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domingo, 17 de dezembro de 2017

Leituras

Novo artigo em Aventar




por j. manuel cordeiro

Sinceramente, não compreeendo como é que se pode andar por aí a saudar as decisões das agências de notação, mesmo que seja por oportunismo. O movimento recente de melhoria da notação da República dá jeito, eu bem sei. Note-se, no entanto,  que quem não tem memória e quem aceita as estruturas financeiras por reformar, até pode ganhar alguma coisa no curto prazo, mas perde também sempre qualquer coisa no curto prazo e tudo no médio e no longo.
Note-se que estamos a falar de instituições que tiveram responsabilidades pela crise financeira, iniciada em 2007-2008, validando todo o lixo financeiro que a ganância sem trelas regulatórias relevantes conseguiu inventar até aí. Esta crise tramsmutou-se na zona euro em crise da dívida que não era, e que continua a não ser, soberana, dado que está denominada em moeda estrangeira. Neste caso, as agências validaram toda a especulação contra os elos periféricos mais fracos.
Os ventos nos últimos 3 anos têm-nos sido favoráveis. Juros baixos, melhorias de notação financeira e melhoria dos indicadores que a UE tem usado para nos apertar. Mas olhemos para nós mesmos e constate-se que o país continua essencialmente igual. Não houve transformação alguma que justifique a mudança, sendo o actual estado das coisas circunstancial.
Bom, mudou num aspecto, mas para nos fragilizar mais. O trabalho passou a ser mais precário e a malha do Estado está quebrada, mergulhada num mar de falta de meios, à mistura com ineficiência e desorganização. Mas estas agências  dizem que agora estamos melhor. Não estamos. Apenas vivemos um desafogo, graças ao garrote menos apertado. Dão-nos melhor nota depois da destruição causada pelo sector financeiro, esse mesmo no qual essas agências de notação validaram todo o lixo como se se tratasse de ouro.
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sábado, 16 de dezembro de 2017

O que começa mal, acaba pior?

por estatuadesal

(Francisco Louçã, in Público, 15/12/2017)

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1 . O caso da Raríssimas é um exemplo de como o que começa mal acaba pior. Mas, no meio da pândega de coluna social em que isto se tornou, convém distinguir no terceiro sector o que responde por cuidados necessários e o que é “guito” e BMW. Não é fácil fazê-lo, porque o caso se presta a todas as derivações: a indiferença exibida quanto às dificuldades das contas, contrastada com a pressa da cobrança das prebendas, só pode chocar; o pedido de indemnização demonstra uma presidente que não se enxerga; e o carácter fútil de tudo isto revela um estilo de vida. Mas há mais na devoção de muitas associações do que estas pitorescas deambulações.

No essencial, tem sido sublinhado que o Estado fraco é isso mesmo, o que não faz o que lhe compete e deixa ao mercado o cuidado de quem precisa. Sim, quando as fronteiras se tornam nebulosas entre a obrigação pública, particularmente na saúde, e a esfera do negócio, desvanecem-se as garantias para os utentes dos serviços. Veja os casos dos cuidados continuados, ou do tratamento de toxicodependentes, em que o défice do Estado permitiu um submundo de clínicas sucateiras, a par de raros serviços de qualidade. Mas as excepções existem e esse é o ponto: há cooperativas de profissionais ou outras formas de associação, na saúde ou na educação, que respondem a graves carências sociais. Esses são os que sentirão o colapso da direção da Rarissimas com mais amargura, porque vai poluir quem se ocupa dos outros.

Nada deste espanejar de roupa suja, no entanto, é novidade, leia a lista dos processos e das investigações em curso sobre entidades deste tipo. Há portanto um problema essencial, que é a permeabilidade de algumas destas instituições a um duplo facilitismo, o da busca de efeito mediático para recolha de fundos (“o guito há-de vir”) e o da familiaridade e proteção política. Note esta lista de deputados e ex-governantes, já para nem lembrar a realeza espanhola, que querem ficar na selfie de uma instituição badalada, e perguntemo-nos porque é que tantos ilustres queriam ser vices e directores e consultores desta instituição. A resposta é triste: a exibição da caridade tem sido uma segunda pele para muita ambição e carreira.

