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segunda-feira, 22 de junho de 2020

Europa cria aliança para investigar covid-19

De  Aurora Velez  & Euronews  •  Últimas notícias: 22/06/2020 - 15:24

Em parceria comThe European Commission

Europa cria aliança para investigar covid-19

Direitos de autor euronews

Numa sala de espera, perto de Lyon, França, Elliot aguarda pela vez de ser atendido pelo médico. Tem tosse e febre, dois dos sintomas da covid-19, a pandemia que assolou o mundo e à qual a Europa quer dar uma resposta coordenada.

O "I-Move-Covid-19" é apoiado por fundos da União Europeia relacionados com pesquisa e inovação, em sinergia com a política comunitária de coesão, e pretende estudar casos e o funcionamento da futura vacina e de outros antídotos contra o vírus. O objetivo é obter o máximo de informação, seguindo a mesma metodologia entre todos os parceiros e países participantes. E tudo tem início no hospital de cuidados primários francês, onde é diagnosticada a covid-19.

“Estamos na fase de desconfinamento e o que fazemos agora é tentar identificar o mais rapidamente possível novos casos e isolá-los, para evitar uma nova contaminação e um efeito de ricochete. O que procuramos com esta vacina é o fim deste surto. Assim que tivermos a vacina, será muito mais fácil", afirma Laurent Combes, médico de clínica geral no hospital.

O projeto é apoiado pela Política de Coesão Europeia em mais de 2 milhões e 800 mil euros e envolve 22 parceiros, na sua maioria instituições públicas, da Albânia, da Bélgica, da Irlanda, da Lituânia, dos Países Baixos, de Portugal, de Inglaterra, da Escócia, da Roménia, da Suécia, de França e de Espanha.

É a partir de Espanha que as análises virológicas de todos estes países são coordenadas, mais concretamente no Instituto Carlos III, em Madrid. Uma das vantagens do "I-Move-Covid 19" é o facto de o projeto ser desenvolvido por uma equipa que realizou uma tarefa semelhante com a gripe.

Os virologistas são responsáveis pela sequenciação do genoma dos coronavírus recolhidos. Até agora, foram descobertos três tipos do novo coronavírus, com variações muito pequenas.

Francisco Pozo é virologista no instituto e garante que os desafios apresentados pelo novo vírus não lhe tiraram o otimismo.

"A muito curto prazo vamos saber se existem novos subgrupos do vírus, como se propagam nos países em que estamos a participar no "I-move" e depois estar preparados para quando a vacina chegar e os antivirais vierem, para ver se cada um destes grupos responde igualmente às vacinas e aos antivirais”.

Ao mesmo tempo, o projeto está a realizar um estudo para identificar que fatores contribuem para a infeção do pessoal hospitalar ou que uma pessoa desenvolva formas mais graves da doença. A informação é partilhada com outros países, a fim de encontrar uma solução para a pandemia o mais rapidamente possível.

Para a coordenadora do projeto, Marta Valenciano, na melhor das hipóteses, a vacina só vai estar pronta em maio do próximo ano.

"A indústria farmacêutica não participa na avaliação da vacina. Somos uma equipa multidisciplinar. Temos: virologistas, epidemiologistas, bioestaticistas clínicos, por isso é um trabalho multidisciplinar e plurinacional que esperamos que dê resultados importantes a nível europeu".

A ciência é agora o instrumento fundamental até ao momento em que vai ser possível derrotar o vírus simplesmente indo ao médico ou atravessando a porta de uma farmácia.

A vidente e a pandemia

por estatuadesal

(José Gameiro, in Expresso Diário, 21/06/2020)

Há muitos anos tive uma doente que era vidente. Acompanhava pessoas que a procuravam com os mais variados problemas da vida. Dava-lhes apoio, tinha uma capacidade empática fora de vulgar, mas também, um bom senso notável. Cada vez que se apercebia que quem a procurava tinha sérios problemas mentais encaminhava para um psiquiatra ou psicólogo.

