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sábado, 12 de outubro de 2024

 

Ucrânia acumula perdas de território e está cercada pela Rússia no Donbass

By estatuadesal on Outubro 12, 2024

(Juan Pablo Duch, In Diálogos do Sul, 11-10-2024)


Os avanços da Rússia são lentos, mas constantes, e é apenas uma questão de tempo para que a Ucrânia seja expulsa de mais áreas sob seu controle.



No decorrer deste ano, exceto por sua incursão surpresa no início de agosto passado na região russa de Kursk, onde permanece até hoje, o exército da Ucrânia, em linhas gerais, conseguiu manter suas posições ao longo dos 1.200 km da linha da frente de combates, ao mesmo tempo em que, na parte de Donetsk sob seu controle – equivalente a dois terços de sua extensão quando começou o conflito há dois anos e meio –, vem, sobretudo nos dois últimos meses, perdendo território diante dos ataques das tropas russas, cujos avanços são lentos, mas constantes.

Nesse contexto, surge a pergunta inevitável: a Ucrânia está perdendo a guerra? Aqueles que respondem afirmativamente – em primeiro lugar os blogueiros-Z, como são chamados os promotores da campanha militar russa na Ucrânia, usando o distintivo do exército russo, a última letra do alfabeto latino – enumeram que, desde janeiro e levando em conta as localidades vistas como bastiões das tropas ucranianas, Kiev perdeu Marinka, depois Avdiivka e, mais recentemente, Vuhledar.

Isso faz com que a discussão nas redes sociais, entre os partidários da operação militar especial lançada pelo Kremlin em fevereiro de 2022, se concentre em acertar qual será a próxima praça ucraniana a cair, considerando que esta é uma tendência irreversível, embora ninguém possa prever quando Pokrovsk, aparentemente o objetivo mais cobiçado nos últimos tempos, será acrescentada à lista de conquistas russas.

Exército ucraniano sob cerco no Donbass

Além de Pokrovsk, a lista de lugares de relativa importância estratégica para a Ucrânia é longa. O exército ucraniano está sob cerco no Donbass (Donetsk e Lugansk), embora o exército russo, com superioridade de efetivos e armamento de pelo menos 3 para 1, não esteja em condições de iniciar uma ofensiva simultânea. Em vez disso, ataca separadamente e de forma indistinta Konstiantinovka, Dobropolie, Selidovo, Kurakhovo, Velika Novosilka, Chasiv Yar e Toretsk, entre outros, segundo se depreende dos comunicados oficiais do comando militar russo.

As cidades e povoados mencionados – explicam especialistas como Yuri FiodorovRuslan LeviyevYan Matveyev e Valeri Shiriayev, com base no acompanhamento diário dos campos de batalha – são parte dos distintos níveis de defesa que a Rússia teria que superar, e depois expor suas tropas a percorrer dezenas de quilômetros em campo aberto, à mercê dos drones e da artilharia inimiga, antes de poder se aproximar da zona mais fortificada de Donetsk, que é a grande aglomeração urbana de Kramatorsk e Sloviansk, com sua ramificada periferia industrial.

Em outras palavras, para alcançar a meta fixada pelo presidente Vladimir Putin de libertar toda a área administrativa que Donetsk e Lugansk tinham como parte da Ucrânia em 1991, após o colapso soviético, o exército russo – que nos últimos dois meses ocupou 699 quilômetros quadrados nessa região – precisaria expulsar as tropas ucranianas de mais 10.359 km² segundo Pasi Paroinen, analista do Black Bird Group, da Finlândia, que se dedica a interpretar dados e imagens geolocalizadas de fontes abertas.

Estratégia de desgaste

Muitos observadores independentes se perguntam por que o governo de Volodymir Zelensky insiste em manter suas tropas em Kursk, o que não faz sentido militar, além de constranger o Kremlin enquanto não consegue expulsá-las. Ao mesmo tempo, Kiev se apega à defesa de bastiões até que sejam reduzidos a ruínas pelo fogo da artilharia e das bombas guiadas da aviação russa.