Por isso, reduzir o assunto a fiscalização deficiente é ficar à espera da próxima. É como o debate da corrupção: que confortável que é isentar as boas consciências com a teoria da maçã podre. Se, afinal, os comportamentos desviantes forem só a excepção malévola, o mergulho na devassidão moral que tenta tantos mas atrai poucos, então uma correcção moralista e punitiva do caso isolado permitiria elevar a sociedade. Só que, para restabelecer a confiança, é preciso muito mais, a começar por enterrar a cultura de beautiful people que promove ou garante a longevidade destas figuras pícaras

2 . Francisco Assis explode em indignação e defende a “honra do PS” contra Catarina Martins, que disse, de forma “particularmente difamatória”, que o PS é “permeável” a interesses económicos por ter violado o acordo estabelecido para uma taxa sobre as rendas na energia. A crítica de Catarina a esta rasteira parlamentar “violou regras fundamentais da própria convivência democrática”, acusa Assis.

Há pouco tempo, Assis foi o principal apoiante de um candidato a secretário-geral que se definia contra “o PS associado aos negócios e interesses” (AJ Seguro, Sábado, 31-07-2014), denunciando que “existe uma parte do PS mais associada aos interesses” (Expresso, 23-09-2014), e isto foi só o mais suave do que disseram então. A acusação não era sobre uma renda abusiva nem sobre a tal permeabilidade que conduz à violação de um acordo: era sobre pessoas e a outra lista no seu próprio PS, dados como “associados aos negócios e aos interesses”. Assis assentiu com o voto e apoiou com a voz.

A “honra” de Assis tem dias. É o que ele chama apropriadamente de “moral de sacristia”.

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Jornalistas e professores

por estatuadesal

(António Guerreiro, in Público, 15/12/2017)

Guerreiro

António Guerreiro

A profissão de professor encontra-se hoje tão deslegitimada e degradada como a profissão de jornalista.


Não há nenhuma classe profissional tão hostilizada nos jornais como os professores. De um modo geral, todas as reivindicações dos professores são consideradas ilegítimas e a classe profissional é vista como detentora de uma força sindical da qual faz um uso abusivo. Diga-se, em boa verdade, que antes de enfrentar a hostilidade do jornalismo, os professores tiveram de enfrentar as hostilidades do modelo de gestão da escola e do ensino, numa guerra da qual saíram vencidos. Foi-se reduzindo progressivamente o tempo de trabalho autónomo, que era uma parte importante do tempo de trabalho de um professor (porque se entendia que o saber – manual ou intelectual, técnico ou teórico, académico ou não — é um direito à autonomia) e aumentando o tempo de trabalho controlado, que é hoje a quase totalidade do trabalho docente.

O professor ficou assim submetido ao trabalho das classes proletárias, mas continua a recair sobre ele a imagem de que é um animal de luxo. E aí começa a caça ao professor. Há já algum tempo que começou a prosperar, por todo o lado, uma bibliografia que consiste em testemunhos desencantados de professores e ex-professores.

No princípio do século XX, a miséria espiritual da vida dos estudantes foi um tema filosófico que ganhou algum relevo: no princípio do século XXI é a miséria da vida espiritual dos professores que se tornou relevante.  Dir-se-ia que os professores integraram completamente um hábito muito próprio da escola, essa instituição que passa muito tempo a falar sobre si própria. Se recuarmos, talvez encontremos uma justificação para esta má relação entre jornalistas e  professores, que é mesmo uma inimizade se falarmos da relação entre o jornalismo e a universidade. Neste caso, trata-se de uma velha inimizade com uma história respeitável. Um eminente universitário italiano explicou-a em termos muito parciais, até um pouco arrogantes e demasiado marcados por uma pretensão de auto-legitimação: o discurso do jornalista situa-se na lógica da opinião; o poder dos professores, pelo contrário, legitima-se em termos de saber, isto é, o contrário da opinião. Pode ser que esta explicação tenha sido de algum préstimo, num passado já distante; hoje, dificilmente podemos dizer que o saber legitima qualquer poder dos professores. Há, no entanto, um princípio de competição entre jornalistas e professores que remonta ao Iluminismo, quando nasceu, em paralelo, tanto a universidade moderna como o jornalismo moderno. Ambos, o jornalismo e a universidade, tiveram a seu cargo uma missão crítica e de socialização do pensamento. Eles criavam uma cultura para a sociedade e uma sociedade para a cultura. Segundo a concepção iluminista dos jornais, eles deviam ser órgãos de formação colectiva de uma opinião pública racional. E deviam ser não tanto o instrumento de expressão de uma esfera pública pré-existente (como são hoje entendidos), mas mais o lugar de constituição dessa esfera pública. Ora, se os jornais tivessem hoje de assumir uma tal tarefa, já teriam desaparecido (e será que estão em risco de desaparecer precisamente porque não sabem que tarefa têm para cumprir?). De certo modo, a evolução da universidade e da escola (nalguns aspectos essenciais podemos amalgamar as duas instituições) foi paralela à do jornalismo e hoje todos têm de enfrentar um mundo que ameaça destituir a antiga função que detinham, sem que essa extinta função tenha sido substituída por outra. E a profissão de professor encontra-se hoje tão deslegitimada e degradada como a profissão de jornalista. Uns e outros perderam o privilégio da autonomia e reina sobre eles uma ordem gestionária.