Recebi vários doentes que me referenciava e eram sempre situações clínicas complexas ou que poderiam tornar-se graves sem tratamento. Um dia foi ela que me procurou. Estava triste, cansada, tinha parado a sua atividade, disse-me que não conseguia ajudar as pessoas. “Sabe o que mais me custa, quando estou exausta? Prever o futuro.” Dei-lhe uma resposta de bom senso: “Mas ninguém consegue prever o futuro...”

Explicou-me que estava completamente enganado. “Claro que não acerto completamente, mas frequentemente fico lá perto.” Como é que consegue isso, perguntei. “É muito simples, as minhas previsões condicionam parcialmente as atitudes da pessoa. Se eu lhe digo, por exemplo, que vai conhecer um príncipe encantado, ela fica mais predisposta a que isso aconteça.” Fiquei por aqui e não lhe perguntei nada acerca do meu futuro... Ao longo da pandemia tenho-me lembrado muito desta história. Será possível prevenir o futuro, condicionando-o?

Se quisermos pensar no que nos aconteceu, sem recorrer a raciocínios epidemiológicos, feitos com a melhor das boas vontades, mas com uma alta dose de aleatório, temos uma forma mais simples de o fazer. Ao confinarmos uma grande parte da população, tentámos condicionar o futuro. Mas será possível que uma tão grave decisão política tivesse sido tomada utilizando a mesma ‘epistemologia’ de uma vidente?

Imaginemos que não queremos encontrar alguém, que temos a certeza de que nos irá fazer mal. Naturalmente, evitamos todos os caminhos, situações, contextos em que a probabilidade de encontro seja a mais próxima possível do zero. Mas, no limite, a única forma segura de o fazer é não sairmos de casa e não deixar ninguém lá entrar. Os que tentaram fazer de forma diferente, talvez numa atitude de indiferença perante o perigo — vamo-nos encontrar tantas vezes que acabamos por criar defesas —, ‘espalharam-se’. Os exemplos não faltam, Reino Unido, Suécia, Suíça foram alguns dos países com taxas de letalidade muito mais altas do que nós. Estes países optaram por pensar que sabiam. Utilizaram o conhecimento de outros vírus e aplicaram-no cegamente. Uns persistiram no erro, outros arrepiaram caminho, mas já era tarde.

Agora, passados mais de três meses, é fácil dizer que a estratégia da vidente, foi boa mas não suficiente. Se alguém, responsável, se tivesse lembrado dos lares e não tivessem metido os pés pelas mãos, com a obrigatoriedade de usar máscara, os resultados teriam sido melhores. Desde cedo que se soube que o maior risco é a idade, variável, cada vez mais evidente, mas por razões que me escapam (constitucionais, discriminatórias?), os mais velhos foram pouco protegidos. Ou seja, com o tempo, a epistemologia da vidente foi sendo afinada. Quando se soube que só cerca de 10% dos infetados o tinham sido em contexto social, cerca de 35% tinham sido infetados nos lares e que a taxa de mortalidade dos mais de 70 anos é de cerca de 17% foi possível estratificar melhor o risco.

Tivemos a sorte e o saber de não deixar passar muito tempo, entre afirmar que seria uma situação semelhante à da gripe e perceber que não percebíamos quase nada do que estava a acontecer. Tal como a vidente que ganha a sua vida a prever o imprevisível, mas que tenta condicionar o futuro, nós fechámos as portas e pusemos uma pancarta a dizer: “Não entras.”

Talvez esta pandemia nos faça mais humildes e nos leve a aceitar melhor que percebemos muito pouco do que se está a passar. Mas a incerteza não é muito popular. Uma boa e dramática lição de vida.

Não podem estar bons da cabeça

por estatuadesal

(Luís Aguiar-Conraria, in Expresso Diário, 21/06/2020)

Esta semana, o assunto natural seria o Orçamento do Estado. Porém, do Palácio de Belém veio outro magno assunto: Lisboa vai ser palco de sete jogos de futebol. As imagens que de lá nos chegaram esclareceram o mistério do paradeiro do ministro da Educação.

