De Joao Duarte Ferreira • Últimas notícias: 22/06/2020 - 19:15
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A zona económica do Suez no Egito foi o local escolhido para a União Europeia dar o primeiro passo no sentido de contrariar as ambições comerciais chinesas.
Pela primeira vez, Bruxelas impôs taxas alfândegárias sobre empresas chinesas com sede fora da China, neste caso, os exportadores de fibra de vidro, material utilizado em coisas tão diversas como turbinas eólicas e material desportivo.
A União Europeia penaliza assim a China por uma prática destinada a reforçar a presença chinesa nos mercados europeus.
"Isto é um sinal claro enviado por Bruxelas e dirigido a este tipo de bens subsidiados, mesmo que não sejam subsidiados pelo país de origem, neste caso, o Egito, mas indiretamente por um país terceiro, que não entrarão no mercado europeu. Trata-se de um caso robusto. É algo novo, uma nova abordagem e uma nova leitura sobre o que Bruxelas e a Direção-geral de Comércio podem fazer", adianta Agatha Kratz, diretora-associada do Grupo Rhodium.
A resposta chinesa não tardou. A China criticou a decisão europeia afirmando violar as regras da Organização Mundial do Comércio.
Pequim sublinha que as diferenças devem ser resolvidas através de negociação.
No entretanto, a União Europeia continua a reforçar as medidas de proteção contra as políticas comerciais expansivas provenientes da China.
Bruxelas prepara medidas em várias indústrias consideradas estratégicas.
Falando no dia 17 de junho, a vice-presidente da Comissão Europeia, Margrethe Vestager , deixou claras as intenções do executivo europeu.
"O papel da Comissão é defender o Mercado Único e tomar medidas sempre que existam indústrias subsidiadas por países terceiros e que distorcem o mercado dentro da nossa União", afirmou.
Existem receios na Europa relativamente à aquisição predadora de empresas europeias - e da conquista de mercados europeus através de formas mais subtis.
"O passo seguinte é garantir a aplicação efetiva das medidas que acabam de ser impostas. Infelizmente, sabemos por experiência que os produtores chineses encontram sempre formas inovadoras e criativas para evitar a aplicação das medidas", diz Laurent Ruessmann, advogado especializado em comércio internacional.
Após a falência de várias empresas europeias adquiridas pela China, Pequim tem vindo a cortar drasticamente nos investimentos diretos. Do pico de 37 mil milhões de euros de investimentos registados em 2016, no ano passado registaram-se apenas 12 mil milhões, tendência que se manteve em 2020 agravada pela pandemia de Covid-19.
De facto, são agora os investidores europeus que estão agora a adquirir empresas chinesas segundo a especialista Agatha Kratz.
"Estamos a assistir ao colapso total dos investimentos externos da China, certamente relativamente à Europa. Vemos muito pouca atividade de fusões e aquisições por parte de empresas chinesas e investidores para o resto do mundo e a Europa em particular. Ironicamente, é interessante verificar que existe agora o movimento inverso, ou seja, muitas aquisições oportunistas de empresas chinesas", acrescenta.
Resta saber quando é que os investidores chineses vão regressar em força.