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quinta-feira, 13 de fevereiro de 2025

 

Volodymyr, chegou o momento de capitular

By estatuadesal on Fevereiro 12, 2025

(Paulo Hasse Paixão, In Blog Contra Cultura, 11/02/2025)



De certa forma, Volodymyr Zelensky merece algum crédito. Ao contrário da maioria dos líderes ocidentais, ele sabe como defender os seus próprios interesses e os interesses da sua causa.

Não há melhor exemplo do que as suas declarações da semana passada, proferidas numa entrevista grotesca que concedeu a Piers Morgan, que é um declarado fã do seu regime e abdicou da profissão de jornalista para fazer parte da claque. Nesse simulacro de entrevista, Zelensky afirmou que se os Estados Unidos não puderem garantir ao seu país um caminho rápido para a adesão à NATO, então aceitará armamento nuclear como prémio de consolação.

Vale a pena parar para reflectir bem nestas palavras. Ambas as possibilidades são essencialmente equivalentes. Se a primeira acontecer, a Ucrânia junta-se oficialmente à anacrónica e falhada aliança anti-Rússia do Ocidente, circunstância que dá direito à instalação de armas nucleares na Ucrânia. Isso significa que a Rússia partilharia uma fronteira com um adversário apoiado pelos EUA e armado com mísseis nucleares, o que, compreensivelmente, o Kremlin considera inaceitável. O segundo cenário teria exactamente o mesmo resultado. A Ucrânia recebe armas nucleares e, na melhor das hipóteses, a sua guerra com a Rússia arrasta-se como tem acontecido há três anos. Na pior das hipóteses, sucede o Armagedão.

Tudo isto é evitável. Zelensky pode fazer as exigências que quiser, mas o seu destino, em última análise, está nas mãos de Donald Trump. Tal como Israel, a Ucrânia está extremamente dependente do financiamento dos contribuintes americanos para continuar a guerra. A ameaça do presidente dos EUA de retirar o apoio financeiro e militar pode ser a única forma de conseguir uma mudança significativa que conduza à paz.

Mais: se Donald Trump quer fazer parte do processo de cessação das hostilidades, a sua única saída será mesmo essa – a de retirar todo o suporte a Kiev. Caso contrário, a guerra vai acabar apenas quando Vladimir Putin achar que os seus objectivos estão cumpridos.

E sendo que dificilmente não o serão, a missão pode durar ainda mais um ou dois anos a cumprir e custará mais centenas de milhar de mortos, pelo menos, a russos e ucranianos, e a destruição total da Ucrânia.

Chegou a altura de dar ao líder ucraniano uma notícia definitiva: o jogo acabou. A nova prioridade dos Estados Unidos deve ser acabar com o derramamento de sangue na Europa de Leste, e não continuar a doutrina Biden de prolongar ao máximo a chacina, sabe-se lá em nome de que objectivos. Se para isso for necessário que Zelensky faça concessões, como permitir as eleições a que, mesmo em tempo de guerra, a sua constituição o obriga, ceder os territórios do Dombass e desistir de aderir à NATO ou de adquirir subitamente um arsenal nuclear, então que assim seja.

Até porque o Kremlin não aceitará qualquer compromisso de paz que não passe por estas premissas básicas.

É muito simples, na verdade. Está na altura de acabar com a violência, a morte e a destruição por uma causa perdida. E capitular.

sexta-feira, 24 de janeiro de 2025

 

Trump, o clarificador

By estatuadesal on Janeiro 20, 2025

(Viriato Soromenho Marques, in Diário de Notícias, 17/01/2025)


As palavras de Trump sobre uma eventual expansão dos EUA, por compra ou imposição, para o Canadá, Gronelândia e Panamá, causaram sobressalto na UE. A maioria dos analistas europeus de geopolítica assemelha-se àqueles estudantes de Medicina que não suportam a visão de sangue...

Não há impérios benignos. Trump não rompe com a vontade de hegemonia norte-americana, antes lhe pretende determinar um novo e não menos arriscado caminho.

 Assume o saldo desastroso de quase três décadas de deriva intervencionista de Washington, sob o mito de um “mundo regido por regras” (impostas pelos EUA, sem a elas se sujeitarem). Um caminho que colocou os EUA num distante segundo lugar como potência industrial, provocando um imenso caudal de guerras e sofrimentos que nos trouxeram à beira da III Guerra Mundial.

A clarificação de Trump, no seu estilo brutalista, retoma e prossegue as grandes linhas históricas da expansão dos EUA. Começando pelo Canadá, já na primeira Constituição dos EUA, “Os Artigos de Confederação” (vigente entre 1777 e 1788), o artigo XI convidava, expressamente, o Canadá a aderir diretamente aos EUA, sem necessitar de uma aprovação prévia de 9 Estados.

Em relação à compra da Gronelândia, além de ter havido uma proposta secreta do presidente Truman, em 1946, a verdade é que a aquisição territorial foi tão decisiva como a conquista, na delimitação da geografia política dos EUA. Em 1803, o presidente Jefferson acrescentou 2,12 milhões de Km2 aos EUA com a compra, a Napoleão, da Louisiana francesa, por 15 milhões de dólares.

