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quarta-feira, 6 de maio de 2020

Pesquisadores encontram anticorpo que neutraliza coronavírus

O estudo avaliou apenas o comportamento do anticorpo in vitro e mais pesquisas são necessárias para comprovar sua eficácia no combate à covid-19

Por Lucas Agrela

access_timePublicado em 4 maio 2020, 18h27

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Coronavírus: novo anticorpo pode evitar contágio pelo vírus causador da covid-19 (Getty Images/Getty Images)

Pesquisadores da Universidade de Utrecht, na Holanda, reportaram a descoberta de um anticorpo capaz de neutralizar e impedir a infecção das células pelo novo coronavírus, causador da doença chamada covid-19.

Publicado na revista científica Nature Communications, os cientistas ressaltam que o anticorpo, chamado 47D11, funcionou para conter o novo coronavírus em testes de laboratório in vitro.

Os pesquisadores avaliaram 51 tipos de anticorpos diferentes se baseando no genoma do vírus Sars, que é da mesma família do novo coronavírus. O 47D11 é um anticorpo humano, o que pode acelerar o processo de testes clínicos que podem dar origem a uma vacina.

“Usando essa coleção de anticorpos do Sars-CoV, identificamos um anticorpo que neutraliza a infecção pelo Sars-CoV-2 em células curadas”, escrevem os autores.

Nos testes, o anticorpo 47D11 foi capaz de bloquear a infecção dos dois vírus em células humanas. Para isso, ele atacou as espículas de proteína que se prendem às células humanas e, a partir desse ponto, permite que os vírus se reproduzam e contaminem milhões de células, causando sintomas como febre, dificuldade para respirar e tosse.

Os pesquisadores buscam agora avaliar se o anticorpo pode ser usado para a criação de uma vacina contra o novo coronavírus. No entanto, uma série de testes ainda é necessária para descobrir se o 47D11 pode se comportar no corpo humano da mesma forma que se comportou em laboratório e se ele não oferece risco à saúde.

Mundialmente, cerca de 100 vacinas e 200 medicamentos estão sendo desenvolvidos e testados por pesquisadores e empresas do ramo farmacêutico. A Universidade de Oxford, no Reino Unido, por exemplo, estima que criará a primeira vacina eficaz contra o novo coronavírus em setembro deste ano. No entanto, como esse é um processo que leva normalmente dez anos, qualquer previsão inferior a um ano desde a descoberta da covid-19 é considerada otimista por especialistas.

terça-feira, 5 de maio de 2020

Europeus lançados para a precariedade no Reino Unido

De  Euronews  •  Últimas notícias: 05/05/2020 - 16:12

Europeus lançados para a precariedade no Reino Unido

Direitos de autor Euronews

Onde antes se concentravam turistas, em pleno coração de Londres, na célebre Trafalgar Square, alinham-se agora filas de pessoas sem abrigo. George, romeno, fazia limpezas em escritórios antes desta nova realidade. Agora, perdeu o trabalho e vir receber alimentos aqui é o único recurso que tem neste momento.

Uma história idêntica à de Paulo, português, que se viu mergulhado na precariedade há oito semanas, quando perdeu o emprego no setor da restauração. Conta-nos que trabalhava num restaurante e que deixou de "ter dinheiro para pagar a renda". Agora não tem sítio para ir e diz que tudo isto lhe "parece uma loucura".

O vazio instalado vai sendo preenchido por instituições de solidariedade. Algumas conseguiram o apoio de restaurantes que produzem e distribuem milhares de refeições por dia na capital britânica.

Mikkel Juel Iversen, fundador da associação "Under One Sky", diz-nos que "esta é a pior altura para ficar sem teto, porque simplesmente não há nada. Normalmente, há sempre centros de apoio abertos. Mas está tudo fechado".

O jornalista Luke Hanrahan aponta que "há muitos europeus que se encontram neste momento em 'terra de ninguém': não têm acesso a voos de repatriamento, não têm poupanças e não têm qualquer forma de arranjar trabalho".