A resposta foi dada recentemente por Kiev em reportagem do The New York Times, diretamente da capital da Ucrânia, que cita militares do país envolvidos na defesa de Vuhledar. Segundo eles, faz parte de uma estratégia para desgastar o exército russo, causando-lhe o máximo possível de perdas em pessoal e equipamento. Por esse motivo, dizem, seguem até o limite e só abandonam um local quando o risco de serem cercados é iminente.

Um membro do Instituto de Estudos Estratégicos, vinculado ao governo ucraniano, Mykola Bielieskov, dá a entender que a estratégia é “trocar território por perdas russas”. Kiev confia que, mais adiante, poderá recuperar o território cedido e também que a temporada de chuvas do outono vai transformar o terreno em lama intransitável, retardando os ataques russos, enquanto chegam as novas remessas de armamento prometidas pelos Estados Unidos e seus aliados.

sexta-feira, 11 de outubro de 2024

 

Será que Netanyahu e Zelensky fazem parte do projeto neoconservador?

By estatuadesal on Outubro 11, 2024

(Major-General Carlos Branco, in Jornal Económico, 10/10/2024)

Nem a Ucrânia, nem Israel teriam conseguido resistir não fosse o apoio político, financeiro e militar proporcionado por Washington. Tanto Israel como a Ucrânia estão a servir interesses norte-americanos, em particular de um poderoso segmento das suas elites.



Quando, em 1997, Zbigniew Brzezinski, antigo Conselheiro Nacional de Segurança do presidente Jimmy Carter, escreveu na sua obra de referência (O Grande Tabuleiro de Xadrez) o que deveriam fazer os Estados Unidos para controlar o mundo, prescreveu um programa de ação geopolítica para os EUA que inspirou a ala neoconservadora do establishment político norte-americano, e tem influenciado de modo determinante a política externa norte-americana no pós-guerra fria.

Não será de estranhar o surgimento ainda nesse ano do Project for the New American Century (PNAC), um think tank fundado por William Christol e Robert Kagan, onde se advogava ser o século XXI o século americano, onde o domínio militar dos EUA não só protegeria a segurança nacional e os interesses nacionais dos EUA, mas também estabeleceria uma Pax Americana global. Defendia ainda o PNAC que “a liderança americana é, ao mesmo tempo, boa para a América e para o mundo”.

De entre as muitas ideias avançadas por Brzezinski, pela sua atualidade, uma deve merecer a nossa particular atenção. Dizia ele que o cenário mais perigoso para o projeto hegemónico norte-americano seria uma coligação anti hegemónica constituída pela China, Rússia e Irão. Adiantando que “uma coligação que alie a Rússia à China e ao Irão só pode desenvolver-se se os Estados Unidos forem suficientemente míopes para antagonizarem simultaneamente a China e o Irão.”

Apesar do conselho avisado de Brzezinski, foi exatamente isso que aconteceu. A arrogância das sucessivas Administrações norte-americanas conseguiu alienar os seus adversários ao ponto de se coligarem contra Washington e pugnarem por uma ordem multipolar que desafia o projeto da primazia norte-americana. Não faltaram oportunidades para Washington aproximar Moscovo e Teerão do Ocidente, estupidamente desperdiçadas.

Muito se poderia escrever sobre a alienação da Rússia pelos EUA, desde o alargamento da NATO, apesar das garantias que foram dadas a Mikhail Gorbachev de que a Aliança não se expandiria para leste, à rejeição categórica da ajuda ocidental à União soviética em 1991, que impossibilitou que se produzisse na Rússia um efeito psicológico e político galvanizador semelhante ao do Plano Marshall para a Europa Ocidental no pós II Guerra Mundial, quando Moscovo procurava desesperadamente aproximar-se do Ocidente.

A invasão do Afeganistão pelos EUA foi outra oportunidade perdida para se esquecerem os acontecimentos do passado e aproximar Teerão de Washington. Em 2001, o Irão não hesitou em cooperar com os EUA na luta contra a Al-Qaeda e os talibãs. Teerão forneceu Intelligence e apoiou os EUA na operação de contraterrorismo Enduring Freedom.

