Translate

sábado, 30 de maio de 2020

Jamaica, Azambuja, Banco Alimentar: os pobres da covid-19 e a nossa hipocrisia

Posted: 29 May 2020 03:32 AM PDT

«Um dos meus livros de economia preferidos chama-se “The Economics of Poverty” e foi escrito por Martin Ravallion, um estudioso da pobreza e antigo diretor do departamento de investigação do Banco Mundial. Ravallion começa logo nas primeiras páginas com a pergunta “Porque existe pobreza?” e explica que existe uma longa tradição intelectual de culpar as mulheres e homens pobres pela sua condição, atribuindo-lhes estereótipos como o de serem preguiçosos, irracionais, incapazes de gerir a sua vida. Esta velha tradição intelectual de separar o mundo entre “nós” e “eles” reflete-se na organização da sociedade e da economia e, infelizmente, uma parte destes estereótipos sobreviveram até ao dia de hoje no nosso subconsciente coletivo. Vem isto a propósito da crise causada pela pandemia. Raramente na história recente a separação entre os privilegiados e os destituídos foi tão crua.

Comecemos pelo confinamento que, quando nasce, não é para todos. O surto nas plataformas logísticas da Azambuja ou a fábrica de conservas em Peniche, que enviou esta semana 200 funcionários para casa devido a um caso positivo, mostram que nem toda a gente pode proteger-se do risco de contágio. Desconhecemos que medidas de segurança foram implementadas nestas fábricas e armazéns. Não sabemos quantas pessoas esconderam sintomas por medo de perder uma parte do pouco rendimento que têm. Mas sabemos que não conseguimos coletivamente proteger estes trabalhadores mal pagos e com poucos direitos laborais, que carregam nos ombros o que de mais essencial flui na economia, como a comida para os supermercados.

Como uma desigualdade nunca vem só, a do rendimento mistura-se nesta história com a étnica e de país de origem. Segundo os jornais, muitas pessoas que trabalham nas empresas afetadas na Azambuja são imigrantes jovens, que se deslocam para o trabalho de comboio, a partir de bairros periféricos da Área Metropolitana de Lisboa. Os hostels de Lisboa também concentravam imigrantes, provavelmente com trabalhos precários e mal pagos, a viver em espaços sobrelotados no limite da indignidade. Agora temos um surto no Bairro da Jamaica, onde as autoridades se preparam para encerrar os cafés para evitar que o contágio se generalize. Aparentemente, uma festa no início de maio estará na origem dos contágios. É que isto de aguentar o confinamento depende muito da qualidade do sofá, da velocidade da internet e da variedade do que há no frigorífico. Para os jovens do Bairro da Jamaica e do vizinho Santa Marta é menos suportável do que para a burguesia do teletrabalho onde me incluo.

Serão estes exemplos fruto do acaso? Em Portugal não temos como quantificar estes fenómenos, mas no Reino Unido e Estados Unidos, onde há informação étnica e disponibilidade de dados, há vários estudos que mostram como as minorias étnicas são mais afetadas pela covid-19. No dia 8 de maio, o The Lancet publicou o artigo “Evidence mounts on the disproportionate effect of covid-19 on ethnic minorities”. O título é sugestivo, os números também. No Reino Unido, a taxa de letalidade entre as pessoas de ascendência africana é 3,5 vezes maior do que a dos brancos britânicos. Já os caribenhos e paquistaneses morrem 1,7 e 2,7 vezes mais do que os brancos. Em Nova Iorque, um estudo mostra que as mortes entre os negros são de 92,3 por 100 mil habitantes e entre hispânicos e latinos de 74,3, o que contrasta com menos de 50 por 100 mil para brancos e asiáticos.

O The Lancet afirma que a diferença na prevalência de doenças crónicas entre estas comunidades e os brancos não é suficientemente elevada para explicar por si só as discrepâncias na mortalidade, e explica que estas pessoas “trabalham muitas vezes em empregos que os colocam em risco, como de atendimento ao público e transporte de mercadorias ou entregas, e é menos provável que tenham empregos que lhes permitam fazer teletrabalho”. Qualquer semelhança com os trabalhadores da Azambuja e de Peniche ou os residentes dos hostels não é mera coincidência.