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Всем скачкам скачки: австралийские леди затмили лошадей своими нарядами и манерами

Qwygonnjinn Октябрь 28, 2017 Комментариев Неr

Любители (а в особенности — любительницы) скачек обрадовались долгожданной хорошей погоде в Сиднее

и как следует приоделись на конный турнир. Пожалуй, посмотреть на публику, собравшуюся в минувшую

субботу на этом ипподроме, было не менее любопытно, чем на лошадей с наездниками.

Хорошо одетые зрители субботним утром стекались к ипподрому в центральной части Сиднея. После

нескольких дождливых недель они наконец-то могли порадоваться солнышку. Не только скачки были

международного класса, публика тоже не подкачала.

Дамы, разодетые в лучших традициях посещения скачек, привлекали множество взглядов. К примеру, вот

эта леди с экстремально высокими разрезами на ее облегающем платье.

Буквально сияя, она шагала по улице в своем роскошном платье. Вообще цветом дня оказался черный, хотя

некоторые красотки и предпочли одеться в более жизнерадостные тона.

Самый скромный наряд: цветы и розовые кружева

Откровенное платье, бутылка в руке — и улыбка буквально от уха до уха…

Эффектная блондинка пришла в комбинезоне.

В субботу все облака над Сиднеем развеяло, и всем желающим удалось понежиться под теплыми лучами

солнца.

Три элегантные блондинки в черном… и фотохулиган на заднем плане!

В любом случае настроение у всех было, похоже, отличное.

А эта троица явились почти в карнавальных костюмах: белые парики и платья в карточном стиле

Как роза между двух шипов! Между двумя парнями в черном с головы до пят идет человек, надевший белый

костюм с цветочным принтом.

И красотка в белом платье в цветочек ему под стать.

Все в ремешках…

Скачки на Randwick Racecourse проходят регулярно еще с 1833 года.

Две девушки позируют в элегантных платьях и с бантами а голове.

Передышка на лестнице.

День закончился живым выступлением Ронана Китинга.

Источник

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Da descolonização, de Pedro Pezarat Correia.

Carlos Matos Gomes
2 h ·
Foto de Carlos Matos Gomes.

Da descolonização, de Pedro Pezarat Correia.
“Sem o 25 de Abril Portugal teria perdido o seu encontro com a descolonização, não é uma forma de retórica. É uma realidade. Porque a independência verificar-se-ia sempre, noutras condições. Provavelmente com Portugal derrotado militarmente no terreno. A colonização far-se-ia sempre, mas far-se-ia sem a colaboração de Portugal. O 25 de Abril permitiu que Portugal ainda pudesse colaborar na parte final da descolonização".
O paradoxo de que enferma o processo de descolonização: “ter sido a ditadura a desencadear a guerra para manter o sistema colonial, mas ter sido a guerra colonial que introduziu em Portugal o processo de descolonização”.
"Sem a descolonização Portugal teria falhado o seu encontro com a liberdade. É essa frase final que tenho nas minhas conclusões, que como digo não é um 'slogan', não é uma forma de retórica, é um resumo em minha opinião muito objetivo de toda esta realidade".
O livro de Pezarat Correia é uma leitura fundamental para abordar o fenómeno histórico mais importante do século XX da história de Portugal: a independência das colónias. O fenómeno que desata o Nó Górdio do impossível colonialismo português, que derruba a ditadura e coloca Portugal no lugar digno que o seu passado histórico lhe confere no mundo.
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Presidente da Raríssimas tem de “repor o dinheiro que meteu no bolso, nem que seja até ao fim da vida”

Revista de Imprensa JE

Ontem 10:40

Manuela Ferreira Leite considera que a ex-presidente da Raríssimas terá devolver "do seu bolso" todo o dinheiro que usou em proveito próprio.

A antiga governante Manuela Ferreira Leite defendeu na quinta-feira à noite, no seu habitual espaço de opinião da TVI24, que Paula Birto da Costa deveria “repor o dinheiro que meteu ao bolso”, “nem que fosse até ao fim da vida”.