Os iranianos estavam ansiosos por ajudar Washington e mostrar-lhe os benefícios estratégicos em cooperarem. No entanto, o comportamento colaborativo de Teerão não foi recompensado. Em 29 de janeiro de 2002, no discurso sobre o estado da União, o presidente George W. Bush incluiu o Irão no grupo dos países do “eixo do mal”, fazendo tábua rasa de toda a colaboração prestada pelo Irão aos EUA. Exauriu-se nesse momento, a possibilidade de se ultrapassarem experiências negativas do passado e encetar-se um novo capítulo nas relações entre os dois Estados.

A ter em conta a prosa prospetiva de Brzezinski, não será de estranhar que os três grandes focos de conflitualidade/tensão da atualidade sejam a Ucrânia, Israel e Taiwan, com os EUA a procurar tardiamente contrariar essa aliança anti hegemónica e a procurar reparar erros de cálculo estratégico passados muito difíceis agora de reverter. Como dizia Mike Pompeo, ex-diretor da CIA e ex-secretário de Estado, enganado telefonicamente por uma brincadeira feita por russos, “a Rússia precisa ser puxada de volta para a Europa, para longe da China.” Tarde piaste!

Há semelhanças evidentes naquilo que levou a União Soviética a invadir o Afeganistão, a Rússia a Ucrânia e o Irão a responder militarmente a Israel. Em todas essas situações, procurou-se, com sucesso, provocar o adversário criando-lhe uma situação psicológica insustentável. Visa-se com essas provocações levá-lo a envolver-se militarmente, utilizando esse pretexto para lhe responder e o derrotar, explorando a sua vulnerabilidade percebida.

No Afeganistão, o sucesso do apoio norte-americano aos Mujahidins que combatiam o regime pró-Moscovo de Mohammad Najibullah; na Ucrânia, a interferência de Washington na política interna de Kiev, o golpe de Estado em Maidan (2014), obra dos neoconservadores instalados na Administração Obama (nunca é demais recordar que a obreira Nuland participou em todas as Administrações norte-americanas desde a primeira Administração Clinton, em 1993), o armamento das fações ultranacionalistas e o iminente ataque às comunidades russófonas ucranianas.

No caso do Irão, o ataque a instalações diplomáticas iranianas em Damasco, os sucessivos assassinatos seletivos de dirigentes iranianos, do Hezbollah e do Hamas, muito em particular o de Ismail Haniya em Teerão, tinham como objetivo provocar o Irão, criar-lhe uma situação insustentável, não lhe dando outra alternativa que não fosse a de retaliar. Encostado à parede, o Irão respondeu à provocação e voltou a atacar Israel a 1 de outubro. O fornecimento de armamento e treino militar a Taipé ainda não colocou a China numa situação insustentável, em que não tenha outra alternativa senão intervir, como sucedeu com a Rússia e o Irão.

A Ucrânia e Israel desempenham papeis muito semelhantes no xadrez geopolítico mundial para os EUA. A primeira para controlar a Rússia, e o segundo o Médio Oriente. Se dúvidas existissem sobre isso, elas foram desfeitas num discurso do então energético Joe Biden ao Congresso norte-americano, em 1986, quando afirmou que “Israel é o melhor investimento que fazemos [EUA], caso Israel não existisse os EUA teriam que inventar um Estado de Israel para proteger os nossos interesses na região, os Estados Unidos teriam de inventar Israel.”

É também à luz disto que se deve procurar entender o comportamento de Washington, mais precisamente da ativa ala neoconservadora. Enquanto o enfraquecido Biden procura limitar a resposta de Telavive à retaliação de Teerão, de 1 de outubro, as fações da administração pública norte-americana trabalham nos bastidores em estreita coordenação com Israel, discutindo os possíveis ataques e “explorando opções de resposta ao ataque de mísseis do Irão contra Israel”, como afirmou o vice-secretário de Estado dos EUA, Kurt Campbell.

Segundo o Politico, ao mesmo tempo que a Administração Biden instava publicamente o Governo israelita a reduzir os seus ataques, “funcionários americanos apoiavam discretamente a ação militar de Israel contra o Hezbollah… figuras de topo da Casa Branca diziam a Israel que os EUA apoiariam o aumento da pressão militar contra o Hezbollah.”