Por toda a Europa, gizam-se planos e estratégias para a retoma das aulas. Em muitos países, as aulas já funcionam. Encontraram-se várias soluções. Nuns países, são ao ar livre; noutros, são em dias alternados; há ainda os que recorreram às universidades e estádios de futebol. No caso de França, as aulas funcionarão em pleno já a partir de segunda-feira. Uma preocupação constante é, obviamente, a de recuperar os alunos que ficaram para trás. Como escreve Susana Peralta no “Público”, em Inglaterra haverá programas de recuperação no verão e já se anunciou um plano de contratação de explicadores para os alunos mais atrasados. Na Bélgica, as aulas recomeçaram para os que em fevereiro mostravam ter mais dificuldades.

E em Portugal?! Nada. Na semana passada, o Conselho de Ministros aprovou um Programa de Estabilização Económica e Social (PEES) sem uma linha sobre retorno às aulas. Aprovou-se um Orçamento sem uma linha dedicada ao reforço de recursos humanos nas escolas, que facilitassem a transição e ajudassem estudantes que precisem. O diretor de turma da minha filha nem sabe se, em setembro, as aulas serão presenciais ou não. Como diz Susana Peralta, o ministro da Educação finge que nada disto é com ele. O que já é do domínio do ministro é dar uma prenda aos profissionais de saúde portugueses. E que prenda!: garantir que a Final Eight da principal competição de futebol da UEFA se realiza em Lisboa. Vemos na fotografia que ilustra o artigo como Tiago Brandão Rodrigues estava empenhado nesta magnífica oferenda. É como se, em vez de um ministro da Educação, tivéssemos um organizador de eventos, provavelmente na dependência orgânica da Secretaria de Estado do Turismo (porque organizar o evento da abertura das escolas parece que não).

A hipótese de não haver ninguém a trabalhar no Ministério da Educação ganhou consistência quando a minha mulher me disse que as escolas estavam a pedir aos alunos que devolvessem os manuais escolares. Vamos lá ver. Este ano as aulas só funcionaram no 1º período e numa parte do segundo e há dezenas de milhares de alunos sem apoio dos professores. É capaz de ser um pouco óbvio que os alunos vão precisar dos manuais durante as férias. Pelo menos os que quiserem estudar. Mesmo que não estudem, no próximo ano letivo, os professores terão de cobrir parte da matéria que ficou por dar este ano. Portanto, pensei que as escolas estivessem simplesmente a aplicar os procedimentos dos anos anteriores, sem terem sequer refletido no assunto. Não liguei muito e disse à minha mulher que ficasse tranquila, que era engano e que a nossa filha não devolveria manuais nenhuns.

Mas não ficou tranquila. Teimosa, insistiu que havia um despacho exigindo a devolução dos livros. E mandou-mo. Não é que há mesmo um despacho?! Foi assinado a 9 de junho, pela secretária de Estado da Educação, Susana de Fátima Carvalho Amador, publicado a 16 de junho, e diz que os manuais têm de ser devolvidos até 14 de julho.

Não se trata de esquecimento. Num ano no qual a escola não funcionou durante mais de um período e em que dezenas de milhares de alunos perderam o contacto com os professores, há mesmo alguém na equipa do ministro da Educação que considera que os alunos têm as matérias consolidadas e não precisam mais dos manuais escolares. Imagino que, no próximo ano letivo, quando os professores quiserem ensinar a matéria que ficou para trás, os alunos deverão procurá-la na internet. Se calhar é por isso que os 400 milhões previstos no PEES para a Educação estão destinados à Escola Digital.

Lamento, mas a incompetência não explica tudo. Simplesmente, naquele ministério, não podem estar bons da cabeça.