Manuela Ferreira Leite falava sobre a investigação que está a ser feita à Raríssimas, na sequência de uma reportagem da TVI que expôs a gestão indevida das verbas da IPSS por Paula Brito da Costa, quando afirmou: “Na Função Pública, nas instituições que têm dinheiros públicos e em que há desvios de dinheiros públicos, por um lado a pessoa é demitida, portanto perde o seu lugar. Por outro lado, tem que repor o dinheiro que meteu ao bolso e, portanto, há uma figura da reposição de dinheiros que não são da pessoa. (…) Teria que os repor, nem que fosse até ao fim da vida, através de cortes nos vencimentos, mesmo nas pensões, enquanto fosse viva e tivesse essa dívida. ”

A antiga ministra considerou a gestão da Raríssimas, por Paula Brito da Costa, como uma “atuação ilegítima” e esclareceu que é necessário separar o trabalho da Raríssimas com a polémica do desvio de verbas para uso pessoal da presidente demissionária.

“As notícias têm sido dadas de uma forma para a opinião pública que põem em causa não só a instituição, mas pior do que isso instituições desta natureza”, afirmou Ferreira Leite, acrescentando depois que essa ideia “muito perigosa” deve ser evitada.

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que mil geringonças floresçam…

por rui a.

António Costa deve estar orgulhoso: a sua estratégia de trazer partidos radicais e extremistas para o arco da governação, vinculando-os à democracia, está a servir de modelo noutros países. No fim de contas, como Costa não se cansa de ensinar, nenhum partido com representatividade parlamentar pode ficar fora da democracia, porque é no parlamento que o povo mais ordena. Nada como seguir os bons exemplos!

Mariana Mortágua:"Não contem connosco para os vossos tweeters de politic...

o público ensandeceu de vez?

por rui a.

Parece que sim. Veja-se o seguinte comentário, incluso na página 47 da edição de hoje, sobre Manuel Maria Carrilho e a juíza do tribunal que ontem o absolveu:

«Manuel Maria Carrilho é um pequeno pedaço de homem que agrediu e insultou repetidamente a ex-mulher em frente dos filhos. O facto de ter sido absolvido, pela forma ridícula que o foi, só confirma a sua pequenez moral. Parece que a juíza Joana Ferrer Antunes, que agora o ilibou, tem fascínio pelo período nazi - faria então bem estudar a forma como este regime desumanizou as vítimas, pois talvez encontre paralelismos na sua própria decisão de ontem.»

Mas que raio é isto? Donde retira o (a?) jornalista - note-se que não se trata de uma passagem de um artigo de opinião, mas da redacção do jornal - a conclusão de que Carrilho «agrediu e insultou repetidamente a ex-mulher em frente dos filhos»? Onde foi buscar as provas que o tribunal não viu, quando, no que respeita aos filhos, é do domínio público a óptima relação que eles mantêm com o pai? Será razoável imaginar que crianças, por pequenas que sejam, que vêem reiteradamente um pai a bater e a insultar a mãe mantenham uma boa relação com ele? E o que legitima o jornalista a dizer que a decisão da juíza «só confirma a pequenez moral» de Carrilho? Qual é a conexão existente entre a sentença e a «moral» de Carrilho? Por acaso foi ele quem a redigiu? E, pior ainda, como é possível que o jornal não seja instigado a explicar o paralelismo que estabeleceu entre um tribunal e um juiz da República e as perseguições e os crimes do III Reich? Que espécie de ódio levou o jornalista a uma tal comparação de tão mau gosto?

Como muito bem disse a juíza na sua sentença, um tribunal democrático não pode ser como os antigos tribunais plenários, onde um acusado entrava já condenado. O Estado de direito, que o autor da peça certamente ignora o que seja, tem outras regras. Nos tempos que correm, as condenações na praça pública costumam fazer-se nos jornais e na comunicação social. Talvez tenha sido o facto da juíza ter resistido a essa conversa que verdadeiramente tenha originado a diatribe do pasquim.

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Fitch dá maior subida de rating de sempre a Portugal e coloca país no grupo da Itália

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Mário Centeno. Fotografia: REUTERS/Rafael MarchanteMário Centeno. Fotografia: REUTERS/Rafael Marchante


luisReisRibeiro
Luís Reis Ribeiro
15.12.2017 / 21:05

Nota sobe para BBB, o que significa que a dívida deixa de ser considerada ativo especulativo ou "lixo". Portugal passa a estar no radar de mais investidores.

