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sexta-feira, 9 de outubro de 2020

A mais-valia da crise

Posted: 08 Oct 2020 03:36 AM PDT

«Poucos de nós terão memória de uma crise como a que estamos a viver. Arriscaria dizer: nenhum de nós viveu algo semelhante, porque nenhum país ficou imune. Acreditámos, por isso, que a tragédia que nos bateu à porta, sem aviso prévio, teria força suficiente para mudar o Mundo para melhor. Não foi preciso muito para perceber: tudo ficaria mais ou menos na mesma. Os factos estão aí a comprová-lo.

Numa altura em que tanta gente perdeu o emprego e outros aguardam o dia pela chamada para lhes comunicarem a extinção do seu posto de trabalho, ficamos a saber que os mais ricos do Mundo ficaram ainda mais ricos. Entre abril e junho, quando o planeta estava praticamente parado, e uma grande fatia da população fazia contas para acudir às despesas básicas, a fortuna dos bilionários atingiu um novo recorde. Tudo na mesma, portanto.

No mesmo dia, soubemos que o preço das casas continuou a subir durante a pandemia. Mais. Portugal registou a sétima subida mais alta a nível da União Europeia. Pois é, quem pensava que iríamos refletir e pensar um pouco mais no bem-estar do próximo, enganou-se. A crise, como todas as crises, é uma oportunidade de negócio. As casas continuam a ser vendidas para aumentar os ativos dos que passam ao lado da crise.

E também os que viram na recessão do turismo o fim dos problemas da habitação, porque os alojamentos locais iriam diretamente para o arrendamento tradicional, também esses se enganaram. Algumas terão ido, outras estarão fechadas à espera de melhores dias. E os jovens que viram nesta crise uma oportunidade para sair de casa, porque os mil euros que ganham no seu primeiro emprego seriam suficientes para garantir um empréstimo bancário e comprar uma casa, terão de ver o sonho adiado. Este país não é para jovens, mas sim para os que estão sempre à espera da próxima crise para viver ainda melhor.»

Paula Ferreira

quinta-feira, 8 de outubro de 2020

Dia de Homenagem aos Irmãos Oliveira Lopes

(110 anos da inauguração da Escola Oliveira Lopes)

Não obstante, a atual situação pandémica, no passado dia 2 de outubro, cumpriu-se, novamente, a tradição na Vila de Válega.

A Associação dos Antigos Alunos da Escola Oliveira Lopes, em parceria com a Câmara Municipal de Ovar, organizou o “Dia de Homenagem aos Irmãos Oliveira Lopes”, no âmbito da comemoração dos 110 anos da inauguração da Escola Oliveira Lopes.

A manhã iniciou-se com a recolha de flores trazidas pelos alunos no Centro Educativo da Regedoura.

De seguida, os alunos montaram uma maqueta 3D em suporte papel da Escola Oliveira Lopes e, dando azo à sua criatividade, pintaram-na e decoraram-na no contexto da oficina: “Cola e Constrói a Escola”.

À hora do lanche, a Associação dos Antigos Alunos da Escola Oliveira Lopes ofertou uma “mariazinha” a cada aluno do Centro Educativo da Regedoura.

A oficina: “Cola e Constrói a Escola” realizou-se também no Museu Escolar Oliveira Lopes, no Jardim de Infância de Carvalho, na Turma da Ana, na Fundação Padre Manuel Pereira Pinho e Irmã e no Centro Comunitário de Esmoriz (enquadrada no projeto Envelhecer em Casa e ainda no Centro de Convívio), tendo estado, assim, aberta à participação da comunidade vareira. Cerca de 400 “miúdos e graúdos” participaram nesta iniciativa inaudita e muito interessante promovida pela Associação dos Antigos Alunos da Escola Oliveira Lopes. Alguns dos trabalhos desenvolvidos pelos alunos e pelos seniores foram expostos no Museu Escolar Oliveira Lopes.

À tarde, os corpos diretivos da agremiação fizeram a romagem ao jazigo dos Irmãos Oliveira Lopes, no qual foram depositadas as flores ofertadas pelos discentes e uma coroa de flores pela Associação dos Antigos Alunos da Escola Oliveira Lopes.

Já no dia 3 de outubro, foi celebrada uma missa pelo Padre José Fernando Alves Carneiro, na Igreja Matriz de Santa Maria de Válega, em homenagem aos Irmãos José e Manuel José de Oliveira Lopes.

Este ano, a data foi, assim, assinalada em moldes diferentes, mas, uma vez mais, respeitou-se o passado e honrou-se a memória dos Irmãos Oliveira Lopes que nos deixaram um legado ímpar - o magnífico e majestoso edifício da Escola Oliveira Lopes que à época da inauguração rivalizava com as melhores escolas do Porto e de Lisboa.

Prémio Nobel da polémica

O júri do Prémio Nobel da Literatura tem recebido duras críticas

O júri do Prémio Nobel da Literatura tem recebido duras críticas   -   Direitos de autor Fernando Vergara/AP

De  Teresa Bizarro  •  Últimas notícias: 08/10/2020 - 13:18

A chave de qualquer Prémio Nobel está, em primeiro lugar, na mão dos membros da Academia sueca. Um conclave de 18 pessoas, quase todos homens, com uma média de idade a rondar os 70 anos tem mandato vitalício para escolher um pequeno comité de especialistas que anualmente seleciona os laureados.

