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domingo, 7 de junho de 2020

O estranho mistério das mortes que não param

por estatuadesal

(Miguel Sousa Tavares, in Expresso, 06/06/2020)

Miguel Sousa Tavares

1 Uma eurodeputada do PS indignou-se porque a Grécia excluiu os portugueses da lista dos visitantes que está disposta a receber como turistas este Verão. Ela quer que a Comissão Europeia intervenha junto dos gregos, revertendo uma decisão que lhe parece inaceitável face ao conhecido “sucesso” de Portugal no combate ao coronavírus. Parece-me uma pretensão absurda: a Grécia — um dos países europeus que realmente registou um sucesso notável na luta contra a pandemia, apesar de albergar centenas de milhares de refugiados sírios — tem todo o direito de decidir quem são os visitantes que considera seguros ou perigosos do ponto de vista da saúde pública. Nós é que, como se vai vendo, não temos critério algum: entram todos livremente e a todo o tempo e venham de onde vierem, desde que venham fazer turismo e até, se necessário for, através de “corredores turísticos” — a favor de ingleses, por exemplo — que os dispense, aqui e no regresso, de quaisquer maçadas sanitárias.

<span class="creditofoto">ILUSTRAÇÃO HUGO PINTO</span>ILUSTRAÇÃO HUGO PINTO

Por sua vez, Eduardo Cabrita, o ministro da Administração Interna, interrogado sobre quando reabriria a fronteira com Espanha, deu uma de macho lusitano, respondendo que não antes de 15 de Junho, pois que a Espanha ainda tinha a situação de saúde por controlar. Porém, adiante descaiu-se e lembrou que a própria Espanha tinha determinado o encerramento da fronteira até ao final do mês. Assim é: desta vez, e sem nos consultar, ao contrário do que ficara estabelecido quando do encerramento por mútuo acordo, a Espanha anunciou, já há semanas, que a fronteira terrestre com Portugal permaneceria fechada, seguramente até 1 de Julho. E a Renfe, a operadora pública da ferrovia espanhola, acaba de encerrar as duas ligações a partir de Portugal a Espanha e à Europa. (Houve depois uma pequena confusão, com a ministra espanhola do Turismo a anunciar que a fronteira abriria a 22, o nosso ministro dos Estrangeiros a afirmar que quem decidia a abertura da nossa fronteira éramos nós e Madrid a confirmar que vai abrir dia 1). Confusões diplomáticas à parte, dá-se coincidentemente o caso de a situação ainda descontrolada de que fala o ministro português em Espanha vir registando, desde há vários dias, menos casos de novos infectados que Portugal e registar, de segunda a esta quinta, um total de seis pessoas mortas do coronavírus (quando chegaram a morrer quase mil por dia...), enquanto que no mesmo período morreram 50 em Portugal. Eu, obviamente, não percebo nada do assunto, e, quanto mais oiço os especialistas, menos esclarecido fico. Mas, se repararmos que Portugal é um dos poucos países na Europa onde o vírus continua a matar paulatinamente, creio que o tal caso de “sucesso” já foi, mas já não é.

Foi muito bom enquanto foi preciso evitar o crescimento exponencial e a sobrecarga do SNS, cujas UCI nunca estiveram acima dos 60% e só episodicamente. Continuou muito bom quando nos pediram para continuar em casa para que a malfadada curva se achatasse. Mas, uma vez achatada, o raio da curva nunca mais passou daí, do estado de chata. São focos localizados, são populações particularmente vulneráveis, são testes a mais, é isto ou aquilo, mas os números aí estão, teimosamente iguais, dia após dia, semana após semana.

Pior, e verdadeiramente intrigante: o número de mortos não há maneira de se apagar, variando sempre entre os 10 e os 16 (com excepção dos 8, de quinta-feira). Tanto mais intrigante quanto o número de doentes em UCI — os mais graves — vem caindo sustentadamente. Há menos doentes graves e sempre os mesmos mortos? Quem explica isto?