Professor de Economia da Univ. do Minho

Três tristes tigres

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João Cândido da Silva

João Cândido da Silva

Coordenador do Expresso Online

22 JUNHO 2020

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Bom dia,
Podia ter sido apenas ridículo, provinciano ou disparatado, mas foi pior. Muito pior. A cerimónia que reuniu as mais altas figuras do Estado português com o objectivo de anunciar a realização, em Lisboa, dos jogos de futebol da fase final da Liga dos Campeões dificilmente teria boas razões para acontecer. Daria sempre, como deu noutras ocasiões semelhantes, um sinal de subalternização do poder político em relação a um grupo de pressão pouco transparente e com tendência para servir de terreno onde se jogam influências e se trocam favores e apoios. O facto de ter acontecido no quadro de uma pandemia que está longe de ter sido debelada só tornou o evento mais lamentável.
Uma situação de excepção exige qualidades de liderança excepcionais. Se for pedir demasiado, então que haja dois sucedâneos razoáveis ou melhores: prudência e sensatez. Mesmo em proporções residuais, podem dar muito jeito. Entusiasmados com a ideia de darem uma notícia moralizadora, Marcelo Rebelo de Sousa, António Costa e Eduardo Ferro Rodrigues acabaram por fazer o contrário. Transformaram-se nos porta-vozes da desmoralização e do relaxamento e desferiram um golpe na credibilidade das regras e recomendações que desaconselham e tentam impedir aglomerações de pessoas.
Riram-se na cara dos pais que têm crianças que não podem ir à escola. Desprezaram as imensas dificuldades de quem tem de reerguer negócios sob a obrigação de cumprir restrições que, em nome da saúde pública, dificultam a tarefa. Garantiram que se trata de uma enorme conquista para a recuperação do turismo, mas não se deram ao trabalho de explicar se, no fim de contas, poderá haver público nos estádios, quando os festivais foram abatidos do calendário, ou se o feito inexcedível para a promoção da "marca Portugal" será testemunhado por bancadas vazias, caso em que não se percebe onde poderá estar a razão para tamanho deslumbramento e entusiasmo. Organizaram uma sessão de marketing e enredaram-se numa teia de contradições.
A economia tem de recomeçar a funcionar. Mas não há vacina para a covid-19, nem fármacos com total e comprovada eficácia. A actividade tem de ser ressuscitada com a colaboração do comportamento disciplinado e responsável dos cidadãos. O vírus é insensível à propaganda política, mas a capacidade de propagação beneficia com os sinais errados e aproveita-se dos maus exemplos. Se a ideia é a de usar uma competição desportiva para atrair turistas, a percepção gerada é a de que as portas estão abertas para o regresso a uma normalidade tão ansiada quanto arriscada.
Uma celebração em Lagos gerou quase uma centena de infectados. Mais de mil pessoas participaram numa festa num parque de estacionamento em Carcavelos, na região de Lisboa e Vale do Tejo, onde o desconfinamento tem desencadeado a maioria dos novos casos de infecção. Não surpreende que uma vaga de jovens infetados em esplanadas e praias esteja a chegar ao internamento do Hospital de Santa Maria. Em Braga e no Porto, a polícia teve de intervir para desagregar grupos que violavam as normas em vigor. Em Setúbal, a Polícia Marítima dispersou agrupamentos de jovens nas praias da Arrábida. Com a aproximação do período de férias escolares, os riscos aumentam. A cautela de quem está no topo das estruturas de poder devia subir também.
Marcelo, Ferro e Costa são responsáveis directos pelos casos de incumprimento? Não. Mas compete-lhes moderar o ímpeto quando se deparam com uma oportunidade para conquistar popularidade sem olhar ao preço. A boa notícia é que parece terem-se apercebido do alçapão em que mergulharam de cabeça. Para corrigir o deslize, decidiram atirar-se em direcção ao extremo oposto. O primeiro-ministro veio a público ameaçar com forças da ordem na rua a multar a torto e a direito. O Presidente da República admitiu a aplicação de "medidas mais duras" das autoridades e queixas ao Ministério Público. Quanto a Ferro Rodrigues, talvez esteja em casa a matutar sobre novas tácticas para fazer oposição a André Ventura.

domingo, 21 de junho de 2020

Não podem estar bons da cabeça

Posted: 20 Jun 2020 03:31 AM PDT

«Esta semana, o assunto natural seria o Orçamento do Estado. Porém, do Palácio de Belém veio outro magno assunto: Lisboa vai ser palco de sete jogos de futebol. As imagens que de lá nos chegaram esclareceram o mistério do paradeiro do ministro da Educação.

