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sexta-feira, 8 de janeiro de 2021

Futuro de Donald Trump em aberto

De  Euronews

Futuro de Donald Trump em aberto
Direitos de autor  John Minchillo/Copyright 2021 The Associated Press. All rights reserved.
TAMANHO DO TEXTOAaAa

Sem o apoio de muitos republicanos e depois da confirmação oficial da vitória de Joe Biden, Donald Trump prometeu uma "transição ordeira".

O que aconteceu em Washington e as críticas sobre o envolvimento de Trump, levantaram grandes questões sobre o futuro do ainda presidente. Uma das primeiras consequências foi o o abandono politico dos principais aliados.

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Os principais críticos de Donald Trump acusam-no de dividir o país e o partido.

Thomas Gift, professor de Ciência Política da Universidade Colégio de Londres, lembra que o inquérito da Yougov divulgado esta manhã indica que "mais de 45% dos republicanos aprovam fortemente ou de alguma forma a tempestade no edifício do Capitólio".

Para o professor, trata-se do segmento da direita americana que "apoia Trump de forma incansável, que acredita nas suas falsas alegações de fraude eleitoral e que é extremamente ativo".

É também o segmento da direita americana que, lamentavelmente, muitos políticos republicanos têm tanto medo de alienar, e é um segmento da população que pode continuar a apoiar as ambições políticas de Donald Trump mesmo depois de ele deixar o cargo", acrescenta Thomas Gift.

Depois da invasão do Capitólio, vários conselheiros de Donald Trump e da primeira-dama pediram a demissão. Entre eles o conselheiro adjunto para a segurança nacional e o chefe de gabinete de Melania Trump.

Em defesa da democracia e contra a violência

De  Euronews

Em defesa da democracia e contra a violência
Direitos de autor  Jacquelyn Martin/Copyright 2020 Jacquelyn Martin. All rights reserved.
TAMANHO DO TEXTOAaAa

As reações à invasão do Capitólio foram quase imediatas. Dentro e fora dos Estados Unidos repetiram-se mensagens de apoio à democracia e de condenação pelos atos de violência.

Barack Obama falou de uma "uma vergonha" mas não de uma surpresa tendo em conta a atitude de Donald Trump. Obama deixou um desafio aos líderes republicanos: escolher entre continuar a alimentar “fogos e fúria” ou “escolher a realidade e dar os primeiros passos para extinguir as chamas”.

Bill Clinton denunciou um "ataque sem precedentes" contra as instituições do país "alimentado por mais de quatro anos de política envenenada". Apontou o dedo a Donald Trump e aos colaboradores mais próximos do ainda presidente, incluindo muitos no Congresso. Clintou falou de uma eleição livre e de uma contagem justa e defendeu a “transferência pacífica do poder com manda a Constituição".

George W. Bush disse que é assim que os resultados eleitorais “são disputados numa república das bananas”. O antigo presidente disse estar chocado com o comportamento imprudente de alguns líderes políticos desde as eleições e com a falta de respeito pelas instituições, tradições, e pela aplicação da lei nos Estados Unidos.

Europa chocada com situação nos Estados Unidos

O chefe da diplomacia da União Europeia condenou o "cerco” e o “ataque invisível” à democracia norte-americana insistindo no respeito pelos resultados das eleições. Josep Borrell disse que isto não é a América, a mesma ideia sublinhada pelo presidente francês. Emmanuel Macron expressou a amizade e a fé nos Estados Unidos.

Para o primeiro-ministro britânico, o que aconteceu no capitólio foi vergonhoso. Boris Johnson disse que os Estados Unidos "representam a democracia em todo o mundo" e que agora é vital uma transferência de poder pacífica e ordeira.

10027

Posted: 07 Jan 2021 03:14 AM PST


 

«10 027. O número foi repetido à exaustão em notícias e análises, mas vale a pena fixá-lo, repeti-lo, para que não nos deixemos anestesiar na rotina de uma pandemia que se arrasta sem fim à vista. 

O recorde no valor de novas infeções diárias chega precisamente quando se atingem picos de afluência nas urgências, agravando a pressão sobre os serviços de saúde. Pior, chega quando ainda se aguarda um retrato detalhado da situação epidemiológica, que só deveremos conhecer na próxima semana. 

Era esperado que a abertura permitida nos dias de Natal tivesse impacto. Ainda o ano estava a virar a página e já se sentiam oscilações nos relatórios diários a fazer adivinhar o que aí vinha. Ainda assim, a reunião de peritos foi deixada para dia 12. Tarde para perceber ao pormenor o que estamos a viver. Mesmo que o Governo se antecipe e aprove desde já medidas mais duras, estará a fazê-lo sem o rigor de uma leitura fina essencial para fundamentar as decisões políticas. 

Habituámo-nos às disparidades de números locais ou à demora dos relatórios oficiais em traduzirem as oscilações por concelho - a cada segunda-feira, oferecem-nos um retrato que já é servido com oito dias de atraso. Habituámo-nos a um estado de emergência constante e com prolongada renovação de medidas, que acaba por ter um efeito de adormecimento. Sabemos ainda, todos, exatamente as restrições em vigor? 