O governo britânico afirma que, só em Londres, já realojou cerca de 1800 sem-abrigo numa dezena de hotéis locais.

Lucy Abraham, que trabalha com associações de apoio social, questiona-se sobre as etapas seguintes: "esses hotéis vão estar disponíveis durante cerca de seis semanas. Ninguém sabe o que vai acontecer depois disso. Muitos dos cidadãos europeus realojados não têm direito a ajudas públicas, nem a obter qualquer estatuto, uma vez que não residem no país há mais de cinco anos".

O compasso de espera prolonga-se, assim como as interrogações e a angústia de quem não sabe para onde ir a partir daqui.

Recomeçar (mas sem amor romântico)

por estatuadesal

(Ana Sá Lopes, in Público, 04/05/2020)

Alguém arrisca passar agora, com o risco do vírus, pelos estágios iniciais do estabelecimento de uma relação?


E agora como é? Fazemos o quê? Olhamos para a mudança de “estado de emergência” para “calamidade” como uma possibilidade de esperança, uma coisa incrível quando entre dois palavrões horrorosos venha o diabo e escolha. Chegou agora, enfim, a possibilidade de nos reconciliarmos com algumas coisas banais que o longo confinamento varreu das nossas vidas.

— O que me apetece é beber um café na rua.

A maioria dos nossos desejos será tão banal como o desta minha amiga. Beber um café na rua passou a ser um bem raro, apenas disponível em algumas padarias. Um café. Vamos lá a ver: é só um café. E no entanto a sua falta revelou-se para muitos de nós, por muitas máquinas expresso que tenham inundado o mercado, desagradável de suportar.

Queremos regressar a uma normalidade, reconhecer alguma parte do mundo que era nosso e o vírus implodiu. Mas o novo normal será anormal, já sabemos. Não poderemos abraçar, quando é que poderemos abraçar? Daqui a um ano e meio com vacina? Sem a possibilidade de um abraço, o nosso mundo encolhe e gela. Claro que sabemos viver encolhidos. E a felicidade também vem de se fazer o que, a cada momento, é o mais certo. E encolher-nos é agora a nossa possibilidade. Mesmo um bocado gelados, avancemos.

Acho que em todo este tempo demos por nós a fazer perguntas antes inimagináveis uns aos outros. Eu dei. Aqui há dias:

— Tu abraças o teu filho?

— Não, ele não gosta de abraços. Mas toco-lhe.

— Tu desinfectas as compras?

Alguns meus amigos desinfectam as compras. Outros não. Eu também não. Mas não dou abraços. Não toco em ninguém e sabe Deus o que isso é doloroso. Mas agora, podendo ir ver o mar e a sua infinitude, as coisas vão ficar melhores.

O que vai acabar é o amor romântico ou a sua possibilidade. Falo dos novos amores — a quarentena demonstrou como é maravilhoso ter um bom casamento ou similar, para todos os que tinham esquecido ou desprezavam o facto. Um conselho de amigo: tratem dele, do vosso casamento, porque já não há mais.

Ah e tal o amor não acaba, respondem-me. Não? Alguém arrisca passar agora, com o risco do vírus, pelos estágios iniciais do estabelecimento de uma relação? Quem desinfecta compras não vai beijar estranhos. A máscara vai ser uma nova burka usada por razões sanitárias — vai proteger-nos da covid-19 e do amor romântico. O vírus da SIDA tinha formas de protecção. Aqui não há. O álcool gel não é para ser usado na boca e não consta que exista alguém disponível para tomar banho em álcool gel antes de tocar em alguém que não conhecia antes da quarentena.

Vamos então recomeçar como se nos faltasse uma parte. Mas recomeçamos. E apesar do muito que o vírus nos veio retirar, a tendência do humano para a busca da felicidade consegue ser comovedora. Bebamos o café.