Por toda a Europa, gizam-se planos e estratégias para a retoma das aulas. Em muitos países, as aulas já funcionam. Encontraram-se várias soluções. Nuns países, são ao ar livre; noutros, são em dias alternados; há ainda os que recorreram às universidades e estádios de futebol. No caso de França, as aulas funcionarão em pleno já a partir de segunda-feira. Uma preocupação constante é, obviamente, a de recuperar os alunos que ficaram para trás. Como escreve Susana Peralta no “Público”, em Inglaterra haverá programas de recuperação no verão e já se anunciou um plano de contratação de explicadores para os alunos mais atrasados. Na Bélgica, as aulas recomeçaram para os que em fevereiro mostravam ter mais dificuldades.

E em Portugal?! Nada. Na semana passada, o Conselho de Ministros aprovou um Programa de Estabilização Económica e Social (PEES) sem uma linha sobre retorno às aulas. Aprovou-se um Orçamento sem uma linha dedicada ao reforço de recursos humanos nas escolas, que facilitassem a transição e ajudassem estudantes que precisem. O diretor de turma da minha filha nem sabe se, em setembro, as aulas serão presenciais ou não. Como diz Susana Peralta, o ministro da Educação finge que nada disto é com ele. O que já é do domínio do ministro é dar uma prenda aos profissionais de saúde portugueses. E que prenda!: garantir que a Final Eight da principal competição de futebol da UEFA se realiza em Lisboa. Vemos na fotografia que ilustra o artigo como Tiago Brandão Rodrigues estava empenhado nesta magnífica oferenda. É como se, em vez de um ministro da Educação, tivéssemos um organizador de eventos, provavelmente na dependência orgânica da Secretaria de Estado do Turismo (porque organizar o evento da abertura das escolas parece que não).

A hipótese de não haver ninguém a trabalhar no Ministério da Educação ganhou consistência quando a minha mulher me disse que as escolas estavam a pedir aos alunos que devolvessem os manuais escolares. Vamos lá ver. Este ano as aulas só funcionaram no 1º período e numa parte do segundo e há dezenas de milhares de alunos sem apoio dos professores. É capaz de ser um pouco óbvio que os alunos vão precisar dos manuais durante as férias. Pelo menos os que quiserem estudar. Mesmo que não estudem, no próximo ano letivo, os professores terão de cobrir parte da matéria que ficou por dar este ano. Portanto, pensei que as escolas estivessem simplesmente a aplicar os procedimentos dos anos anteriores, sem terem sequer refletido no assunto. Não liguei muito e disse à minha mulher que ficasse tranquila, que era engano e que a nossa filha não devolveria manuais nenhuns.

Mas não ficou tranquila. Teimosa, insistiu que havia um despacho exigindo a devolução dos livros. E mandou-mo. Não é que há mesmo um despacho?! Foi assinado a 9 de junho, pela secretária de Estado da Educação, Susana de Fátima Carvalho Amador, publicado a 16 de junho, e diz que os manuais têm de ser devolvidos até 14 de julho.

Não se trata de esquecimento. Num ano no qual a escola não funcionou durante mais de um período e em que dezenas de milhares de alunos perderam o contacto com os professores, há mesmo alguém na equipa do ministro da Educação que considera que os alunos têm as matérias consolidadas e não precisam mais dos manuais escolares. Imagino que, no próximo ano letivo, quando os professores quiserem ensinar a matéria que ficou para trás, os alunos deverão procurá-la na internet. Se calhar é por isso que os 400 milhões previstos no PEES para a Educação estão destinados à Escola Digital.

Lamento, mas a incompetência não explica tudo. Simplesmente, naquele ministério, não podem estar bons da cabeça.»

Luís Aguiar-Conraria