2 Sou admirador sincero de Bruno Nogueira e ainda mais nos tempos que correm, em que ele parece ser a única alternativa consistente ao humorista oficial do regime e às suas estafadas entrevistas às figuras do regime. Porém, ao contrário de muitos, não tive ocasião de o seguir na sua empreitada de confinamento, pois que não tenho vida nas redes sociais, ocupado que ando na outra vida, a qual pouco tempo de sobra e nenhum interesse me deixa para partilhar a vida dos outros ou andar a oferecer o diário da minha. (Sim, já sei que se passam lá coisas interessantíssimas. Mas também sei e estou informado que se vomitam lá coisas que, podem crer, é um privilégio não ter de acompanhar, poupando-me diariamente ao espectáculo da alarvidade humana à solta em todo o seu esplendor).

Adiante, ao Bruno Nogueira e à Manuela Azevedo, de quem também sou admirador, há anos. Na belíssima Praça de Toiros do Campo Pequeno — que, como o nome indica, foi construída para correr toiros, mas que entretanto foi comprada por quem se dedica a outro ramo de espectáculo — resolveram eles dar o primeiro grande concerto de música ao vivo pós-covid. Aliás, dois concertos, com 2200 pessoas cada um — com distância de segurança nas entradas, nos lugares, etc. e tal. E bilhetes esgotados na net em 11 minutos, como não se cansaram de nos repetir. Não sei se foi autorizado previamente pela DGS ou só a posteriori, ou se nem chegou a ser: nestas matérias, abunda a confusão e o casuísmo, como já vamos aprendendo. O certo é que, apesar de, tanto quanto sei, ainda estar em vigor uma norma que proíbe ajuntamentos de mais de 20 pessoas, apesar de Lisboa registar 90% dos casos de novos infectados, seguramente que quem de direito não viu qualquer perigo para a saúde pública destes dois concertos. De outro modo nem se perceberia que no primeiro estivesse o primeiro-ministro e no segundo o Presidente da República. E não será, seguramente, a sua simples presença que tem o dom de tornar legal o que a lei classifica como ilegal: isto não é uma monarquia nem o governo do Sr. Boris Johnson, onde, para efeitos, de covid, uns são mais iguais do que outros.

E, justamente porque assim é, coloca-se a pergunta: se na Praça de Toiros do Campo Pequeno pode haver concertos de música, porque não pode haver touradas — ali e em praça alguma, mantendo as mesmas regras? Porque razão a senhora ministra da Cultura (presente no concerto, ao lado do PM), apoia os músicos e nem sequer se digna responder ao pessoal da tauromaquia? Achará que eles também não têm despesas para pagar, empregos para manter, famílias para sustentar? Ou, hipótese que me recuso a equacionar, a sua conhecida repulsa pelas touradas determina as suas decisões como governante, confundindo o que é uma legítima opinião de cidadã com um inadmissível abuso de autoridade democrática?

Mas deixem-me esclarecer que não sou frequentador de touradas, só ocasionalmente e na televisão, quando ainda estavam autorizadas transmissões televisivas. Sou, sim, frequentador da liberdade — a minha e a dos outros. E, sobretudo, há uma coisa, na política, que me repugna, muito mais do que as touradas repugnam a Graça Fonseca: a subserviência dos políticos perante o politicamente correcto. Se a ministra da Cultura, o PM e o PR foram a correr ver o concerto de Bruno Nogueira e viram as costas àqueles (e outros haverá) que têm o direito de exigir igual tratamento, é porque lhes disseram que “Bruno Nogueira é que está a dar”, enquanto que andar próximo do mundo das touradas não é recomendável. Saudosos tempos em que os políticos tinham ideias próprias de que não abdicavam, a vida de cada um era a vida de cada um e o povo que hoje eles beijam nas redes sociais e com que tiram selfies lia jornais e procurava andar informado, em lugar de os exterminar depois de ódio e difamações no conforto das redes sociais!

Às vezes dou comigo a pensar que, se se trata de avaliar um político, é mais honesto ser como Donald Trump, que não pretende enganar ninguém: é um dos maiores malfeitores que a Humanidade já pariu e desgraçadamente tem o poder e o narcisismo patológico suficientes para rebentar com a Humanidade inteira. Mas esse não disfarça, não beija nem abraça qualquer um e insulta livremente quem lhe apetece. Num Twitter perto de si.