Este comportamento aplica-se igualmente à possibilidade de uma contrarretaliação israelita ao ataque iraniano de 1 de outubro. Segundo o texto de Kenneth M. Pollack (Which path to Persia?) publicado pela Brookings, em 2009, o facto de os EUA afirmarem não querer que Israel ataque as instalações nucleares iranianas baseia-se numa estratégia de manter uma negação plausível enquanto, de facto, ataca o Irão, incluindo as suas instalações nucleares.

Por outras palavras, os neoconservadores instalados no poder querem uma guerra com o Irão, querem destruir a sua indústria de armamento, o seu programa nuclear, a sua economia e derrubar o seu governo, mas não querem ser alvo de condenação e retaliação a nível mundial, pelo que estão a armar/apoiar Israel para o fazer por eles.

Falamos daquilo a que Mearsheimer chamou de buck-passing. Isto é, quando uma grande potência se encontra numa postura defensiva, tentando evitar que os seus rivais ganhem poder à sua custa, pode optar pelo equilíbrio ou intervir, transferindo a responsabilidade de agir para outros Estados, mantendo-se à margem no assento traseiro.

Entretanto, multiplicam-se os apelos aos ataques ao Irão. “De facto, esta é a oportunidade ideal para destruir o programa nuclear do Irão. O tempo que o país leva para chegar a uma bomba é de uma a duas semanas. Não está previsto qualquer novo acordo nuclear. O Hamas e o Hezbollah não estão em posição de retaliar. E a República Islâmica acabou de o pedir. De facto, esta pode ser a última oportunidade para impedir Teerão de ter uma bomba.”

Na mesma linha, o antigo primeiro-ministro de Israel Naftali Bennett veio dizer que se trata da “grande oportunidade em 50 anos, para alterar a face do Médio Oriente, destruir o programa nuclear do Irão, as instalações energéticas terroristas, que se encontra mortalmente incapacitado.” “Temos uma justificação. Temos ferramentas. Agora o Hezbollah e o Hamas estão paralisados, o Irão está exposto. Há alturas em que a história nos bate à porta, e nós temos de a abrir. Esta oportunidade não pode ser desperdiçada.”

De facto, este é o momento indicado para o fazer aproveitando o vácuo de poder na Casa Branca e antes que Trump se possa vir a sentar-se na Sala Oval. Nesta matéria, Trump não é fiável para os neoconservadores, que já os tinha impedido em 2019 de materializar um ataque ao Irão. Os neoconservadores têm de aproveitar esta janela de tempo, porque com Trump no poder, se ganhar as eleições, essa possibilidade pode desaparecer.

Os projetos, as ideias e as ambições pessoais e políticas de Zelensky e Netanyahu só serão concretizáveis se inseridas numa grande estratégia, que lhes é alheia, atuando por procuração e colaborando na concretização da primazia geoestratégica norte-americana abraçada pelos neoconservadores: provocar mudanças de regime em Moscovo e Teerão (como o afastamento do primeiro-ministro iraniano Mohammed Mossadegh, em 1953, que teve a aleivosia de privatizar as petrolíferas) infligindo-lhes derrotas estratégicas.

Nem a Ucrânia, nem Israel teriam conseguido resistir não fosse o apoio político, financeiro e militar proporcionado por Washington. Tanto Israel como a Ucrânia estão a servir interesses norte-americanos, em particular de um poderoso segmento das suas elites. O envolvimento de Taiwan nesse projeto encontra-se, por enquanto, comprometido.

A grande interrogação que se nos coloca neste momento é saber se Teerão tem capacidade para responder à retaliação israelita, como Moscovo está a responder ao desafio geoestratégico colocado por Washington. Teerão já fez saber aos EUA, através do Qatar, que a fase da contenção unilateral terminou. Está para se ver se vai conseguir dar a volta por cima, como estão a fazer os russos.

 

A espiral de morte da NATO já começou

By estatuadesal on Outubro 11, 2024

(Por Eric Zuesse, in Rn La Cause du Peuple, 09/10/2024, Trad. Estátua de Sal)


Embora a maior notícia do nosso tempo seja que a NATO está agora na sua espiral de morte, ninguém o diz, por isso eu digo-o, e irei demonstrar o facto aqui, e expor as razões pelas quais isso está a acontecer, e por que o fim da OTAN irá realmente aumentar – em vez de diminuir – a segurança de todos os países membros da NATO, e não apenas a segurança da Rússia (contra a qual a NATO foi fundada em 1949 para conquistar a Rússia).