Lembrei-me ontem de Martin Ravallion a propósito do esquema de apoio de emergência aos artistas da Câmara de Lisboa, que exigia em troca até 30 horas de trabalho. A capa do livro de Ravallion é uma fotografia de uma “workhouse” para pobres da Inglaterra vitoriana, uma estrutura de acolhimento e trabalho típica das políticas de combate à pobreza daquele período. Como nos explica Ravallion, encontramos nos dias de hoje heranças deste passado negro nos apoios ao rendimento com componentes “workfare”, que é como quem diz: obrigação de trabalho em troca de transferências. Ao ator e produtor Filipe Crawford, por exemplo, foi-lhe exigida tal contrapartida em troca de 154,69 euros de apoio mensal. A vereadora da cultura da CML, Catarina Vaz Pinto, comunicou que a câmara decidiu revogar esta norma, mas aproveitou para insistir que isto não configura uma “prestação de serviços” mas antes uma “contrapartida do apoio concedido”. Descubra as diferenças.

A ideia de que os pobres são “diferentes” reconfortou as elites ao longo da história na sua inação para erradicar a pobreza. As “workhouses” da Inglaterra vitoriana eram instituições assistencialistas e moralizadoras, que alimentavam – mal e pouco – as pessoas pobres e procuravam corrigir os seus supostos maus hábitos. Durante o fim de semana, Marcelo Rebelo de Sousa visitou a sede do Banco Alimentar contra a Fome e apelou aos donativos de comida, alegando que há 400 mil pessoas com fome, mais cerca de 20 mil do que as habituais 380 mil servidas habitualmente pelas instituições de solidariedade apoiadas pelo Banco Alimentar. Segundo o Presidente, “não é preciso gostar do Banco Alimentar, da líder ou dos voluntários. É preciso pensar nos que estão mal e que vão estar assim mais um mês, dois, três, mais um ano, o tempo que durar a crise”.

A mim, parece-me que é preciso pensar que espécie de sociedade é esta que perante pessoas que podem ficar com fome durante mais de um ano se contenta com oferecer uns pacotes de arroz para as campanhas do Banco Alimentar. Este cheirinho feudal dá-me náuseas.»

Susana Peralta

Reino Unido dá a mão a Hong Kong

De  Ricardo Figueira  •  Últimas notícias: 29/05/2020 - 08:54

Hong Kong

Hong Kong   -   Direitos de autor Kin Cheung/Copyright 2020 The Associated Press. All rights reserved

O governo britânico estende o tapete a cerca de 300 mil cidadãos de Hong Kong, em resposta ao apertar do cerco ao território por parte da China, com a aprovação de uma lei que reduz a autonomia e na prática põe fim ao princípio "um país, dois sistemas".

Os cidadãos da antiga colónia que ainda detêm o passaporte do Ultramar britânico podem agora residir no Reino Unido por 12 meses renováveis e é-lhes facilitado o acesso à cidadania britânica. Isto se a China não voltar atrás com a lei.

Hong Kong foi um território britânico até 1997. O último governador, Chris Patten, não poupa as palavras ao descrever as ações da China e diz que se trata de bullying: "Esta lei vai permitir que o Ministério da Segurança do Estado, o equivalente chinês do KGB, possa operar em Hong Kong. Este organismo tem uma longa reputação de coerção e de tortura. Se for para Hong Kong, não é para vender comida chinesa", disse.

Se o "KGB chinês" for para Hong Kong, não é para vender comida chinesa.

Chris Patten

Ex-governador de Hong Kong

A nova lei aumenta o controlo de Pequim sobre o território, ao fim de 11 meses de manifestações contra a ingerência chinesa em Hong Kong. As manifestações, interrompidas pela epidemia de Covid-19, foram retomadas com esta lei. As relações da China com os Estados Unidos e a Grã-Bretanha deterioraram-se.