Miguel Sousa Tavares escreve de acordo com a antiga ortografia

Obviamente demitam-se!

por estatuadesal

(José Soeiro, in Expresso Diário, 05/06/2020)

José Soeiro

(Um Governo que mantém esta quadrilha em funções e permite estas práticas, quando jura o seu amor aos trabalhadores, só podemos considerar tal jura como algo do mesmo jaez que as declarações de Trump: fake news.)

Comentário da Estátua)


Não vou repetir o que escrevi num outro lugar sobre o comportamento repugnante da Administração da Casa da Música. Os precários, a maioria a falso recibo verde, foram primeiro tratados como se não existissem e, quando começaram a ser mais visíveis por se terem organizado e terem começado a falar, foram pressionados, vítimas de assédio moral, filmados quando fizeram uma vigília (denúncia feita por escrito pelos trabalhadores e nunca desmetida) e dispensados - por retaliação - das atividades já agendadas com eles para junho. O que aconteceu é gravíssimo e envergonha a cidade, a cultura e o país.

Até hoje, ninguém da direção da Casa da Música deu a cara publicamente por estas decisões. A Casa da Música tem um Diretor-Geral, Paulo Sarmento e Cunha, que se recusa a comentar o que faz. E tem um Conselho de Administração, com sete membros (2 nomeados pelo Governo, um pelo município e área metropolitana e outros 4 por privados) que, segundo os Estatutos, reúne mensalmente, mas tem permanecido em silêncio, apesar de ter como competências, entre outras, “contratar e dirigir o pessoal da Fundação”.

Quem é esta gente? Como é possível que este Conselho continue em silêncio e não seja escrutinado? E o Governo e a Câmara, que nomeiam uma parte do órgão, também não dizem nada? A Casa da Música é financiada em dois terços pelo Orçamento do Estado (mais de 9 milhões de dinheiro dos contribuintes em cada ano), mas quem a dirige parece sentir-se impune perante a lei do trabalho, a Constituição que garante a liberdade de organização e de expressão, e sem responsabilidades perante a comunidade que os financia e que deveriam servir.

A gestão da Casa da Música é um espelho de como muitas destas instituições (Serralves é outro exemplo, e parece que fez o mesmo com 21 precários do Serviço Educativo) são dirigidas: por gente que vem maioritariamente do mundo dos negócios, que replica as piores práticas empresariais, que pouco tem a ver com a cultura, que faz uma rotação endogâmica nestes e noutros cargos de poder, que nem fala com os trabalhadores e que se está nas tintas para as suas condições de vida e de trabalho. De quem falamos, afinal?

O Diretor-Geral da Fundação Casa da Música chama-se Paulo Sarmento e Cunha. Executa as decisões do Conselho de Administração ou toma decisões sem dar conta ao Conselho? Aparentemente, não se sabe bem. Mas é quem, no quotidiano, exerce o poder na instituição. Já tinha estado na Porto 2001 e desde 2007 que tem funções na Casa da Música, primeiro como diretor administrativo, depois como Diretor-Geral. É um dos rostos principais desta vergonha. Recusa falar com os jornalistas sobre o que está a acontecer.

O presidente do Conselho de Administração chama-se José Pena de Amaral. Vem do mundo da banca: foi administrador do BPI e da Allianz, pertencia ao Conselho de Administração do Banco de Fomento Angola até rebentar o escândalo do Luanda Leaks. Mas esteve também na política, como chefe de gabinete do Ministro das Finanças do governo do Bloco Central (PS-PSD, em meados da década de 1980), chefiado por Mário Soares.

As duas pessoas nomeadas pelo Governo para o Conselho de Administração são Teresa Moura e José Luis Borges Coelho.

A primeira foi Secretária de Estado dos Assuntos Europeus no primeiro governo de António Guterres. O mais curioso é, no entanto, que esta pessoa, que atualmente representa o Estado no Conselho de Administração, estava antes no mesmo Conselho mas em representação da EDP. Como a empresa deixou de poder nomear um membro, o Ministério da Cultura nomeou-a pela sua quota, apesar de Teresa Moura continuar a ser chefe de gabinete do Conselho Geral e de Supervisão da EDP…

O outro representante do Estado, nomeado pelo Ministério da Cultura, é o conhecido e respeitado maestro portuense José Luis Borges Coelho, a única pessoa com ligação ao mundo da música que faz parte do órgão. Borges Coelho assume também as funções de vice-presidente do Conselho de Administração. É conhecido pelo seu longo e consistente envolvimento cívico e político (entre outras coisas, foi mandatário e depois eleito da CDU na Assembleia Municipal do Porto).Os trabalhadores dizem que, de todo o Conselho, foi o único que os contactou, a título individual, manifestando solidariedade.

