Posted: 23 Jun 2020 03:35 AM PDT
«Como escrevi na sexta-feira, não acompanhando a excitação de quem olha mais para os infetados do que para os internados. Sou cauteloso a olhar para números diários e não me deixo ir pelos humores pendulares que a comunicação social alimenta. Mas acho que o Estado deve tomar cuidados. Não apenas os óbvios, em relação à pandemia. Mas reputacionais. Sobretudo quando os destinos turísticos estão em concorrência. Suspeito que seja essa guerra que leva a Grécia a colocar Portugal, seu concorrente, nos pontos de origem de onde não aceita turistas. Marcar a concorrência como lugar perigoso faz parte de um jogo que a descoordenação europeia alimenta.
É nesta altura que todos os cuidados com a imagem também devem contar. E é por isso que a festa com a vinda da fase final da Champions para Portugal é idiota. Já nem falo da duplicidade de critérios com o campeonato nacional, se estas competições tiverem público. Já nem falo da inacreditável declaração do primeiro-ministro, que apresentou isto como um prémio para o pessoal de saúde. Fico por uma abordagem mais fria. Qual a vantagem de um risco reputacional neste momento?
Não acredito que a Champions vá acontecer com público vindo de todo o mundo. Era preciso que, em agosto, tudo estivesse quase resolvido. Não parece que vá ser o caso. Sendo sem público, o que ganhamos com isso? Dizem que ganhamos publicidade, que contribuirá para a recuperação mais rápida do turismo. Mas isso é partir do princípio que as coisas estarão bem em agosto. Não fazemos ideia se assim será.
Se as coisas piorarem, e o que está a acontecer na China não nos permite mesmo saber o que nos espera, a publicidade só pode ser negativa. Se a fase final das competições europeias for desmarcada, teremos um foco na situação portuguesa que seria evitável. Se não for desmarcada, teremos televisões de todo o mundo, sem público como tema de reportagem, a apontar os seus holofotes para cada caso e cada perigo, transformando Lisboa na capital europeia da covid. Mesmo que esteja a correr pior noutras paragens. Vale o risco?»