Primeiramente, vou publicar alguns trechos do artigo de hoje de Stephen Bryen , que se aposentou após dirigir uma das maiores fabricantes de armas do mundo e também foi subsecretário de Defesa dos Estados Unidos e Diretor de Estado-Maior do Comitê de Relações Exteriores do Senado. Apesar dos seus elevados cargos no complexo militar-industrial dos EUA, ele emergiu como uma pessoa de grande integridade, cuja precisão preditiva nos seus relatórios publicos foi considerada extraordinariamente elevada – o que é muito raro em alguém do seu meio:

"A candidata presidencial e vice-presidente Kamala Harris disse que não falaria com o presidente russo, Vladimir Putin, sem o presidente ucraniano, Vladimir Zelensky. A guerra na Ucrânia, que é a guerra da NATO, está a correr mal. O futuro da NATO é incerto.

Entretanto, Zelensky, que foi forçado a cancelar uma próxima “cimeira de paz” (oficialmente adiada para uma data posterior) porque ninguém queria comparecer, deixou claro que não negociará com Moscovo sob qualquer circunstância. Zelensky compreende que qualquer concessão que pudesse fazer à Rússia seria fatal. À medida que o seu exército começa a desintegrar-se, Zelensky depende de brigadas de elite neonazistas para sua proteção. (…)

 Os russos não têm de rejeitar a última ideia porque, graças a Zelensky, ela foi declarada morta à chegada. É claro que isso não impedirá a Europa e alguns em Washington de promoverem a proposta, ao mesmo tempo que enviam mais armas para a Ucrânia, esperando que os ucranianos consigam resistir até depois das eleições nos EUA.

 Se a Ucrânia entrar em colapso antes do final de Outubro, será o caos para os Democratas nos Estados Unidos e provavelmente levaria ao colapso do governo alemão, talvez até do vacilante regime francês. A maioria dos especialistas não acha que isso vá acontecer. Mas a maioria dos especialistas muitas vezes está errada. Entretanto, os russos não aceitarão um cessar-fogo porque este não lhes oferece nada. (…)

Há pouca ou nenhuma hipótese de as exigências da Rússia serem satisfeitas, quer pelo atual governo ucraniano, quer pela maioria dos países da NATO. É por isso que a linha dura de Zelensky, enquanto durar, garante que o verdadeiro objetivo da Rússia será substituir o governo ucraniano por outro que lhe seja favorável e esteja disposto a aceitar as exigências de Moscovo.

Se os russos tiverem sucesso, a NATO terá de se retirar, o que terá de fazer de qualquer forma para que a aliança possa manter alguma credibilidade. Infelizmente, apesar de muito se falar em bravata, a possibilidade de revitalizar a NATO como uma aliança militar não parece promissora.

Existem razões profundas para o colapso da NATO, apesar das aparências. A maior razão de todas é que a NATO se expandiu sem prestar atenção à sua necessidade de ser uma aliança defensiva credível. (…)

A NATO de hoje tem a ver com expansão e não com defesa. Para a defesa, a NATO depende inteiramente do compromisso dos Estados Unidos enviarem o seu exército, força aérea e marinha para defender a expansão da NATO. A expansão da NATO como política exige enormes compromissos militares por parte dos aliados da América. Isso não vai acontecer. (...)"

A razão pela qual isto não acontecerá é que o governo dos EUA gasta todos os anos em “defesa”, não apenas os cerca de 900 mil milhões de dólares por ano que vêm do Departamento de “Defesa”, mas também os cerca de 600 mil milhões de dólares que vêm todos os anos. de outros departamentos federais, como Assuntos de Veteranos, Segurança Interna, Tesouro, Energia, NASA e agências de inteligência. (Isso é feito para esconder do público que o governo dos EUA não está gastando os 37% do orçamento militar mundial que o Instituto Internacional de Pesquisa para a Paz de Estocolmo afirma - com base na contagem APENAS dos gastos do Departamento de Defesa - mas um pouco mais de 50% do orçamento militar mundial).