Do Conselho de Administração fazem ainda parte Rita Mestre Mira Domingues, mais uma pessoa vinda do mundo empresarial, fazendo parte dos órgãos de gestão da BA Glass, holding que foi presidida por Carlos Moreira da Silva (Sonae Indústria), e que agora tem à frente o próprio Paulo Azevedo; e António Marquez Filipe, outroempresário, neste caso ligado ao negócio do vinho do Porto, sendo administrador da Symington Family Estates, a maior proprietária de vinhas no Douro, que vende 24 milhões de garrafas por ano.

Os restantes membros são Lobo Xavier e Luis Osório.

António Lobo Xavier é conhecido do público como comentador televisivo na “Circulatura do Quadrado” (com Pacheco Pereira e Jorge Coelho), foi deputado do CDS em vários mandatos (chegou a ser líder parlamentar do partido), faz parte do Conselho de Estado por indicação do Presidente da República, é gestor da Sonaecom e está, ainda e paralelamente, no Conselho de Administração de outras grandes empresas, como a Mota-Engil ou a NOS. É uma espécie de figura omnipresente deste tipo de órgãos. Esteve, por exemplo, nas direções da Associação Comercial do Porto (a associação que representa a burguesia industrial e comercial da cidade), do Futebol Clube do Porto ou da Fundação de Serralves (na segunda metade dos anos 2000), cujas práticas laborais têm sido, como se sabe, semelhantes às da Casa da Música.

Luís Osório é um triste caso de estudo. É deputado municipal do PSD e foi o escolhido de Rui Moreira para representar o município. A sua nomeação gerou um tumulto no próprio partido. O PSD veio dizer que não lhe reconhecia qualquer experiência, competência ou ligação ao sector da cultura, e que a escolha era uma “uma manobra de Rui Moreira de dividir para reinar". A acusação foi aliás mais longe. Como Moreira não tem maioria na Assembleia Municipal, na concelhia do PSD houve quem dissesse aos jornais que a nomeação de Osório era “mais uma tentativa do presidente da Câmara comprar votos com convites, como já fez no passado”. A reação de Osório dá vergonha alheia: disse que aceitava o convite por considerar ser “importante que o PSD esteja representado nas mais marcantes entidades da cidade”. Só que não é suposto, obviamente, que o representante do município represente um partido nas decisões de gestão da Casa da Música! Tudo mau de mais…

São estas pessoas que tomam decisões na Casa da Música. São elas, quer se queira quer não, as responsáveis em última instância pelo que ali acontece – e já acontece há demasiado tempo. Quem tomou as decisões em concreto, quem dispensou as pessoas, quem contratou um operador de vídeo para andar a filmar os precários para depois a Administração retaliar contra eles? Sinceramente, não sei. Mas o que se passa é grave, muito grave. Quem tem responsabilidades e se opõe a isto, tem a obrigação de falar já publicamente e de se demitir de uma Administração com estes comportamentos miseráveis. Quem decidiu e apoia estas práticas, tem a obrigação de ser demitido por quem tem o poder de fazê-lo. E sim, se os próprios não o fizeram ainda (porque já mostraram do que são capazes), o Estado pode requerer a sua destituição. Na verdade, já devia tê-lo feito. É uma questão de decência.