Em 1867, seria a vez de o presidente Andrew Johnson, por apenas 7,2 milhões de dólares, adquirir ao czar Alexandre II, os 1, 5 milhões de Km2 do Alasca.

Quanto ao Panamá, Trump segue a bicentenária Doutrina Monroe (neste caso para travar a presença económica chinesa). A própria criação do Panamá, como país, não teria sido possível sem a intervenção militar americana em 1903. O território onde se encontra o canal pertencia originariamente à Colômbia, tendo esta apoiado a construção do mesmo, mas recusado a soberania americana sobre o canal. O Panamá só teria o controlo do canal no derradeiro dia de 1999, não sem que antes, em 1989, os EUA do presidente Bush (pai) tivessem voltado a invadir o país, para derrubar o governo de Noriega.

A clarificação de Trump não esconde que a lógica dos jogos de soma zero (“eu ganho o que tu perdes”) se aplica tanto a aliados como a adversários.

Com Trump, a prioridade dos interesses exclusivos dos EUA dispensa o manto diáfano de valores universais e abstratos, usado pelos neocons e democratas. A NATO vai acentuar a sua natureza rentista a favor de Washington.

Os 5% do PIB na Defesa, que Trump exige a quem queira ficar na NATO, é o imposto a pagar por uma UE que trocou a dignidade, inerente à soberania de um caminho comum, pela servidão voluntária.

Em 2014 publiquei um livro sobre Portugal na Queda da Europa (Temas & Debates). Tenho uma profunda tristeza por não me ter enganado.

Professor universitário

 

Com Trump nas capas e ainda ressabiados

By estatuadesal on Janeiro 21, 2025

(Por oxisdaquestão in Blog oxisdaquestao, 21/01/2025, revisão da Estátua)



Foi evidente que os jornais nacionais foram adeptos ferrenhos de Joe Biden, aceitando todas as barbaridades que o seu governo criou e suportou, nomeadamente a guerra da NATO contra a Rússia feita pelos ucranianos no seu território, com as suas perdas de vidas e com o seu endividamento; a frase “até ao último ucraniano” que podia ser “até ao último palestino habitante de gaza” resume o espírito assassino da administração democrata que deu apoio a nazis e a sionistas, e, por fim na Síria, a terroristas confessos e praticantes, gente da Al Qaeda na versão Al Nusra de cortadores de cabeças e estupradores.

Alguma crítica ao imperialismo sob a alçada dos democratas é coisa que não existiu, porque a propaganda era outra e sempre justificava as atrocidades quer de nazis, quer de sionistas, quer das oligarquias anglo-ianques. É o reflexo da falta de isenção da informação ocidental que toma partido e faz do seu discurso uma apologética paga.

Afastado Biden da chefia, agora pela segunda vez e em definitivo, e tendo sido substituído por outro chefe imperialista, o discurso mostra-se dorido e ainda do contra; são as capas dos jornais que mostram o que ainda se passa.

Enquanto o novo dinheiro não chegar, Trump será o inimigo e a lembrança de Blinken-Biden será mantida nas almas dos jornalistas e na caixa do tesoureiro-guarda livros. O Ocidente criou esta situação, verdadeiramente degradante para os profissionais das redações e estes vão tirando proveito dela: podem até não ter nada de jornalismo nas suas mentes e atuações, mas já não interessa.

Quanto tempo vai durar este estado de coisas?

Pode acontecer que a NATO venha a opor-se ao Império? Que a UE-CEE deixe de ser servil aos gringos e ganhe alguma soberania?

Teremos agora o Império a agir sem rodeios comandado por Trump e seus agentes. Será interessante ver como os processos fascistas e de força aparecerão limpos da hipocrisia e mais pessoas vão passar a conhecê-los…

segunda-feira, 13 de janeiro de 2025

 

Qual é o valor económico da Gronelândia e porque é que Trump a deseja tanto?

By estatuadesal on Janeiro 10, 2025

(In canal Geopolítca do Telegram, 09/01/2025)


De repente, toda a gente fala da Gronelândia. Normalmente, a Gronelândia é um lugar que é largamente ignorado pelo resto do mundo, mas aparentemente Donald Trump está muito empenhado em adquiri-la.

Mas como é que isso seria? Se a Gronelândia se tornar o 51º estado dos EUA, terá tantos senadores americanos como o estado da Califórnia. Isso poderia ter implicações muito sérias para o equilíbrio de poder no Congresso. E como é que a Gronelândia votaria nas eleições presidenciais dos EUA? Alguém já pensou nisso? É claro que a Gronelândia poderia tornar-se apenas mais um território dos EUA mas, porque é que os cidadãos da Gronelândia quereriam tornar-se o próximo Porto Rico? Não me parece muito apelativo. E porque é que Trump está a dar tanta importância a este assunto? Cerca de 56.000 pessoas vivem na Gronelândia e 80 por cento do território está coberto de gelo. Então, porque é que Trump a quer tanto?