A luz ao fundo do túnel, expressão tantas vezes repetida para traduzir a esperança trazida pelo início da vacinação, poderá ter induzido uma falsa sensação de conforto. A maratona está longe do fim e é marcada pela incerteza. Desconhecemos, em Portugal e na Europa, quase tudo: a que ritmo chegarão as vacinas (e decorrerão novas aprovações de outros laboratórios), que percentagem de população teremos de inocular para atingir a imunidade de grupo, quanto tempo durará a proteção conferida pela vacina. 

Não é ainda o momento de baixar a guarda. Ou de demorar a avaliar a situação e a aplicar as devidas medidas. É o momento de detalhar diagnósticos e comunicar com clareza. Explicar exatamente onde estamos. E o que fazemos para evitar que os números continuem a galopar. E temos que ser rápidos. Fechar o país por incapacidade de antecipar, e de gerir com base em dados fiáveis, é voltar a morrer da cura. Mesmo que a principal responsabilidade seja nossa, por termos sido irresponsáveis.» 

Domingos De Andrade  

Marcelo branqueia Ventura

por estatuadesal

(Por Valupi, in Blog Aspirina B, 07/01/2021)


Falar de Ventura sem falar de Passos é branqueamento. Não foi Ventura que obrigou Passos a aceitá-lo como candidato autárquico do PSD em 2017. Não foi Ventura que impôs a Passos o palco de Loures para se ensaiar, pela primeira vez em democracia, um discurso racista, xenófobo e securitário com a chancela de um partido que votou a Constituição e suas sucessivas revisões. Foi Passos quem decidiu, por estar na oposição e não aceitar esse resultado, que era oportuno deslocar o PSD para o discurso do ódio instrumental aos bodes expiatórios que servem de alvo para os ignorantes, os impotentes, os desesperados. Se resultasse em Loures, o seu PSD ganharia um braço armado que poderia ser usado noutros pontos do mapa onde os mesmos ingredientes populistas prometessem ganhos eleitorais.

Falar de Ventura sem falar de João Miguel Tavares é branqueamento. O discurso anti-sistema tem como racional a teoria da conspiração que faz da corrupção o mal supremo da Grei. O caluniador profissional que se iniciou na imprensa a escrever textos sobre filmes, e que assina as suas opiniões como “jornalista”, teve a sorte grande de ser processado por Sócrates como reacção a um exercício calunioso. A partir daí, especializou-se nesse filão por haver muito dinheiro a ganhar com o ódio tribal ao PS e com os assassinatos de carácter respectivos. A necessidade de manter o negócio e a obsessão alimentada nesse ecossistema financeiro e fanático levou-o progressivamente a expandir a teoria, tendo acabado por declarar repetidamente que a corrupção tinha como origem a Assembleia da República, onde se criam as leis que protegem os políticos corruptos, e como executantes dos crimes os governantes que sacam milhões, e ainda como cúmplices os Presidentes da República sucessivos que se limitam a assistir calados (por também estarem a meter no bolso algum, é a fatal inerência). Só se salvam alguns procuradores e alguns, raríssimos, juízes – aos quais aplaude que cometam crimes por ser necessário combater a corrupção dos políticos protegidos pelos deputados que fazem leis corruptas, restando só aos magistrados terem de violar as leis para denunciarem os bandidos. O módico bom senso – que digo, bastariam vestígios de senso comum – faria prever que esta personagem teria uma passagem meteórica pela comunicação social profissional. O contrário aconteceu pois a indústria da calúnia tem público e dinheiro para gastar com as suas vedetas – todas de direita ou ao seu serviço, fica a curiosidade. E depois veio o impensável, Marcelo usou a Presidência da República para dar honras de Estado exclusivíssimas a quem tinha no seu currículo apenas e só a perseguição a Sócrates e as calúnias que atingem toda a classe política. Este caldo dissoluto e alucinado, que se encontra em diferentes tipos e graus da Cofina à Clara Ferreira Alves, do Observador ao Manuel Carvalho, do José Rodrigues dos Santos ao “Governo Sombra”, já existia anos antes da entrada de Ventura no palco. Ele apenas lançou fogo à colossal lenha que outros amontoaram, e continuam a amontoar, à espera disso mesmo.

Falar de Ventura sem falar de Rio é branqueamento. Conviver com um presidente do PSD que prometeu “banhos de ética” e reposicionamento ao centro, e que na primeira oportunidade não só normaliza como se alia a quem ataca a democracia e os direitos humanos, obriga a tomar posição. Fingir que não está a acontecer, abafar, é antinómico tanto para jornalistas, como para comentadores, como para uma certa pessoa com o estatuto de antigo presidente do PSD, de actual Presidente da República e de candidato a um novo mandato. Esse facto novo de Rio ter sido tão volúvel perante um oportunista que congrega saudosos do salazarismo e do nazismo está inscrito na realidade política. Não se entende Ventura, então, sem compreender a tragédia de Rio.