sábado, 6 de junho de 2020

Quem nos avisa nosso amigo é

Pedro Lima

Pedro Lima

Editor-adjunto de Economia

06 JUNHO 2020

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Bom dia,
“Há uma emergência mas não se pode fazer tudo. Não vale tudo!”, diz-nos esta semana o presidente do Tribunal de Contas. É um aviso de Vítor Caldeira dirigido a todos os dirigentes públicos de que o Tribunal de Contas, a quem compete assegurar que “os dinheiros públicos são gastos com rigor, transparência e responsabilidade”, está atento, mesmo nestes tempos de exceção de combate à pandemia de Covid-19.
Esta declaração faz a manchete desta edição do caderno de Economia do Expresso, onde ficará a conhecer em detalhe a estratégia que está a ser seguida por este tribunal depois de terem sido identificados os riscos de conflito de interesses e fraude nos ajustes diretos. De forma a poder concentrar-se nos grandes contratos, Vítor Caldeira defende também que os contratos até 750 mil euros fiquem isentos de visto prévio.
É um tema completamente na ordem do dia e que tem levantado muita controvérsia: o rastreio de contactos. A Google e a Apple estão a trabalhar numa solução de rastreio da Covid-19 que dispensa as aplicações que estas duas empresas ajudaram os países a criar. A pandemia criou um “Big Brother” móvel? É a questão que se coloca.
Nesta edição dissecamos também o Programa de Estabilização Económica e Social, que vai vigorar até dezembro: 15 medidas para segurar o emprego (e a economia) é o título que damos ao artigo sobre este plano do governo que contempla medidas sociais, de apoio ao emprego e de ajuda às empresas.
A investigação do caso das rendas excessivas na EDP ainda pode durar mais um ano e meio. E o Conselho Geral e de Supervisão da empresa, que representa os maiores acionistas, pediu esclarecimentos à equipa de gestão.
Quem são os interessados em ficar com a Efacec? Há dois de nacionalidade portuguesa, há fundos estrangeiros e ainda grupos concorrentes. E que importância tem afinal esta empresa, considerada uma das de maior valor acrescentado em Portugal? Pode ler aqui.
Os pescadores têm menos barcos e fazem menos capturas mas têm mais rendimentos – é o que titulamos na reportagem que fomos fazer na Docapesca de Sesimbra.
O granizo do último fim de semana destruiu plantações de fruta, gerando prejuízos que levaram o Governo a prometer uma linha de crédito para apoiar produtores. Depois da tempestade pode vir aí uma chuva de milhões.
Apesar da crise de Covid-19, o mercado imobiliário de luxo em Portugal continua vivo e de boa saúde. Há celebridades e multimilionários à procura de casas de luxo em Portugal. Mas as mediadoras imobiliárias não têm boas notícias: um inquérito feito pela ASMIP — Associação dos Mediadores do Imobiliário de Portugal às 680 empresas associadas mostrou que quase 70% dizem ter tido reduções na ordem dos 50% no negócio.

Regionalização

Há quanto tempo não ouvia esta palavra? O tema está em destaque no seu jornal este sábado porque há novidades e ainda ninguém tinha dado por elas. A meio da pandemia e sem anúncio, o primeiro-ministro decidiu dar andamento à primeira fase do processo. Costa acelera a regionalização é o título em destaque.
E se as alterações de que lhe falamos têm efeito a partir de setembro, há outras em que a contagem decrescente tem cada vez mais a meta à vista. A saída de Mário Centeno do ministério das Finanças obriga a escolher um novo titular para um cargo e na dança das cadeiras, há agora dois nomes a liderar as apostas. Opções internas para um processo que ainda está longe do fim.
O sucessor de Centeno terá à sua espera um vasto caderno de encargos que acaba de engordar com a promessa da ministra Mariana Vieira da Silva que, em entrevista ao Expresso, aposta num OE à esquerda para 2021 “no quadro em que aconteceu nos últimos quatro anos”. Antes disso, e noutro cenário político, chega já para a semana a fatura do orçamento suplementar.
Na política, damos-lhe ainda conta da notícia de que André Ventura procura apoio junto da família Bolsonaro e de que Adolfo Mesquita Nunes não avança para Belém, posiciona-se para o futuro do CDS.
O caso Maddie voltou às primeiras páginas dos jornais com o aparecimento de um novo suspeito. Um cidadão alemão que viveu por cá vários anos. O Expresso apurou que esteve preso duas vezes em Portugal e foi libertado meses antes da criança desaparecer.
Há uma foto na primeira página do Expresso que conta a história de uma América nas ruas contra o racismo e a crise. Uma história que no fundo é uma mistura de várias outras histórias que desembocam na violência a que todos assistimos, dia atrás dias, em quase todas as cidades americanas. A morte de George Floyd foi apenas o rastilho. Uma reportagem em Los Angeles.
Pinto da Costa e os dois adversários às eleições deste fim de semana dão entrevistas ao Expresso. Os três candidatos à presidência do FC Porto explicam os motivos que os levam a candidatar-se. A sublinhar, os elogios de Pinto da Costa a Pedro Proença e as palavras sobre o papel de Rui Moreira numa futura sucessão.
Sabia que há pessoas que têm uma resistência natural à covid-19? E que alguns rios, aliviados da poluição por força do confinamento, voltaram a atrair os banhos da população? Temos um exemplo para lhe mostrar. No dia da abertura oficial da época balnear em algumas praias, não estranhe se chegar ao areal e encontrar novas bandeiras. Têm cores e funcionam exatamente como os semáforos. Relembramos-lhe as novas regras de uma temporada como nunca vimos.
Não temos boas notícias para quem esperava pela chegada de junho para um pé de dança nas tradicionais festas dos santos populares. Não só estão proibidos os arraiais e as procissões em Lisboa e no Porto (o que não há memória de alguma vez ter acontecido), como a polícia vai estar em alerta para travar quem tente contrariar as proibições.