A agência de notação financeira Fitch acaba de subir a nota (rating) da dívida soberana de Portugal em dois níveis, “de BB+ para BBB com perspetiva estável”, naquela que é a maior subida de que há registo. O país está assim, oficialmente, fora de “lixo”, as obrigações são novamente um investimento não especulativo. No passado todas as subidas foram de apenas de um nível. A Fitch avalia o país desde agosto de 1994.
Segundo a empresa, que é uma das três grandes agências que avaliam os países, um dos motivos para esta promoção foi “a melhoria da sustentabilidade da dívida pública”, diz a nota enviada às redações.
“Esperamos que a dívida desça mais de três pontos percentuais este ano, para menos de 127% do Produto Interno Bruto (PIB) no final de 2017”, diz a agência numa nota enviada aos jornais. Esta “é a primeira descida do rácio “desde que começou a crise financeira global”, observa.
A Fitch é relativamente mais conservadora quanto ao crescimento, que prevê seja 1,9% em 2018 (o governo diz 2,2%, o Banco de Portugal 2,3%) e estima que o défice fique em 1,4% este ano, mas que depois estagne nesse valor em 2018, caindo mais um pouco em 2019, para 1,2% do PIB.
No entanto, os economistas da Fitch não consideram isso um problema de maior. Embora o país “não cumpra totalmente o objetivo de médio prazo do Programa de Estabilidade e Crescimento, ele entrega um declínio robusto ao nível da dívida no médio prazo”.
Isto é possível porque o saldo público primário (sem contar com os juros) aguenta-se, “estabiliza”, nos 2,5%, não deixando acumular mais dívida, observa a empresa.
Em todo o caso, a agência frisa bem que “Portugal como soberano continua muito pesadamente endividado” e que o referido rácio de 127% “compara com uma mediana de 41%” no grupo dos países BBB, além de ser “o terceiro rácio
mais elevado da zona euro”.
As consequências da ação da Fitch
Esta decisão da Fitch tem um alcance relativamente grande para as taxas de juro e a facilidade da República obter crédito a preços razoáveis.
Coloca o país no grupo dos países com nota BBB, o que significa que a dívida portuguesa deixa de ser considerada um ativo especulativo ou “lixo”, como se diz na gíria dos mercados. BBB significa que está no segundo nível acima de lixo. O primeiro é BBB-.
Na zona euro, Portugal passa agora a fazer companhia a Itália. Fora da área da moeda única os outros países que têm uma nota de BBB são Andorra, Bulgária, Colômbia, Cazaquistão, Panamá e Omã, indica a Fitch.
A dívida pública torna-se assim, aos olhos dos investidores globais, um ativo menos arriscado, apesar de o rácio continuar a ser das mais elevados do mundo desenvolvido, equivalendo a cerca de 127% do PIB), reparam a Fitch e as outras instituições que seguem a economia.
Além disso, com esta classificação, as obrigações do tesouro (OT) de Portugal, que passam a ser consideradas um ativo relativamente seguro, tornam-se elegíveis para a maior parte dos índices obrigacionistas, o que potencia muito a procura por OT num futuro próximo pois dá maior visibilidade global às obrigações portuguesas. Isso também terá um efeito positivo para a taxa de juro de mercado.
A maior parte dos índices, dos mercados especializados em dívida pública, pedem que pelo menos duas das três grandes agências de rating classifique o país como não sendo especulativo.
É o que acaba de acontecer nesta sexta-feira. Em setembro, a poderosa Standard & Poor’s causou surpresa tirando Portugal do lixo (subiu o rating para BBB-). Agora só falta a Moody’s que mantém o país em Ba1 (o último nível antes da saída do lixo).
A canadiana DBRS não é considerada uma das três grandes, mas nunca classificou Portugal como um ativo especulativo, mesmo durante a crise soberana. Foi o que permitiu ao país e aos bancos conseguirem ser elegíveis para os programas de apoio e de dinheiro barato do BCE.
No radar dos fundos de pensões
Adicionalmente, esta decisão da Fitch acaba por ser a oportunidade que faltava para que os fundos de pensões, entidades normalmente mais conservadoras nos investimentos que fazem, comecem a comprar muito mais dívida portuguesa e com maturidades maiores.
A dilatação dos prazos médios de reembolso da dívida de mercado (excluindo a dívida oficial, o resgate concedido no âmbito da troika) ainda é um objetivo por cumprir.
O ICGP, a agência que gere a dívida portuguesa, diz que a maturidade média (excluindo os empréstimos do FMI e da Europa), está hoje à volta dos seis anos. O Dinheiro Vivo sabe que o governo está a trabalhar para estender essa maturidade até aos oito anos.
Ter mais tempo para pagar torna mais fácil a gestão da Tesouraria. Não ser um ativo especulativo significa que a taxa de juro das OT ainda pode cair mais.
Esta sexta-feira a taxa das obrigações a dez anos caiu para 1,8%, tendo inclusive ficado abaixo dos juros de Itália, movimento que foi muito bem acolhido dentro do governo português.
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