O governo dos EUA simplesmente não tem capacidade para gastar muito mais do que os 53% de todas as despesas anuais aprovadas pelo Congresso e autorizadas pelo Presidente, que consome actualmente. Cerca de metade desses 53% vai para empresas norte-americanas como Lockheed Martin, General Dynamics, Boeing, L3Harris e Northrop Grumman, que fabricam e vendem a maior parte da sua produção à NATO e ao resto do império norte-americano, ou seja, a maioria dos 100 mil milhões de dólares por ano do comércio global de armas. Isto é o que a Rússia enfrenta na Ucrânia e, no entanto, mesmo enquanto os fabricantes de armas dos EUA e aliados fazem tudo o que podem para superar a Rússia nos campos de batalha da Ucrânia desde 2022, a escassez de armas tem estado quase inteiramente do lado dos Estados Unidos e dos seus aliados. Portanto, se a Ucrânia for derrotada pela Rússia, como agora se espera, esta derrota será também a da NATO.

A razão pela qual isto seria bom para a segurança internacional é que, tal como a grande sondagem internacional - que perguntou globalmente "Qual país você acha que é a maior ameaça à paz mundial hoje ?" -, revelou, a “maior ameaça”, de longe, são os Estados Unidos. Portanto, se Biden, Harris ou Trump decidirem recorrer à  energia nuclear para evitar uma vitória russa na Ucrânia, há uma boa probabilidade de que a América, e não a Rússia, seja esmagadoramente responsabilizada pelos sobreviventes. Desde 25 de julho de 1945, a prioridade número um do governo dos EUA tem sido capturar a Rússia , mas as evidências desde 24 de fevereiro de 2022 mostram que este objetivo número um resultará em fracasso. Não haverá nada a ganhar com a energia nuclear na Ucrânia ou para a Ucrânia.

Se os Estados Unidos não se envolverem no uso da energia nuclear na Ucrânia, então não só terminará a Guerra Fria, que os Estados Unidos iniciaram em 25 de julho de 1945, mas também os seus aspectos mais quentes, com a derrota final e irreversível de o regime americano contra a Rússia.

Quando Bryen declarou que “a NATO de hoje tem a ver com expansão e não com defesa”, reconheceu – tão discretamente quanto possível – que a pretensão fundadora da NATO de ser uma aliança “defensiva” não passa de uma mentira após o fim do comunismo na Rússia em 1991 – e depois exibiu a sua realidade agressiva ao duplicar o número dos seus países membros, até às próprias fronteiras da Rússia (apesar da promessa de não fazer nada do género).

Tanto a Rússia como a China têm uma política externa anti-imperialista comum; e o único império que resta – o dos Estados Unidos – deixará de representar uma ameaça para o mundo inteiro se a Rússia acabar por vencer a guerra na Ucrânia. O resultado seria um mundo muito melhor.

quinta-feira, 10 de outubro de 2024

 

O horror de Gaza em imagens

By estatuadesal on Outubro 9, 2024

(Por General Dominique Delawarde, in Reseau International, 09/10/2024, Trad. Estátua de Sal)


Avaliação da guerra em Gaza e na Cisjordânia

1 ano = 213.000 mortos e 103.000 feridos, e ainda não acabou, graças ao apoio inabalável do Ocidente e da NATO à governação genocida de Israel. Todos podem imaginar os danos deste comportamento na imagem deste Ocidente, na esmagadora maioria da opinião global e no desejo ardente da comunidade internacional, a verdadeira , de se livrar desta hegemonia israelo-EUA-NATO injusta e tirânica. .

Desde 7 de outubro de 2023, o balanço das perdas palestinianas diretas , ligadas às operações das forças israelenses amplamente apoiadas pelo Ocidente da NATO, estabelecido a partir de 6 de outubro de 2024 é:

Em Gaza: 41.870 mortos, incluindo mais de 16.859 crianças, mais de 97.166 feridos, incluindo 176 recém-nascidos e 710 bebés com menos de 12 meses (portanto, houve bebés desmembrados pelos bombardeamentos. Não eram israelitas, mas palestinianos).  36 menores morreram de fome. 3.500 estão à beira de morrer de fome. 25.973 crianças perderam um ou dois pais. Ver aqui.

