Pedro Lima
Editor-adjunto de Economia
24 JUNHO 2020
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Bom dia,
Os versos que fazem o título deste Expresso Curto foram publicados na página de Facebook “Só quem vive no Porto sabe”, onde foi lançado o desafio de criar versos alusivos ao São João versão Covid-19 e depois simulados cartazes publicitários com alguns deles. Lá encontrará muitos outros versos, alguns mais ‘apimentados’, mas todos com um objetivo bem definido: fazer-nos rir apesar de o coronavírus ter colocado em suspenso as nossas vidas e as nossas tradições, em especial as comemorações dos santos populares – neste caso o São João, mas já antes a 13 de junho o Santo António e em breve, no dia 29, o São Pedro.
Não será só o humor a salvar-nos, mas o humor tem claramente ajudado a tornar menos tristes estes dias de pandemia que se perpetuam desde há mais de três meses, quando o surto iniciado na China chegou em força a Portugal. Todos os dias somos confrontados com uma mesma ‘ladainha’: o número de mortos (ontem foram mais seis em Portugal), o número de infetados (mais 345), o número de doentes recuperados (mais 281) e as consequências económicas dramáticas que aí estão à vista, por todo o mundo. A nível mundial, o novo coronavírus já fez 473.475 vítimas e infetou mais de 9,1 milhões de pessoas. Índia e México apresentam recordes diários de casos. Veja aqui a infografia "Coronavírus no mundo em 12 gráficos".
Foi por isso uma noite de São João anormal porque, para evitar que o vírus se espalhe, não houve festa – leia aqui a reportagem que fizemos no Porto “Não foi à moda do Porto. O silêncio e o vazio da noite mais longa do ano que ‘parece um enterro’”. Assim como anormal será o feriado municipal desta quarta-feira assinalado em muitas cidades e vilas do país de norte a sul – no Porto ou Braga a norte, em Tavira ou Castro Marim a sul, no Porto Santo na Madeira ou em Angra do Heroísmo nos Açores.
A câmara do Porto cancelou todos os festejos – na cidade houve fogo de artifício mas no âmbito do jogo de futebol entre o FC Porto e o Boavista. Outras cidades tomaram medidas para controlar comemorações – ali ao lado, por exemplo, em Matosinhos, as praias foram encerradas das 19h de ontem às 9h de hoje.
Estes cuidados são essenciais para controlar a propagação do vírus e evitar novos focos de contágio como o que se está a verificar na região de Lisboa, que desconfinou mais tarde do que as outras zonas do país e teve agora de confinar novamente.
Os dados divulgados esta terça-feira mostram que a maior parte dos infetados voltou a ter origem em Lisboa e Vale do Tejo (87%), em especial em 19 freguesias, que vão continuar em estado de calamidade. O que justifica medidas especiais para a zona de Lisboa – “beber copos” na rua, por exemplo, passa a ser crime, mas as limitações passam também por encerrar os estabelecimentos comerciais às 20h, à exceção dos restaurantes. Pode conferir aqui o que mudou a partir desta terça-feira na região de Lisboa e Vale do Tejo.
O stresse que está a afetar Lisboa deu entretanto origem a uma desnecessária troca de palavras entre o presidente da câmara de Lisboa, o presidente da câmara de Ovar e o presidente do PSD. O de Ovar sugeriu um cerco sanitário a Lisboa, o de Lisboa respondeu que o de Ovar não sabe do que fala e tinha saudades de ir falar à televisão e o do PSD veio dizer que o de Lisboa esteve muito mal.
Será preciso ajustar o discurso político? O Presidente da República já deu sinais de que se deve explicar melhor a realidade à opinião pública. Confinámos bem e desconfinámos mal? Passámos efetivamente do 8 para o 80? Passaram-se sinais errados à população, transmitindo a ideia de que estava tudo bem? Houve claramente contradições e avanços e recuos no discurso sobre a pandemia, como lhe contamos aqui.
Tendo o turismo a importância que tem e tendo Portugal sido muito elogiado pela forma como lidou com a pandemia, o surto em Lisboa é uma muito má notícia e as consequências estão ao virar da esquina: Portugal pode ser excluído da lista de países considerados seguros pelo Reino Unido. E a Finlândia reabriu as fronteiras a mais 12 países europeus mas deixou Portugal e Espanha de fora.