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quinta-feira, 25 de junho de 2020

Covid-19: Reino Unido desconfina, Alemanha recua nas medidas

De  euronews  •  Últimas notícias: 24/06/2020 - 09:09

Covid-19: Reino Unido desconfina, Alemanha recua nas medidas

Direitos de autor Frank Augstein/Copyright 2020 The Associated Press. All rights reserved

Depois de três meses de pandemia, a Europa começa a desconfinar. No Reino Unido, os bares poderão abrir em breve. A partir de 4 de julho, o distancimento social obrigatório de dois metros passa para metade: Um metro entre cada pessoa.

O anúncio das novas medidas foi feito por Boris Johnson. O primeiro-ministro britânico admitiu um regresso à normalidade muito em breve depois de uma "longa hibernação".

"Hoje, podemos dizer que nossa longa hibernação nacional está começando a terminar e a vida está retornando às nossas ruas e às nossas lojas, a agitação está começando a voltar.", admitiu o primeiro-ministro.

Um regresso à vida normal que acontece também noutros países europeus, os quais, mantêm, mesmo assim, a regra dos dois metros de distância, ao contrário do Reino Unido.

Chris Whitty, da Direção-Geral da Saúde do Reino Unido, diz que independentemente das medidas, aprender a viver com o vírus é inevitável e seja quais forem as medidas a tomar, nenhuma estará livre de risco.

"Todos nós, em todos os países, estamos a aprender a encontrar um equilíbrio sustentável porque temos que conviver com este vírus no futuro próximo e encontrar um caminho. Nenhuma decisão será livre de riscos", disse o representante da Saúde.

Riscos de um relaxamento nas medidas que estão agora a ser comprovados em vários países.

Na Alemanha, nas últimas semanas foi registado um aumento de novos casos diários, o que obrigou o governo de Merkel a recuar nas medidas em duas regiões.

Um dos casos mais graves é o de uma fábrica de produção de frigoríficos perto de Dortmund, na região de Renânia do Norte-Vestfália , a mais populosa da Alemanha, onde 1500 trabalhadores testaram positivo para covid-19.

Donald Trump e as virtudes milagrosas do muro na fronteira com o México

De  Bruno Sousa  •  Últimas notícias: 24/06/2020 - 11:03

Trump inspeciona muro na fronteira com o México

Trump inspeciona muro na fronteira com o México   -   Direitos de autor Evan Vucci/Copyright 2020 The Associated Press. All rights reserved

A promessa de um muro na fronteira com o México foi uma das bandeiras na primeira campanha eleitoral de Donald Trump. Agora que se aproxima um novo escrutínio e as sondagens estão longe de ser famosas, o presidente dos Estados Unidos regressa à fórmula que já lhe valeu uma vitória.

Trump esteve no Arizona para descerrar uma placa que assinala as 200 milhas do muro, cerca de 320 quilómetros, e descobriu uma nova virtude para o que acredita ser a cura para tudo o que está mal no país.

De acordo com o líder norte-americano, além de acabar com o tráfico humano, o muro já construído permitiu evitar uma catástrofe com o coronavírus na fronteira a sul.

Ironicamente no Arizona, os números da covid-19 têm vindo a subir vertiginosamente nos últimos dias.

Trump promete a construção de mais setecentos quilómetros de muro até ao fim do ano para cumprir assim a promessa da primeira campanha eleitoral mas a fronteira com o México tem mais de três mil quilómetros. Do setor já construído, a esmagadora maioria não passou da renovação de um muro já existente.

Aventura na baía dos leitões

por estatuadesal

(Francisco Louçã, in Expresso Diário, 23/06/2020)

Um bando de mercenários foi preso há dois meses ao tentar desembarcar nas costas da Venezuela, a coisa parecia um arremedo da saga do coronel Alcazar do Tintin, uma simples graçola, quando um deles veio reclamar direitos legais com papel passado em notário. A curiosidade é mesmo o contrato que os mercenários traziam no bolso.


E agora um assunto completamente diferente: não é sobre a pandemia e os seus números sempre preocupantes, não são as mais cem mil pessoas desempregadas a somar à estatística, não é o fiasco anunciado da gloriosa marcha sobre Lisboa daquela “maioria silenciosa” que está no sótão desde o saudoso 28 de setembro de 1974, é sobre as desventuras de um bando de mercenários na Venezuela.