Tristes, moralistas e todos sábios

Posted: 05 Jun 2020 03:18 AM PDT

«Era uma terra bonita, em retângulo, que o mar docemente lambia.

Porém, esta língua de terra era habitada por gente triste, macambúzia e sempre desconfiada. E porque triste e desconfiada era empedernidamente moralista. Desde o zé das iscas de cebolada até ao eminentíssimo professor catedrático de qualquer coisa, todos se mostravam mais impolutos que Catão, o velho. Talvez melhor: ao lado deles Catão era uma lambisgoia, um safardanas, um tipo sem espinha dorsal. Em resumo: um verdadeiro energúmeno, um abjeto ser moral.

E tudo isto se passava sem discussão, porquanto cada um se considerava intocável. Um verdadeiro ser moral puro. Incontaminado. Tinha-se conseguido alcançar a pureza moral. E ai daquele que ousasse dizer: talvez não seja bem assim. De supetão todos lhe caíam em cima, sem dó nem piedade. Porque um verdadeiro triste e moralista, em caso algum, pode admitir que, ao seu lado, alguém mande às malvas a tristeza e se assuma feito das mais banais virtudes e vícios. Daqueles vícios que doem e fazem corar as donzelas ou os infantes, todos eles também moralmente puros. Admitir isso seria a desordem, o caos social, a destruição dos templos e a subversão moral. E os habitantes daquela terra sabiam disso, porque as mais altas esferas lhes diziam que eles eram os "melhores do Mundo", logo, o que defendiam era o que estava certo, desde o princípio dos tempos.

E um dia veio uma tempestade de peste. Igual a tantos milhares de outras com que a humanidade tem convivido e sobrevivido. E uma outra qualidade apareceu. Todos se tornaram sábios. Todos, sem exceção, ficaram a saber projetar, com sofisticados cálculos matemáticos, como se iria desenvolver a pandemia. E a informação, verdadeira ou falsa, pouco importa, porquanto, razoavelmente sabe-se - tem-se até medo de empregar o termo razoável em declinação de advérbio - que nestes tempos de medo construído, qualquer informação é logo tida como verdade proferida pela boca dos deuses. Sábios em epidemiologia, virologia, infecciologia, psiquiatria, psicologia, estatística, matemática aplicada e tudo sempre sustentado em "estudos". Categoria epistemológica que deve acompanhar um sábio que se preze. E como por encantamento aquele lindo pedaço de terra tornou-se no território mundial mais densamente povoado de sábios. Muitos deles sustentados na valência do "achismo", mas nem por isso menos sábios. E apareceu de tudo. De tudo, mas sábio.

E deste jeito, de um dia para o outro, todos continuaram tristes, o que está de acordo com a sapiência - pode lá conceber-se um sábio alegre -, e seguiram sendo moralistas, o que também é consonante com a sapiência - pode lá imaginar-se um sábio doidivanas e estarola viciado. E, novamente, assim, por mor da agressiva natureza, se percebeu que as qualidades dos habitantes, daquela terra abençoada, eram infinitas. "Gaudeamus"! (Rejubilemos!)»

José de Faria Costa