Falar de Ventura sem falar de Cavaco é branqueamento. O apoio de Ferreira Leite, de Maria João Avillez e de Cavaco à aliança do PSD com o Chega expõe esta elite a uma luz que nunca a atingiu por terem estado protegidos, durante décadas, pelos impérios de comunicação e pela decência da esquerda. Assim iluminada, na evidência de olharem para Ventura e começarem a salivar com a tentação do poder, esta gente tão séria – mas tão séria que outros teriam de nascer duas vezes para serem honestos como eles – revela que na sua essência não passam de reles e imorais videirinhos.

Falar de Ventura sem falar de Trump é branqueamento. Ventura copia Trump e outros modelos de tiranetes com sucesso eleitoral em democracias ou à procura dele. Por sua vez, Trump vai ficar não só como o pior presidente dos EUA de sempre como, muito provavelmente, será julgado como traidor e rei louco. Se não for nos tribunais, se não for num hospício, será na História. Ventura decidiu vender a sua alma a esse ogre na lúbrica e fáustica cobiça de explorar indivíduos vítimas da alienação e perseguir indivíduos vítimas da miséria.

Falar com Ventura sendo-se Marcelo acabou em branqueamento. Não foi capaz de lhe dizer quão inaceitável, quão indecente, quão abjecto e quão perigoso Ventura é para todos os que comungam dos valores que Marcelo alega defender. Não foi sequer capaz de lhe dizer que, na sua opinião de católico, talvez Deus não esteja a achar muita graça a isso do Ventura reclamar ser um eleito divino com a missão de se tornar no próximo ditador de Portugal. Em vez disso, Marcelo violou o protocolo de Estado e a sua integridade como Presidente ao usar num debate eleitoral informações relativas às conversas sigilosas que manteve com o deputado Ventura no âmbito da autoridade regimental de que foi investido pelo voto soberano e pela Constituição.

Isso fez de Marcelo um simétrico de Ventura: um Chefe de Estado que em privado, com cafezinhos e bolachinhas, tem a mais cordial das relações com o carrasco dos pretinhos que chegam à Europa com o último modelo de telemóvel na mão para nos roubarem os subsídios, e que em público é capaz do vale tudo para conseguir atingir um adversário e tentar safar-se de um ataque político fútil.

Para explicar o fenómeno Ventura é obrigatório não branquear a pessoa e o papel do Presidente Marcelo. Tristemente para a direita portuguesa, desgraçadamente para todos nós. 

quinta-feira, 7 de janeiro de 2021

Era uma vez na América

 

 Eduardo Louro

Após invasão do Capitólio, Bolsonaro se diz ligado a Trump e fala sem  provas em "denúncia de fraude" Por Reuters

 

O Capitólio, a casa da democracia americana que alberga as duas câmaras legislativas do país, foi invadida, assaltada e saqueada por uma multidão de fiéis de Trump liderada pelas suas milícias armadas, os auto-designados "prowd boys", naquilo que Biden classificou o maior assalto à democracia americana da História.

Nada semelhante alguma vez acontecera na História da América. É ainda inacreditável.

Sempre se disse que a democracia americana resistiria a Trump, que a solidez das Instituições americanas era suficiente para impedir este louco de a destruir. Hoje temos dúvidas, que se adensam com a constatação da actuação da polícia. Da mesma polícia que reprime com a maior das eficácias as inúmeras manifestações pacíficas na sociedade americana, seja pela defesa do clima, ou contra o racismo, mas que foi incapaz de salvar a América de tão triste imagem.

Sabia-se que Trump não aceitaria a derrota facilmente. A sua estratégia estava há muito anunciada. Logo que começou a perceber que não seria reeleito anunciou que estava a ser preparada uma fraude eleitoral. À medida que as eleições se aproximavam reforçava essa ideia força: as eleições são fraudulentas. Realizaram-se, perdeu, como bem sabia, e "passaram mesmo a ser fraudulentas". Litigou por todo o lado e de toda a maneira. Aceitou a derrota, mas continuou. A ponto de, já esta semana, ter sido apanhado a ligar ao secretário de Estado da Geórgia, o republicano Brad Raffensperger, ordenando-lhe que recontasse mais uma vez os votos e que encontrasse os votos necessários para inverter o resultado eleitoral: "só quero encontrar 11.780 votos" - dizia.

Como este seu colega de partido, e autoridade eleitoral daquele Estado, lhe respondeu que os resultados divulgados tinham sido mais que recontados e estavam correctos, não hesitou em mandar assaltar o Capitólio, para impedir a sessão em que o Congresso ia certificar a eleição de Biden.

Uma situação limite, mas nem por isso de todo imprevisível. Por isso menos aceitável ainda a passividade da polícia, na imagem trágica que a maior potência mundial dá ao mundo.

Tudo foi destruído e vandalizado. E só a lucidez e o sangue frio de um funcionário impediu a destruição dos caixotes dos boletins de voto.

Veremos o que se segue. Há imagens chocantes, mas são também imagens que identificam pessoas. Veremos se servirão para alguma coisa. E veremos também o que virá a acontecer na tomada de posse de Biden, daqui a menos de duas semanas.