O detalhe do caso foi reportado, ao que sei, pelo "Washington Post" e, depois, replicado pela imprensa mundial, incluindo a portuguesa. E é curioso: um bando de mercenários foi preso há dois meses ao tentar desembarcar nas costas daquele país, a coisa parecia um arremedo da saga do coronel Alcazar do Tintin, uma simples graçola, quando um deles veio reclamar direitos legais com papel passado em notário. A curiosidade é mesmo o contrato que os mercenários traziam no bolso.

O grupo obedecia ao comando de um empresário norte-americano do ramo, Jordan Goudreau, que veio dar explicações. Segundo a sua versão, a sua empresa, a Silvercorp, foi abordada por representantes de Juan Guaidó, o proclamado presidente interino da Venezuela, reconhecido pela diplomacia dos Estados Unidos e pelos seus aliados, incluindo, com diversos graus de devoção, algumas chancelarias europeias.

Esses embaixadores pagaram-lhe para preparar uma operação militar: 800 soldados, sobretudo desertores do exército venezuelano e milícias de extrema-direita, deveriam ser treinados para uma invasão a curto prazo.

A empresa seria autorizada a usar sem riscos judiciais a força necessária, como o assassinato de dirigentes políticos e a morte dos militares oficialistas que resistissem, receberia um bom prémio de centenas de milhões de dólares e, depois, mais dezasseis milhões por cada mês no período de transição em que os seus serviços de segurança fossem reclamados pelos clientes. Tudo escrito em oito páginas de contrato e 41 de aditamentos, com as indicações detalhadas para a operação.

Goudreau, zangado porque os 800 voluntários não apareceram, ou os poucos que vieram se preocupavam mais com diversão avulsa do que com o garbo militar, escandalizado pelo naufrágio das lanchas dos comandos, que foram recebidos e dizimados pelo inimigo, em vez de serem festejados pela população, e, sobretudo, amofinado com a falta de pagamento, revelou o contrato e lavrou o seu protesto.

A assinatura era do braço direito de Guaidó, que viajou para os Estados Unidos para concretizar o compromisso, assinado em outubro do ano passado, e que não teve como desmentir o mercenário. É tudo verdade. É mesmo estimável que, em tempos tão turbulentos, de gigantescas conspirações e fake news, haja quem tenha o rigor processual de contratualizar por escrito os assassinatos, a invasão militar e o regime posterior, tudo para que as devidas autoridades comerciais possam aferir o cumprimento das cláusulas, a ser necessário. Só que falhou tudo, nem exército, nem dinheiro.

Trump, que, ao que revela Bolton no seu livro hoje publicado, acha que a Venezuela é parte dos EUA, veio no domingo mostrar algum arrependimento sobre a sua aposta em Guaidó. Não é para menos, o homem tem fracassado em todos os seus intentos de tomar o poder: parece que faltam as manifestações; quando tentou levantar os quartéis ficou sozinho a tirar selfies em frente ao portão; e o seu peso institucional depende mais do sequestro da direita histórica venezuelana do que de propostas realizáveis.

Não sei o que dirá o governo português, que procedeu com aquela matreirice de reconhecer Guaidó como presidente mas de manter o embaixador oficial e de, para todos os efeitos, tratar com Maduro de todos os assuntos de Estado. A Espanha já se pôs a milhas desse jogo. E a crise daquele país continua a agravar-se. Pobre Venezuela, tão destruída e tão cobiçada.

Medo, desaforo e temeridade

Posted: 24 Jun 2020 03:50 AM PDT

«O medo vem dos primórdios dos humanos; ele fez os primatas evoluíram e substituírem o instinto pela consciência dos perigos. O medo de algum modo fez o homem. Vem de muito longe, do tempo em que os hominídeos viviam rodeados de inimigos, de outras espécies que para sobreviverem faziam deles alvos. Nasceu connosco e de nós não se separará.

Esta componente do nosso sistema de vida está em alta com a chegada da pandemia, impondo-nos uma conduta distinta da vivida até ao seu aparecimento. É o medo que nos faz ser cautelosos e medir riscos e evitar os mais perigosos. É uma ferramenta que nos permite agir com prudência. Mal utilizado pode ser castrador.

O medo nomeadamente da Inquisição, do senhor feudal, do polícia, das ditaduras são elementos que integram o nosso passado. Portugal viveu muitos medos que se entranharam na mentalidade do país.

O medo da pandemia atirou os portugueses para dentro de casa, confinou-os, antes até da própria decisão governamental. É o medo positivo. O medo sacana é o que faz os cidadãos açambarcarem produtos que fazem falta à comunidade. É o oportunismo egoísta que Saramago tão bem descreveu no Ensaio sobre a Cegueira.

O medo do coronavírus foi o chicote que meteu o rebanho em casa. A terrível carantonha do inimigo invisível confinou-nos.