Os ativistas pró-democracia dizem que a nova lei vai deitar por terra o alto grau de autonomia que lhes foi prometido quando o território passou do Reino Unido para as mãos da China, com o princípio "um país, dois sistemas" e pode levar à supres são de qualquer atividade política em Hong Kong. Para Pequim, o que se passa aqui é um assunto interno da China e nenhum outro país tem o direito de intervir.

EUA USA

Minneapolis: FBI enviou investigadores para apurar a morte de George Floyd | REUTERS/Carlos Barria

1 - PROTESTOS EM MINNEAPOLIS

Os protestos contra a violência policial escalaram nos Estados Unidos na madrugada desta sexta-feira. Manifestantes chegaram a incendiar uma delegacia de polícia contra a morte de George Floyd, um homem negro que foi sufocado por um policial que apertou seu pescoço contra o chão com o joelho. O ato, em Minneapolis, foi filmado e fotografado, e reavivou as discussões sobre mortes de jovens negros por policiais. Os protestos se espalharam por outras partes dos EUA, como Nova York, Denver e Chicago. O departamento nacional de Justiça enviou a Minnesota investigadores do FBI para investigar o caso. O presidente Donald Trump foi na contramão dos esforços federais: um tuíte seu foi escondido pelo Twitter por, segundo a rede, "glorificar a violência", após ele escrever que “esses BANDIDOS estão desonrando a memória de George Floyd” e que “quando os saques começarem, os tiros começarão”. A ação de Trump e a reação do Twitter levam a outra tensão, esta entre o presidente e a rede social. Horas antes Trump havia assinado uma ordem ameaçando as redes sociais com regulação sobre liberdade de expressão.

2 - ENTRE A CHINA E A REBERTURA

Em meio a protestos em Minneapolis e desavenças com o Twitter, Donald Trump também estará no centro das atenções nesta sexta-feira por um outro tema: a guerra comercial com a China. O presidente convocou uma coletiva em que diz que irá se posicionar sobre uma lei de segurança nacional chinesa desta semana que, segundo críticos, restringirá liberdades em Hong Kong, território autônomo. As bolsas abriram em baixa na Europa, com o temor de uma escalada na guerra comercial. Enquanto isso, a capital americana, Washington DC, também ficará nos holofotes por um motivo mais positivo: a cidade começa a retirar parcialmente hoje restrições ao comércio. Restaurantes e varejo podem abrir, mas só atendendo ao ar livre. A cidade tem 8.500 casos e 450 mortos, mas uma preocupação são estados vizinhos cujos moradores trabalham na capital, como Maryland e Virgínia. Todos os 50 estados americanos já começaram algum tipo de reabertura. O país tem 1,7 milhão de casos e mais de 101.000 mortes por coronavírus.

Floyd e a América racista

30/05/2020 by j. manuel cordeiro 2 Comments

Copwatch (also Cop Watch) is a network of activist organizations, typically autonomous and focused in local areas, in the United States and Canada (and to a lesser extent Europe) that observe and document police activity while looking for signs of police misconduct and police brutality. They believe that monitoring police activity on the streets is a way to prevent police brutality. [Wikipedia]

Grupos de pessoas organizam-se, nos EUA, para filmar a acção policial porque já sabem que a probabilidade de esta ser violenta e injusta é elevada. Esperam pela reacção da polícia quando essa violência acontece e depois publicam os vídeos se o caso começa por ser abafado.

Foi o que aconteceu com Floyd.

Há assim tanto para investigar?

Floyd junta-se ao rol de vítimas da polícia americana que raramente sai condenada nestes casos – o agente que matou Floyd já tinha cadastro em crimes policiais e continuava no activo. Agora foi despedido, em conjunto com outros três agentes envolvidos, embora a primeira reacção oficial da polícia tenha sido dizer que Floyd tinha morrido “vítima de um acidente médico”. Mas a violência e o racismo foi filmada. [Ana Sá Lopes, PÚBLICO]

Foi o que aconteceu, em 2016, para citar mais um exemplo, com Alton Sterling.