Nas chamadas áreas técnicas, o prémio parece não ter mácula. O mesmo não se passa nas escolhas dos Nobel da Paz e da Literatura.

O prémio das letras traduz reconhecimento e materializa-se numa valorização comercial do autor que vai muito para além do dinheiro entregue pela academia: 10 milhões de coroas suecas - cerca de 950 mil euros.

Há quatro anos, os literatos chocaram-se com a escolha de Bob Dylan, mas o autor e compositor resistiu a entrar na polémica. Recebeu o cheque, mas em tudo o resto ignorou a academia.

A verdadeira vergonha para o conclave estava ainda por vir. Em 2017, um escândalo de abuso sexual e fraude financeira fez tremer os alicerces da instituição centenária. Um escândalo que envolvia diretamente um dos membros permanentes da academia e o marido. Katarina Frostenson foi afastada e o Jean-Claude Arnault veio a ser condenado por violação.

A atribuição do prémio foi interrompida por um ano. Regressou em 2019, mas a escolha voltou a ser tudo menos consensual. A academia escolheu destacar a obra de Peter Hanke, um escritor austríaco conhecido por negar publicamente o genocídio praticado pelas autoridades sérvias na guerra da ex-jugoslávia.

No que toca à diversidade, são também duras as criticas. Os autores anglófonos estão em larga maioria e dos 116 Nobel da Literatura atribuídos desde 1901, só 15 distinguiram mulheres - a mais recente, foi a polaca Olga Tokarczuk, que recebeu o prémio em 2018.

Há quem defenda que com tanta mácula é tempo dos autores começarem a recusar a distinção da academia que Alfred Nobel financiou.

Trump e o vírus

Posted: 07 Oct 2020 12:45 AM PDT

As razões do PS contra os contratos coletivos

Posted: 07 Oct 2020 03:42 AM PDT

«A norma da caducidade automática das convenções foi introduzida pela direita numa reforma laboral em 2003 e depois reforçada pelo PS em 2009, tendo-a agravado ao desvalorizar regras específicas de cada contrato que ainda permitiam a sua continuidade até à substituição por nova convenção. O resultado desta medida, combinada com outras restrições à ação sindical, foi fulgurante: em 2008 ainda foram abrangidos 1704 mil trabalhadores pela atualização dos salários convencionais, em 2011 já só foram 1203 mil e, em 2013, limitaram-se a 187 mil. Em cinco anos, o número reduziu-se de dez para um. Houve depois uma ligeira recuperação, mas sempre num patamar de perda de poder negocial da parte mais fraca.

Para o trabalho, o mundo mudou com esta medida. Maria da Paz Campos Lima, professora do ISCTE, apresentou estes números num estudo de 2016 e explicou essa estratégia patronal a que sucessivos governos deram provimento: “A caducidade das convenções coletivas requerida pelas organizações patronais significa, em geral, uma de duas coisas: ou força as negociações de novas convenções a partir do zero, uma ambição de longa data para alguns setores patronais, na perspetiva de definição de novas normas numa relação de forças que lhes seja mais favorável; ou permite, no quadro do paralelismo de convenções, substitui-las por outras mais favoráveis ao lado patronal, e nalguns casos assinadas por sindicatos minoritários”. Essas são as razões ideológicas e políticas do PS, é assim que entende as relações laborais e não faz disso segredo.

Ora, do que não se pode acusar esta estratégia é de ser incoerente. Por isso, e mais uma vez ao contrário de vários analistas, percebo porque é que o PS sempre recusou alterar esta regra, que afinal é também de sua autoria, e, quando convidado a discutir o tema no contexto de uma negociação para um acordo para esta legislatura, há um ano, fechou imediatamente a porta com estrondo. Comentadores alinhados com o PS saudaram essa determinação, abundando no tema tradicional: não se mexe no que resulta e seria uma “provocação” discutir tal assunto. Sim, têm razão, isto resulta, provocou uma desvalorização estrutural da contratação coletiva e, assim, contribuiu para as perdas de rendimento ao longo da década que correu desde a recessão anterior. Tornou-se uma norma de política estruturante.

Nesse sentido, o facto de o PS aceitar agora discuti-la, in extremis, é revelador de uma dificuldade e de uma oportunidade. Reconhecendo que a norma não deve continuar a ser aplicada em momento de recessão, o governo propõe a sua suspensão por um curto período de dois anos (mas ameaça retirar a proposta se não houver acordo em tudo o resto do orçamento). Só que a solução é esdrúxula, dado que a constatação do aumento da desigualdade dos rendimentos em Portugal sugere corrigir as normas desigualitárias, em vez de garantir a sua recuperação passado um curto período. Deste modo, voltar-se-ia sempre ao ponto de partida: se o PS entende que o princípio deve ser a vantagem patronal na negociação, o que agora estará a fazer é um subterfúgio passageiro; se a longa crise de uma década o reorientou para uma norma que proteja o trabalho, então a lei deve ser mudada, o que seria uma vitória do bom senso.

Admita-se que, como tantas vezes, se trata de uma mera jogada. O governo pretenderia assim acenar à esquerda sem desagradar demasiado ao patronato, dado que, afinal, neste período isto limita-se a adiar a caducidade para cerca de 40 mil trabalhadores. O problema é que, deste modo, se institui uma guilhotina: passada a suspensão, voltará a regra, business as usual. Por isso, duvido que os trabalhadores saúdem uma medida provisória que os incita a aceitar o regresso imediato a uma normalidade punitiva para o salário.»

Francisco Louçã