Claro que a verdade é que tudo se resume a recursos naturais.

  1. Petróleo

Estudos indicam que as águas ao redor da Groenlândia podem conter até 110 bilhões de barris de petróleo. Com os EUA consumindo cerca de 20 milhões de barris por dia, essas reservas poderiam atender às necessidades americanas durante anos.

  1. Elementos de Terras Raras

A Groenlândia abriga um dos maiores depósitos não desenvolvidos de terras raras fora da China, essenciais para tecnologias avançadas, como eletrónica, veículos elétricos, turbinas eólicas e equipamentos militares.

3. Interesse Estratégico. Competição com a China:
A China já domina o mercado de terras raras, e o controle sobre os depósitos da Groenlândia poderia reduzir essa dependência e aumentar a autossuficiência dos EUA.

4. Posição Geopolítica:
A Groenlândia está localizada estrategicamente no Ártico, uma região cada vez mais disputada devido ao derreter do gelo e às novas rotas de navegação.

5. Implicações Políticas

Tornar a Groenlândia um estado ou território americano impactaria o equilíbrio político interno, com a concessão de novos representantes no Congresso e possíveis implicações em eleições presidenciais. Há também o desafio de convencer os residentes locais e o governo dinamarquês, que atualmente administra o território de forma autónoma.

Em suma, a Groenlândia representa um trunfo económico e estratégico, e o interesse de Trump reflete a crescente competição por recursos e influência na região Ártica.

 

O curto prazo na Síria

By estatuadesal on Janeiro 10, 2025

(Major-General Carlos Branco, in Jornal Económico, 10/01/2025)

A posição ideológica dos novos dirigentes começa a tornar-se evidente. A secularidade síria corre o sério risco de ser coisa do passado, como sugerem os primeiros sinais vindos do Ministério da Educação.



Com a queda de Damasco, a 8 de dezembro de 2024, e a instauração de um novo regime chefiado por Ahmad al-Sharaa (Jolani), o novo senhor todo-poderoso da Síria, líder da organização terrorista denominada Hayat Tahrir al-Sham (HTS), iniciou-se uma nova era no país e no Médio Oriente. O novo regime, chefiado por um jihadista com a cabeça a prémio por Washington, foi recebido de braços abertos no Ocidente. Damasco tem sido palco de um inusitado rodopio de visitas de delegações estrangeiras.

Apesar destas credenciais, o mesmo Jolani, que liderou em Idlib um mini califado, passou a ser apresentado como defensor de um projeto político democrático, inclusivo e respeitador das minorias. Para o credibilizar e tornar tolerável, os seus patrocinadores, entenda-se Ancara, apararam-lhe a barba e substituíram-lhe o turbante pelo fato e gravata. Entretanto, Jolani já disse que eleições só dentro de quatro anos e uma nova Constituição daqui a três. Até quando conseguirá Jolani manter a aparente moderação, tão necessária à sua legitimação internacional?

Se em Damasco, onde se concentram as cadeias de televisão, tem havido contenção por parte do HTS, o mesmo não se pode dizer na periferia da capital e nas zonas costeiras de Latakia e Tartus, onde os assassinatos e a perseguição de alauitas e xiitas são diárias, e em cidades como Homs, onde as vítimas são cristãos.

Em resposta a estas situações, a tensão social tem vindo a aumentar. Grupos de militares fiéis ao antigo presidente Bashar al-Assad confrontaram em Latakia milícias afetas ao HTS. Por outro lado, não é claro até quando o presidente Recep Erdogan e Jolani vão conseguir segurar os grupos jihadistas próximos do ISIS e da Al-Qaeda, que fazem parte do HTS, constituídos por estrangeiros oriundos do Cáucaso, Ásia Central e Médio Oriente que, descontentes com a “complacência” do atual regime com os infiéis e Israel, pedem sangue. Sem falar no que está a acontecer no norte do país, entre a Turquia e as milícias sírias curdas apoiadas pelos EUA, e a possibilidade de um confronto militar entre a Turquia e Israel.

O verniz da moderação já começou a estalar. A posição ideológica dos novos dirigentes começa a tornar-se evidente. A secularidade síria corre o sério risco de ser coisa do passado. Os primeiros sinais vieram do Ministério da Educação, rápido a introduzir alterações nos programas escolares e a impor uma linguagem politicamente correta, que reflete a visão de um mundo que renega a ciência em favor da teologia. O Darwinismo foi enterrado. A disciplina “A Origem da Vida e o seu Desenvolvimento na Terra” foi retirada do programa.

Também a disciplina de história foi vítima dos novos imperativos ideológicos. Foi eliminada a referência ao papel das mulheres na história do país. “Zenobia e as rainhas sírias” estão em vias de desaparecerem dos manuais escolares. Com os indícios de um futuro sombrio a avolumarem-se, tudo sugere que a já péssima situação do povo sírio não melhore, mesmo com o alívio das restrições da ajuda humanitária dos EUA à Síria.