While listening to the police scanner application on his cellphone, Arthur “Silky Slim” Reed heard the makings of what could be a violent confrontation between police and a suspect. Soon after, he rushed to the Triple S. Food Mart in Baton Rouge where two police officers had shot and killed Alton Sterling at point blank range. Reed arrived at the scene where several of his activists filmed the altercation—they immediately knew how significant the footage was, but wanted to wait for police to release a public statement on the shooting. “We wanted to wait to hear what police had to say, and make sure we had enough copies of our videos in the community,” Reed told The Independent, “so that when police did get their hands on the video it wasn’t something that they could destroy.”

The statement never came, so Reed distributed the footage to 125 supporters of Stop The Killing, his anti-violence nonprofit, who published the video on social media and sent copies to The Associated Press, which led to worldwide news coverage and outrage turning the public into key eyewitnesses. It wasn’t long before millions viewed the graphic footage: two officers pinning the 37-year-old Sterling on the ground before at least one officer fired multiple rounds into Sterling’s chest and back. The video is bloody and explicit, but unfortunately nothing new for the anti-violence group, whose filmed more than 30 violent interactions in the community over the years. [Independent, 2016]

Agora, quando a violência veio para a rua depois da morte de Floyd, a reacção mais veemente de Trump foi contra os protestantes nas ruas. Não foi contra a polícia que tentou abafar o caso. As palavras de apoio às vítimas foram meramente circunstanciais, quando comparadas com a violência verbal que usa no Twitter para outros temas e, inclusivamente, contra estes protestantes.

sexta-feira, 29 de maio de 2020

Requiem pela democracia

Posted: 28 May 2020 03:35 AM PDT

«Mais uma vez, depois de tantas, as elites brasileiras preferiram correr o risco de cair na ditadura (quando não a desejaram desde o início) sempre que as classes populares manifestaram a sua aspiração a ser incluídas na nação, a nação que as elites sempre conceberam como sua propriedade privada. A leitura do transcrito da reunião do conselho de ministros do Brasil no dia 22 de Abril é uma experiência dolorosa, assustadora e revoltante.

O ter sido dado conhecimento público desse vídeo e transcrito é um sinal eloquente de que a democracia ainda sobrevive. Ocorreu no seguimento da denúncia do ex-ministro Sérgio Moro de que o Presidente tentara interferir com as investigações em curso na Polícia Federal do Rio de Janeiro contra um dos seus filhos por suspeita de graves condutas criminosas. Ao ordenar a divulgação do vídeo, o ministro do Supremo Tribunal Federal, Celso de Mello, inscreveu o seu nome no livro de ouro da breve e tormentosa história da democracia brasileira. Esperemos que o sinal de esperança que ele nos deu seja potenciador do despertar das forças democráticas de esquerda e de direita, o despertar de um sono profundo e inquietante, feito de ignorância histórica e de vaidade míope, um sono que lhes permite sonhar com cálculos eleitorais sem se dar conta da frivolidade de tais intentos quando a própria democracia está por um fio.

Os fascistas nem sequer escondem os seus intentos. O Presidente faz um apelo directo e inequívoco à luta armada. Mais do que um apelo, informa que está disposto a dirigir o armamento de civis à margem das forças armadas. E faz isso ladeado por generais! Está a confessar um crime de responsabilidade e um crime contra a segurança nacional. E nada a acontece. Ao lado do vice-presidente, está sentado impávida e parvamente o então ministro da Justiça Sérgio Moro, o grande responsável pela destruição da institucionalidade democrática, para o que sempre contou com a cumplicidade das elites e dos seus media. O anúncio do Presidente não só é recebido com sorrisos complacentes de quem o ouve, como vários ministros se esmeram em soltar por conta própria as cloacas do ódio e do preconceito. Para além de outras aleivosias avulsas.

