de 69. Escolho este texto de Manuela Cruzeiro – uma verdadeira «pérola», bem ao nível da sua autora.

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Entrevista a Maria João Pires

Posted: 20 Apr 2019 07:17 AM PDT

Foi excelente ver e ouvir, ontem à noite na RTP1, a magnífica pianista.

Mas ninguém com responsabilidade na estação pública de TV previu que Fátima Campos Ferreira NÃO ERA a pessoa indicada para o trabalho? Chegou a ser doloroso vê-la «estragar» a prestação de Maria João Pires.

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Somos estáveis, não éramos?

Posted: 20 Apr 2019 03:35 AM PDT

«É um sinal dos tempos que devia fazer soar todos os alertas. Um protesto silencioso, que ninguém antecipou (da comunicação social ao Governo, passando pelo patronato e serviços de informação), consolida a ideia de que, também em Portugal, os mecanismos de representação se estão a transformar radical e paulatinamente.

Quando nos regozijamos por não existirem, entre nós, novos partidos, que por simplismo etiquetamos de populistas, tendemos a sobrevalorizar o papel dos partidos e, ao mesmo tempo, a subestimar os sintomas de fadiga dos restantes mecanismos tradicionais de representação e a emergência de novas organizações. Como sempre acontece, é no mundo do trabalho que se vislumbram os primeiros sinais do novo. E, em Portugal, tem havido bem mais novidades do que somos levados a crer.

Há, aliás, um padrão recorrente: a erosão dos velhos sindicatos, que negoceiam, chegam a acordos, mas representam cada vez menos, é acompanhada pela emergência repentina de novos movimentos, mais inorgânicos, reivindicativos e, também, disruptivos.

A escalada de conflitualidade social tem, é claro, raízes na ideia de que há uma folga orçamental que pode ser gerida, pela qual todos competem, mas assenta, essencialmente, na transformação da própria natureza do protesto. Cada vez mais, o direito à greve é, de facto, exclusivo de uns quantos gate-keepers, que, pelos lugares estratégicos que ocupam nas sociedades, podem causar grande perturbação, com pouco esforço e escassa proporcionalidade entre caderno reivindicativo e danos causados a terceiros.

Sintomaticamente, o velho movimento sindical português, sempre acusado de maximalismo e de viver sob a alçada do PCP, canaliza o protesto para os canais institucionais, cumpre os serviços mínimos e, de certa forma, ajuda à manutenção dos equilíbrios do regime que duram desde a transição para a democracia.

Hoje, assistimos à formação de uma realidade distinta. A fragmentação das estruturas de representação de interesses coexiste com reivindicações esparsas e incontidas — muitas das vezes, nas margens da legalidade e que visam, por exemplo, promover a evasão contributiva. Tudo isto marcado pela ocupação de lugares contraditórios: com ordens profissionais que agem como sindicatos, patrões que são também sindicalistas ou comissões de trabalhadores que reinventam o basismo.

Há, é óbvio, aspetos positivos nesta transformação. Desde logo, um incremento no pluralismo — ajudando a corrigir défices crónicos em Portugal — e mais representação do mundo do trabalho. Mas os motivos para otimismo quase que terminam aí. A maior novidade são mesmo os fortes indícios de formação de uma nova ordem política, que se vai instalando de forma larvar. Como acabaremos por descobrir, os coletes amarelos não têm de chegar sempre de colete e muito menos de amarelo.»

Pedro Adão Silva