A minha casa é a língua portuguesa

Curto

João Silvestre

João Silvestre

Editor de Economia

05 MAIO 2020

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Bom dia,
Hoje é o dia 2 do início do regresso à normalidade possível. Lento, muito lento, e sem data marcada para que tudo volte a ser como dantes. É assim que teremos de viver “enquanto não houver vacina ou tratamento”, tem avisado António Costa. Este foi, para muita gente, uma espécie de primeiro dia do resto das suas vidas. O Expresso esteve na rua para lhe contar como foi. Na baixa de Lisboa, onde nem na guerra se fechou tanto tempo. No comércio de Campo de Ourique, na capital. No Porto, onde as lojas abriram, mas os clientes aderiram pouco. No metro, no cacilheiro, nos cabeleireiros.
Há uma lista de coisas que passou a poder fazer desde ontem. Veja aqui o guia que o Expresso preparou e que lhe vai ser útil nos próximos dias. Pelo menos até à próxima fase de desconfinamento que acontece dentro de 15 dias. Um dos exercícios mais difíceis nesta fase é conseguir equilibrar a necessidade de rentabilidade dos negócios com as restrições sanitárias inevitáveis. Nas companhias aéreas, por exemplo, limitar a lotação dos aviões a 2/3 pode ser um problema.
Segue a polémica sobre a celebração do 1º de maio. Presidente da República e Governo estavam ao corrente dos moldes evento, mesmo sem saber o número exacto de participantes, mas agora afastam responsabilidades.
Se está em lay-off e seu regresso à normalidade parece distante, tem de fazer contas antes de optar trabalhar para outra empresa enquanto está nessa situação. Lay-offs ou cortes salariais que, nesta fase, se estão a aplicar também em áreas como auditoria.
Siga aqui toda a informação em direto relacionada com a covid-19 que o Expresso mantém no ar desde que a pandemia começou. E os últimos números da doença em Portugal.

Medo de existir

Posted: 04 May 2020 02:44 AM PDT

«É um abuso recorrer ao título do ensaio de José Gil e transpô-lo para um momento de paralisação que nada tem a ver com a sua reflexão sobre as prováveis causas do medo de arriscar e de enfrentar dos portugueses.

Mas há, no processo de transição que hoje iniciamos, um ambiente de alarme e uma sensação de anormalidade que nos confronta com decisões que têm tanto de existencial como de crise sanitária.

Muitos portugueses passaram o último mês e meio isolados. Se alguns estão ansiosos por mexer-se, outros receiam deixar a redoma protegida que criaram. Não há respostas seguras nem certezas. Mas também não há razões, nem sequer médicas, para considerar que pôr um pé na rua é uma fatalidade. A absoluta prevenção é perfeitamente compatível com a confiança. Confio na minha esteticista, nos cabeleireiros, na minha ótica e lojas de roupa. Confio nos outros e na nossa capacidade de nos protegermos solidariamente. Voltarei a viajar e a estar em hotéis assim que tiver condições para isso.

Parecendo uma banal frase feita, viver é de facto mais do que estar vivo. Não tenho a existência por garantida, nem ambiciono opções desprovidas de riscos. Continuo a preferir um mundo aberto e amplo, ainda que com imprevistos e incerteza acrescida, à visão de pessoas ensimesmadas e territórios cheios de fronteiras. Não podemos ficar de tal forma paralisados pelo medo que deixemos de viver.

Não é altura de ficarmos infinitamente a olhar para nós mesmos, nem a procurar culpados. O que nos faz mover, coletivamente, é a procura de soluções para os problemas. E por isso acredito que rapidamente teremos medidas para mudar um dos mais graves que persiste, no meio deste calendário para a reabertura: o isolamento dos mais velhos e a sensação de abandono de tantos que estão em lares. É a resposta mais urgente em que as autoridades da Saúde, o Governo e as instituições têm de trabalhar.»

Inês Cardoso