O que se lê é de tal modo torpe que é melhor ler para crer:

Presidente: “É putaria o tempo todo para me atingir, mexendo com a minha família. Já tentei trocar gente da segurança nossa, oficialmente, e não consegui. Isso acabou. Eu não vou esperar f. minha família toda de sacanagem, ou amigos meus, porque não posso trocar alguém da segurança na ponta da linha — que pertence à estrutura nossa. Vai trocar! Se não puder trocar, troca o chefe dele; não pode o chefe dele? Troca o ministro. E ponto final… Eu quero, ministro da Justiça e ministro da Defesa, que o povo se arme! Que é a garantia que não vai ter um filho da puta aparecer pra impor uma ditadura aqui! Que é fácil impor uma ditadura! Facílimo! Um bosta de um prefeito faz um bosta de um decreto, algema, e deixa todo mundo dentro de casa. Se tivesse armado, ia pra rua. E se eu fosse ditador, né? Eu queria desarmar a população, como todos fizeram no passado quando queriam, antes de impor a sua respectiva ditadura. Aí, que é a demonstração nossa, eu peço ao Fernando e ao Moro que, por favor, assine essa portaria hoje que eu quero dar um puta de um recado pra esses bosta! Por que que eu tô armando o povo? Porque eu não quero uma ditadura! E não dá pra segurar mais! Não é? Não dá pra segurar mais.”

Ministro da Educação (extrema-direita): “Eu, por mim, botava esses vagabundos todos na cadeia. Começando no STF. E é isso que me choca… A gente tá conversando com quem a gente tinha que lutar. A gente não tá sendo duro o bastante contra os privilégios, com o tamanho do Estado e é o... eu realmente tô aqui aberto, como cês sabem disso, levo tiro... odeia... odeio o prutido (sic) comunista. Ele tá querendo transformar a gente numa colônia. Esse país não é... odeio o termo ‘povos indígenas’, odeio esse termo. Odeio. O ‘povo cigano’. Só tem um povo nesse país. Quer, quer. Não quer, sai de ré. É povo brasileiro, só tem um povo.”

Ministro do Meio Ambiente (momento maquiavélico): “Porque tudo que agente faz é pau no judiciário, no dia seguinte. Então pra isso precisa ter um esforço nosso aqui enquanto estamos nesse momento de tranquilidade no aspeto de cobertura de imprensa, porque só fala de covid e ir passando a boiada e mudando todo o regramento e simplificando normas… Agora é hora de unir esforços pra dar de baciada a simplificação.”

Ministra da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos (evangelismo reacionário): “Neste momento de pandemia a gente tá vendo aí a palhaçada do STF trazer o aborto de novo para a pauta, e lá tava a questão de... as mulheres que são vítima do zika vírus vão abortar, e agora vem do coronavírus? Será que vão querer liberar que todos que tiveram coronavírus poderão abortar no Brasil? Vão liberar geral? [dirigindo-se ao ministro da Saúde] O seu ministério, ministro, tá lotado de feminista que tem uma pauta única que é a liberação de aborto… Porque nós recebemos a notícia que haveria contaminação criminosa em Roraima e Amazônia, de propósito, em índios, pra dizimar aldeias e povos inteiro pra colocar nas costas do Presidente.”

Ministro da Economia (feira de vaidades): “Eu conheço profundamente, no detalhe, não é de ouvir falar. É de ler oito livros sobre cada reconstrução dessa (Alemanha, Chile). Então, eu li Keynes, é... três vezes no original antes de eu chegar a Chicago. Então pra mim não tem música, não tem dogma, não tem blá-blá-blá.”

Nada disto é novo. Sobre o que disse o Presidente, basta referir que, depois das eleições de 1932, foi assim que se expressou Hitler, invocando a necessidade da ditadura para se defender da ditadura… da democracia. A reunião teve lugar no dia em que o Brasil se aproximava de 3000 mortos pelo coronavírus. Este, no entanto, foi um tema ausente. Ou, ainda mais perversamente, pretendeu-se usar a preocupação mediática com a pandemia para fazer avançar a perda de direitos, os casinos, a privatização, o desmatamento da Amazónia e a eliminação das restrições ambientais. O sistema democrático brasileiro está em tamanho desequilíbrio que vive um momento de bifurcação: uma qualquer acção ou omissão política tanto o pode resgatar como afundar de vez.»

Boaventura Sousa Santos