Na Cisjordânia: 742 mortos, incluindo 163 crianças, mais de 6.250 feridos.

Número total de vítimas na Palestina: 42.612 mortos, mais de 103.416 feridos; mais de 10.000 desaparecidos.

Se somarmos ao balanço as perdas indiretas desta guerra (desnutrição, falta de cuidados, epidemias) aplicando um fator 4 muito razoável (numa escala de 3 a 15), avançado pela conceituada revista Lancet para o conflito palestiniano, o número total de mortes palestinas é atualmente superior a 213.060!

O horror de Gaza em imagens

Como tem feito muitas vezes, com talento, a equipa de investigação do canal catariano Al Jazeera produziu, nas vésperas do primeiro aniversário do ataque genocida israelo-americano a Gaza, um documentário sobre uma amostra de crimes de guerra e crimes contra a humanidade, que foram cometidos, e continuam a ser cometidos, em Gaza. O vídeo que segue, com legendas em português, e que nunca passará nas nossas televisões, pode chocar qualquer consciência bem formada.

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Recorde-se que o pretexto para esta limpeza étnica, empreendida por Israel, é o atentado de 7 de Outubro de 2023, cujo número oficial foi estabelecido, após uma revisão em baixa, em 1.139 mortos , metade dos quais, ou talvez mais, foram mortos pelas próprias forças israelitas, na sua reacção à operação da resistência palestiniana, na aplicação da doutrina de Hannibal. A falsa história dos 40 bebés declarados desmembrados e colocados no forno, divulgada pelos meios de comunicação ocidentais para comover as multidões, também serviu de (falsa) justificação para a resposta desproporcional e cega das FDI e o apoio incondicional ao genocídio pelo Ocidente da NATO.

 Nós mentimos, trapaceamos, roubamos, (matamos?) é como se tivéssemos recebido cursos de treinamento para aprender como fazer isso .” 

– Mike Pompeo, Secretário de Estado dos EUA.

Comentários do meu correspondente nos EUA, John Whitbeck:

 “Gostaria que Joe Biden, Kamala Harris, Tony Blinken, Donald Trump e todos os membros do Congresso dos EUA fossem forçados a assistir a este filme, se eu imaginasse que havia a menor possibilidade de isso poder mudar os cálculos dos seus interesses pessoais, financeiros e profissionais, que motivam o seu apoio incondicional a qualquer coisa que Israel possa fazer”. 

Líbano

Após as duas ondas de explosões de pagers e walkie-talkies em 17 e 18 de setembro de 2024, as forças israelitas iniciaram uma campanha de bombardeio massivo no Líbano em 23 de setembro de 2024. Esta é uma nova punição coletiva aplicada indiscriminadamente às populações civis com bombas gentilmente fornecidas pelo Ocidente da NATO. (EUA, Alemanha).

Em 7 de outubro de 2024, o número de vítimas já era de mais de 1.200 mortos, 4.000 feridos e 1,2 milhão de refugiados, o que é muito para um período de duas semanas. A operação israelita apenas começou. É mais aérea que terrestre. Prossegue "à maneira americana", esmagando sob bombas os bairros que deseja ver desaparecer: poucos ataques cirúrgicos, nenhuma preocupação com as populações civis: bombas, sempre bombas, mais bombas, em quantidades astronómicas. Este é o Israel-EUA, a NATO e o Ocidente globalista, que quer impor as suas regras e o reinado da sua “boa (?) democracia (?)” a todo o mundo,… pela força das bombas.

Enquanto estas bombas continuarem a chegar da NATO ocidental, os israelitas expandirão os seus bombardeamentos ao Iémen e ao Iraque, em resposta às acções das milícias pró-Irão. Mas também bombardeiam regularmente a Síria, por hábito, embora este país não empreenda qualquer ação de guerra contra Israel há muito tempo. Para Israel, trata-se de evitar o entrincheiramento da presença iraniana na Síria.