Os medos infantis quase nos paralisavam, mas passámo-los. Cinquenta anos vivemos sob o manto negro do medo que nos fazia suspeitar de todos. Os portugueses viverem muito tempo sob o medo. Está ainda no seu ADN. Claro que houve mulheres e homens a quem o medo não ditou as suas leis e enfrentaram a ditadura. Foram eles que aceleraram a História e encurtaram o período das trevas salazarentas.

Os médicos, os enfermeiros e todos os operacionais de saúde são os bravos que nos defendem, mesmo correndo sérios riscos. O medo impõe-lhes prudência, mas não os tolhe.

Como teria de ser, chegou a hora o desconfinamento e de respirar fora das quatro paredes caseiras e de regressar em parte à vida que o vírus nos roubou.

Entretanto uma mistura explosiva varre o país, um pouco por todo o lado: a desgraça de quem vive e trabalha em condições miseráveis, o empacotamento dos velhos sob o olhar ausente das autoridades, a insanidade de quem organiza festas e engana autoridades, as próprias condições de quem trabalha na saúde e os que do alto do esplendor da idade viram costas aos deveres de proteção da comunidade.

Que o vírus contagie os que não lhe podiam fugir dadas as condições compreende-se, embora doa. Que os idosos gerem rendimentos chorudos aos donos das prateleiras de empacotamento resulta da irresponsabilidade governamental que aparece depois das desgraças a dizer que vai fazer um inquérito e apurar responsabilidades que desaparecem no passar dos dias e com a ausência mediática do assunto.

E que dizer da pompa e circunstância da dupla Marcelo/Costa a anunciarem que vem aí a final da Champions… e a dedicou aos trabalhadores da saúde. Esta lengalenga cheira a ranço, tem um lastro de propaganda à maneira do antigo regime. É algo abominável. Só faltou o cardeal. Ter-se-ão esquecido?

De tanto elogiarem o comportamento dos portugueses enveredaram pelo nacional-porreirismo. Em vez de assumirem condutas responsabilizantes e responsáveis andam a apagar fogos de festa em festa, de lar em lar, de bairro degradado em bairro degradado.

É preciso coragem, mais coragem do que contas sobre votos. Vivemos uma pandemia. O Portugal desconfinado à espera da final da Champions, do turismo que acende e apaga, que mantém na pobreza mais de um quarto da população que não tem condições para cumprir com as regras da DGS, que consome carradas de ansiolíticos e notícias dos luxos da Cristina Ferreira mete medo. Medo.»

Domingos Lopes

As linhas com que nos cosemos

Curto

Cristina Figueiredo

Cristina Figueiredo

Editora de Política da SIC

25 JUNHO 2020

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Esta tarde vamos ficar a saber as linhas com que nos cosemos neste dia que devia ser o fim do estado de calamidade mas se calhar não, pelo menos para alguns concelhos (no limite, para algumas freguesias) da região de Lisboa, onde os casos de infeção por Covid 19 não param de surgir. O Conselho de Ministros reúne-se a partir desta hora para aprovar o que todos já percebemos desde segunda-feira ser um inevitável passo atrás no desconfinamento: regras específicas (bem como uma moldura penal, com uma tabela de coimas que podem chegar aos milhares de euros para o crime de desobediência) para travar os surtos nesta zona do país. O Público avança que está em cima da mesa a possibilidade de se voltar ao confinamento obrigatório nas 19 freguesias identificadas como o cerne do problema.
As informações sobre o que se passou ontem, na reunião da elite política com os técnicos e especialistas de saúde, não são tranquilizadoras. Se o primeiro-ministro procurou confirmar que o aumento de casos em Lisboa e Vale do Tejo se deve ao aumento de testes, os epidemiologistas contrapuseram que isso não explica toda a realidade e que existe um problema real, como real é a hipótese de uma segunda onda de contágios. Da reunião saiu também a certeza do que já suspeitávamos: começou a luta política a propósito da pandemia, como o Expresso lhe explica aqui.
Ainda sobre a situação em Lisboa vale a pena ouvir o que disse ontem, no Jornal da Noite da SIC, Fernando Maltez: "Um maior número de testes só encontra mais casos se eles existirem" diz o diretor do serviço de Infecciologia do Hospital Curry Cabral. Parece óbvio, não é?
Outro médico, este a norte, confessa estar exausto, não só da intensidade do trabalho mas da inabilidade política. A conversa da Christiana Martins com Robert Roncon, "médico que viu provavelmente mais doentes com covid-19 e os casos mais graves desta infeção em Portugal" pode ser lida aqui.